sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Milícias na Líbia estão “fora de controle”, diz Anistia Internacional


Milicianos estariam torturando simpatizantes do ex-líder Muamar Kadafi

Mais de um ano se passou desde que a chamada Primavera Árabe alterou de forma significativa as estruturas de diversos países do Norte da África e do Oriente Médio. Ainda hoje, no entanto, alguns deles vêm enfrentando problemas no que diz respeito à sucessão de antigos governos. No caso da Líbia, a AI (Anistia Internacional) denunciou nesta quinta-feira (16/02) que as milícias que ajudaram a derrubar o ex-líder Muamar Kadafi estão fora de controle.
De acordo com um relatório divulgado pela Organização, as milícias atuam com impunidade e criam insegurança para a reconstrução das instituições do país.
“Há um ano, os líbios arriscaram a vida para exigir justiça. Hoje, suas esperanças se vêem prejudicadas por milícias armadas ilegais que pisoteiam os direitos humanos com impunidade”, aponta o relatório.
Denúncias da AI apontam que os grupos armados estariam detendo ilegalmente pessoas que apoiavam o governo de Kadafi. Além disso, as milícias estariam torturando os detidos, o que em alguns casos estariam levando-os, inclusive, à morte.
Para compor o relatório, a AI esteve e 11 instalações de detenção no centro e no oeste da Líbia durante janeiro e o início deste mês. As prisões são utilizadas pelas milícias e a ONG afirma que pode comprovar através de relatos que diversos detentos foram torturados e maltratados no local.
Desde o último setembro, segundo a AI, ao menos 12 presos morreram nas prisões comandadas pelas milícias. Até o momento, nenhuma investigação foi iniciada. A AI culpa também o CNT (Conselho Nacional de Transição) por supostamente não agir para prevenir ou combater as violações.
Um grande número de vítimas provém de outros países da África, especialmente o Níger, aponta o relatório. Foi para este país que a família de Kadafi fugiu quando os embates entre forças do governo e rebeldes tornaram-se mais intensos.
Outra denúncia
Em janeiro, a MSF (Médicos Sem Fronteira) já havia anunciado que encerraria seu trabalho em prisões da cidade de Misrata, pois constatou que o governo líbio estava torturando presos.
Até então, a ONG afirmava que desde o último mês de agosto já havia tratado 115 presos que teriam sido torturados. Assim como a AI, a MSF afirmou que as autoridades não tomaram providências sobre os abusos.
“Algumas autoridades tentaram obstruir o trabalho médico do MSF. Pacientes eram trazidos para serem tratados entre os interrogatórios, para que estivessem em forma para a próxima sessão. Isso é inaceitável. Nosso papel é oferecer cuidado médico em casos de guerra e presos doentes, não tratar repetidamente dos mesmos pacientes entre sessões de tortura”, afirmou o diretor geral da MSF, Christopher Stokes.
À época, segundo a ONU havia cerca de oito mil prisioneiros no país, em sua grande maioria, simpatizantes do antigo líder ou imigrantes de outros países presos durante os confrontos.
“A falta de controle por parte das autoridades centrais criam um ambiente propício para a tortura e os maus tratos”, disse Navi Pillay, a alta comissária da Organização para Direitos Humanos.

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