sexta-feira, 10 de junho de 2011

Rafinha Bastos foge de Rosmary e perde chance de autocrítica

Humorista corre do convite para ir ao Conselho Estadual da Condição de Feminina entender melhor os males do estupro; tremeu e tergiversou - Marco Damiani, Brasil 247 _

“Se os comediantes tiverem que responder por toda piada que fazem, não vão ter tempo pra mais nada na vida. Nem pra fazer comédia". A frase, enviada por e-mail, é de Rafinha Bastos, dirigida ao portal Comunique-se, que, por sua vez, repercutiu, sem citar a fonte, infelizmente, entrevista de Brasil 247 com a delegada Rosmary Corrêa, presidente do Conselho Estadual da Condição Feminina.
Em entrevista ao 247, Rosmary desafiou Bastos ontem a marcar uma hora para ir até a sede do Conselho e entender melhor, diante das 32 conselheiras do órgão, as conseqüências do estupro sobre as mulheres. Ele aumentou sua própria fama, pelo lado negativo, ao fazer uma piada sobre o tema, na qual diz que as mulheres “feias” deveriam agradecer pelo crime. Com 2,29 milhões de seguidores em sua conta no twitter, foi considerado pelo The New York Times, este ano, como o tuiteiro mais influente do mundo, em razão dos retornos que recebe.
Sabe-se agora que, além de influente, Bastos é tergiversador. Brasil 247, ontem, enviou uma pergunta ao twitter dele para que se pronunciasse sobre o convite, na prática um desafio. O humorista fez que não viu, não respondeu. Ao teclar hoje com o Comunique-se, porém, saiu-se com essa de que não teria tempo para mais nada se tivesse de “responder por toda piada” que faz. A justificativa é tão tola quanto muitas das bobagens que ele espalha. A presidente do Conselho Estadual da Condição Feminina não convidou Bastos para responder “a toda piada”, mas sim para que ele tivesse chance de entender o mal que uma piada específica – se é que foi – pode causar – ou já causou. Uma piada específica, frise-se, sobre um crime que vitimiza milhares de mulheres no Brasil e no mundo. Bastos, jamais brilhante, perdeu com a fuga uma chance de dar a volta por cima sobre pelo menos uma de suas pisadas na bola. Absolutamente sem graça.

Leia abaixo o texto de Brasil 247 com o desafio da presidente do Conselho Estadual da Condição Feminina a Bastos:

Vamos ver se Rafinha Bastos é homem. O que pode soar como uma piada é, em verdade, um desafio feito à sério. O humorista do CQC e tuiteiro mais influente do mundo, segundo o The New York Times, acaba de ser chamado pela delegada Rosmary Corrêa a estar frente a frente com ela para entender, em detalhes, o que é um estupro e quais são seus efeitos sobre o estado físico e mental nas mulheres que deste tipo de crime foram vítimas. Titular do Conselho Estadual da Condição Feminina, órgão oficial do governo paulista, Rosmary não consegue aceitar a piada de Rafinha, que ainda reverbera nas redes sociais e outros meios de comunicação: “Toda mulher que reclama que foi estuprada é feia pra c... . Reclama do que? Deveria dar graças a Deus”, disse ele, mais de uma vez, em suas apresentações de stand up comedy.
Diante de Brasil 247, em entrevista realizada há pouco, a delegada Rosmary teve a ideia de enfrentar a polêmica frente a frente com Rafinha.
“Eu convido Rafinha Bastos a marcar uma hora comigo e as demais 32 integrantes do Conselho de Defesa da Condição Feminina para que ele entenda, exatamente, o que é um estupro”, disse Rosmary, presidente do Conselho, à reportagem. “A piada que ele fez continua repercutindo, o que é uma lástima. Rafinha extrapolou da condição de humorista, fez uma frase completamente inaceitável e nefasta”.
Rosmary, que foi a primeira titular de uma delegacia da mulher no Brasil, há mais de 20 anos – hoje, só no estado de São Paulo existem 128 delas --, acredita que Rafinha não pode se recusar a aceitar. “Se ele tiver um mínimo de sensibilidade, virá até nós entender o estrago que fez com essa frase”, afirmou. “A violência contra a mulher está aumentando e, quando uma pessoa influente como ele faz esse tipo de coisa, só piora tudo”. A delegada lembrou que, tempos atrás, o Brasil não fazia parte das estatísticas mundiais de violência contra a mulher. “Mas, hoje, somos o décimo país com mais crimes desse tipo”.
Rosmary fez questão de passar, à Brasil 247, o endereço e telefone do Conselho Estadual da Condição Feminina para que Rafinha Bastos agende o encontro com ela e as 32 conselheiras. “Ele pode ligar para (11) 32 21 63 74 e falar com a minha secretária. Proponho o encontro aqui mesmo, na sede do Conselho, rua Antonio de Godoy, 122, 6º andar. Estamos esperando por ele”. É com você, Rafinha? Topa o desafio ou tremeu?


