sexta-feira, 3 de junho de 2011

Justiça do Chile abre investigação sobre a morte do poeta Pablo Neruda


Allende e Neruda
Renata Giraldi*

Repórter da Agência Brasil
Brasília – Depois da exumação dos restos mortais do ex-presidente Salvador Allende (1970-1973) para apurações sobre a causa de sua morte, a Justiça do Chile determinou a abertura de investigações sobre o poeta e Prêmio Nobel de Literatura de 1971, Pablo Neruda, que passou parte da vida no país. Neruda morreu em 23 de setembro de 1973, 12 dias depois do golpe do Estado comandado pelo então presidente Augusto Pinochet (1973-1990).
Para o Partido Comunista (PC) do Chile, Neruda pode ter sido assassinado e não ter morrido em consequência de câncer na próstata, como diz a versão oficial. O juiz Mario Carroza aceitou o pedido para abertura de investigações, encaminhado pelo PC.
A denúncia do partido se baseou em denúncia feita por Manuel Araya, de 65 anos, ex-motorista e secretário particular de Neruda. Araya disse que o poeta pode ter sido envenenado enquanto estava internado, na clínica particular Santa Maria de Santiago, na capital chilena.
O ex-motorista de Neruda disse que viu o poeta receber uma injeção suspeita e que em poucas horas o estado de saúde dele piorou. Para Araya, o governo Pinochet pretendia exilar Neruda no México. A versão foi contestada pela Fundação Pablo Neruda, que administra a obra do poeta.
Porém, a denúncia de Araya teve apoio do ex-embaixador do México no Chile Gonzalo Martinez. O diplomata esteve com Neruda poucos dias antes da morte do poeta e conversou com ele sobre seu asilo na capital mexicana. Segundo Martinez, Neruda estava doente, mas não em estado catatônico, como alegou a equipe médica da clínica.
No último dia 23, foi exumado o corpo de Allende também por ordem de Carroza. O juiz investiga as acusações de que o ex-presidente foi assassinado por militares e que ele não se suicidou. Para o promotor público Eduardo Contreras, as investigações sobre as mortes do ex-presidente e do poeta mostram "vontade de tentar chegar mais perto da verdade."

*Com informações da rede multiestatal de televisão Telesul, com sede na Venezuela, e da rádio pública da França, RFI.
Edição: Juliana Andrade

Cai a ficha da grande mídia

Raras vezes a realidade fala mais alto e revela ter mais poder do que alguns atores tradicionais da grande mídia brasileira.
Um artigo de Soraya Aggege, sob o título “O poder da maioria”, recentemente publicado na CartaCapital (n. 644, de 4/5/2011), fez um interessante resumo de informações que têm circulado há algum tempo sobre a impressionante ascensão que a classe C teve em nosso país, nos últimos anos. A revista se utiliza, sobretudo, de dados do instituto Data Popular, especializado em pesquisar esse segmento da população que, em 2014, será majoritário e concentrará 54% do eleitorado.
Nada de novo. Apenas algumas confirmações e, mais importante, algumas conseqüências.

