quinta-feira, 15 de novembro de 2012
Dia da umbanda
Veio Zuza, personagem de Chico Anysio |
Além de lembrarmos a Proclamação da República, 15 de novembro também é o Dia Nacional da Umbanda. Achei ruim essa coindidência de datas. Aliás, é emblemático que a proclamação da república brasileira, que se pretende um estado laico coincida com o dia dedicado a uma religião. Mas...agora está feito. Há lugares do país em que o "Dia da Reforma (Protestante)" é feriado. Feriados católicos temos aos montes. Os judeus fazem seus próprios feriados e a gente tem que respeitar. Ao menos o Dia da Umbanda aproveitou um feriado já existente.
@s fiéis leitor@s deste modesto blog sabem que não curto religião nenhuma. Religião não é um fenômeno divino, mas um fenômeno cultural. É com essa perspectiva que reproduzo artigo publicado em Metafísica Anárquica. Se não me falha a memória, é uma reprodução sintética de artigo de Umberto Eco publicado no livro "Viagem à irrealidade cotidiana". O artigo trata de modo interessante (de acordo com a erudição do autor) sobre o caráter essencialmente brasileiro da crença e como ela se insere no universo sincrético brasileiro, além de seu papel na criação de uma imagem nacional.
Vale a pena ler um artigo da Revista de HIstória da Biblioteca Nacional fala sobre o "pai da umbanda", senhor Zélio de Moraes.
E, por fim, apesar de algumas imagens horríveis à venda nas lojas especializadas, a figura do "preto-velho" não deixa de ser simpática. O preto-velho é o guru brasileiro.
Candomblé, umbanda, escravos negros na visão de Umberto Eco
O erudito europeu Umberto Eco formulou respeitosas definições sobre sincretismo brasileiro, em seu livro O Pêndulo de Foucault (1988).
Nesta obra
ficcional, o personagem italiano Agliè (suposta reencarnação do mítico
Conde de São Germano, ou Saint Germain) vai desvendando os ritos
afro-brasileiros, assim como a identidade dos negros brasileiros que
tiveram sua memória cultural destruída.
Relembrando: o abolicionista Ruy Barbosa, quando Ministro da Fazenda (governo Deodoro da Fonseca), mandou queimar todos os registros de escravos negros do Brasil. Motivos alegados: apagar tristes lembranças do passado escravocrata, evitar a indenização aos proprietários de escravos, etc.
Relembrando: o abolicionista Ruy Barbosa, quando Ministro da Fazenda (governo Deodoro da Fonseca), mandou queimar todos os registros de escravos negros do Brasil. Motivos alegados: apagar tristes lembranças do passado escravocrata, evitar a indenização aos proprietários de escravos, etc.
“E vi Salvador, Salvador da Bahia de Todos os Santos, a Roma negra,
e suas trezentas e sessenta e cinco igrejas alcantiladas na linha das
colinas ou pousadas ao longo da baía, onde se cultuam os deuses do
panteão africano.”
Hesed, capítulo 26.
“... Mas de onde vêm estas divindades? É uma história complexa. Em
primeiro lugar trata-se de um ramo sudanês que se impôs no Norte do
Brasil desde os primórdios da escravidão, e desse cepo provém o
candomblé dos orixás, ou seja das divindades africanas. Nos estados do
Sul há influência de grupos bantos e a partir daí iniciam mesclas em
cadeia. Enquanto os cultos do Norte permanecem fiéis às religiões
africanas originárias, no Sul a macumba primitiva evolve em direção da
umbanda, por sua vez influenciada pelo catolicismo, o espiritismo e o
ocultismo europeus ...”
Hesed, capítulo 27.
“.... Mas o sincretismo tem uma mecânica muito sutil. Observaram do
lado de fora da porta, junto às comidas de santo, uma estatueta de
ferro, uma espécie de diabrete com o tridente, tendo algumas oferendas
votivas em torno? É Exu, poderosíssimo na umbanda, mas não no candomblé.
Contudo, também o candomblé o venera, considera-o um espírito
mensageiro, uma espécie de Mercúrio degenerado. Na umbanda as pessoas
são possuídas por Exu, aqui não. Todavia é sempre tratado com
benevolência, nunca se sabe. Veja lá ao fundo junto à parede ...
