sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Crise na Abril: mais de 150 funcionários demitidos!

por Lino Bocchini na Carta Capital
A editora Abril está fechando na tarde desta quinta-feira 1º de agosto as revistas Gloss, Alfa e Lola. Ontem (quarta) já havia sido anunciado o fim da revista Bravo. Também foram “descontinuados” (eufemismo para fechados) os sites da Contigo e o abril.com. Já são mais de 150 funcionários demitidos nas últimas horas –nas redações citadas e também no portal M de Mulher, nas revistas Info, Recreio, Contigo e Claudia e no site Bebê.com. A expectativa nos corredores do prédio da Marginal Pinheiros é que mais títulos entrem no corte. E acredita-se que a empresa deve se posicionar oficialmente ainda hoje.
Atualização das 15h45: As demissões atingiram também as revistas Quatro Rodas, Viagem & Turismo, Placar e Men´s Health. E a redação da Veja, onde 15 foram demitidos. Até agora o blog confirmou o nome de André Petry, correspondente em Nova York. Entre os demais nomes da Veja, muitos que não são da arte (pesquisadores de imagem, arte etc).
Na Viagem & Turismo e Men´s Health, revistas que não fecharam, foram cortados os diretores de redação (maior cargo de cada publicação). A função fica a cargo dos diretores de núcleo, que funcionarão diretores de redação de várias publicações ao mesmo tempo.
LEIA A ÍNTEGRA DO COMUNICADO OFICIAL DIVULGADO PARA OS FUNCIONÁRIOS ÀS 16H45:
Bolex 788 – Abril S.A. comunica mudanças que focam no crescimento das Unidades de Negócios e convergem investimentos e esforços às marcas líderes
Em linha com o processo de reorganização que vem sendo empreendido nos últimos meses, o presidente da Abril S.A., Fábio Colletti Barbosa, anuncia mudanças nas estruturas editorial e comercial das Unidades de Negócios Abril Segmentadas, Veja, Exame e Negócios Digitais. Entre as principais mudanças na frente comercial está a descentralização da Diretoria de Publicidade Centralizada, que passará a ser distribuída em cada uma das UN´s.
As mudanças são importantes para focar investimentos e esforços nas marcas líderes nos vários segmentos em que atuamos, garantindo assim o crescimento e a relevância das publicações.
“A Abril encara esta fase como parte da evolução natural dos negócios e segue com a missão de difundir a informação, com excelência editorial, pioneirismo e integridade”, afirma Fábio Barbosa.
UN Abril Segmentadas
A Unidade de Negócios Abril Segmentadas, sob o comando da diretora-superintendente Helena Bagnoli, anuncia uma revisão do seu portfólio. Serão descontinuados os seguintes títulos em todas as suas plataformas: Alfa, Bravo!, Gloss e Lola, assim como o portal Club Alfa.
Leitores e anunciantes continuarão tendo, a seu dispor, um portfólio extenso e segmentado (quase 50 títulos), capaz de atender a todos os públicos plenamente. Além disso, os compromissos publicitários e de assinaturas serão honrados, por meio de pacotes de reposição.
Essa revisão possibilita uma reorganização das áreas editorial e comercial da UN, compreendendo o reagrupamento de títulos e a movimentação de pessoas. Assim, os seguintes títulos serão agrupados por segmento e terão um único diretor de Redação:
Elle, Estilo de Vida e Manequim passam a ser comandadas por Dulce Pickersgill.
A família de revistas formada por Men’s Health, Women’s Health, Runner´s World e Placar será dirigida por Sérgio Xavier.
Mônica Kato segue à frente das Femininas Populares e assume também o comando de Máxima.
Bons Fluidos passa a reportar-se a Denis Russo Burgierman, diretor de Redação de Superinteressante e Vida Simples.
Além desses reagrupamentos de títulos, a UN comunica ainda os seguintes movimentos na área editorial:
Sérgio Gwercman, que estava à frente de Alfa, assume a Direção de Redação de Quatro Rodas.