“Deslocando” a formação da opinião

A matéria afirma que “no atual contexto, dizem os especialistas, o eixo da formação de opinião deslocou-se dos pais, ou de velhas lideranças locais, como padres e representantes comunitários, para os filhos”. E prossegue: “Os dados revelam que, nesse segmento, o que mais vale não é o que diz a televisão. Nada menos que 79% deles confiam mais nas recomendações dos parentes que na propaganda de tevê. Para se ter uma ideia, no Nordeste, onde se deu a maior expansão desse estrato social, 74% preferem se informar pelo boca a boca”.
Ao longo do texto alguns depoimentos colhidos de novos representantes da Classe C ratificam aquilo que as pesquisas revelam. Exemplo:
** “Aos 20 anos, [Vanessa Antonio] integra a porção jovem dos 31 milhões de brasileiros recém-instalados no meio da pirâmide social, com renda familiar mensal entre 1,5 mil e 5 mil reais. [Ela] e outros milhões de jovens das periferias começam a desempenhar o papel de principais formadores de opinião da chamada “nova classe média”. E mais: “Para os jovens como [Vanessa], três fatores aumentaram seu poder de opinião sobre a família e suas comunidades: emprego, estudos e o que eles chamam de “nova bomba do mundo”, a tecnologia. “Temos computadores e celulares. Nossas famílias agora têm mais acesso à informação. Agente vê as notícias, compara na internet e conta para eles.”
Esse extraordinário fenômeno de deslocamento do poder de construção da opinião pública de seus “formadores tradicionais” (pais, padres, professores e colunistas da velha mídia, dentre outros) para “líderes de opinião” das classes em ascensão social, com acesso direto e/ou indireto a fontes alternativas de informação, sobretudo à internet, já havia sido identificado faz tempo e deu mostras inequívocas de seu poder pelo menos desde as eleições de 2006 [cf. Venício A. de Lima, A Mídia nas Eleições de 2006, Perseu Abramo; 2007 e, neste Observatório , “A internet e os novos formadores de opinião”].

A grande mídia brasileira, no entanto, fazia de conta que não via o que estava acontecendo no país [ver, neste OI, “A velha mídia finge que o país não mudou”].

A entrevista de Florisbal

Por total coincidência, alguns dias depois da matéria da CartaCapital, sob o sugestivo título “Globo muda programação para atender a nova classe C”, o portal UOL divulga uma longa entrevista com Octavio Florisbal, diretor-geral da Globo. O que diz ele? Vale a pena ler a entrevista na sua totalidade, mas reproduzo abaixo alguns highlights:

Na introdução à entrevista Maurício Stycer escreve:

“A Rede Globo aprofundou um processo de modificações em sua programação para atender a uma nova clientela: a emergente classe C. As mudanças afetam as áreas de novelas, os programas de humor e o jornalismo. E objetivam deixar a programação mais popular. A nova classe C, na visão da emissora, quer se ver retratada nas telas.”

O diretor-geral da Globo afirma:

** “Em dramaturgia, se você voltar 20 anos, você tinha alguns estereótipos. A novela estava centrada nos Jardins, em São Paulo, ou na zona sul do Rio e tinha um núcleo, aquele núcleo alegre, de classe C, na periferia. Hoje, não. A gente começa a ver essas histórias trafegando mais na periferia.”

** “[A classe C] tem que estar mais bem representada e identificada na dramaturgia, no jornalismo. Antes, você fazia uma coisa mais geral. Hoje, não. A gente tem que ir, principalmente nos telejornais locais, ao encontro deles. Eles têm que ver a sua realidade retratada nos telejornais. (...) No jornalismo é a mesma coisa. (...) Tem a redação móvel, que vai nas periferias e faz de lá. Nos telejornais nacionais você também tem que cuidar bem para não colocar em excesso certos temas que não atendem tanto.”

Aaahhh... Então a classe C não estava sendo “retratada nas telas”, ausente no entretenimento e ausente no jornalismo? Uai... não era a exclusão de alguns setores da população da telinha – a ausência de pluralidade e diversidade na representação – exatamente o que críticos da mídia apontam há anos?

E continua o diretor-geral:

** “No passado, a classe C seguia muito os padrões das classes A e B. (...) Eram seguidores. (...) Houve uma mudança de comportamento e de valores para estas pessoas. Acabamos de fazer uma pesquisa muito interessante de classe C que mostra isso. (...) Aquela divisão de que 80% do público é das classes C, D e E continua, mas eles têm mais presença, mais opinião. Eles ascenderam. Têm um jeito próprio de ser. Você tem que atendê-los melhor.”
Aaahhh... quer dizer que a classe C não é mais seguidora, agora ela sabe o que quer. Talvez, quem sabe, tenha aprendido até mesmo a votar, não é mesmo?

Mudanças inevitáveis?

