Não é possível cumprirmos
questões ambientais sem derrotarmos a lógica do capital, sem incluirmos a
questão da inclusão social e da superação da extrema pobreza como
questão de direitos humanos. Saneamento, urbanização, sustentabilidade,
não podem excluir os direitos humanos. A afirmação é da ministra Maria
do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República (SDH/PR), durante sua participação no painel de debate
“Direitos Humanos e Desenvolvimento Social”, na Arena Socioambiental,
dentro das atividades da Rio + 20.
De
acordo com a ministra, o desenvolvimento sustentável no Brasil deve
passar pela integração com a agenda de direitos humanos. “A agenda de
direitos humanos no Brasil e no Mundo deve englobar conceitos de justiça
social, transparência e democracia. Os países não devem se pautar
somente pela agenda dos mercados e das guerras que estão cada vez mais
presentes. Questões relacionadas à cooperação devem contagiar os
governantes dos estados brasileiros, bem como os chefes de Estado em
todo o mundo”, destacou.
Rosário
legitimou as críticas dos movimentos sociais ao modelo de crescimento
econômico mundial e disse que isso poderá mudar se as questões de
direitos humanos forem incluídas na pauta. “É justo que os movimentos
sociais estabeleçam posições críticas. Um movimento social que se
acomoda perante o Estado não produzirá os avanços necessários. Diálogo
sobre gênero e superação de pobreza devem ficar no centro do debate”,
defendeu.
Ao falar da questão de
gênero, a ministra afirmou que "se as mulheres tivessem a mesma equidade
na participação da produção que os homens, haveria uma redução drástica
na marca da pobreza e o número de mortes por fome em todo o mundo".
Matriz energética –
A matriz energética limpa do Brasil, segundo Rosário, é a principal
demonstração de que a agenda de direitos humanos e meio ambiente possui
uma nova concepção sobre os recursos naturais. Segundo ela, apesar de
temos 46% da energia brasileira renovável, ainda há um longo caminho a
ser percorrido para a efetiva preservação ambiental. “Temos que nos
orgulhar disso, mas temos grandes tarefas à frente”, declarou.
Asunción: multidão pede, diante do Congresso, que presidente resista ao golpe
Por que destituição do presidente Lugo é inconstitucional. Como reage América do Sul. Quais os sinais de envolvimento dos EUA
Por Mark Weisbrot | Tradução: Antonio Martins
– Atualização:
No
final da tarde desta sexta, o Senado do Paraguai, dominado por partidos
conservadores, decretou o afastamento do presidente eleito, Fernando
Lugo. Mas o futuro do país é incerto. No plano interno, é provável que
haja resistência ao ato, visto por boa parte da sociedade como um golpe.
Uma multidão permanece diante do Legislativo, e passou a pedir a
dissolução do próprio Congresso, por considerá-lo ilegítimo.
Um golpe de estado está sendo perpetrado neste exato momento, sexta-feira à noite, no Paraguai.
Asunción, tarde de 22/6: Diante do Congresso, soldados apontam para os manifestantes
É
esta a visão de diversos governos vizinhos. E a União das Nações
Sulamericanas (Unasul) está tratando os acontecimentos desta maneira,
além de levá-los muito a sério. Todos os doze ministros de Relações
Exteriores (inclusive os do Brasil e da Argentina, que estão
profundamente preocupados) voaram para Assunção na quinta-feira à noite,
para manter contatos com o governo, e também com a oposição, no
Legislativo. O
Congresso do Paraguai tenta afastar o presidente, Fernando Lugo, por
meio de um procedimento de impeachment em que lhe foram dadas menos 24
horas para preparar sua defesa, e apenas duas para apresentá-la. Tudo
indica que uma decisão para condená-lo já foi escrita, e será
apresentada nesta noite (22/6). Seria impossível chamar este trâmite de
“devido processo”, em qualquer circunstância, mas é também uma clara
violação do Artigo 17 da Constituição paraguaia, que assegura o direito a
defesa adequada. O
sentido político da tentativa de golpe também está suficientemente
claro. O Paraguai foi controlado, durante 61 anos, pelo Partido
Colorado, de direita. Na maior parte deste tempo (1947-1989), o país
esteve sob ditadura. O presidente Lugo, um ex-bispo ligado à Teologia da
Libertação e às lutas dos pobres, foi eleito em 2008, mas não conseguiu
apoio da maioria do Congresso. Ele articulou uma coalizão de governo,
mas a direita – incluindo a mídia – nunca aceitou de fato sua
presidência. Conheci
Fernando Lugo no início de 2009. Impressionaram-me sua paciência e
estratégia de longo prazo. Ele dizia que, dada a força das instituições
alinhadas contra seu governo, não esperava ganhar tudo no presente;
estava lutandopara que a nova geração pudesse ter uma vida melhor. Mas a
oposição sempre foi implacável. Em novembro de 2009, Lugo teve de
demitir os principais comandantes militares, devido a relatos firmes de
que conspiravam com a oposição. O
impeachment foi desencadeado por um conflito armado entre camponeses
que lutavam por terra e a polícia, quando morreram ao menos 17 pessoas,
inclusive sete oficiais de polícia. Segundo os sem-terra, a área em
disputa havia sido obtida ilegalmente por um político do Partido
Colorado. Mas o confronto violento é apenas um pretexto: está claro que o
presidente não teve responsabilidade alguma pelo ocorrido. Os oponentes
de Lugo sequer apresentaram alguma evidência para as acusações no
“julgamento” de hoje. O presiente propôs uma investigação sobre o
incidente; a oposição não se mostrou interessada, preferindo partir para
um procedimento judicial fraudulento. A
eleição de Lugo foi uma das muitas na América do Sul (Argentina,
Brasil, Venezuela, Bolívia, Equador, Uruguai, Peru, Honduras, Nicarágua,
El Salvador) em que as sociedades escolheram governos de esquerda e
mudaram a geografia política do hemisfério, nos últimos 14 anos. Com a
mudança, veio uma crescente unidade política em temas regionais –
especialmente na resistência aos Estados Unidos, que antes tinham
sucesso, ao evitar o surgimento de governos de esquerda. Por
isso, não é surpreendente a resposta urgente e imediata dos países
sul-americanos a esta tentativa de golpe, vista por eles como uma ameaça
à democracia. O secretário-geral da Unasul, Ali Rodriguez, insistiu que
Lugo deve ter direito ao “devido processo” e ao direito de se defender.
O presidente do Equador, Rafael Correa, afirmou que a Unasul poderia
recusar-se a reconhecer o governo pós-golpe – em cumprimento a uma das
cláusulas de sua Carta.
Correa
foi um dos mais duros oponentes ao golpe de Estado em Honduras, que
afastou há três anos o presidente Manuel Zelaya. Honduras continua a
sofrer violência extrema, incluindo assassinato de jornalistas e
políticos opositores, sob o regime estabelecido em seguida ao golpe.