Indicou-me a estátua policroma de um índio nu e a de um velho escravo
negro vestido de branco, sentado a fumar cachimbo: são um caboclo e um
preto velho, espíritos de mortos que nos ritos de umbanda têm muito
valor. Que fazem ali? Recebem homenagem e não são utilizados porque o
candomblé só estabelece relações com os orixás africanos, mas nem por
isso são renegados aqui."
Hesed, capítulo 27.
“As forças do sincretismo são infinitas, minha cara. Se quiser,
poderei oferecer-lhe a versão política de toda essa história. As leis do
século XIX restituíram a liberdade aos escravos, mas na tentativa de
extinguir os estigmas da escravidão queimaram todos os arquivos do
mercado escravagista. Os escravos se tornam formalmente livres, mas sem
passado. E procuram então reconstruir uma identidade coletiva, à falta
daquela familiar. Voltam às raízes. É seu modo de opor-se, como vocês
jovens dizem, às forças dominantes."
Hessed, capítulo 27.
"Mas o senhor acabou de dizer que houve interferência das seitas européias ... , disse Amparo.
Minha cara, a pureza é um luxo, e os escravos pegam o que têm à mão.
Mas se vingam. Hoje já cativaram mais brancos do que pensa. Os cultos
africanos originários tinham a fraqueza de todas religiões, eram locais,
étnicos, míopes. Em contato com os mitos dos colonizadores reproduziram
um antigo milagre: ressuscitaram os cultos misteriosos do segundo e
terceiro séculos de nossa era, no Mediterrâneo, entre a Roma que se
desfazia aos poucos e os fermentos que vinhamda Pérsia, do Egito, da
Palestina pré-judaica... Nos séculos do baixo Império a África recebe os
influxos de toda a religiosidade mediterrânea e se torna escrínio para
eles, condensando-os. A Europa torna-se corrompida pelo cristianismo da
razão de estado, a África conserva os tesouros do saber, como já os
havia conservado e difundido no tempo dos egípcios, doando-os aos
gregos, que dele fizeram tábula rasa."
Hessed, capítulo 27.
“Mas aí vem chegando a mãe-de-santo, a Ialorixá.
O encontro com a guia do terreiro foi calmo, cordial, popularesco e
culto. Era uma preta imensa, de sorriso deslumbrante. À primeira vista
dir-se-ia tratar-se de uma dona de casa, mas quando começamos a falar
compreendi por que as mulheres do gênero podiam dominar a vida cultural
de Salvador.
Esses orixás são pessoas ou forças? perguntei-lhe. A mãe-de-santo
respondeu-me sim, que eram forças, água, vento, folhas, arco-íris. Mas
como impedir que os simples os vissem como guerreiros, mulheres, santos
da igreja católica? A igreja também não adora talvez uma força cósmica
sob a forma de várias virgens? O importante é venerar a força, o aspecto
deve adequar-se às possibilidades de compreensão de cada um.”
Hessed, capítulo 28.
“Depois convidou-nos a entrar no jardim dos fundos, para visitar as
capelas, antes de ter início o rito. No jardim estavam as casas dos
orixás. Um grupo de moças negras, vestidas de baianas, agitavam-se
alegremente nos últimos preparativos.
As casas dos orixás estavam dispostas no jardim como as capelas de
uma Via Sacra, e mostravam no exterior a imagem do santo correspondente.
No interior gritavam as cores cruas das flores, das estátuas, das
comidas preparadas há pouco e oferecidas aos deuses.
... Contudo não nos queria deixar antes de nos oferecer uma prova das
comidas de santo, não daquelas que estavam na corbelha, porque deviam
permanecer intactas, mas diretamente de sua cozinha. Levou-nos para os
fundos do terreiro, e foi um festim policromo de mandiocas, pimentas,
cocos, amendoim, gengibre, muqueca de siri-mole, vatapá, efó, caruru,
feijão-preto com farofa, entre um odor macio de especiarias africanas,
sabores tropicais adocicados e fortes, que degustamos com compunção,
sabendo que participávamos dos manjares de antigos deuses sudaneses.”
Hessed, capítulo 28.