Ao que parece, alguns princípios consagrados na Constituição de 1988, esperando há mais de 22 anos para serem cumpridos, acabarão acontecendo por força das mudanças que ocorreram no país, independente até mesmo da regulamentação legal. Exemplo: a regionalização da produção cultural, artística e jornalística.
Da mesma forma, a sobrevivência no “mercado” talvez obrigue o jornalismo televisivo a operar mudanças não só aos níveis local e regional, mas também no nacional. Afinal, a classe C agora sabe o que quer, tem “mais presença, mais opinião” e é preciso atendê-la.

Há realmente momentos em que a realidade parece ser mais forte do que o status quo.

A ver.
Tirado de: Observatório da Imprensa

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Obesidade mental

O prof. Andrew Oitke, catedrático de Antropologia em Harvard, publicou em 2001 o seu polêmico livro “Mental Obesity”, que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral.
Nessa obra introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna.
Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física decorrente de uma alimentação desregrada. É hora de refletir sobre os nossos abusos no campo da informação e do conhecimento, que parecem estar dando origem a problemas tão ou mais sérios do que a barriga proeminente. "
Segundo o autor, "a nossa sociedade está mais sobrecarregada de preconceitos do que de proteínas; e mais intoxicada de lugares-comuns do que de hidratos de carbono.
As pessoas se viciaram em estereótipos, em juízos apressados, em ensinamentos tacanhos e em condenações precipitadas.
Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada. "
"Os 'cozinheiros' desta magna “fast food” intelectual são os jornalistas, os articulistas, os editorialistas, os romancistas, os falsos filósofos, os autores de telenovelas e mais uma infinidade de outros chamados 'profissionais da informação'".
"Os telejornais e telenovelas estão se transformando nos hamburgers do espírito. As revistas de variedades e os livros de venda fácil são os “donuts” da imaginação. Os filmes se transformaram na pizza da sensatez."
"O problema central está na família e na escola. "
"Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se abusarem dos doces e chocolates. Não se entende, então, como aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, por videojogos que se aperfeiçoam em estimular a violência e por telenovelas que exploram, desmesuradamente, a sexualidade, estimulando, cada vez com maior ênfase, a desagregação familiar, o homossexualismo, a permissividade e, não raro, a promiscuidade.
Com uma 'alimentação intelectual' tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é possível supor que esses jovens jamais conseguirão viver uma vida saudável e regular".
Um dos capítulos mais polêmicos e contundentes da obra, intitulado "Os abutres", afirma:
"O jornalista alimenta-se, hoje, quase que exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, e de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular."
O texto descreve como os "jornalistas e comunicadores em geral se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polêmico e chocante".
"Só a parte morta e apodrecida ou distorcida da realidade é que chega aos jornais."
"O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades.
Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy.
Todos dizem que a Capela Sistina tem teto, mas ninguém suspeita para quê ela serve.
Todos acham mais cômodo acreditar que Saddam é o mau e Mandella é o bom, mas ninguém se preocupa em questionar o que lhes é empurrado goela abaixo como "informação".
Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um “cateto.”
Prossegue o autor:
"Não admira que, no meio da prosperidade e da abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência.
A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se e o folclore virou "mico". A arte é fútil, paradoxal ou doentia.
Floresce, entretanto, a pornografia, o cabotinismo (aquele que se elogia), a imitação, a sensaboria (sem sabor) e o egoísmo.
Não se trata nem de uma era em decadência, nem de uma 'idade das trevas' e nem do fim da civilização, como tantos apregoam. "
"Trata- se, na realidade, de uma questão de obesidade que vem sendo induzida, sutilmente, no espírito e na mente humana. O homem moderno está adiposo no raciocínio, nos gostos e nos sentimentos.
O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa sobretudo de dieta mental."