Asunción, tarde-noite de 22/6: população defende democracia diante do Congresso
O
afastamento de Zelaya foi um ponto de mudança nas relações entre os
Estados Unidos e a América Latina. Governos como os do Brasil e
Argentina, antes esperançosos de que o presidente Obama abandonasse as
políticas de seu antecessor, desapontaram-se. Washington fez declarações
conflitantes sobre o golpe e em certo ponto – em oposição ao resto do
hemisfério – fez todo o possível para assegurar-se de que o golpe teria
sucesso. Isso incluiu bloquear, no interior da Organização dos Estados
Americanos (OEA) os esforços das nações sulamericanas para restaurar a
democracia. No último Encontro das Américas Obama ficou – em contraste
com o que ocorrera em 2009 – tão isolado quanto seu antecessor, George
W. Bush. O
governo Obama respondeu à crise atual no Paraguai com uma declaração em
apoio ao devido processo. Talvez tenha aprendido algo de Honduras e não
se oponha ativamente aos esforços da América do Sul para defender a
democracia. Certamente, os países da região não permitirão que
Washington controle o processo de mediação, se houver um – como fez
Hillary Clinton com a OEA, em Honduras. Mas Washington pode desempenhar
seu papel tradicional, assegurando à oposição que o novo governo terá
apoio, inclusive financeiro e militar, dos EUA. Vermos nos próximos
dias. Resta
saber o quê mais a Unasul fará para se opor ao golpe de direita no
Paraguai. É certamente compreensível que a organização o enxergue como
uma ameça à democracia e à estabilidade na região.
Altos funcionários de diversos países do mundo, empresários
e homens de negócios de todas as estirpes e representando os variados
setores da economia, acadêmicos respeitados mundialmente, ativistas
sociais e mais outras tantas pessoas 'importantes' estão reunidas no Rio
de Janeiro para a Conferência Mundial Rio+20. A preocupação com o meio
ambiente demorou para entrar na agenda de governos e empresas e, por
isso, eventos como os que acontecem agora na Guanabara são de
fundamental importância.
Estudiosos das organizações há certo tempo constataram que o mundo
corporativo, assim como as pessoas, seguem modas e modismos. Há mais ou
menos oito anos empresas começaram a se preocupar em ser sustentáveis e
socialmente responsáveis. A palavra de ordem virou sustentabilidade. A
figura da empresa que degrada o meio ambiente pega mundo mal no mundo de
hoje. Empresas também falam que começaram a se preocupar com a vida das
pessoas ao seu redor, criando projetos de "responsabilidade social".
Nada contra tais iniciativas, que são, na verdade, muito bem vindas,
afinal todos nós devemos lutar por um mundo melhor. Agora, quando uma
empresa de cigarros investe em educação para 'fazer pessoas melhores',
quando uma empresa petroleira investe para melhorar o meio ambiente e
assim por diante fica um cheiro meio esquisito no ar. Há uma incoerência
entre a sua atividade cotidiana e a sua dita responsabilidade social.
Vamos aos exemplos. A Profa. Liliana Segnini escreveu na década de
oitenta um livro magistral chamado "Bradesco a Liturgia do Poder" (São
Paulo, Educ, 1986). No texto, a Profa. mostra como o banco construía um
sistema de controle e dominação para disciplinar o corpo e a mente de
seus funcionários. Um dos componentes deste sistema era a instalação de
escolas de primeiro grau em áreas extremamente pobres do Brasil para que
as crianças, desde pequenas, fosse adestradas dentro da 'filosofia
Bradesco' e um dia se transformassem em funcionários do banco. Tirava-se
o beneficio da pobreza para criar desde pequeno um controle da mente,
ideal para ter funcionários que não questionam e amam a empresa.
Ola Bergström e Andreas Diedrich, da Universidade de Gotemburgo,
publicaram um artigo acadêmico recente no periódico Organization Studies
mostrando como uma empresa sueca de alta tecnologia recebeu prêmios por
ser 'socialmente responsável' no mesmo ano em que demitiu 10.000
funcionários. Isso porque muitos dos selos e prêmios de responsabilidade
social e sustentabilidade são baseados na análise de relatórios que
geralmente são maquiados para vender as iniciativas da empresa como
sendo melhores do que realmente são. São quase uma obra de ficção. Além
disso, os professores suecos mostram como a empresa, por ser grande e
ter muito poder, conseguiu influenciar para conseguir o tal prêmio,
apresar de ter feito um dos maiores cortes de funcionários da sua
história.
A moda da sustentabilidade e da responsabilidade social criou toda
uma indústria de consultores e consultorias especializadas, cursos,
palestrantes que ajudam as organizações a criar uma imagem de serem
sustentáveis e responsáveis socialmente sem que eles não mudem aspectos
centrais de seu negócio que é social e ambientalmente irresponsável.
Bobby Banerjee, professor e pesquisador da Universidade do Sul da
Austrália, possui estudos interessantíssimos em que ele mostra como a
moda da sustentabilidade está centralmente fundamentada em uma lógica da
racionalidade econômica, não em uma lógica ecológica.
Trocando em miúdos, isso significa que o meio ambiente virou um
produto de mercado e de consumo, como qualquer outro. A consequência
disso é que as empresas passam a ganhar a licença para explorar o
Meio-Ambiente ao seu bel prazer enquanto ficam com uma áurea de serem
ecologicamente responsáveis. A preservação do meio ambiente e o respeito
ao ser humano somente podem acontecer com uma mudança das relações
econômicas e sociais entre as pessoas. Não há como explorar petróleo e
minério e ser ecologicamente responsável ao mesmo tempo.
Não é possível querer lucros estratosféricos e respeitar a humanidade
dos funcionários. Não é possível adestrar pessoas ou demiti-las ao
milhares e se dizer socialmente responsável. No limite, não é possível
buscar a constante maximização de resultados e ser ecologicamente e
socialmente decente. Uma coisa vai excluir a outra. Dizem que o falecido
Prof. Maurício Tragtengberg costumava comentr que empresas existem e
servem para gerar lucro, assim como um leão é carnívoro. A rigor, não há
nada de surpreendente ou de novo nisso. Porém, há algo de estranho no
ar quando o leão anda pela selva dizendo que é vegetariano.
Rafael Alcadipani é professor adjunto da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas
Numa ação conjunta da Polícia Federal e da Receita Federal, realizada
na madrugada desta quinta-feira (21), foram apreendidos 13 jatinhos de
luxo utilizados
ilegalmente por ricaços brasileiros. Batizada de Operação Pouso Forçado,
ela envolveu 50 agentes da PF e 25 auditores fiscais e percorreu os
aeroportos de
Congonhas (SP), do Galeão (RJ) e de Jundiaí e Viracopos, no interior
paulista.
Segundo os responsáveis pela operação, o esquema de importação
irregular de jatos executivos causou prejuízos de pelo menos R$ 192 milhões com
a sonegação de impostos. O valor total das aeronaves ultrapassa R$ 560 milhões –
apenas um dos jatos custa cerca de R$ 100 milhões. Segundo relatou à Folha o superintendente-adjunto
da Receita Federal, Marcos Prado Siqueira, essa foi a maior apreensão de bens
do órgão em uma única operação.