1ª foto: Ialorixá de Cachoeira, BA - Ialorixá Eugênia Ana dos Santos - Ialorixá Maria Bibiana do Espírito Santo.
2ª foto: pinturas de Debret e Rugendas.
3ª foto: efó - abará - caruru.
Bancada do concreto prorroga “pacote natalino” em Porto Alegre
Por Paulo Muzell
Há dois anos, em novembro de 2010, a Câmara de Porto Alegre aprovou
um projeto que nós classificamos em texto veiculado neste mesmo RS
Urgente de um “generoso presente natalino”. Utilizando-se do surrado
pretexto de criar “estímulos” para a Copa de 2014, o Projeto de Lei
Complementar nº 10/2010 concedeu aumentos de índices construtivos de
40%, 60% e até 100% para os proprietários de hotéis, apart-hotéis,
centros comerciais, centros de convenção, shoppings, universidades,
escolas, clubes, centros esportivos e até igrejas que entrassem com seus
pedidos de ampliação na Prefeitura até 31 de dezembro de 2011.
Na prática, esta escandalosa “super emenda” revogou o que restava dos
frangalhos do plano diretor da cidade. Independente da falta de
seletividade do projeto, que trata de forma igual situações diferentes, à
medida que ignora as especificidades de cada empreendimento – se
localizado em zona rarefeita onde poderia se justificar o aumento de
área construída ou se em zona já altamente congestionada, com elevada
densidade demográfica, o projeto cede índices construtivos para o
empreendedor de graça. Transferência direta de patrimônio e de recursos
públicos para o setor privado, de “inhapa”, sem qualquer contrapartida.
Generosidade tamanha é difícil de compreender, só pode ser explicada
como coisa de “pai pra filho”.
Não satisfeito com o absurdo, o vereador Luiz Braz (PSDB) elaborou
emenda, também aprovada, que prorrogou o prazo do benefício por mais um
ano, até 31 de dezembro de 2012.
Pois neste final de legislatura o vereador Reginaldo Pujol (DEM) não
se esqueceu do “velhinho de vermelho”. Elaborou o projeto de Lei
Complementar n° 04/2012, pediu regime de urgência (artigo 81) e aprovou
na sessão deste dia 14, véspera do feriado da proclamação da República, a
prorrogação do prazo para apresentação dos projetos de ampliação até 31
de dezembro de 2013.
Votaram contra o projeto apenas cinco vereadores: Sofia Cavedon (PT),
Carlos Todeschini (PT), Beto Moesch (PP), Pedro Ruas (PSOL) e Fernanda
Melchiona (PSOL). O vereador João Dib (PP), líder do governo,
provavelmente constrangido, se absteve, acompanhado por DJ Cassiá (PTB) e
pelo Dr. Goulart (PTB). Ausentes do plenário não votaram: Maria Celeste
(PT), Mauro Pinheiro (PT) e Engenheiro Comassetto (PT). Adeli Sell (PT)
confirmou sua condição de integrante da “bancada do concreto” votando a
favor do projeto.
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Veja que lixo! Brilhante artigo de Jean Wyllys
Eu havia prometido não responder à coluna do ex-diretor de redação
de Veja, José Roberto Guzzo, para não ampliar a voz dos imbecis. Mas
foram tantos os pedidos, tão sinceros, tão sentidos, que eu dominei meu
asco e decidi responder.
A coluna publicada na edição desta semana do libelo da editora Abril —
e que trata sobre o relacionamento dele com uma cabra e sua rejeição ao
espinafre, e usa esses exemplos de sua vida pessoal como desculpa para
injuriar os homossexuais — é um monumento à ignorância, ao mal gosto e
ao preconceito.
Logo no início, Guzzo usa o termo “homossexualismo” e se refere à
nossa orientação sexual como “estilo de vida gay”. Com relação ao
primeiro, é necessário esclarecer que as orientações sexuais (seja você
hétero, gay ou bi) não são tendências ideológicas ou políticas nem
doenças, de modo que não tem “ismo” nenhum. São orientações da
sexualidade, por isso se fala em “homossexualidade”,
“heterossexualidade” e “bissexualidade”. Não é uma opção, como alguns
acreditam por falta de informação: ninguém escolhe ser gay, hétero ou
bi.