Viagem &Turismo terá como diretora de Redação Angélica Santa Cruz, que respondia pelo comando de Lola.
Armando Antenore, até então redator-chefe de Bravo!, passa a ser repórter especial da UN Abril Segmentadas.
Tatiana Schibuola, ex-diretora de Gloss, assume a Direção de Redação de Capricho.
Giuliana Tatini, até então diretora de Redação de Capricho, passa a comandar o portal MdeMulher.
Caco de Paula, diretor do Núcleo de Sustentabilidade, bem como toda a estrutura do Planeta Sustentável, passam a reportar-se diretamente à presidência da Abril S.A. A revista National Geographic permanece na UN Abril Segmentadas.
Já as áreas de Publicidade e Marketing sofrem as seguintes alterações:
Rogério Gabriel Comprido volta à empresa e assume a Diretoria de Publicidade desta UN. Ele terá em sua equipe os diretores Willian Hagopian e Roberto Severo.
Ficam responsáveis pelas áreas de Marketing e Eventos Wagner Gorab e Louise Faleiros. O Projeto Copa terá no seu comando Tiago Afonso, que se reportará a Dimas Mietto.
Na frente digital da UN Abril Segmentadas, é criada a:
Diretoria de Estratégia Digital, que será comandada por Guilherme Werneck (antes responsável por Desenvolvimento de Novos Negócios da MTV).
UN Veja
Thais Chede Soares, diretora-superintendente Comercial e Administrativa da Unidade Veja, comunica as seguintes mudanças na estrutura de Publicidade e Marketing desta UN:
Sérgio Amaral assume a Diretoria de Publicidade, tendo como reportes diretos os executivos Márcia Sóter, Robson Monte, André Almeida e Alex Foronda; e os gerentes Alexandra Mendonça, Samara Sampaio e Andrea Veiga (Rio de Janeiro).
Renato Cagno fica responsável por projetos publicitários e negócios digitais da UN Veja.
Claudia Furini assume o Marketing da Unidade, atuando no acompanhamento do mercado publicitário e na comunicação da UN Veja.
Andrea Abelleira permanece responsável pela área de Circulação (Avulsa e Assinaturas) e Eventos.
Jacques Ricardo comandará a Diretoria de Publicidade-Regionais, que passa a incorporar também as funções de Classificados, Publicidade Internacional e Estúdio. Sua estrutura atenderá a todas as UN´s.
UN Exame
Claudia Vassallo, diretora-superintendente desta Unidade, também anuncia a nova configuração de sua estrutura de Publicidade:
Marcos Gomez assume a Diretoria de Publicidade da UN, tendo como reportes diretos Ana Paula Teixeira e Eliani Prado, em São Paulo, e Leda Costa, no Rio de Janeiro.
UN Negócios Digitais
Manoel Lemos, diretor-superintendente desta UN, informa que René Agostinho, ex-diretor da Abril Coleções, assume o comando da Operação do Alphabase.
Agradecimentos, desafios e oportunidades
Com as mudanças informadas acima, deixam a Abril os seguintes executivos: Airton Seligman (diretor de Redação de Men’s Health); Claudia Garcia (diretora de Redação de Manequim); Demetrius Paparounis (diretor do Núcleo Femininas Populares); Gabriela Aguerre (diretora de Redação de Viagem & Turismo); Lucia Barros (diretora de Redação de Máxima); Maria Rita Alonso (diretora de Redação de Estilo); Sandra Sampaio (que ocupava uma das diretorias de Publicidade Dedicada da UN Abril Segmentadas); Sandra Soares (diretora de Redação do Portal MdeMulher) e Sérgio Berezovsky (diretor de Redação de Quatro Rodas).
Fábio Barbosa agradece a dedicação e a contribuição de todos os profissionais que agora estão deixando a empresa, desejando-lhes sucesso nos novos rumos de suas carreiras.
Ele também acrescenta e reforça sua crença no potencial da nova estrutura: “Acredito muito na força do time que temos e na capacidade das pessoas que agora assumem novas posições”, diz ele. “Temos talentos para enfrentar os muitos desafios que as transformações do setor representam neste momento. No fundo, estamos diante de oportunidades fascinantes e temos toda a capacidade para aproveitá-las”, conclui o presidente.