Por Prof. João César das Neves

Fonte: Diário de Noticias em 22/03/2004 (Portugal)


Publciado em : Uma outra visão

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Historiador cultural critica a “googalização” do mundo

The Googlization of everything, de Siva Vaidhyanathan, 296 pp., edição da University of California, R$ 61,72; em inglês, no site Livraria Cultura e na Amazon (versão impressa e para Kindle); reproduzido da Folha de S.Paulo, 26/05/2011; intertítulos do OI
Dê um google no Google e você terá mais de 6 bilhões de resultados. Criado há 13 anos, o site hoje é muito mais que um buscador. É um filtro do mundo, segundo Siva Vaidhyanathan, 45, especialista em história cultural e professor da Universidade de Virgínia, EUA. Ele é autor de The Googlization of Everything and why we should worry (“A Googalização de Tudo e por que devemos nos preocupar”), lançado em março nos EUA. Vaidhyanathan define-se como um dos primeiros usuários do site e teve a ideia do livro depois que soube de um plano do Google de digitalizar bibliotecas universitárias.
“Parecia muito controle para uma empresa só. Fiquei preocupado e resolvi investigar a companhia e a nossa relação com ela.” Em entrevista à Folha, ele fala como o Google é onipresente, onipotente e onisciente “mas isso não faz com que seja benevolente”. Para o autor, devemos sempre nos perguntar: “Por que essa lista de resultados, e não outra?”
***
“Deixou a minha vida mais fácil”
Vivemos em um mundo “googalizado”, além de globalizado?
Siva Vaidhyanathan– Sim, as duas coisas. A tecnologia é parte da cultura, ela nos influencia da mesma forma que nós a influenciamos. E o Google é mundial. Ainda não é universal, mas está a caminho de ser.
Qual a consequência dessa “googalização”?
S.V.– Cada vez mais, o Google muda a forma como vemos o mundo e como julgamos a informação. Para muitos, o site é fundamental para tomar decisões e muitos dependem dele para isso. Mais do que isso: o Google gere a nossa reputação. Ele gerencia as fontes de informação que encontramos. E as formas de comércio.
E revolucionou a internet?
S.V.– Certamente. Antes do Google, a World Wide Web, que era apenas uma função da internet entre muitas outras, era incontrolável. Era difícil de navegar e, muitas vezes, desagradável. O Google fez da web um meio razoável e organizado. Ele deixou a minha vida e a vida de muitas pessoas mais fácil.
“É falível porque é construído e dirigido por seres humanos”
Isso não é positivo?
S.V.– Pode ser. É uma boa empresa e faz um bom trabalho. Mas é uma empresa. Não devemos adorá-la só porque faz um bom trabalho. Devemos respeitá-la, mas não adorá-la. E o que ela fez de positivo no passado não determina necessariamente o que vai acontecer no futuro.
Mas adoramos o Google?
S.V.– Existe uma certa mística em torno dele. As pessoas usam o site sem saber como ele funciona e sem questionar os resultados. A maioria o usa cegamente.
Por isso você fala em desmistificação?
S.V.– As pessoas precisam perceber que o Google é falível porque é uma empresa construída e dirigida por seres humanos. E deve lucrar. Esse é o primeiro objetivo. Nós cometemos um grande erro ao esquecermos isso e confiarmos cegamente. O Google fez muitas coisas boas para o mundo, mas isso é uma feliz coincidência.
“Alternativas múltiplas de pesquisa”
Então como devemos usá-lo?
S.V.– Quanto melhor entendermos como ele funciona, melhor poderemos corrigir a tendência que ele tem de nos dar respostas rasas, resultados rápidos que são projetados para ajudar a consumir coisas, em vez de entender coisas. O Google é bom para uma pesquisa rápida, perguntas triviais. Não é bom para a profundidade, questões complexas, como debates científicos ou políticos.
Você acha que as pessoas deveriam parar de usar o site?
S.V.– Elas podem fazer várias buscas diferentes. E devem começar a procurar e conhecer serviços que atendam necessidades específicas, como pesquisa científica ou dúvidas em saúde. E podemos voltar a usar as bibliotecas públicas regularmente. Profissionais treinados ainda são o melhor jeito de encontrar informações úteis sobre assuntos complexos.
Como você vê o futuro do Google e da internet?
S.V.– A internet certamente mudou nossas vidas quase instantaneamente. Mas nós podemos perder a liberdade e a abertura que ela nos permite se não lutarmos para preservá-la. Há governos e empresas que gostariam de controlá-la. Uma saída é termos alternativas múltiplas de pesquisa e esforços do governo para sistemas de informações claros e abertos.