Briga com EMI tira discos clássicos da festa de 80 anos de João Gilberto

Claudio Leal, Terra.com

Uma refrega judicial torna incompleta a festa dos 80 anos do maior artista popular brasileiro, João Gilberto. Os álbuns "Chega de Saudade" (1959), "O Amor, o Sorriso e a Flor" (1960) e "João Gilberto" (1961), marcos da Bossa Nova, seguem fora do mercado fonográfico e sem a certeza de que serão relançados com a aprovação técnica do músico.
Em 1992, a gravadora britânica EMI, detentora do catálogo da Odeon, reuniu os três bolachões e o EP "Orfeu da Conceição" num único CD, "O Mito", à revelia de João Gilberto, que se indignou com o fim da "sequência harmônica" das faixas. Ele questiona os defeitos da remasterização e os estragos na mudança para o formato digital, com a deformação das gravações originais.
O músico abriu um processo contra a EMI, em 1997, e até 2011 não entrou em acordo com a multinacional. João Gilberto busca a "abstenção definitiva" da EMI e da Gramophone de produzir e comercializar sua obra no Brasil e no exterior, a retirada de "O Mito" do mercado, a indenização por danos morais e o pagamento de royalties.
Os arranhões à obra do artista se desdobram na esfera comercial. Outro calo de João também está na Inglaterra. Sem autorização, a gravadora inglesa Cherry Red Records passou a reproduzir os álbuns "Chega de Saudade" (1959) e "O Amor, o Sorriso e a Flor" (1960).
Disponíveis no site da gravadora e na loja virtual Amazon, os discos mimetizam o projeto gráfico original e preenchem uma parte da lacuna fonográfica. A britânica Cherry Red argumenta que está amparada pelos fundamentos jurídicos europeus, pois as leis de direitos autorais na Europa permitem que o repertório caia no domínio público depois de 50 anos.
semestre de 2011, para celebrar os 80 anos do músico, Terra Magazine publicou uma série de reportagens sobre a preservação da obra de João Gilberto e as querelas judiciais com as gravadoras. 