Pancadaria, segundo testemunhas, teria começado quando os skinheads xingaram o grupo de esquerda

O encontro entre skinheads de extrema direita que voltavam de um protesto de médicos e militantes de esquerda que participavam do encontro do Foro de São Paulo terminou em pancadaria, quatro pessoas levadas para a delegacia e a destruição de um bar, quarta-feira à noite, no centro da cidade.
Segundo o boletim registrado no 78º distrito policial, a polícia encontrou um canivete com um dos skinheads e um explosivo no chão. Ainda de acordo com o boletim, um militante de esquerda afirmou ter sido agredido e foi levado ao Instituto Médico Legal para fazer exame de corpo de delito. Os skinheads negam a agressão.
A confusão começou por volta das 22h de quarta-feira. Um grupo de aproximadamente 25 skinheads passava pela rua Martins Fontes depois de apoiar um protesto organizado por médicos contra o governo federal enquanto integrantes do Foro de São Paulo jantavam e tomavam cerveja em um bar ao lado do hotel onde acontece o encontro dos partidos de esquerda.
O boletim não identifica quem começou a briga, mas testemunhas que trabalham no local e não quiseram ter seus nomes identificados disseram que os skinheads começaram a confusão. Eles teriam provocado e xingado os militantes de esquerda que teriam respondido com gritos de “fascistas”. Segundo relatos, um skinhead jogou uma lata de cerveja e um esquerdista revidou atirando um copo.
“Eles chamaram uma menina do nosso grupo de puta e um dos nossos respondeu de uma forma mais exaltada. Depois disso começou a confusão. Chegaram a jogar uma cadeira em uma mulher de mais de 50 anos que participava do Foro de São Paulo”, disse Renan Moreira, 26 anos, militante de esquerda. “Todos tinham as cabeças raspadas e lutavam artes marciais. Ninguém se machucou seriamente, mas fiquei com vários hematomas”, completou.
A partir de então a confusão foi generalizada. Cadeiras e garrafas voaram, a porta de vidro do bar foi quebrada. Quatro pessoas foram levadas para o 78 DP, os direitistas Marco Antonio Boncompanho Lieb, 30 anos, e R.M.M., 17 anos, que portava o canivete, e os esquerdistas Ismael de Almeida Cardoso, 27 anos, e Renan Thiago Alencar Moreira, 26 anos.
Lieb foi procurado, mas não atendeu os telefonemas. Em sua página no Fabebook, ele se diz fã do deputado Jair Bolsonaro, grupos anticomunistas e do movimento integralista, corrente ideológica ultranacionalista brasileira que possui vínculos com o nazismo e o fascismo.
O menor R. admitiu ser skinhead, mas negou ligações com o nazismo. “Somos nacionalistas e integralistas. Não temos nada a ver com os fascistas”, disse R., que faz parte do grupo Comando, da Zona Sul. Ele afirmou portar o canivete para se defender de possíveis agressões de grupos skinheads intitulados antifascistas como RASH (Red Anarquist Skin Heads).
Os skinheads carregavam uma faixa defendendo a volta dos militares ao poder com as siglas do Movimento de Combate à Corrupção (MCC), Organização de Combate à Corrupção (OCC), Associação Nacional dos Militares do Brasil (ANMB), grupos de direita que participaram dos protestos de junho.
Desde a semana passada, integrantes destes grupos convocam no Facebook militantes de direita a participarem de “ações” contra o Foro de São Paulo.
Ninguém foi indiciado e a Polícia Civil não instaurou inquérito.
É prevista a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dos presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e Bolívia, Evo Morales, no encontro do Foro que vai até domingo.

domingo, 28 de julho de 2013

Thiago Duarte, presidente da Câmara de Vereadores é denunciado por irregularidades profissionais

Assista o vídeo com a matéria que saiu na TV clicando AQUI

Joaquim Barbosa é dono e diretor de empresa sediada em imóvel funcional

Joaquim Barbosa é dono e diretor da Assas JB Corp., cuja sede fica na própria residência, em Brasília, prática vedada pela legislação
 