O uso do sufixo “ismo”, por Guzzo, é, portanto, proposital: os
homofóbicos o empregam para associar a homossexualidade à ideia de algo
que pode passar de uns a outros – “contagioso” como uma doença – ou para
reforçar o equívoco de que se trata de uma “opção” de vida ou de
pensamento da qual se pode fazer proselitismo.
Não se trata de burrice da parte do colunista portanto, mas de má fé.
Se fosse só burrice, bastaria informar a Guzzo que a orientação sexual é
constitutiva da subjetividade de cada um/a e que esta não muda
(Gosta-se de homem ou de mulher desde sempre e se continua gostando); e
que não há um “estilo de vida gay” da mesma maneira que não há um
“estilo de vida hétero”.
A má fé conjugada de desonestidade intelectual não permitiu ao
colunista sequer ponderar que heterossexuais e homossexuais partilham
alguns estilos de vida que nada têm a ver com suas orientações sexuais!
Aliás, esse deslize lógico só não é mais constrangedor do que sua
afirmação de que não se pode falar em comunidade gay e que o movimento
gay não existe porque os homossexuais são distintos. E o movimento
negro? E o movimento de mulheres? Todos os negros e todas as mulheres
são iguais, fabricados em série?
A comunidade LGBT existe em sua dispersão, composta de indivíduos que
são diferentes entre si, que têm diferentes caracteres físicos, estilos
de vida, ideias, convicções religiosas ou políticas, ocupações,
profissões, aspirações na vida, times de futebol e preferências
artísticas, mas que partilham um sentimento de pertencer a um grupo cuja
base de identificação é ser vítima da injúria, da difamação e da
negação de direitos! Negar que haja uma comunidade LGBT é ignorar os
fatos ou inscrição das relações afetivas, culturais, econômicas e
políticas dos LGBTs nas topografias das cidades. Mesmo com nossas
diferenças, partilhamos um sentimento de identificação que se
materializa em espaços e representações comuns a todos. E é desse
sentimento que nasce, em muitos (mas não em todos, infelizmente) a
vontade de agir politicamente em nome do coletivo; é dele que nasce o
movimento LGBT. O movimento negro — também oriundo de uma comunidade
dispersa que, ao mesmo tempo, partilha um sentimento de pertença —
existe pela mesma razão que o movimento LGBT: porque há preconceitos a
serem derrubados, injustiças e violências específicas contra as quais
lutar e direitos a conquistar.
A luta do movimento LGBT pelo casamento civil igualitário é
semelhante à que os negros tiveram que travar nos EUA para derrubar a
interdição do casamento interracial, proibido até meados do século XX. E
essa proibição era justificada com argumentos muito semelhantes aos que
Guzzo usa contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Afirma o colunista de Veja que nós os homossexuais queremos “ser
tratados como uma categoria diferente de cidadãos, merecedora de mais e
mais direitos”, e pouco depois ele coloca como exemplo a luta pelo
casamento civil igualitário. Ora, quando nós, gays e lésbicas, lutamos
pelo direito ao casamento civil, o que estamos reclamando é, justamente,
não sermos mais tratados como uma categoria diferente de cidadãos, mas
igual aos outros cidadãos e cidadãs, com os mesmos direitos, nem mais
nem menos. É tão simples! Guzzo diz que “o casamento, por lei, é a união
entre um homem e uma mulher; não pode ser outra coisa”. Ora, mas é a
lei que queremos mudar! Por lei, a escravidão de negros foi legal e o
voto feminino foi proibido. Mas, felizmente, a sociedade avança e as
leis mudam. O casamento entre pessoas do mesmo sexo já é legal em muitos
países onde antes não era. E vamos conquistar também no Brasil!
