CartaCapital publica na edição que chega às bancas
em São Paulo nesta sexta-feira 27 uma lista inédita de beneficiários do
caixa 2 da campanha à reeleição do então governador Eduardo Azeredo em
1998. O esquema foi operado pelo publicitário Marcos Valério de Souza,
que assina a lista, registrada em cartório. O agora ministro do Supremo
Tribunal Federal Gilmar Mendes aparece entre os beneficiários. Mendes
teria recebido 185 mil reais.
Há ainda governadores, deputados e senadores na lista. Entre os
doadores, empresas públicas e prefeituras proibidas de fazer doações de
campanha. O banqueiro Daniel Dantas também aparece como repassador de
dinheiro ao caixa 2.
A documentação foi entregue à Polícia Federal pelo advogado Dino
Miraglia Filho, de Belo Horizonte. Ele defende a família da modelo
Cristiana Aparecida Ferreira, assassinada em 2000. Segundo Miraglia, a
morte foi “queima de arquivo”, pois a modelo participava do esquema e
era escalada para transportar malas de dinheiro. Na lista, Cristiana
aparece como destinatária de 1,8 milhão de reais.
Erenice Guerra foi vítima de um ataque da mídia durante a campanha eleitoral de 2010
Livre do processo que lhe custou o cargo de ministra-chefe da Casa
Civil, assumido após a presidenta Dilma Rousseff se afastar da pasta ao
assumir a candidatura ao Planato, em 2010, Erenice Guerra e seus advogados estudam um processo por danos morais contra os veículos de comunicação que, segundo afirmou fonte ao Correio do Brasil, nesta quinta-feira, em caráter sigiloso, “promoveu um verdadeiro linchamento público” com objetivo eleitoral.
“Em síntese: tratou-se de mais um assassinato de reputação patrocinado pela mídia!”, afirmou, em artigo publicado no CdB, o jornalista Altamiro Borges.
“O escândalo não teve apenas razões comerciais, não visou apenas
aumentar as vendas com base em matérias sensacionalistas. Ele teve
conotação política. Visou interferir diretamente nas eleições
presidenciais de 2010. Erenice era considerada o braço direito da
ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e ocupou a pasta quando esta
deixou o posto para disputar a sucessão”. O diário conservador
paulistano Folha de S. Paulo e a revista semanal de ultradireita Veja fizeram carga contra a servidora pública.
Altamiro Borges lembra que “a mesma Folha se jacta, na maior
caradura, que ‘o escândalo tirou votos de Dilma e acabou contribuindo
para levar a eleição ao segundo turno”.
“Além da Folha, a revista Veja fez da denúncia
leviana uma corrosiva peça de campanha eleitoral. Num gesto criminoso,
ela obrou a capa terrorista com o título Caraca, que dinheiro é esse. A reporcagem dizia que pacotes de até R$ 200 mil teriam sido entregues no interior da Casa Civil, então comandada por Erenice Guerra. Tudo a partir de denúncias em off,
de fontes anônimas. A revista não apresentou qualquer prova concreta e,
na sequência, também se gabou da degola da ex-ministra. Um crime!”,
acrescenta o jornalista.
“Agora, Erenice foi inocentada pela Justiça. E como ficam os assassinos de reputações da Folha e da Veja?”, questiona.
Na véspera, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região arquivou o
processo contra a ex-ministra por suposto tráfico de influência, após
acatar recomendação do Ministério Público Federal (MPF). A decisão de
arquivar a ação, por absoluta falta de provas, foi decretada na última
sexta-feira pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal.
Erenice era pessoa de confiança da presidenta quando ela ocupou o
Ministério das Minas e Energia e, em seguida, chefe da Casa Civil do
governo Lula. A ex-ministra deixou o cargo em setembro de 2010 em meio à
disputa eleitoral, já desgastada pelas denúncias veiculadas na
imprensa. Ela sempre negou todas as acusações.
Agora, o MTG ocupou as páginas do brioso diário da família Syrotsky para discutir os critérios de escolha da 1ª Prenda do Rio Grande do Sul, com direito ao título de "Reportagem Especial".
E tem gente que ainda se envolve com esse debate, inclusive eu.