Morre Jorge Semprún


Semprún
 Duarte Pereira

Sex, 10 de Junho de 201. Em Correio da Cidadania

Jorge Semprún, militante destacado do Partido Comunista Espanhol durante os anos difíceis do franquismo e escritor de grande talento, faleceu em Paris na última terça-feira, 7 de junho, aos 87 anos. Sofria, há alguns meses, de um tumor no cérebro.
De Semprún pode ser lida em português sua famosa Autobiografia de Federico Sánchez (tradução de Olga Savary, Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1979). O livro ultrapassa as reminiscências de sua militância no Partido Comunista Espanhol e da resistência democrática e popular ao regime franquista.
Como destaca Semprún no primeiro capítulo do livro, "o tema das relações do intelectual com o partido, e mais amplamente com o movimento operário em geral, é um dos assuntos principais deste ensaio de reflexão autobiográfica" (p. 18).
E acrescenta com precisa ironia, verberando os preconceitos obreiristas difundidos nos partidos comunistas da época: "Isso de ‘intelectual’ na verdade é faca de dois gumes. Serve como um elogio ou como um anátema" (Ibidem). Mas não falta às memórias do militante e escritor espanhol a coragem também da autocrítica: "Eu tenho sido um intelectual stalinizado. É bom saber que eu o fui e explicar porque o fui" (p. 21).
Jorge Semprún nasceu em Madri, capital da Espanha, em 1923. Filho de um ministro do governo republicano, ele e sua família foram obrigados a exilar-se após a derrota da Frente Popular na guerra civil e a instalação do regime fascista sob o comando do general Franco em 1939. Passaram pela Suíça e pela Holanda, fixando-se finalmente em Paris, na França, onde o jovem espanhol aderiu ao Partido Comunista em 1941 e, logo em seguida, à Resistência francesa. Preso pela Gestapo em 1943, foi deportado para o campo de concentração de Buchenwald num trem abarrotado de prisioneiros. Essas experiências, apesar de penosas, não o abateram e inspirariam mais tarde seu primeiro romance, A grande viagem.
Com a libertação da França e a derrota do nazismo, regressou a Paris, de onde viajava com freqüência e identidade falsa para a Espanha, a serviço do Partido Comunista Espanhol, vindo a integrar o Comitê Executivo do Comitê Central do partido de 1956 a 1964. Assumindo posições contrárias ao stalinismo cada vez mais incisivas, e divergindo da orientação seguida pelo partido sob a liderança de Santiago Carrillo, acabou sendo excluído da organização, passando a dedicar-se à literatura e ao cinema.
Escreveu romances em língua espanhola ou francesa, vários premiados, como o já referido A grande viagem, de 1963, ou A segunda morte de Ramón Mercader, de 1969. Foi autor também de roteiros cinematográficos muito elogiados, como o do belo filme A guerra acabou, de 1966, dirigido por Alain Resnais e interpretado por Yves Montand, ou os dos consagrados filmes de Costa-Gavras, Z, de 1968, e A confissão, de 1970.
Com a derrocada do regime franquista, retornou à Espanha, ocupando o cargo de ministro da Cultura de 1988 a 1991, no governo social-democrático de Felipe Gonzalez. Nos últimos anos, tornou-se um ardoroso partidário da unificação européia.
Não é preciso concordar inteiramente com um militante e intelectual para respeitar sua trajetória, admirar sua obra e aprender com suas experiências e reflexões. O século XX, com seus abalos, avanços e retrocessos, não foi fácil ou retilíneo, nem para as lutas sociais, nem para as biografias de seus protagonistas.
Jorge Semprún, um desses protagonistas como comunista ou como democrata, como ativista ou como escritor, merece, apesar das divergências que se possa ter com algumas de suas posições e escolhas, o reconhecimento de todos os militantes proletários e intelectuais críticos que não desistiram de lutar por sociedades autenticamente democráticas e socialistas.
Duarte Pereira, 72 anos, é jornalista e escritor.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Maria do Rosário reforça apoio de Dilma à causa de ativista iraniana