Joyce,mais uma vez

ONU critica ensino religioso no Brasil

Olha o Brasil passando vergonha de novo por causa dos católicos. A ONU criticou nosso país por ser conivente com a Igreja Católica na insistente quebra do laicismo nacional ao permitir que centenas de escolas em pelo menos 11 estados imponham o ensino religioso nas escolas públicas. Pior, o relatório vai ser apresentado no Conselho de Direitos Humanos esta semana.
O relatório de Farida Shaheed alerta para a intolerância religiosa e racismo que persistem na sociedade brasileira. Casos graves vêm acontecendo de evangélicos atacando religiões afro-brasileiras, além é claro daqueles acordos brasileiros feitos com o Vaticano, aquela pracinha de Roma que foi declarada como sendo um país pelos fascistas e que, apesar de não ter mais de 50 pessoas, tem um PIB 3 vezes maior do que a Itália.
Os estados citados no relatório são Alagoas, Amapá, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro (graças ao Garotinho), Rio Grande do Sul, e Santa Catarina.
Para Farida, “deixar o conteúdo de cursos religiosos ser determinado pelo sistema de crença pessoal de professores ou administradores de escolas, usar o ensino religioso como proselitismo, ensino religioso compulsório e excluir religiões de origem africana do curriculum foram relatados como principais preocupações que impedem a implementação efetiva do que é previsto na Constituição”.
Fontes: Estadão, Paulopes.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O diretor do Instituto FHC e o "livro que ensina a falar errado"

Educação para o debate

Sergio Fausto - O Estado de S.Paulo

Disseram que o livro Por uma Vida Melhor estaria autorizando o desrespeito generalizado às regras da concordância e abolindo a diferença entre o certo e o errado no emprego da língua portuguesa. Tudo isso com o beneplácito do MEC.
A celeuma ganhou os jornais nas últimas semanas. Foi motivada por um trecho no qual se afirma que o aluno pode dizer "os livro". Parece a senha para um vale-tudo na utilização da língua. Não é, mas assim foi lido.
Não conheço a autora nem sou educador, embora vínculos de família me tenham feito conviver com educadoras desde sempre. Escolhi comentar o caso não apenas porque se refere a um tema importante, mas também porque exemplifica um fenômeno frequente no debate público. Tão frequente quanto perigoso.
O procedimento consiste na desqualificação de ideias sem o mínimo esforço prévio de compreendê-las. Funciona assim: diante de mero indício de convicções contrárias às minhas, detectados em leitura de viés ou simples ouvir dizer, passo ao ataque para desmoralizar o argumento em questão e os seus autores. É a técnica de atirar primeiro e perguntar depois. A vítima é a qualidade do debate público.

domingo, 29 de maio de 2011

A felicidade, Joyce

Joyce é bárbara!

O caos no trânsito tem solução?

Diante da situação cada vez mais crítica do trânsito nas grandes cidades (e a té nas médias), reproduzo artigo interessante publicado no site Urbanidades.