Ana D'Angelo - Correio Braziliense
 
Joaquim Barbosa comprou o apartamento em Miami por meio da empresa registrada em seu nome (Carlos Moura/CB/D.A Press - 26/6/13)
Joaquim Barbosa comprou o apartamento em Miami por meio da empresa registrada em seu nome


A empresa criada na Flórida, Estados Unidos, pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, para adquirir um apartamento na cidade de Miami, tem como sede o imóvel funcional onde ele mora, na Quadra 312 da Asa Sul, em Brasília, o que contraria o Decreto nº 980, de 1993. Ao Correio, o Ministério do Planejamento informou que o inciso VII do artigo 8º da norma — que rege as regras de ocupação de imóveis funcionais — estabelece que esse tipo de propriedade só pode ser usado para “fins exclusivamente residenciais”. 

Nos registros da Assas JB Corp., pertencente a Barbosa, no portal do estado da Flórida, consta o imóvel do Bloco K da SQS 312 como principal endereço da companhia usada para adquirir o apartamento em Miami — conforme informado pelo jornal Folha de S.Paulo no domingo passado. As leis do estado norte-americano permitem a abertura de empresa que tenha sede em outro país. A Controladoria-Geral da União (CGU) também assegurou que o Decreto n° 980 não prevê “o uso de imóvel funcional para outros fins, que não o de moradia”. O presidente do STF consta, ainda, como diretor e único dono da Assas Jb Corp. A Lei Orgânica da Magistratura (Lei Complementar nº 35, de 1979), a exemplo da Lei n° 8.112/90, do Estatuto do Servidor Público Federal, proíbe que seus membros participem de sociedade comercial, exceto como acionistas ou cotistas, sem cargo gerencial.

A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) defende a apuração “rigorosa” acerca das duas situações. “Um ministro do STF, como qualquer magistrado, pode ser acionista ou cotista de empresa, mas não pode, em hipótese alguma, dirigi-la”, afirmou  o presidente da entidade, Nino Toldo, referindo-se ao artigo 36 da Lei Complementar nº 35. “Essa lei aplica-se também aos ministros do STF. Portanto, o fato de um ministro desobedecê-la é extremamente grave e merece rigorosa apuração”, ressaltou Toldo.

Entrevista da Presidenta Dilma Rousseff na Folha de São Paulo

Em  28.07.13, para Mônica Bérgamo
Folha - As manifestações deixaram jornalistas, sociólogos e governantes perplexos. E a senhora, ficou espantada?
Dilma Rousseff - No discurso que fiz na comemoração dos dez anos do PT, em SP [em maio], eu já dizia que ninguém, ninguém, quando conquista direitos, quer voltar para trás. Democracia gera desejo de mais democracia. Inclusão social exige mais inclusão. Quando a gente, nesses dez anos [de governo do PT], cria condições para milhões de brasileiros ascenderem, eles vão exigir mais. Tivemos uma inclusão quantitativa. Esta aceleração não se deu na qualidade dos serviços públicos. Agora temos de responder também aceleradamente a essas questões.

Mas a senhora não ficou assustada com os protestos?

Não. Como as coisas aconteceram de forma muito rápida, eu acho que todo mundo teve inicialmente uma reação emocional muito forte com a violência [policial], principalmente com a imagem daquela jornalista da Folha [Giuliana Vallone] com o olho furado [por uma bala de borracha]. Foi chocante. Eu tenho neurose com olho. Já aguentei várias coisas na vida. Não sei se aguentaria a cegueira.

Se não fosse presidente, teria ido numa passeata?

Com 65 anos, eu não iria [risos]. Fui a muita passeata, até os 30, 40 anos. Depois disso, você olha o mundo de outro jeito. Sabe que manifestações são muito importantes, mas cada um dá a sua contribuição onde é mais capaz.

O prefeito Fernando Haddad diz que, conhecendo o perfil conservador do Brasil, muitos se preocupam com o rumo que tudo pode tomar.