Shirin Ebadi
Diante da repercussão do fato de a presidente Dilma Rousseff não receber nesta quinta-feira (9) a ativista iraniana Shirin Ebadi, 63, a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) enviou carta à iraniana para reforçar o apoio do Brasil à causa de Ebadi, ganhadora do Nobel da Paz em 2003.
"Aproveito para manifestar o perene compromisso do Estado brasileiro com a defesa e proteção da vida humana (...) bem como afirmar que nesta batalha por um mundo mais justo, sem sombra de dúvidas, a senhora, a presidenta Dilma e o Estado brasileiro se encontram no mesmo lado, no lado dos direitos humanos", afirmou Rosário em carta lida pelo deputado Roberto de Lucena (PV-SP), autor do pedido da audiência.
A ministra explicou que cumpre agenda no norte do país, e por isso não compareceu à audiência. Mas afirmou estar disposta a "regressar de pronto da região amazônica a fim de encontrá-la". Um almoço com a ministra e com o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, está previsto para o início da próxima semana.
Durante a audiência, Ebadi voltou a lamentar não ter um encontro com a presidente Dilma segundo ela, a intenção seria falar sobre as leis iranianas que restringem os direitos das mulheres e implicam no prejuízo aos direitos humanos. "Eu queria contar para a presidente do Brasil, que felizmente é uma mulher, sobre essas leis. Agora que não foi possível, vocês falem para ela sobre essas leis".
O assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, colocou sua agenda à disposição para recebê-la, mas o encontro ainda não está confirmado.

REPÚDIO

Ontem, o líder do PSDB na Câmara, deputado federal Duarte Nogueira (SP) apresentou requerimento no plenário da Câmara dos Deputados para aprovar uma nota de repúdio à presidente Dilma, por não receber a advogada e ativista iraniana.
O texto foi rejeitado com um placar de 293 votos contrários, 60 favoráveis e 8 abstenções.
 
Tirado de: Folha.com

terça-feira, 7 de junho de 2011

Gleisi, de secundarista a Ministra

Futura Ministra da Casa Civil
Veja que mundo pequeno e cheio de voltas. A Gleisi Hoffmann virou ministra da Dilma. Aliás, Ministra da Casa Civil. Conheci a Gleisi quando ela era estudante secundarista. Se não me engano, estudava no Barddal, em Curitiba. Éramos do PC do B e eu fui a Curitiba para acompanhar o Congreeso da União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas de Curitiba, a Umesc. Foi nesse congresso que a Gleisi foi escolhida presidente da entidade. Não tive convivência com ela, mas nas vezes em que a acompanhei em ação, era visíviel o grau de comprometimento e de seriedade com que ela encarava as coisas. Era (e deve ser ainda) uma grande pessoa, mas acabava sendo um pocuo chata tamanha era a seriedade com que via tudo. Muito combativa e decidida, a Gleisi me lembra, um pouco, a Maria do Rosário, que também era secundarista do PC do B e virou Ministra da Dilma.
Veja só, tive oportunidade de conhecer duas grandes lideranças quando elas eram pequenas lideranças. Eu fiquei menor, elas ficaram maiores, mas pelo menos não sou obrigado a morar em Brasília.

Câmara de Porto Alegre discute proteção ao patrimônio histórico

Comissões discutem regulação para imóveis inventariados Na noite desta segunda-feira (6/6), três comissões permanentes da Casa – de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam), de Urbanismo, Transportes e Habitação (Cuthab) e de Economia, Finanças, Orçamento e do Mercosul (Cefor), discutiram a possibilidade de regulação da lei complementar 601 de 2008 – de autoria da vereadora Sofia Cavedon (PT) -, que dispõe sobre o inventário do patrimônio cultural de bens imóveis do município. A reunião, proposta pelo vereador Beto Moesch (PP) e coordenada pelo presidente da Cosmam, vereador Dr. Thiago Duarte (PDT), foi realizada no terceiro andar do Legislativo com a participação da comunidade.