As soluções para o trânsito

Renato Saboya
A questão da mobilidade é um problema indiscutível na maioria das cidades brasileiras de médio e grande porte. Este post faz uma coletânea de algumas ações que podem ajudar a minimizar esses problemas (contribua com mais ideias nos comentários!). A lógica é simples e segue dois princípios básicos:
Vamos às ações:
Diminuir a necessidade de deslocamento e otimizar o uso do espaço de circulação: princípios simples para melhorar a acessibilidade urbana.
  1. Implementar corredores exclusivos para ônibus – são baratos, simples de executar e trazem o grande benefício de evitar que os ônibus compartilhem as pistas engarrafadas em horas de rush, trazendo uma vantagem real para os usuários em relação aos motoristas de automóveis.
  2. Obviamente, melhorar as demais características do transporte coletivo, tais como área de abrangência, frequência, pontualidade, qualidade das estações de embarque, proximidade a serviços complementares, etc.
  3. Implementar ciclovias e ciclofaixas para estimular o deslocamento por bicicletas, especialmente para pequenos e médios percursos realizados não apenas nos fins-de-semana mas principalmente no dia-a-dia.
  4. Integrar os modos de transporte entre si, de forma a facilitar o deslocamento de usuários que dependem de vários modais para uma mesma viagem (ex.: integração tarifária entre metrô e ônibus; adaptação de ônibus e terminais para o transporte e estacionamento, respectivamente, de bicicletas; e assim por diante).
  5. Agilizar o embarque nos ônibus, por exemplo utilizando a estação do Ligeirinho, de Curitiba, e instalando equipamentos apropriados para o acesso de cadeirantes.
  6. Adotar faixas de veículos em que só podem trafegar automóveis com mais de duas pessoas, que reduzem a quantidade de carros nas ruas por motivos óbvios. Para que isso funcione, é necessário que haja fiscalização e punição para os infratores.
  7. Estimular, por meio de instrumentos de indução e controle do uso do solo, a proximidade entre áreas residenciais e áreas de concentração de empregos – diminuir a necessidade de deslocamento no principal tipo de deslocamento pode reduzir o número total de viagens a serem feitas diariamente (CERVERO; DUNCAN, 2006).
  8. Da mesma forma, estimular áreas residenciais de uso misto, de forma a tornar desnecessárias ou pelo menos diminuir a necessidade de viagens de automóvel para acessar pequenos comércios e serviços.
  9. Criar novas conexões entre ruas, nos casos em que as quadras sejam muito grandes e prejudiquem a locomoção concentrando o movimento em apenas algumas ruas principais. Isso não apenas facilita o deslocamento veicular (incluindo automóveis, mas também ônibus e microônibus), como principalmente o movimento de pedestres e ciclistas, e de quebra ainda pode estimular o aparecimento de pequenos comércios nas esquinas criadas. Isso vale também para os projetos de parcelamento do solo, que deveriam manter dimensões moderadas para as quadras (e portanto para as conexões entre ruas) e sempre, SEMPRE, conectar-se com o sistema viário do entorno de forma a realizar as costuras necessárias para os deslocamentos urbanos (condomínios fechados são muito prejudiciais nesse sentido).
  10. Incentivar a ocupação dos vazios urbanos (que atualmente estão retidos aguardando valorização), ao invés de ampliar indefinidamente o perímetro urbano e aumentar ainda mais as distâncias entre residências e empregos.
Em um horizonte de tempo mais longo, e contanto que as soluções acima já tenham sido implementadas, outras ações mais radicais podem ser buscadas:
  1. Estancar a ampliação do sistema viário (com exceção dos pontos muito especiais tratados no item 7 acima) tais como aumento do número de pistas e criação de viadutos. Essas ações apenas tornam o sistema mais atrativos para os automóveis, criando um círculo vicioso que acaba em mais congestionamento, mais ampliação, etc.
  2. Dificultar o estacionamento de automóveis nos principais destinos das viagens (ou seja, em locais de concentração de empregos como os centros de cidade). Isso torna menos provável que o automóvel seja escolhido como meio de transporte;
  3. Instalar pedágios nas áreas centrais;

Pista para carros com mais de um passageiro. Fonte: Wikipedia.

Integração entre metrô e bicicletas na Dinamarca – gratuidade para levar a bicicleta. Foto: Mikael Colville-Andersen. Fonte: aqui

Integração entre metrô e bicicletas na Dinamarca
– gratuidade para levar a bicicleta. Foto: Mikael Colville-Andersen. Fonte: aqui
Ônibus em Curitiba - LigeirinhoCorredores exclusivos de ônibus em Curitiba – PR e estações de embarque. Fonte: Wikipedia.
Ônibus em Bogotá
Corredores exclusivos de ônibus em Bogotá – Colômbia com pistas para ultrapassagem em pontos estratégicos. Fonte: Wikipedia.