Empresa de fachada em paraísos fiscais
As investigações da Operação Pouso Forçado começaram há um
ano. Pelo esquema, brasileiros criavam uma empresa de fachada em paraísos
fiscais, que firmava contrato com um banco estrangeiro para que o avião fosse
registrado nos EUA. Com isso, os jatos voavam para o Brasil como se estivessem
a serviço da empresa estrangeira e não pagavam os impostos de importação.
“Havia uma ocultação dos reais proprietários dessas
aeronaves. Elas ficavam aqui, mantidas por brasileiros, que pagavam pilotos e
arcavam com todos os custos de manutenção e de aluguel de hangares. E era para
essas pessoas que as aeronaves voavam... Houve casos em que os jatos eram
alugados para terceiros, funcionando como um táxi aéreo”, explica Marcos Prado
Siqueira.
Globo vai mostrar a cara dos criminosos?
Os nomes dos ricaços envolvidos na ação criminosa não foram
divulgados. Segundo a Polícia Federal, os responsáveis podem ser indiciados pelos
crimes de descaminho e falsidade ideológica. Será que as emissoras de
televisão, que adoram explorar as imagens de ladrões de galinha sendo presos e
humilhados, irão atrás destes ricaços caloteiros. Como já adiantou Marcos
Siqueira, os criminosos “são de gente com altíssimo poder aquisitivo, que tem
todas as condições para recolher os impostos”.
Sob pretexto de que o presidente Fernando Lugo teria sido negligente
na resolução de conflitos agrários, Câmara paraguaia, dominada pelos
partidos de direita, abriu processo de impeachment nesta quinta (21).
Não é a primeira vez que setores dos grandes proprietários de terra
aliados ao empresariado tentam interromper a vida democrática do país
vizinho.
A Câmara paraguaia, dominado pelos partidos de direita, abriu
processo de impeachment nesta quinta-feira (21) contra o presidente
Fernando Lugo. Senado agora também discutirá a medida. Trata-se de um
eufemismo para golpe de Estado, segundo analistas consultados por Carta Maior.
Não é a primeira vez que setores dos grandes proprietários de terra
aliados de setores empresariais tentam interromper a vida democrática do
país vizinho. À diferença de outras situações ao longo do século XX é
que a ação atual recobre-se de uma fachada legal.
O pretexto é que Lugo teria sido negligente na resolução de conflitos
agrários, como o ocorrido há uma semana em Curuguaty, próximo a
fronteira com o Brasil. Na ocasião morreram nove camponses e seis
policiais.
Por “negligência” entenda-se as tentativas do mandatário de resolver
os problemas com negociação e não através de violência pura que
caracteriza historicamente a resolução de conflitos sociais no país.
Os presidentes da Unasul, reunidos no Rio de Janeiro, colocam-se
frontalmente contra o golpe. A situação em Assunção é de calma aparente.
Manifestações populares de apoio começam a acontecer na capital. Em
pronunciamento feito nesta manhã e transmitido pela tevê paraguaia, Lugo
descartou a possibilidade de renúncia.
Este é nosso amigo querido, Tenório Jr., maravilhoso pianista, um dos
maiores do samba-jazz - na verdade, um dos pioneiros deste estilo.
Além de grande instrumentista, era também compositor de grandes temas,
como 'Embalo' - que eu e Tutty gravamos em nosso CD juntos, 'Samba-Jazz
& Outras Bossas' - e muitos outros, além de vários temas que ficaram
inéditos depois de sua morte, aos 35.
(vejam a capa do disco abaixo, o único LP que ele lançou na vida, hoje um clássico várias vezes reeditado pelo mundo)
Tenório tinha uma inteligência impressionante, aquele humor ácido dos
muito observadores, musicalidade à flor da pele. Tinha também 5 filhos e
algumas compulsões, das quais, a longo prazo, precisaria se libertar.
Mas não houve tempo.
Como todo o mundo sabe - e se não sabe, precisa saber - Tenório
desapareceu em Buenos Aires, na madrugada de 18 de março de 1976, depois
de ter se apresentado num show com Vinicius de Moraes e Toquinho. Eram
as vésperas do golpe militar que deporia a presidente Isabelita Perón e
jogaria o país numa longa noite ditatorial. Nosso amigo saiu do hotel
para comprar cigarros, ou um sanduíche, ou um remédio - as versões são
conflitantes - e nunca mais voltou. Tempos depois, o depoimento de um
ex-oficial argentino que participara da repressão dava conta de que
Tenório fora confundido com alguém que estava sendo caçado, numa espécie
de operação pente-fino, pré-golpe. E morreu na tortura, cerca de 10
dias depois. Ele, que de política não sabia nada, nem queria saber. O
ser mais apolítico que já conheci na vida, totalmente inofensivo, que só
pensava e vivia para a música, foi preso, torturado e morto como se
fosse um perigoso subversivo. O que, ainda que fosse, não justificaria o
que ele passou.
Sua odisséia serviu como inspiração para o filme 'Os Desafinados', de
Walter Lima Jr, com Rodrigo Santoro fazendo um Tenório de dar aflição a
quem o conheceu (no filme, o personagem tem outro nome). É a
mediunidade a serviço da arte, só pode ser, pois não existem registros
visuais de nosso amigo falando, andando ou mesmo tocando, que expliquem
uma composição tão precisa do ator.
Há também outra produção em andamento, do espanhol Fernando Trueba,
sobre a mesma história. Trueba esteve aqui em casa e na casa de outros
amigos que conheceram e conviveram com 'Seu Antenas' (apelido pelo qual eu o chamava, já que ele era uma antena ambulante para tudo o que era som), para
ouvir depoimentos sobre ele. Eu estive com Tenório poucos dias antes do
acontecido, pois estava na mesma turnê, da qual saí em Montevidéu,
enquanto eles seguiam para Buenos Aires. Acompanhei o desespero de
Vinicius, da família (o quinto filho ainda na barriga da mãe) e
de toda a classe musical carioca naquele momento. Ninguém sabia o que
fazer, a embaixada brasileira não podia ajudar, foi totalmente o caos.
Até que o oficial argentino, numa entrevista, contasse o que realmente
aconteceu. É uma página infeliz da nossa história que merece mesmo um
documentário, como este que Trueba está há anos preparando e que agora,
dizem, pode ser feito em formato de animação.