A polêmica em torno da lei, de acordo com a representante da secretaria Municipal da Cultura, Débora Magalhães da Costa, diz respeito ao artigo 16 que prevê “na restauração ou na preservação das edificações inventariadas de Estruturação, a critério do órgão municipal competente, poderá ser autorizada ao proprietário a transferência de parte do potencial construtivo de seu imóvel a outro imóvel situado na mesma macrozona”. Para Débora, existem membros da prefeitura que discordam dessa prerrogativa e não aceitam a transferência de índices. “A regulação está parada por essa discordância, no entanto, o coordenador na Memória da Secretaria, Luiz Antônio Custódio, quer retomar um grupo de trabalho para avançar na possibilidade de regulamentação”, informou.
Segundo o presidente do Movimento Moinhos Vive, Raul Agostini, do bairro Moinhos de Vento – local com grande concentração de prédios históricos -, a cada dia, a cidade perde os restos dos aspectos culturais e históricos por falta de conservação. “O proprietário fica sobrecarregado com falta de incentivos do governo para cuidar do imóvel”, argumentou. Segundo Augostini, a lei 601 é extremamente importante para dar subsídios aos moradores e recuperar o patrimônio degradado de Porto Alegre. Para Carlos Paganella, da promotoria do Meio Ambiente, a prefeitura precisa fornecer incentivos e apoio econômico para que os proprietários sintam prazer em conservar seus imóveis. “Existem muitos índices construtivos que podem ser alienados, basta ter vontade política”, afirmou ao frisar que o Executivo precisa investir em um plano de gestão do patrimônio cultural assumindo ele próprio a responsabilidade dos imóveis tombados.
De acordo com a presidente do legislativo e autora da lei, Sofia Cavedon (PT), é preciso criar mecanismos que obriguem o Executivo a cumprir com as leis sancionadas. “A enrolação e a burocracia são os piores aspectos quando tratamos de uma lei que precisa ser aplicada com urgência”, avaliou. Como sugestão, os vereadores presentes vão pedir reunião em conjunto com as Secretarias da Cultura e do Planejamento para pedir aceleração na regulação da lei. Ainda estiveram presentes representações da Procuradoria Geral do Município e da Secretaria Municipal do Planejamento. Os vereadores Carlos Todeschini (PT), Dr. Raul (PMDB), Elias Vidal (PPS) e João Carlos Nedel (PP) também acompanharam a reunião.

Ester Scotti (reg. prof. 13387), Câmara Municipal de Porto Alegre

Urnas portuguesas revelam a crise no continente

Em Portugal, numa eleição em que houve recorde de abstenção - 41,% quase 4 milhões de eleitores deixaram de votar - os portugueses, motivados pela crise econômica, derrotaram José Sócrates, do Partido Socialista (PS) e deram a vitória a Pedro Passos Coelho, do Partido Social Democrata (PSD) de centro direita. O número de deputados do PS deve cair de 97 para 74 deputados e o PSD ficará com 108 das 230 vagas do parlamento, o que o obrigará fazer acordo para obter maioria.
A exemplo do que ocorre no Peru, a eleição eleição em Portugal também confirma uma tendência (leia mais neste blog), dessa vez no continente europeu. Mas não falo de toda Europa. Na Itália, na França e mesmo na Alemanha, o que chamamos de esquerda - ou melhor, os socialistas e verdes - pode vencer as eleições.
Na verdade, o que está em pauta nas eleições na Europa é a crise econômica. E ela tanto atinge a direita como a esquerda. Daí o resultado contraditório: vence a direita na Grã Bretanha, Espanha e Portugal, mas na Grécia, na Itália, na França e mesmo na Alemanha os resultados podem ser outros, com vitórias para as coalizões de centro esquerda.

Falta de opções

O fenômeno revela a falta de opções dos eleitores, com o fracasso da social democracia que, aos poucos, foi se confundindo com a direita neoliberal e com as soluções de mercado. Sua políticas liquidam, aos poucos, com o Estado de Bem Estar Social - uma conquista de 150 anos dos trabalhadores e dos partidos socialistas da Europa.
Já, na Grécia, na Espanha e em Portugal cresce a mobilização social e a oposição às medidas de austeridade impostas pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) que, até agora, não resolveram a situação de insolvência dos governos e ameaçam a estabilidade social e política dos países. Nesse quadro, chama a atenção a Grécia, à beira da falência.
A situação vai exigir da União Europeia a reestruturação das dívidas dos países - e não a imposição de programas de estabilização que só aumentam a dívida, a recessão, o desemprego e a crise social. Esse quadro, aos poucos, vai fomentando crises políticas e institucionais - com ou sem eleições - com os velhos e os novos governos. Esses, por sua vez, geralmente não têm programas para a crise e só vencem pelo desgaste dos governos socialista, que foram incapazes de se opor à estratégia de ajuste da EU, que só atende aos interesses da Alemanha.
Publicado no Blog do Zé