Eu não acho que o Brasil tem perfil conservador. O povo é lúcido e faz as mudanças de forma constante e cautelosa. Tem um lado de avanço e um lado de conservação. Já me deram o seguinte exemplo: é como um elefante, que vai levantando uma perna de cada vez [risos]. Mas é uma pernona que vai e "poing", coloca lá na frente. Aí levanta a outra. Não galopa como um cavalo. Aí uma pessoa disse: "É, mas tem hora em que ele vira um urso bailarino". Você pode achar que contém a mudança em limites conservadores. Não é verdade. Tem hora em que o povo brasileiro aposta. E aposta pesado.

A senhora teve uma queda grande nas pesquisas.
Não comento pesquisa. Nem quando sobe nem quando desce [puxa a pálpebra inferior com o dedo]. Eu presto atenção. E sei perfeitamente que tudo o que sobe desce, e tudo o que desce sobe.

Mas isso fez ressurgir o movimento "Volta, Lula" em 2014.

Querida, olha, vou te falar uma coisa: eu e o Lula somos indissociáveis. Então esse tipo de coisa, entre nós, não gruda, não cola. Agora, falar volta Lula e tal... Eu acho que o Lula não vai voltar porque ele não foi. Ele não saiu. Ele disse outro dia: "Vou morrer fazendo política. Podem fazer o que quiser. Vou estar velhinho e fazendo política".

Para a Presidência ele não volta nunca mais?

Isso eu não sei, querida. Isso eu não sei.

Ao menos não em 2014.
Esses problemas de sucessão, eu não discuto. Quem não é presidente é que tem que ficar discutindo isso. Agora, eu sou presidente, vou discutir? Eu, não.

Mas o Lula lançou a senhora.

Ele pode lançar, uai.

O fato de usarem o Lula para criticá-la não a incomoda?
Querida, não me incomoda nem um pouquinho. Eu tenho uma relação com o Lula que tá por cima de todas essas pessoas. Não passa por elas, entendeu? Eu tô misturada com o governo dele total. Nós ficamos juntos todos os santos dias, do dia 21 de junho de 2005 [quando ela assumiu a Casa Civil] até ele sair do governo. Temos uma relação de compreensão imediata sobre uma porção de coisas.

Mas ele teria criticado suas reações às manifestações.
Minha querida, ele vivia me criticando. Isso não é novo [risos]. E eu criticava ele. Quer dizer, ele era presidente. Eu não criticava. Eu me queixava, lamentava [risos].

Como a senhora vê um empresário como Emílio Odebrecht falar que quer que o Lula volte com Eduardo Campos de vice?

Uai, ótimo para ele. Vivemos numa democracia. Se ele disse isso, é porque ele quer isso.

Sua principal proposta em reação às manifestações foi a realização de um plebiscito para fazer a reforma política. A crítica à senhora é que ninguém nas passeatas pedia isso.

Pois acho que tá todo mundo pedindo reforma política. As manifestações podiam não ter ainda um amadurecimento político, mas uma parte tem a ver com representatividade, valores, o que diz respeito ao sistema político. Ao fato de que os interesses se movem conforme o financiamento das campanhas. Não dá para cuidar de transparência sem discutir o sistema. "O gigante despertou", diziam nos protestos --o que mostra o inconformismo com a nossa forma de representação.

O Congresso Nacional fará reforma contra ele mesmo?

Querida, por isso que eu queria um plebiscito. A consulta popular era a baliza que daria legitimidade à reforma.

Mas a senhora concorda que o plebiscito não sai?

Eu não concordo com nada, minha querida. Eu penso que é importante sair. E não sei ainda se não sai. Eu acho que é inexorável. Se você não escutar a voz das ruas, terá novos problemas.

E a saúde? Os profissionais da área dizem que o Mais Médicos é uma maquiagem porque o país tem uma estrutura precária de atendimento.

É? Pois é. Acontece que botamos dinheiro em estrutura. Jornais e TVs mostram que há equipamentos sem uso. Como você explica que 700 municípios não têm nenhum médico? E que 1.900 têm menos de um médico por 3.000 habitantes? Uma coisa é certa: eu, com médico, me viro. Sem médico, eu não me viro.