Falo tudo isso porque tenho esperança de que o caso Tenório venha a ser
investigado na Comissão da Verdade, que recém foi inaugurada. Sei que
muitos outros casos estarão esperando - e dentre eles, alguns de gente
que conheci e por quem tive diferentes afetos: meu parente Aloisio
Palhano; a família Angel Jones (Stuart, Sonia e Zuzu); Ana Maria
Nacinovic, minha colega de escola; e tantos outros mais. Mas embora o
sequestro, prisão e morte de Tenório tenham se dado na Argentina, houve
uma conivência do Brasil, no sentido de 'desaparecer' com aquele
inocente que, ao sair da cadeia onde fora parar por acaso, poderia dar
com a língua nos dentes e assim comprovar o que extra-oficialmente já se
sabia: havia uma cooperação sinistra entre os governos ditatoriais do
Cone Sul.
A discussão sobre direitos autorais no Brasil foge à minha compreensão. É muito complexa. Sendo asism, a gente vai ouvindo quem entende do assunto para formar uma opinião.
Tramscrevo aqui, a opinião da cantora Joyce. Gosto muito da Joyce e acho que a opinião dela merece respeito.
Ana de Hollanda e nossos direitos
Continuam as discussões em
torno das questões que cercam o direito autoral. Por incrível que possa
parecer - e sei que há gente que lê este blog do outro lado do mundo, em
países onde esse tipo de discussão pode até soar meio ridícula - ainda
há quem pregue o retrocesso em nome da 'modernidade'. Muderno,
para esses, seria o autor voltar à situação de marginalidade em que
vivia no início do século XX. O pagamento justo dos direitos do autor
foi conquistado duramente na década de 1970, e eu sei porque vi, ninguém
me contou. Estava lá quando foi criada a SOMBRÁS, associação civil de
compositores que existiu justamente para que essas reivindicações fossem
feitas em nome da música, e que serviu para que fosse centralizada a
arrecadação de nossos direitos, através da criação do ECAD. Se o ECAD
depois se desvirtuou, errou, distribuiu mal, problema nosso, corrija-se.
Mas simplesmente achar que acabar com o ECAD é solução é, no mínimo,
ingenuidade.
(Agora mesmo houve uma grande reformulação na SGAE, sociedade
europeia à qual pertenço, e que atravessava grave crise. Depois de
discussões e debates, foi feita uma nova eleição e modificou-se a SGAE,
democraticamente. Se vai dar certo ou não, isso veremos. O importante é
que em nenhum momento foi proposta a extinção da sociedade. Os espanhóis
não são malucos.)
O projeto da reforma do DA tramita no Senado, onde há muitos felizes
senadores/proprietários de redes de rádio e TV - concessões dadas, na
maior parte, durante o governo Sarney. Estes são os grandes interessados
no não-pagamento dos direitos e dizem isso abertamente, pois contam com
a cumplicidade dos mudernos da internet, que, conscientemente ou
não, também atendem aos interesses de grandes corporações como o
Google. A questão abrange todo tipo de profissional que viva de sua
arte, não apenas nós músicos. Todo criador está, no momento, com sua
profissão em vias de extinção. Somos todos espécies em risco.
Vejam abaixo a fala emocionada da ministra da Cultura, Ana de Hollanda,
no Senado. E, logo a seguir, um ótimo texto do jornalista Mauro Dias
sobre o mesmo assunto.
El Gobierno de Uruguay propondrá hoy legalizar la venta de marihuana para evitar que los adolescentes consuman pasta base de cocaína, considerada como causante de la virulencia de la delincuencia juvenil.
Esta
es una de las medidas contra la inseguridad ciudadana que el Ejecutivo
de José Mujica, del izquierdista Frente Amplio (FA), presentará en una
rueda de prensa.
Fuentes del Ministerio del Interior explicaron, no obstante, que la iniciativa "requiere un proyecto de ley que todavía debe ser redactado".
Según versiones de la prensa uruguaya, el Gobierno pretende "establecer registros de consumidores" para otorgarles "hasta cuarenta cigarrillos de marihuana por mes" y la comercialización de esa droga incluirá "un impuesto para destinar a la rehabilitación de las personas adictas" a otros estupefacientes peores.
La lucha contra el narcotráfico es uno de esos problemas que parecen no tener solución en América Latina. Hasta ahora, el principal modo de luchar contra él ha sido la actuación policial
y el endurecimiento de las leyes. Esta nueva tendencia de legalizar
parcialmente las drogas para acabar con el tráfico negro es también
apoyada por otros líderes como el presidente de Ecuador, que aboga por una legalización "parcial" para acabar con lo que denomina 'Ley seca', que fomenta el crimen organizado.
O aperto de mão entre Lula e Maluf soa como o pacto Stalin/Hitler na II Guerra Mundial. Causou espanto e reações passionais d etodos os lados.
O PSBD sonhava com o apoio do ex-governador, ex-prefeito e ex-presidiário Paulo Maluf. Perdeu para Lula, cada vez menos preocupado com o que alguns arranhões possam prejudicar a sua imagem e mais preocupado com o que a derrota do seu principal adversário possam ajudar sua imagem de vencedor e estrategista genial. Lula chegou no cassino e apostou tudo; pode perder, mas pode ganhar.
Políticamente a foto é um desastre, eleitoralmente pode ser o que Haddad precisava para se viabilizar eleitoralmente. Cada vez a política nacional é um jogo matemático em que a soma dos votos e tempo de TV das legendas fazem parte de um cálculo objetivo, sustentando uma imagem que deverá mexer com a subjetividade. Programa efetivo... isso é coisa do passado. O programa que preocupa os candidatos é o de televisão.Lula compreendeu isso há muito tempo. Por isso trouxe para si os representantes das velhas oligarquias (tipo Sarney), em decadência, mas com muita influência, contrapondo-se aos "novos" oligaracas, adeptos da privataria.
O Pacto Hitler/Stalin permitiu que a URSS tomasse fôlego para enfrentar a II Guerra, enquanto as potências europeias esperavam que a Alemanha invadisse o Oriente e as deixassem em paz. O efeito colateral foi a contemporização com o nazismo e a partilha da Polônia. No pacto Maluf/Lula, o resultado esperado é a vitória de Haddad e o fim do tucanato a partir de sua principal cidadela. Será possível? O futuro dirá.
Apesar da aparência em contrário, Maluf "lulou" para manter-se no cenário eleitoral. O retrato do acordo é abjeto, Maluf é um dos artigos mais podres da política brasileira produzido nessa usina de fabricação de podridões que é São Paulo. Como ele não é candidato, se fosse paulistano, fecharia o nariz e votaria em Haddad e Erundina.
Estou ficando velho, cada vez mais ranzinza e menos exigente.
Por Maeve McClenaghan, do Bureau of Investigative Journalism, em Agência Pública
Estudo revela que metade do valor doado
pela comunidade internacional para iniciativas privadas em países pobres
vai para empresas da OCDE
Em convenções mundiais sobre desenvolvimento e ajuda humanitária,
como o 4º Fórum para Efetividade da Ajuda Humanitária, que ocorreu no
ano passado, os governos repetem sempre a mesma coisa: que a maneira
mais eficaz e justa de administrar a ajuda internacional é deixar nas
mãos dos governos que recebem o auxílio financeiro.