Os argumentos de Guzzo contra o casamento igualitário seriam uma
confissão pública de estupidez se não fosse uma peça de má fé e
desonestidade intelectual a serviço do reacionarismo da revista. Ele
afirma: “Um homem também não pode se casar com uma cabra, por exemplo;
pode até ter uma relação estável com ela, mas não pode se casar”. Eu não
sei que tipo de relação estável o senhor Guzzo tem com a sua cabra, mas
duvido que alguém possa ter, com uma cabra, o tipo de relação que é
possível ter com um cabra — como Riobaldo, o cabra macho que se
apaixonou por Diadorim, que ele julgava ser um homem, no romance
monumental de Guimarães Rosa. O que ele chama de “relacionamento” com
sua cabra é uma fantasia, pois falta o intersubjetivo, a reciprocidade
que, no amor e no sexo, só é possível com outro ser humano adulto:
duvido que a cabra dele entenda o que ele porventura faz com ela como um
“relacionamento”.
Guzzo também argumenta que “se alguém diz que não gosta de gays, ou
algo parecido, não está praticando crime algum – a lei, afinal, não
obriga nenhum cidadão a gostar de homossexuais, ou de espinafre, ou de
seja lá o que for”. Bom, os gays somos como o espinafre ou como as
cabras. Esse é o nível do debate que a Veja propõe aos seus leitores.
Não, senhor Guzzo, a lei não pode obrigar ninguém a “gostar” de gays,
negros, judeus, nordestinos, travestis, imigrantes ou cristãos. E
ninguém propõe que essa obrigação exista. Pode-se gostar ou não gostar
de quem quiser na sua intimidade (De cabra, inclusive, caro Guzzo, por
mais estranho que seu gosto me pareça!). Mas não se pode injuriar,
ofender, agredir, exercer violência, privar de direitos. É disso que se
trata.
O colunista, em sua desonestidade intelectual, também apela para uma
comparação descabida: “Pelos últimos números disponíveis, entre 250 e
300 homossexuais foram assassinados em 2010 no Brasil. Mas, num país
onde se cometem 50000 homicídios por ano, parece claro que o problema
não é a violência contra os gays; é a violência contra todos”. O que
Guzzo não diz, de propósito (porque se trata de enganar os incautos), é
que esses 300 homossexuais foram assassinados por sua orientação sexual!
Essas estatísticas não incluem os gays mortos em assaltos, tiroteios,
sequestros, acidentes de carro ou pela violência do tráfico, das
milícias ou da polícia.
As estatísticas se referem aos LGBTs assassinados exclusivamente por
conta de sua orientação sexual e/ou identidade de gênero! Negar isso é o
mesmo que negar a violência racista que só se abate sobre pessoas de
pele preta, como as humilhações em operações policiais, os “convites” a
se dirigirem a elevadores de serviço e as mortes em “autos de
resistência”.
Qual seria a reação de todos nós se Veja tivesse publicado uma coluna
em que comparasse os negros com cabras e os judeus com espinafre? Eu
não espero pelo dia em que os homens concordem, mas tenho esperança de
que esteja cada vez mais perto o dia em que as pessoas lerão colunas
como a de Guzzo e dirão “veja que lixo!”.
Jean Wyllys
Deputado Federal (PSOL-RJ)
Procuradoria pede retirada do termo 'Deus seja louvado' das cédulas de real
O Ministério Público Federal entrou com uma ação civil pública nesta
segunda-feira (12) em que pede que as novas cédulas de real passem a ser
impressas sem a expressão "Deus seja louvado".
O pedido, feito pela Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, diz
que a existência da frase nas notas fere os princípios de laicidade do
Estado e de liberdade religiosa.
"A manutenção da expressão 'Deus seja louvado' [...] configura uma
predileção pelas religiões adoradoras de Deus como divindade suprema,
fato que, sem dúvida, impede a coexistência em condições igualitárias de
todas as religiões cultuadas em solo brasileiro", afirma trecho da
ação, assinada pelo procurador Jefferson Aparecido Dias.
"Imaginemos a cédula de real com as seguintes expressões: 'Alá seja
louvado', 'Buda seja louvado', 'Salve Oxossi', 'Salve Lord Ganesha',
'Deus não existe'. Com certeza haveria agitação na sociedade brasileira
em razão do constrangimento sofrido pelos cidadãos crentes em Deus",
segue o texto.
O Banco Central, consultado pela Procuradoria, emitiu um parecer
jurídico em que diz que, como na cédula não há referência a uma
"religião específica", é "perfeitamente lícito" que a nota mantenha a
expressão.