Folha - O PMDB engrossou o coro dos que defendem o enxugamento de ministérios.

Dilma Rousseff - Não estou cogitando isso. Não acho que reduza custos. As medidas de redução de custeio, nós tomamos. Todas. E sabe o que acontece? Vão querer cortar os de Direitos Humanos, Igualdade Racial, Política para as Mulheres. São pastas sem a máquina de outros. Mas são fundamentais. Política de cotas, por exemplo: só fizemos porque tem gente que fica ali, ó, exigindo.

A senhora sabe falar o nome de seus 39 ministros?

De todos. E todos eles ficam atrás de mim [risos]. Eu acho fantástico vocês [jornalistas] acharem que, nesse mundo de mídias, o despacho seja apenas presencial. Os ministros passam o tempo inteirinho me mandando e-mail, telefonando, conversando.

O ministro Guido Mantega está garantido no cargo?

O Guido está onde sempre esteve: no Ministério da Fazenda. E vocês podem me matar, mas eu não vou falar de reforma ministerial.

O desemprego em junho subiu pela primeira vez em quatro anos, na comparação com o mesmo mês do ano anterior.

Querida, o desemprego... [Consulta papéis.] Olha aqui, ó. É fantástico. Tem dó de mim, né? Como não podem falar de inflação, porque o IPCA-15 [prévia do índice oficial] deu 0,07% neste mês... E nós temos acompanhamento diário da inflação, tá? Hoje deu menos 0,02%. Tá? Ela [inflação] é cadente, assim, ó [aponta o braço para baixo].

E o emprego?

Houve uma variação. Foi de 5,9% para 6%. É a margem da margem da margem. Foram gerados 123.836 empregos celetistas. Em todo o primeiro mandato do Fernando Henrique Cardoso foram gerados 824.394 empregos. Eu, em 30 meses, gerei 4,4 milhões. Você vai me desculpar.

Com a inflação, também... Alguém já disse quanto é que caiu o preço do tomate? Ou só comentaram quando o tomate aumentou? [Pede para uma assessora checar os números. Ela informa que o tomate está custando R$ 4,50 o quilo.]

Eu não sou dona de casa, não posso mais ir no supermercado e não sei o preço do tomate hoje. Mas sei a estatística do tomate. Teve uma queda, se não me engano, de 16%. Eu ia naquele supermercado ali, ó [aponta a janela]. Não posso mais.

A senhora acha que os críticos do governo exageram?

Eu propus cinco pactos [depois das manifestações]. E eu tenho um sexto, sabe? Que é o pacto com a verdade. Não é admissível o que se faz hoje no Brasil. Você tem uma situação internacional extremamente delicada. Os EUA se recuperam, mas lentamente. Nós temos um ajuste visível na China. O Fed [Banco Central dos EUA] indicou que deixaria o expansionismo monetário, o que provocou a desvalorização de moedas em todo o mundo. E o país, nessa conjuntura, mantém a estabilidade. Cumpriremos a meta de inflação pelo décimo ano consecutivo. Sabe em quantos anos o Fernando Henrique não cumpriu a meta? Em três dos quatro anos dele [em que a meta vigorou].

A inflação subiu por vários meses no período de um ano.

Nós tivemos a quebra na produção agrícola americana, que afetou os mercados de commodities alimentares. Tivemos uma seca forte no Nordeste e também no sul.
A crítica é que a senhora relaxou no controle da inflação para manter o crescimento.
Ah, é? Tá bom. E como é que ela tá negativa agora?

Há dúvidas também em relação à política fiscal.

A relação dívida líquida sobre PIB nunca foi tão baixa. A dívida bruta está caindo. O deficit da Previdência é 1% do PIB. As despesas com pessoal, de 4,2%, as menores em dez anos. Como é que afrouxei o fiscal? Quero falar do futuro. De agosto até o início do ano que vem, faremos várias concessões, rodovias, ferrovias, aeroportos e portos, o que vai contribuir para a ampliação dos investimentos e para melhorar a competitividade da economia.