Mas uma nova pesquisa mostra que os governos doadores acabam muitas
vezes investindo dinheiro público em empresas privadas – muitas delas
sediadas nos mesmos países ricos.
Um novo relatório publicado pela Rede Europeia para Dívidas e
Desenvolvimento (Eurodad, na sigla em inglês) examinou cerca de US$ 30
bilhões de investimentos no setor privado voltado para o desenvolvimento
nos países mais pobres do mundo.
As doações foram feitas por governos europeus, pelo Banco Europeu de Investimento (BEI) e pelo Banco Mundial, entre outros.
Quase metade desses investimentos foi para empresas dos países que
fazem parte da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE), cujos 34 membros reúnem mais da metade da riqueza
mundial.
O estudo mostrou que muitas destas empresas contratadas são grandes
corporações e suas subsidiárias. Cerca de 40% estão listadas em alguma
das maiores bolsas de valores do mundo.
Dentre os 15 maiores investimentos do BEI e da Corporação Financeira
Internacional do Banco Mundial (IFC, na sigla em inglês), dois foram
para empresas sediadas no Reino Unido: Helios Towers e Vodafone Ghana.
Ao mesmo tempo, apenas 25% das empresas financiadas pelo EIB e pelo IFC
estão sediadas em países em desenvolvimento.
Até em paraísos fiscais
A pesquisa da Eurodad também descobriu que muitos dos grandes
investimentos em ajuda internacional estão indo, na verdade, para
empresas sediadas em paraísos fiscais.
O relatório foi além. Descobriu que 50% da ajuda dada pelo BEI foi
enviada por meio de intermediários do setor financeiro. Esses
intermediários financeiros incluíam bancos, hedge funds e fundos privados com sistemas de relatório extremamente opacos.
O resultado? É muito difícil de acompanhar como o dinheiro está sendo investido.
“Investimentos em empresas privadas onde são necessários e
apropriados podem ser valiosos, mas há pouca evidência de que doadores e
instituições internacionais têm um plano claro. Muito do dinheiro
público acaba financiando empresas de países ricos. Muito pouco vai para
nutrir o setor privado dos países mais pobres do mundo”, diz Jeroen
Kwakkenbos, analista financeiro da Eurodad e autor do relatório.
Em conclusão, o relatório da Eurodad prevê que até 2015 um terço de
todo o financiamento de governos de países ricos destinado a países em
desenvolvimento irá acabar nas mãos de empresas do setor privado. O
relatório pode ser baixado na íntegra, em inglês, através deste link.
Não há um número, certo ou aproximado, relativo aos imigrantes
brasileiros que têm vindo a abandonar Portugal, mas a Organização
Internacional para as Migrações (OIM) não tem dúvidas que são bastantes.
A saída de cidadãos brasileiros intensificou-se nos últimos anos. A
crise é a explicação apontada pela OIM e pelos imigrantes que
entrevistámos.
Bernadete, Bruno, Josias e Ronaldo (nome fictício) deixaram o Brasil
há alguns anos para trabalhar em Portugal. Quando chegaram não tiveram
dificuldades em encontrar emprego, mas o país de acolhimento entrou em
crise e alguns deles estão, agora, sem trabalho. Ponderam regressar ao
Brasil. O mesmo acontece com os que estão empregados… Ronaldo
chegou a Portugal há onze anos. Arranjou logo trabalho, algo que deixou
de ter há cerca de um ano e meio. Na falta de um emprego fixo, este
operário da construção civil vai fazendo “uns biscates”, enquanto a
mulher “faz bolos por conta própria”. O que os dois recebem não dá pagar
todas as despesas de uma família com quatro filhos: “É impossível! Só
vamos acumulando dívida”. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a água e
a luz, que já foram cortadas mais do que uma vez. Para conseguirem que
seja restabelecida a ligação, depois de cada corte, colocam como titular
outro familiar. “Eu já tentei o que podia e não teve jeito.
Agora, a esperança é voltar para o Brasil e ver se as coisas melhoram.
Em princípio, está melhor do que aqui”, sublinha Rogério, cuja data de
regresso “é para ontem”. Em Terras de Vera Cruz, a família tem casa
própria, perspectivas de trabalho e parentes, que, em caso de
necessidade, podem ajudar.
Com o Brasil no horizonte
BernadetePelissari está em Portugal há quase dez anos (swissinfo
Bernadete Pelissári também está desempregada. Deixou o trabalho que
tinha em Janeiro, por inadaptação, mas agora está a ter dificuldades
para encontrar novo emprego. “Quando vou às entrevistas tem muitas
pessoas à espera. Tem sido mais complicado do que antes. Antes saía de
um trabalho e entrava logo noutro”, realça a brasileira que está em
Portugal há quase dez anos. A imigrante acredita que vai
encontrar um emprego, mas já tem no horizonte o regresso ao Brasil no
próximo ano. “Conheço muita gente que está a pensar voltar, que tem uma
expectativa muito boa do Brasil, porque aqui está bem cotado, bem
falado. A gente ouve falar que lá está melhor”, destaca.Após
oito anos em terras lusas, Bruno Nascimento decidiu que “está na altura
de voltar” ao Brasil, mesmo, se ao contrário de Ronaldo e Bernadete, tem
trabalho num restaurante perto do Porto. O imigrante de 26 anos soube
através dos media que “o Brasil está muito bom” e pensou que tinha
chegado a hora de ajudar os negócios dos pais “a crescer”.
Salário “não é compatível” com as despesas
A pujança da economia brasileira contrasta com a crise em que Portugal
mergulhou. “O negócio aqui está ficando cada vez pior. Quando cheguei
era bem diferente. A gente conseguia juntar um dinheiro. Na época boa,
consegui mandar muito dinheiro para o Brasil. Hoje, temos que largar
muitas coisas que fazíamos para poder juntar algum”, lamenta Bruno,
considerando que trabalhar em Portugal já não compensa no caso dos
imigrantes. Josias Oliveira também tem trabalho em Portugal,
“mas actualmente não está dando mais para ficar”. É que o salário “não é
compatível” com as despesas de aluguer, água, telefone, electricidade,
combustíveis e impostos. Este cozinheiro, que chegou a Portugal há quase
quatro anos, está, por isso, a pensar regressar ao Brasil. Como
data-limite traçou Maio do ano que vem. Para já, não tem perspectivas de
emprego. Ele, a mulher e dois dos três filhos vão apenas “com a cara e a
coragem”, tal como quando chegaram a Portugal. O outro filho deve
continuar em território luso: “Ele está a trabalhar. Para um solteiro
talvez dê, com um quartinho”. A swissinfo.ch contactou o
Consulado-Geral do Brasil no Porto, que remeteu quaisquer questões sobre
o retorno dos imigrantes brasileiros para o Ministério das Relações
Exteriores. Brasília não respondeu às informações que solicitámos por
e-mail.