"O Estado, por não ser ateu, anticlerical ou antirreligioso, pode
legitimamente fazer referência à existência de uma entidade superior, de
uma divindade, desde que, assim agindo, não faça alusão a uma
específica doutrina religiosa", diz o parecer do BC.
O texto do BC cita ainda posicionamento do especialista Ives Gandra
Martins, em que afirma que a " Constituição foi promulgada, como consta
do seu preâmbulo, 'sob a proteção de Deus', o que significa que o Estado
que se organiza e estrutura mediante sua lei maior reconhece um
fundamento metafísico anterior e superior ao direito positivo".
Segundo o texto do BC, a expressão apareceu pela primeira vez na moeda
nacional em 1986, nas cédulas de cruzados, por orientação do então
presidente, José Sarney, e foi mantida nas notas de real por
determinação de Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda.
O responsável pelas características das cédulas é o Conselho Monetário Nacional, que tem entre seus membros o presidente do BC.
A Procuradoria pede que a União comece a imprimir as cédulas sem a frase
em até 120 dias. Pede ainda que haja uma multa simbólica de R$ 1 por
dia de descumprimento.
Paulinho da Viola. 70 anos de samba e filosofia
Cartola e Paulinho da Viola. Dois dos maiores sambistas da humanidade |
"A música de Paulinho da Viola representa um universo particular dentro
da cultura brasileira. Experimentá-la é reconhecer que a identidade
cultural brasileira não é única, há sempre algo
mais." (do site do artista)
Paulinho da Viola é filho de Benedito César Ramos de Faria, violonista do conjunto Época de Ouro.
Desde criança conviveu com músicos como Pixinguinha e Jacob do Bandolim, que freqüentavam sua casa. Embora seu pai quisesse que o filho seguisse outra carreira que não a de músico, começou a estudar violão sozinho, aperfeiçoando-se, mais tarde, com o amigo Zé Maria.
Em Jacarepaguá, onde costumava passar os fins de semana na casa de uma tia, ajudou a organizar o Bloco Carnavalesco Foliões de Anália Franco, para a qual compôs seu primeiro samba. Logo depois, com alguns amigos deste bloco, formou um conjunto no qual tocava violão. Compôs seu segundo samba em 1962, "Pode ser ilusão", quando integrava a Ala dos Compositores da Escola de Samba União de Jacarepaguá.
Em 1963, seu tio Oscar Bigode, diretor de bateria da Portela, convidou-o a ingressar nessa escola. Nessa época, estudava contabilidade e trabalhava numa agência bancária.
Teve sete filhos, dos quais quatro são com Lila Rabello, irmã de Raphael, grande nome do violão brasileiro, Luciana e Amélia Rabello. Seu filho João Rabello é músico (violonista) e sua filha Eliane Faria é cantora e compositora, integrante da Ala de Compositores da Portela e ex-puxadora de samba da Escola Paraíso do Tuiuti.
Em 2002 o jornalista João Máximo lançou a biografia de Paulinho da Viola: "Paulinho da Viola - sambista e chorão, pela série "Perfis do Rio".
No ano de 2006 os pesquisadores André e Juliana Diniz publicaram uma biografia direcionada ao público infantil, lançada pela coleção infanto-juvenil "Mestres da Música do Brasil", da Editora Moderna.
Em 2012 o jornalista Ruy Fabiano deu início à biografia do compositor intitulada "A filosofia do samba".
Desde criança conviveu com músicos como Pixinguinha e Jacob do Bandolim, que freqüentavam sua casa. Embora seu pai quisesse que o filho seguisse outra carreira que não a de músico, começou a estudar violão sozinho, aperfeiçoando-se, mais tarde, com o amigo Zé Maria.
Em Jacarepaguá, onde costumava passar os fins de semana na casa de uma tia, ajudou a organizar o Bloco Carnavalesco Foliões de Anália Franco, para a qual compôs seu primeiro samba. Logo depois, com alguns amigos deste bloco, formou um conjunto no qual tocava violão. Compôs seu segundo samba em 1962, "Pode ser ilusão", quando integrava a Ala dos Compositores da Escola de Samba União de Jacarepaguá.