Mas o Brasil cresce pouco.

O mundo cresce pouco. Nós não somos uma ilha. Você não está com aquele vento a favor que estava, não. Nós estamos crescendo com vendaval na nossa cara.

O modelo de crescimento pelo consumo não se esgotou?

É uma tolice meridiana falar que o país não cresce puxado pelo consumo. Os EUA crescem puxados pelo consumo e pelo investimento. Nós temos que aumentar a taxa de investimento no Brasil. Aí eu concordo. Tanto que tomamos medidas fundamentais para que isso ocorra. Reduzimos os juros. Desoneramos as folhas de pagamento. Reduzimos a tarifa de energia. E fizemos um programa ousado de formação profissional, o Pronatec.

Os investimentos estão lentos e isso é creditado ao governo. Os empresários reclamam que a senhora não tem diálogo.

Eu? Veja a agenda de qualquer tempo da minha vida. Participei de todos os leilões, do período Lula e do meu. Entendo que eles [empresários] queiram conversar comigo, como faziam sistematicamente. Mas sou presidente. Eu não posso mais discutir taxa interna de retorno.

É outra crítica: o governo interfere, quer definir até a taxa.

É da vida o empresário pedir mais, o governo pedir menos. Aí ganha no meio. O Tribunal de Contas da União exige a definição de uma taxa de retorno. E o governo tem de ter sensibilidade para perceber quando está errado.

A senhora teria características que não contribuiriam para que projetos deslanchem. Seria centralizadora, autoritária.

Não, eu não sou isso, não. Agora, eu sei, como toda mulher, que, se você não acompanha as coisas prioritárias, tem um risco grande de elas não saírem. É que nem filho. Você ajuda até um momento, depois deixa voar.

A senhora já fez ministros chorarem com suas broncas?

Ah, que ministros choram o quê! Aquela história do [ex-presidente da Petrobras José Sergio] Gabrielli? Um dia escreveram que ele era pretensioso e autoritário. No dia seguinte, que eu tinha brigado e que ele chorou no banheiro. A gente ligava pra ele: "Eu queria falar com o autoritário chorão". Ô, querida, você conhece o Gabrielli? Ah, pelo amor de Deus.

A senhora não é dura demais?

Ah, querida, eu exijo bastante. O que exijo de mim, exijo de todo mundo.

Isso não inibe ministros?

Não tenho visto eles inibidos, não. Nenhum projeto de governo sai da cabeça de uma pessoa só. Não funciona assim. Se funcionasse, eu tava feita. Não trabalharia tanto.

Uma das questões que Lula encaminhou no fim do governo foi o da regulamentação da radiodifusão no país. A senhora enterrou esse assunto?

Não. Agora, o que eu e Lula jamais aceitaremos é que se mexa na liberdade de expressão. Vou te dizer o seguinte: não sou a favor da regulação do conteúdo. Sou a favor da regulação do negócio.

O que acha de o ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, ser chamado por críticos de "ministro do Plim-Plim"?
É um equívoco, uma incompreensão. Essa discussão [da regulação] está sempre posta. O [ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social] Franklin [Martins] deixou um legado importante. E agora vai ter mais discussão. A regulação em algum momento terá de ser feita. Mas ela não é igual ao que se pensou há três anos. É algo complexo, até o que deve ser regulado terá de ser discutido.

Por quê?

Hoje o que está em questão não é mais empresa jornalística versus telecomunicações, TV versus jornais. Hoje tem a internet. Tem um problema sério, nos EUA, no Brasil, para jornais escritos, revistas. Vai haver problema de concorrência da internet, da plataforma IP, em TV.

Temos de discutir. Eu não tenho todas as respostas. Todo mundo terá de participar. O Google hoje atrai mais publicidade que mídias que até há pouco eram as segundas colocadas. A vida é dura. E não é só para o governo. [Dilma pede que a conversa seja encerrada, alegando cansaço]. Gente, preciso ir. Estou tontinha da silva [risos].