Brasília - O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Gilson Dipp,
ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), disse que uma assessora
está em Belo Horizonte e que vai acessar o arquivo do Conselho de
Direitos Humanos de Minas (Conedh-MG), que guarda o depoimento da
presidenta Dilma Rousseff sobre as torturas que sofreu quando estava
presa no período da ditadura militar.
“A pesquisadora já estava lá, com pesquisas que tem na Universidade
Federal de Minas Gerais [UFMG], e vamos aproveitar para que ela faça
esse contato”, disse Dipp à Agência Brasil. Segundo
ele, a assessora poderá auxiliar a comissão verificando, além dos
arquivos divulgados ontem (17) e hoje (18) pelos jornais Correio Braziliense e Estado de Minas, outros documentos que ainda não tenham sido abertos.
No testemunho prestado em 2001, Dilma Rousseff descreve as sessões de
tortura às quais foi submetida em 1972, em Juiz de Fora. Ela revelou que
chegou a ser agredida com socos no maxilar. “Minha arcada girou para
outro lado, me causando problemas até hoje, problemas no osso do suporte
do dente. Me deram um soco e o dente se deslocou e apodreceu”, relatou
Dilma. “Só mais tarde, quando voltei para São Paulo, o Albernaz [capitão
Alberto Albernaz, do DOI-Codi] completou o serviço com um soco,
arrancando o dente”.
Gilson Dipp disse que ainda não foi discutida, dentro do grupo, a
possibilidade de ouvir a presidenta sobre as torturas que ela sofreu em
Minas Gerais.
Segundo as reportagens publicadas pelos jornais, do grupo Diários
Associados, Dilma tinha 22 anos quando foi presa. Ela militava no
Comando de Libertação Nacional (Colina), grupo considerado terrorista
pelos militares, e usava codinomes como Estela, Stela, Vanda, Luíza,
Mariza e Ana.
Se algum dia pararmos para pensar se nossa existência é mesmo
distinta ou aleatória e o porquê de estarmos nesse planeta e nesse
tempo, talvez fosse interessante se pudéssemos observar o interior dessa
capela. Ao mesmo tempo assustadora e bonita, sua decoração parece ter
sido feita para nos lembrar da nossa condição.
A Capela dos Ossos é um dos mais conhecidos monumentos de Évora, em
Portugal. Está situada na Igreja de São Francisco. Foi construída no
sécurlo XVII por iniciativa de três monges que, dentro do espírito da
contra-reforma religiosa, de acordo com as normativas do Concílio de
Trento, pretendeu transmitir a mensagem da transitoriedade da vida, tal
como se depreende do célebre aviso à entrada: "Nós ossos que aqui
estamos pelos vossos esperamos". Fala-se que foi calculado por volta
de 5000 ossos, provenientes dos cemitérios, situados em igrejas e
conventos da cidade.
Poemas dentro da capela:
Poema sobre as caveiras
As caveiras descarnadas
São a minha companhia,
Trago-as de noite e de dia
Na memória retratadas
Muitas foram respeitadas
No mundo por seus talentos,
E outros vãos ornamentos,
Que serviram à vaidade,
E talvez…na eternidade
Sejam causa de seus tormentos.
Poema sobre a existência
Aonde vais, caminhante, acelerado?
Pára…não prossigas mais avante;
Negócio, não tens mais importante,
Do que este, à tua vista apresentado.
Recorda quantos desta vida tem passado,
Reflete em que terás fim semelhante,
Que para meditar causa é bastante
Terem todos mais nisto parado.
Pondera, que influído d'essa sorte,
Entre negociações do mundo tantas,
Tão pouco consideras na morte;
Porém, se os olhos aqui levantas,
Pára…porque em negócio deste porte,
Quanto mais tu parares, mais adiantas.
Este soneto é atribuído ao Padre António da Ascensão Teles, pároco da
freguesia de São Pedro na igreja de São Francisco) entre 1845 e 1848.
Alice Pasquini é uma multifacetada artista italiana. Trabalha com
design, cenografia e pintura, expondo em várias galerias, e deixando a
sua marca por um sem número de cidades Europeias. Gosta de representar o
lado humano mais agradável, a inocência, a amizade o amor. Tem
trabalhos expostos em várias galerias italianas.
Alice Pasquini, ou Alicè é uma lufada de ar fresco na arte urbana.
Talvez por trabalhar em áreas diferentes, embora complementares, como o
design, a pintura e a cenografia, tenha a capacidade de apreender o
mundo de uma maneira mais sensorial. A sua temática é diferente daquelas
a que nos habituaram os artistas deste género. Aqui não se pintam
sentimentos negativos, nem rabiscos imperceptíveis, que pouco contribuem
para melhorar o espaço onde está inserido.
A artista gosta de pintar as pessoas e a maneira como estas se
relacionam entre si, dos seus sentimentos humanos mais nobres, como
amor, felicidade, amizade, inocência. Numa forma de arte ainda muito
associado aos homens, Alicé tem uma particular predilecção para a
representação de mulheres fortes, autónomas e independentes.
Actualmente a sua residência é em Roma, e é na Itália que cria grande
parte da sua arte, e onde expões em galerias. Tem o seu trabalho
espalhado pelo mundo inteiro, embora com principal incidência na Europa.
O facto de já ter vivido no Reino Unido, França, e Espanha confere-lhe
um conhecimento mais profundo das diferentes sociedades europeias.
Mas é em Roma com seu M.U.R.O (Museo Urban di Roma, o museu de arte
urbana de Roma), contribuem para a utilização da rua como fonte
primordial de exposições urbanas de Alicè, torna a arte acessível a toda
a gente, sem filas, sem bilhete, mas com muita beleza.
A sua obra é bastante variada, seja na cor ou na temática. Possui
elementos que atraem aspessoas, criando uma empatia com a sua obra, e é
nas pessoas reais que reside a sua fonte de inspiração.
Como artista multifacetada que é, já teve inúmeros convites para a
participação em projectos de ilustração e design gráfico, de onde se
destaca a novela gráfica “vertigine ed rizzoli”.
Usa todos os tipos de tela urbana, como fachadas de casas, muros,
portas e portões, mas também a parte de trás de sinais de trânsito,
bancos de jardim, caixas de luz. Podemos ser surpreendidos numa esquina
com um mural de grandes dimensões, ou então com um caixote do lixo
decorado de uma forma soberba. Exemplo perfeito da função da arte
enquanto elemento de enriquecimento urbano.
Os Estados Unidos já disseram que não irão participar da
recapitalização do FMI, aumentando ainda mais a pressão sobre bloco
liderado pelo Brasil, Rússia e China, no G20. Christine Lagarde, quer
aumentar a capacidade de empréstimo do Fundo para US $ 500 bi
247 com agências internacionais - Os líderes das 20 maiores
economias do mundo que se encontram em Los Cabos, no México, têm a
difícil missão de encontrar uma solução para a crise financeira e
econômica da Europa e o aumentar a barreira de proteção do Fundo
Monetário Internacional (FMI), que atualmente está em US$ 430 bi. "Não
quero ficar especulando, mas espero que consigamos acordar uma maior
capitalização dessa barreira", disse, neste sábado, 16, a repórteres, o
presidente Felipe Calderón, do México, o anfitrião da reunião do grupo.