segunda-feira, 6 de junho de 2011

As experiências de quase morte

Artigo de Alex Likerman, publicado em Happiness in this World Traduzido por colaboração de Rodrigo Véras e André Rabelo
Eu nunca tive um paciente que confessasse ter tido uma experiência de quase morte (EQM), mas recentemente me deparei com um livro fascinante chamado O Portal Espiritual no Cérebro (The Spiritual Doorway in the Brain) de Kevin Nelson, que relata que cerca de 18 milhões de americanos podem ter tido uma. Se for verdade, é provável não apenas que alguns dos meus pacientes estejam entre eles, mas também alguns dos meus amigos. O que me levou a pensar: o que exatamente a ciência tem a nos dizer sobre a sua causa?
Que EQMs acontecem não está em disputa. A sequência e os tipos de eventos dos quais elas são compostas são suficientemente similares entre as pessoas que as relatam de tal forma que EQMs poderiam ser consideradas como algum tipo de síndrome, semelhante a uma doença sem causa conhecida. Mas apenas porque milhões de pessoas já viveram EQMs, isso não significa que a explicação mais comumente aceita para elas – que almas deixam os corpos e encontram deus ou alguma outra evidência de vida após a morte – esteja correta.
Afinal de contas, as pessoas interpretam erroneamente as suas experiências o tempo todo (uma ilusão ótica representando o exemplo mais básico). Sem dúvida, muitas pessoas que relatam EQMs são profundamente afetadas por elas, mas, geralmente, mais como um resultado de suas interpretações das experiências (i.e., “a vida após a morte é real”) do que como resultado da experiência em si. Acontece que um número de observações reproduzíveis combinado com uma pitada de conjecturas gerou uma explicação neurológica inteiramente plausível para todos os casos de experiências que incluam EQM.
Em seu livro, Nelson comenta que normalmente 20% do fluxo sanguíneo é direcionado para o cérebro, mas que este fluxo pode abaixar para 6% antes de ficarmos inconscientes (e mesmo nesse nível, nenhum dano permanente será causado). Nelson ainda observa que quando nossa pressão sanguínea diminui demais e desmaiamos, o nervo vago (um longo nervo que se conecta com o coração) desloca a consciência para o sono REM – mas não totalmente em algumas pessoas. Um número de sujeitos parece ser suscetível ao que ele chama de “intromissão REM”.
A intromissão REM ocorre tipicamente, quando ocorre, na transição da vigília para o sono. Nelson descobriu em sua pesquisa que o funcionamento do mecanismo que alterna as pessoas entre o sono REM e a vigília tendeu a ser diferente naquelas que relataram EQMs. Nessas pessoas, ele descobriu que a mudança era mais propensa a “fragmentar e misturar” esses dois estados de consciência (o controle do nosso estado de consciência é localizado no nosso tronco cerebral e é precisamente regulado), fazendo com que essas pessoas exibam simultaneamente características de ambos. Durante a intromissão REM, as pessoas se viram paralisadas (“paralisia do sono”), totalmente despertas, mas experimentando luzes, sensações fora do corpo e narrativas surpreendentemente vívidas. Durante o sono REM, muitos dos centros de prazer do cérebro são estimulados também (animais que tiveram suas regiões REM danificadas perderam todo o interesse em comida e até em morfina), o que pode explicar os sentimentos de paz e unicidade também relatados durante EQMs.