Em 1963, seu tio Oscar Bigode, diretor de bateria da Portela, convidou-o a ingressar nessa escola. Nessa época, estudava contabilidade e trabalhava numa agência bancária.
Teve sete filhos, dos quais quatro são com Lila Rabello, irmã de Raphael, grande nome do violão brasileiro, Luciana e Amélia Rabello. Seu filho João Rabello é músico (violonista) e sua filha Eliane Faria é cantora e compositora, integrante da Ala de Compositores da Portela e ex-puxadora de samba da Escola Paraíso do Tuiuti.
Em 2002 o jornalista João Máximo lançou a biografia de Paulinho da Viola: "Paulinho da Viola - sambista e chorão, pela série "Perfis do Rio".
No ano de 2006 os pesquisadores André e Juliana Diniz publicaram uma biografia direcionada ao público infantil, lançada pela coleção infanto-juvenil "Mestres da Música do Brasil", da Editora Moderna.
Em 2012 o jornalista Ruy Fabiano deu início à biografia do compositor intitulada "A filosofia do samba".
(Informações do Dicionário Cravo Albin)
No vídeo a seguir, o documentário "Meu tempo é hoje", que traça um belo panorama da carreira e do talento de Paulinho da Viola.
No vídeo a seguir, o documentário "Meu tempo é hoje", que traça um belo panorama da carreira e do talento de Paulinho da Viola.
domingo, 11 de novembro de 2012
As primeiras propagandas brasileiras
em artes & ideias por Anna Anjos
Um dos primeiros anúncios impressos no Brasil, de 1808 |
A primeira propaganda do Brasil, segundo a definição do escritor
Ricardo Ramos, aponta para a carta descrita pelo capitão-mor Pero Vaz de
Caminha, na qual relatava ao rei de Portugal Dom Manuel as maravilhas e
encantos da nova descoberta: "Até agora não pudemos saber se há ouro ou
prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a
terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de
Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d’agora assim os achávamos como
os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que,
querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem
(...)". Após essa ação publicitária sobre o exuberante produto, a Ilha
de Santa Cruz, a publicidade no Brasil permaneceu ainda por 300 anos
quase que exclusivamente de forma oral.
A publicidade tal qual a conhecemos atualmente surgiu no Brasil em
meados de 1800. Foi somente a partir de 1807, com a transferência da
corte portuguesa ao Brasil e, um ano depois, com a criação da Imprensa
Régia, que surgiu de fato o primeiro jornal oficial do país: a Gazeta do
Rio de Janeiro. (Em 1806, Hipólito da Costa já havia criado em Londres o
primeiro jornal não-oficial brasileiro). Em 1860 começaram a
aparecer os primeiros painéis de rua, bulas de remédio e panfletos de
propaganda. Quinze anos depois, em 1875, surgiram as primeiras peças
ilustradas em litogravura.
Anúncio da cerveja Holstia Bier no Jornal O Estado de São Paulo, de 1894 |
Anúncio da loja Mappin na Revista da Semana, de 1910 |
Anúncio do Instituto de Tuberculosos no Jornal Correio do Povo, de 1900 |
Anúncio do elixir Nutrogenol Granado na Revista Ilustração Paulista, de 1912 |
Anúncio do xarope Divino, de 1917 |
Tendo a família e os grupos domésticos como unidades de produção do
consumo, as propagandas no Brasil baseavam-se em temas como compra e
venda de móveis - e até de carruagens e escravos. Já os fortificantes e
elixires (considerados como os grandes anunciantes) dialogavam com as
donas de casa, prometendo-lhes vigor e bem-estar. Alguns nomes daquela
época hoje soam curiosos e até engraçados: Pós da Pérsia, Bálsamo Maravilhoso, Óleo de Fígado Bacalhau e o Rhum Creosotado.
Poetas como Olavo Billac, Augusto dos Anjos, Ari Barroso, Casimiro de
Abreu e Fernando Pessoa foram alguns dos escritores que participaram da
criação dos textos publicitários durante aquele período.
A Eclética, primeira agência de publicidade do país, nasceu em 1913,
em São Paulo. Surgiram, então, grandes anunciantes multinacionais, como a
General Eletric, a Nestlé e a Ford. Apesar de possuírem um padrão mais
elevado do que a maioria das companhias brasileiras, elas não
representavam os costumes e tampouco os hábitos de consumo nacional.