Os Estados Unidos já disseram que não irão participar da
recapitalização do FMI, aumentando ainda mais a pressão sobre os países
emergentes. Em abril, vários países membros do G20 já tinham anunciado a
intenção de aumentar expressivamente os recursos do FMI, mas o montante
estimado não contava com as contribuições da China, da Rússia e do
México, que não haviam divulgado o valor de suas doações. "Será a
primeira vez que o Fundo será recapitalizado sem a ajuda dos EUA,
aumentando a importância dos países emergentes nesse processo", disse
Calderón.
Em fevereiro, o ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, disse
que os países emergentes darão mais recursos ao FMI desde que os
europeus reforcem suas medidas para enfrentar a crise e cumpram com a
reforma que prevê maior poder de decisão a estas economias no Fundo
Monetário Internacional. "Não podemos acertar um aumento de recursos sem
a aplicação desta reforma no FMI", disse Mantega.
Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI, quer aumentar a
capacidade de empréstimo do Fundo para US $ 500 bilhões. Ela acredita
que a cifra poderá ajudar a evitar novas crises, que, por acaso, venham
minar a economia mundial. Lagarde cancelou a viagem ao Rio+20, para se
dedicar a esta questão.
Pesquisador sul-africano que escreveu livro sobre a Copa na África diz que seu verdadeiro legado foram dívidas e desemprego
O sul africano Eddie Cottle, autor do livro “Copa do Mundo da
África do Sul: um legado para quem?”, acompanhou o megaevento de 2010
com olhos atentos. Ele coordenou a campanha por trabalho decente entre
os sindicatos da construção no país. E após pesquisar o antes, durante e
pós Copa, garante que as perspectivas de crescimento do país, aumento
do número de empregos e no número de turistas nunca se concretizou por
lá.
Ele acredita para o Brasil a coisa pode ser ainda pior,
principalmente por causa do grande número de despejos que já aconteceram
por aqui. “Olhando para o que está acontecendo no Brasil, o que se pode
esperar é um aumento pequeno dos níveis de emprego a curto prazo,
salários baixos, e a maioria dos fundos públicos sendo desviados para os
lucros das grandes empresas”.
Quais eram as promessas para o evento na África do Sul? E quem mais encorajou esta “ilusão”? A mídia? O governo? A própria Fifa?
Uma das maneiras mais perniciosas de se criar a aceitação geral da
Copa do Mundo é através da divulgação de números exagerados de geração
de empregos. Nesse sentido, o evento de 2010 parecia muito interessante.
O número de postos de trabalho foi estimado em 695.000 para os períodos
pré e durante a Copa do Mundo. E o que aconteceu na realidade? No
segundo trimestre de 2010, as taxas de empregabilidade diminuíram em
4,7%, ou seja, perdemos 627.000 postos de trabalho. No setor da
construção civil, onde se tinha a sensação de que os ‘bons tempos’
seriam sentidos por todos, o emprego diminuiu 7,1% (ou 54.000 postos de
trabalho) neste período. Na verdade, o ano de 2010 testemunhou com menos
111.000 postos de emprego na construção. Olhando para o que está
acontecendo no Brasil, o que se pode esperar é um aumento pequeno dos
níveis de emprego a curto prazo, salários baixos, e a maioria dos fundos
públicos sendo desviados para os lucros das grandes empresas. Quando o
termo “legado” é usado pelas comissões de licitação, pela Fifa, pelos
Comitês Organizadores Locais, funcionários do governo e as principais
consultorias econômicas, ele é assumido como inteiramente positivo, com o
argumento de que os benefícios do crescimento econômico e do
desenvolvimento urbano irão para as comunidades como uma coisa natural.
Essas são mentiras absurdas. Nunca são feitos estudos sérios acerca dos
investimentos feitos pelo governo e a que custo eles acontecem; sobre o
impacto da Copa sobre o meio ambiente ou os custos sociais de sediar a
Copa. O relatório econômico oficial é mantido sob sigilo e longe da
discussão pública, simplesmente porque são falhos.
Qual foi o acordo de anfitrião feito entre a Fifa e a África do Sul? Foram criadas leis específicas como no Brasil?
O maior problema que o Brasil irá enfrentar é a promulgação das “Leis
da Fifa”, que serão o elo entre o governo brasileiro e a Fifa. Estas
leis dão garantias para a Fifa que incluem uma “bolha” livre de
impostos; importação e exportação irrestrita de todas as moedas do e
para o Brasil, bem como a sua troca e conversão em dólares, euros ou
francos-suíços; a suspensão de qualquer legislação trabalhista que
possam restringir a Fifa, seus parceiros comerciais, a imprensa e os
membros de sua equipe de transmissão dos jogos; segurança e assistência
médica gratuita [para a Fifa]; a proteção dos direitos de propriedade
intelectual da Fifa e garantias para indenizá-la por quaisquer
contestações judiciais ou processos que possa vir a sofrer. Para fazer
cumprir estas concessões da soberania da África do Sul, a Fifa exigiu
que o Estado criasse e financiasse juizados especiais. E para além
disso, durante a competição, nenhuma grande obra foi permitida nas
cidades-sede, o que significa reduzir o crescimento econômico.
Como estão hoje as vítimas de remoções forçadas? Você sabe?
Eu não tenho notícias… Mas acho que no Brasil a situação será pior,
porque na África não tinham tantas pessoas morando ao redor dos
estádios.
A África do Sul ganhou ou gastou mais dinheiro com a Copa?
Em 2003, a consultoria internacional Grant Thornton estimou que as
despesas da África do Sul com a Copa do Mundo seriam “mínimas”. Ela
viria ao custo de US$ 2,3 bilhões, mas, com a renda da tributação da
Copa estimada em US$ 954 milhões, seria um lucro enorme. O panorama
atual dos gastos é estimado em US$ 5,2 bilhões, um gritante aumento na
estimativa inicial. Mesmo assim, nós não temos ainda a contagem final
para os custos de hospedagem da Copa do Mundo e provavelmente nunca a
teremos. O South African Reserve Bank indicou custos muito mais elevados
para o Estado, inclusive através de empresas estatais que investiram
US$ 17 bilhões em formação de capital, a maior parte desse valor
relacionado com a Copa do Mundo, e que agora estão incorrendo em um
déficit de financiamento de US$ 8,3 bilhões como resultado. A avaliação
atual para o Brasil e para qualquer outro país que sedie o evento é um
destino semelhante de um gasto sem precedentes de fundos públicos, cujas
despesas não serão totalmente contabilizadas.
E as obras de mobilidade urbana e reforma dos estádios? Isso realmente ajudou a população depois do evento?