A neurofisiologia também pode explicar o sentimento de estar se movendo através de um túnel, tão regularmente mencionado em EQMs. É bem sabido que pessoas experimentam uma “visão de túnel” imediatamente antes de desmaiar. Experimentos com pilotos girados em centrífugas gigantes têm reproduzido o fenômeno de visão de túnel, aumentando as forças G e diminuindo o fluxo sanguineo em suas retinas (a periferia da retina é mais suscetível a quedas na pressão sanguínea do que o seu centro, de tal forma que o campo de visão parece comprimido, fazendo cenas parecerem vistas dentro de um túnel). Quando óculos especiais que geram sucção foram colocados nos olhos dos pilotos para neutralizar o efeito de queda da pressão sanguínea da centrífuga, os pilotos perderam a consciência sem desenvolver o efeito da visão de túnel – provando que a experiência da visão de túnel é causada por uma redução no fluxo sanguineo dos olhos.
Talvez o aspecto mais intrigante das EQMs seja o quão costumeiramente elas estão associadas com experiências fora do corpo. Isso também, entretanto, trata-se de uma ilusão. Evidências de que experiências fora do corpo nada têm a ver com almas deixando corpos podem ser encontradas na observação de que elas também têm sido relatadas por pessoas acordando do sono, recuperando-se de anestesia, enquanto estão desmaiando, durante convulsões, durante enxaquecas e quando estão em altas altitudes (não há razão para pensar que as almas das pessoas estão deixando seus corpos durante nenhuma dessas situações não ameaçadoras para a vida).
Mas as evidências mais fascinantes de que experiências fora do corpo são fenômenos neurológicos vêm dos estudos feitos inicialmente na década de 1950 por um neurocirurgião chamado Penfield. Ele estava interessado em compreender como poderia distinguir tecidos cerebrais normais de tumores cerebrais ou “cicatrizes” que eram responsáveis por causar convulsões. Ele estimulou os cérebros de centenas de pacientes conscientes no esforço de mapear o córtex cerebral e entender aonde em nossos cérebros nosso corpo físico é representado.
Um paciente sofria de danos no lobo temporal e quando Penfield estimulou a região temporoparietal do seu cérebro, ele relatou ter deixado o seu corpo. Quando a estimulação parou, ele “voltou”, e quando Penfield estimulou a região temporoparietal de novo, ele deixou o seu corpo mais uma vez. Penfield também descobriu quando variava a corrente e a localização do estímulo, podia fazer os membros do seu paciente parecerem encurtados ou produzir uma cópia de seu corpo que existia ao seu lado!
Em o Cérebro Contador de Histórias (The Tell-tale Brain), V. S. Ramachandran descreve um paciente que teve um tumor removido da sua região frontoparietal direita e desenvolveu um “gêmeo fantasma” ligado ao lado esquerdo do seu corpo. Quando Ramachandran colocou água fria no seu ouvido (um procedimento conhecido como teste calórico de água fria, o qual estimula o sistema de equilíbrio do cérebro, conhecido por ter conexões com a região frontoparietal), o gêmeo do paciente se afogou, movimentou-se e mudou de posições.
Neurologistas têm reconhecido desde então que a região temporoparietal do cérebro é responsável por manter a representação de nossos esquemas corporais. Quando uma corrente externa é aplicada nessa região, ela para de funcionar normalmente e nossa representação do corpo “flutua”. Outras evidências de que esse fenômeno é uma ilusão vêm de experimentos nos quais as pessoas que tiveram experiências fora do corpo enquanto passavam do sono para a vigília eram incapazes de identificar objetos colocados no quarto depois que adormeciam, sugerindo fortemente que a imagem que viram deles mesmos dormindo nas suas camas era reconstruída em sua memória. Embora não exista ainda nenhuma evidência de que níveis baixos de oxigênio no sangue causem disfunção da região temperoparietal da mesma forma que uma corrente aplicada, esta permanece como uma hipótese testável e a explicação mais provável.
Em suma, embora longe de estar provada como uma explicação para o que realmente explica as EQMs, a hipótese da intromissão REM tem mais evidências para corroborá-la do que a idéia de que nós realmente deixamos nossos corpos quando a morte está à espreita.