sábado, 30 de abril de 2011

A imaterialidade da coisa

Por: Tau Golin*
Algo assustador vem ocorrendo gradativamente no Rio Grande do Sul. Um movimento de pressão política e cultural está em vias de subverter completamente o princípio do patrimônio imaterial.
O Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) deseja ser o elemento dessa aberração.
Por óbvio, se poderia considerar “patrimônio imaterial” manifestações culturais, mas não a “entidade” que as promove. Considerar o tradicionalismo, que é uma sociedade privada, organizada na sociedade civil, como “patrimônio imaterial” seria a mesma coisa que reconhecer o Grêmio ou o Internacional como únicas manifestações genuínas e autênticas do futebol. Certamente, se um clube sumir isso não afetará a existência do esporte.
O tradicionalismo é um movimento cívico-cultural organizado em rede, de forma associativa, e de caráter de massa, articulado pela indústria cultural e diversos interesses comerciais, políticos, etc., que, além de milhares de posturas sinceras, especulam com hábitos, costumes e elementos da tradição. Não existe imaterialidade no tradicionalismo. Duvidosamente, a imaterialidade poderia ser encontrada em algumas manifestações utilizadas pelo movimento, entretanto reinterpretadas, agregadas por sentidos contemporâneos, sem sustentação metodológica. Portanto, ainda assim, de forçosa “imaterialidade”. A seleção, a reinterpretação, a reorganização, e o novo sentido agregado, adequado aos interesses do movimento, retiram a sua “imaterialidade”. O motivo: não é mais autêntico; foi tradicionalizada.
Desde os anos 1940, o tradicionalismo vem privatizando uma série de manifestações culturais, hábitos e costumes rio-grandenses. Muitos existiam isolados em regiões remotas. Da tradição foram retirados e reelaborados em uma engrenagem de rede. Um eficiente marketing e práticas de adestramento comportamental encarregaram-se de “educar” os contingentes como se pertencessem a todos os grupos humanos. E o que é pior: como se o RS tivesse um único gentílico formatador gauchesco.
Praticamente todas as manifestações adotadas pelo tradicionalismo já existiam antes do seu aparecimento como entidade privada. Se o tradicionalismo, por sua vez, desaparecer, as realmente importantes continuarão existindo. Patrimônio imaterial é o mate (legado indígena), a culinária, determinadas músicas e danças regionais, etc., e não o tradicionalismo.
Com o sucesso de se transformar em “patrimônio imaterial”, o tradicionalismo chegou ao extremo de sua usurpação da riqueza cultural regional. Ele se converte em “único”, “legítimo” portador dos eventos da identidade. Ele passou a ser o próprio fenômeno. Parece evidente que esta nova expropriação não resiste à História e ao contrato republicano da sociedade contemporânea. A imanência tradicionalista o conduziu à crença de que ele é, em essência, a coisa...
Nessa lógica, a “cidadania” ainda será acusada de crime contra o patrimônio se realizar qualquer crítica a um tradicionalista (em essência, a coisa imaterial), protestar contra seus hábitos de estercar as cidades nos meses de setembro; espancar animais nos rodeios; ou o poder público ficará impossibilitado de realizar alguma reforma urbana porque em determinado lugar existe um galpão com uma placa tosca na fachada escrito CTG, cujas atividades são de duvidoso interesse público.

Passando à imaterialidade, só falta agora o tradicionalismo almejar ser o espírito do rio-grandense.

*Tau Golin é jornalista e historiador

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Cuba: Max Altman x Eugênio Bucci

Li os textos de Eugênio Bucci sobre o Congresso do Partido Comunista Cubano (PCC) e o texto de Max Altaman sobre o texto de Eugênio Bucci sobre o Congresso do PCC. Não concordo com tudo o que o prof. Bucci escreveu, mas os 16 parágrafos de Altman pareceram-me pouco para contestar os nove parágrafos de Bucci.
Será um erro posicionar-se sobre o que escreveu Eugênio Bucci a partir do que disse Max Altman. Altman sai atirando, contra o neoliberalismo de Bucci, mas busca legitimar suas idéias na opinião de Catherine Ashton, isso não é coerente. Aliás, Max Altman incorre em um erro primário de tradução, deixando-se levar pelo falso cognato remarkable,coisa que até eu entendo.
Altman acusa Bucci de debochar da história, coisa que não se percebe no texto original. Ao longo de várias passagens, Altman atribui ao professor Bucci ideias que ele não explicita no texto para, na sequência, atacar as ideias que ele próprio criou. Isso não é honesto intelectualmente. Altman contesta a crítica ao “Estado geriátrico”, aludindo às multidões juvenis que vão às ruas de Havana. Desconsiderou o crítico que o próprio Raul Castro chamou a atenção para a o formalismo de algumas cerimônias revolucionárias.
É visível que o Birô Político do PCC não contempla os jovens, tão decantados por Altman, mas a defesa que ele faz chega às raias do absurdo. Segundo ele, se tivesse vencido a eleição, Serra seria presidente com 69 anos, enquanto o Birô Político do PCC cubano tem uma média etária de 67 anos. A questão é saber o que uma coisa tem a ver com a outra? Altman pôs o tucano no meio debate sem explicação nenhuma.
Quem lê o artigo de Altman somente, não fica sabendo que Bucci traçou um paralelo entre o Irã e Cuba. Por que Altman não explorou isso? Seria bem mais interessante encarar essa polêmica. Altman fugiu do tema mais espinhoso.
Lá pelas tantas, Altman, depois de colocar Serra no debate, questiona se “o ilustre professor (i.é. Bucci) acha que nos Estados Unidos o poder emana do povo quando se trata de fazer guerra, invadir países...”. Convenhamos, Bucci não expressou opinião sobre o modelo político dos EUA, mas quem não leu o artigo do professor da USP é levado a pensar que ele defendeu a política expansionista estadunidense. Não é honesto debater dessa maneira.
Falo pouco sobre Cuba, porque não a conheço. Mas conheço os argumentos dos que falam sobre Cuba. Repito, não concordo com tudo o que Eugênio Bucci escreveu, mas Cuba merecia um defensor melhor que Max Altman.
Considero que muitas das mudanças que se processam em Cuba são fruto da necessidade de sobrevivência da população. Bucci é crítico, pensa que o capitalismo só levará o seu lado perverso. Altman é um otimista, no parágrafo final do texto, reforça algo que já critiquei singelamente no meu blog, a palavra do comandante é a garantia do socialismo. Se Bucci escrevesse, há seis ou sete anos atrás, o que Castro disse no Congresso do PCC, Altman o atacaria virulentamente.
Sou simpático à Cuba, mas sou crítico. Altman é mais castrista que os Castro.

domingo, 24 de abril de 2011

Aline Hrasko, essa menina canta muito



Essa garota, se não me engano, é capixaba. Canta muito bem. Quando ela fizer sucesso, lembrem-se de que já a viram neste modesto blog. Se ela não fizer sucesso, lembrem-se também. Sucesso e talento nem sempre estão juntos.