Diz-se que, para a Copa de 2002, a Coreia do Sul e o Japão gastaram
US$ 2 bilhões e US$ 4 bilhões respectivamente nos estádios, enquanto na
Alemanha os custos dos estádios foram de US$ 2,2 bilhões. A África do
Sul gastou US$ 2,5 bilhões nos estádios da Copa do Mundo (excluindo
outras infraestruturas). Será extremamente difícil para quase todos os
estádios cobrirem suas despesas operacionais, e atender aos interesses
do capital e do pagamento de juros. Isso significa que os impostos
municipais locais aumentaram e mais fundos provenientes do orçamento
nacional foram destinados aos estádios para suprir os custos excedentes,
ficando menos disponíveis para investir nos custos sociais.
Sobre as zonas de exclusão ao redor dos estádios, o que aconteceu com os ambulantes?
A Copa do Mundo é um eufemismo para o que eu tenho chamado de
“complexo de acumulação esportiva da Fifa” que impulsiona a exploração
das nações anfitriãs e dos trabalhadores. A maioria das análises não
consegue ver os interesses de classe que são atendidos pelos megaeventos
como a Copa. A Fifa leva uma classe mercantil globalizada a colocar
pressões significativas sobre produtores que, por sua vez, se engajam em
repressões salariais agressivas sobre os trabalhadores. Na África do
Sul, o mascote da FIFA, por exemplo, licenciado pelo Global Brands
Group, foi produzido por trabalhadores chineses que receberam apenas
três dólares por dia. Como os direitos de propriedade pertencerão 100% à
Fifa, apesar de o Brasil estar sediando o evento, os comerciantes
locais serão marginalizados e será ilegal para eles usar marcas que
estejam fora do rol da Copa do Mundo, então eles serão os perdedores. Na
África do Sul, por exemplo, nós fomos forçados a vender cerveja
americana, a Budweiser, mesmo contando com grandes cervejarias em nosso
país. Cerca de 100.000 comerciantes informais perderam suas fontes de
renda durante a Copa do Mundo e não puderam ir aos estádios e, a julgar
pelas semelhanças entre os nossos países, isso também deve acontecer no
Brasil.
Sem querer ser estraga-prazer, nem desmerecer a
importância da consciência ecológica, muito menos o esforço da
diplomacia ambiental brasileira, o fato é que a Rio+20 é o de menos.
Seus impasses são decorrentes das contradições que a ONU enfrenta em um
mundo que virou de ponta a cabeça desde a Segunda Guerra Mundial.
Simultaneamente à Rio+20, uma guerra civil
desaba sobre a Síria e um novo capítulo da crise econômica internacional
se abre. O que esses três eventos têm em comum? Todos envolvem
diretamente o chamado sistema ONU, ou seja, sua Assembleia, seu Conselho
de Segurança e seus inúmeros organismos, programas, fundos e agências
especializadas, como o FMI e o Banco Mundial. Sem querer ser
estraga-prazer, nem desmerecer a importância da consciência ecológica,
muito menos o esforço da diplomacia ambiental brasileira, o fato é que a
Rio+20 é o de menos. Seus impasses são decorrentes das contradições
que a ONU enfrenta em um mundo que virou de ponta a cabeça desde a
Segunda Guerra Mundial. Os Estados Unidos, arquitetos
fundamentais da formação da Organização, nos tempos de Franklin
Roosevelt, abandonaram sua defesa do multilateralismo desde que
mergulharam na Guerra Fria. Do final dos anos 1940 até hoje,
consolidaram uma diplomacia unilateral e predatória, bem representada na
metáfora dos "falcões", seus mais agressivos idealizadores. A
União Soviética desapareceu do mapa e a Rússia, âncora de um bloco que
já foi apelidado de Segundo Mundo, hoje tem a seu favor, na melhor das
hipóteses, uma posição entre os BRICS. A China, em 1945, sequer
havia feito sua revolução comunista, menos ainda sua revolução
industrial. Reino Unido e França são potências em franca decadência,
cercadas por um continente em crise profunda, não apenas econômica, mas
política, social e cultural. O território ímpar do Estado de bem-estar
social se tornou esteio do neoliberalismo e tem como seus mais
importantes símbolos uma moeda, o Euro, seu guardião, o Banco Central
Europeu, e a coveira da desunião europeia, Angela Merkel. O Banco
Mundial e o FMI, o que se tornaram? Cassandras. Podem estar certos em
suas previsões catastrofistas, mas sua atuação não ajuda em nada. Ao
contrário, têm atrapalhado bastante, a cada vez que acrescentam detalhes
mórbidos ao clima de pessimismo já reinante. O Banco Mundial tem
disseminado a previsão de que os países estão cada vez menos preparados
para enfrentar a crise. A diretora-presidente do FMI marcou um
"deadline" de três meses para o Euro. Com agências desse tipo, quem
precisa de inimigos? A ONU vive ultimamente de distribuir
sanções, patrocinar intervenções e disseminar ilusões. Estamos na semana
das promessas e das boas intensões, quando tudo se resume a uma questão
de métrica, prazos e esforços: dos governos, da "sociedade" e, cada vez
mais é isso que se martela, dos indivíduos. Salvar o mundo? É só ter
consciência e atitude. Uma semana antes da Rio+20, pudemos ver
duas cenas patéticas. Burocratas da ONU, em ternos impecáveis e
capacetes azuis, pedalando bicicletas posicionadas perto o suficiente
para que não chegassem suados ao local de suas reuniões. Mais tarde,
Giselle Bündchen, embaixadora do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA), fez uma graça, plantando uma árvore e colocando uma pá
de cal nos ataques que sofreu por desfilar com casacos de pele de
animais. O marketing travestido de consciência ambiental mandou trocar a
velha e boa calça desbotada da sustentabilidade para dar lugar ao lema
sem leme da “economia verde”. Como toda superprodução que precisa
de mocinhos e de final feliz, a aventura de salvar o planeta também
demanda vilões. Por exemplo, emergentes como a China, a Índia e a
Rússia. E o Brasil que se cuide. Ao que parece, eles andam usando
petróleo, abusando das emissões de gases de efeito estufa, desmatando os
pulmões do planeta, contaminando a água que todo o mundo precisa beber.
Ao mesmo tempo, estudos "científicos", reproduzidos por inúmeras
mídias, concluem que práticas diárias de cidadãos comuns prejudicam
tanto ou mais do que os grandes poluidores. Gente que cria cabras e
queima lenha em fogões antigos está acabando com o planeta, vejam só. Alguém
precisa fazer alguma coisa. O Brasil pode fazer alguma coisa. Pode
ampliar seu investimento em ciência e tecnologia, com fundos de parte
dos royalties do petróleo, para financiar pesquisas que inaugurem um
protagonismo tecnológico rumo a um novo padrão de desenvolvimento.
Enquanto isso, o sistema ONU continuará, entre sanções e intervenções,
atualizando relatórios que mostram que o mundo que a criou já não
existe mais.
Antonio Lassance é cientista político e
pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). As
opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente opiniões do
Instituto.