Por conta de epidemias como a gripe espanhola, além do crescimento
progressivo dos núcleos urbanos no Brasil, a partir de 1918 houve uma
incidência de diversas doenças e problemas de saneamento em geral. A
questão social começou a ser discutida e foi percebida a necessidade de
uma revisão do papel do Estado. Por conta disto, na década de 1920 houve
uma ampla abordagem na área da saúde e bem-estar; dentre eles, por
exemplo, anúncios de sabonete mostravam com nitidez a preocupação não
apenas com a higiene, mas também com a beleza e a estética.
Charge alusiva à chegada da gripe espanhola no Jornal Gazeta do Povo, de 1918 |
Anúncio dos produtos Tayuya, sabão Aristolino e xarope Grindelia, de 1924 |
Anúncio da Pomada Onken no Jornal O Farol Paulistano, de 1922 |
Anúncio do xarope Rhum Creosotado, de 1920 |
Anúncio da Cafiaspirina na Revista A Vida Moderna, de 1924 |
Anúncio do Lybiol na Revista A Vida Moderna, de 1924 |
Anúncio do Guaraná Espumante na Revista A Garoa, de 1921 |
Em 1926 pode-se perceber a presença cada vez mais acentuada das
empresas norte-americanas no Brasil. Entretanto, diversas questões de
ordem política que ocorreram nos anos seguintes (a crise de 1929, o
Golpe de 1930 e a Revolução Constitucionalista de 1932, que pretendia a
derrubada do Governo de Getúlio Vargas) não somente abalaram a economia
brasileira, como também paralisaram por um momento a propaganda
impressa.
Anúncio de touca onduladora FA-DA, de 1932 |
Anúncio da Loção Phenomeno na Revista Anauê, de 1937 |
Anúncio da empresa Light na Revista Anauê, de 1937 |
Anúncio de Mitigal na Revista Anauê, de 1937 |
Com a consolidação do rádio como veículo de comunicação de massa a
publicidade redescobriu-se: anúncios que até então eram somente
impressos, agora ganhavam vida com a possibilidade do uso de sons, vozes
e jingles. Esse foi o tempo da consolidação de alguns slogans, como: “É
mais fácil um burro voar que a Esquina da Sorte Falhar” e “Com
guarda-chuva Ferretti, pode chover canivete”.
Com uma visível profissionalização dos que faziam a propaganda se
principiou a dizer “a propaganda é a alma do negócio”. Alguns anos mais
tarde, em 1949, nasceram os convênios entre agências de propaganda e a
Associação Brasileira de Agências de Propaganda (ABAP). Zeca Martins,
autor de Propaganda é isso aí (Atlas, 2004) ratifica o
progresso da publicidade brasileira: "(...) como terceiro salto
histórico, temos o incansável e constante desenvolvimento dos meios de
comunicação, particularmente dos eletrônicos, a partir do final da
década de 50 (...) possibilitando o surgimento quase diário de novas
técnicas e manifestações estéticas no mundo da Propaganda".
Em 1950, o Brasil recebeu sua primeira emissora de TV, a Rede
Televisão Tupi de São Paulo. Mil pessoas foram convidadas por Assis
Chateaubriand para assistir ao evento. Cerca de 200 aparelhos de TV
foram espalhados nas casas de poucos escolhidos, não tardando a
tornar-se item recorrente em quase todos os lares do país,
principalmente em meados dos anos 1960, com a chegada da televisão em
cores.
Ouça abaixo alguns jingles veiculados no rádio durante as décadas de
1930-40 e assista às primeiras propagandas da televisão brasileira.
Artigo da autoria de Anna Anjos.
Anna Anjos é ilustradora e tem a cultura brasileira como principal referência em seu trabalho. Alimenta-se de brilhos cósmicos na centopéia das mil faces. Viaja pela vida sem passagem de volta .
Saiba como fazer parte da obvious.
Anna Anjos é ilustradora e tem a cultura brasileira como principal referência em seu trabalho. Alimenta-se de brilhos cósmicos na centopéia das mil faces. Viaja pela vida sem passagem de volta .
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