A Paris actual não é a mesma urbe em que Victor Hugo situou os seus
Misérables. Essa Paris foi demolida em meados do século dezanove, e foi
então que dois fotógrafos fizeram o seu retrato da capital francesa. Um
captou os bairros antigos nos seus derradeiros momentos, o outro foi o
primeiro a registar a estranha cidade subterrânea.
Paris tem uma notável relação com a Fotografia, começando pelo
cognome de cidade luz. Este terá começado por ser uma associação
figurativa (a capital francesa era o centro da revolução cultural do
Iluminismo) no séc. XVIII, e terá posteriormente passado a ter uma
asserção literal quando foi aí instalada a primeira grande rede de
iluminação pública a gás.
Depois, muitas são as imagens de Paris que entraram no imaginário
popular por via fotográfica, cujo exemplo máximo será talvez “Le baiser
de l'hôtel de ville” de Robert Doisneau, imagem de 1950 em que um casal
se beija numa larga e movimentada via parisiense.
Por último, há que ter em conta o facto de nela se terem passado
alguns dos episódios mais marcantes da invenção do processo fotográfico,
estando sediados aí (ou ao seu redor) alguns dos pioneiros mais
marcantes, como Louis-Jacques Mandé Daguerre, Hippolyte Bayard e Abel
Niepce de Saint-Victor.
Porém, a Paris dos pioneiros da Fotografia era uma cidade bastante
diferente daquela que temos em mente hoje. As ruas que Daguerre e Bayard
percorriam enquanto matutavam nos sais de prata, eram as de uma pólis
de raiz medieval que até ao século doze se fora improvisando e
construindo, consumindo a pedra das construções da cidade romana que a
precedeu. E que partir de então se continuará a expandir, movida
sobretudo por inércia, e não tanto por planos, e de uma forma
estranhamente autofágica. Esgotada a fonte das construções romanas, os
parisienses escavaram as entranhas da cidade, em pedreiras subterrâneas
que alimentaram com gesso e calcário, durante séculos, o fulgor
construtivo da capital francesa. Sem controlo e sem projecto, as
galerias alastraram-se por quilómetros, criando uma verdadeira cidade
debaixo da cidade.
Nem sempre seguros, nem sempre cuidados, os subterrâneos revelaram-se
por vezes uma fonte de catástrofe. Pequenos desabamentos prenunciaram o
enorme colapso de 27 de Julho de 1778, em a rua Boyer foi engolida pelo
próprio solo. Perante o sucedido, Luís XVI (exacto, o que mais tarde
perderá a cabeça na guilhotina) ordena a criação do corpo de inspectores
das pedreiras liderado pelo arquitecto do rei, Charles Axel Guillaumot.
É iniciado então um trabalho gigantesco, que incluirá a inspecção,
inventariação e cartografia das galerias, o escoramento das instáveis
pedreiras e a criação de acessos adicionais para facilitar as vistorias e
a conservação. Para facilitar a orientação, Guillaumot ordena a
identificação das galerias e túneis, mandando gravar nos seus extremos o
nome da rua correspondente no plano superior.
Joseph-Siffred Duplessis, Retrato de Luís XVI, 1776
imagem da Wikipedia Commons
A Paris subterrânea torna-se um espelho viário da Paris das Luzes. E
será assim até que, aquando da instauração do Segundo Império, em meados
do século dezanove, se reunem as condições políticas e as ambições de
Napoleão III e do prefeito do Sena, o Barão Georges-Eugène Haussmann,
que juntos levarão a cabo o que, por várias vezes, havia sido antes
defendido – a construção de uma nova Paris. A velha Paris, de ruas
caóticas e estreitas, insalubre, não era aceitável para os que defendiam
que a capital deveria reflectir no seu traçado e construção a
racionalidade da Modernidade. Pesou também a velha rivalidade com os
ingleses que, por essa altura, já haviam dotado Londres de um conjunto
de Parques Públicos e de um amplo sistema de esgotos. Assim, de 1853 em
diante, iniciar-se-á a destruição e o renascimento da capital, trabalho
que verdadeiramente só será concluído no final desse século, bem depois
do estertor do segundo Império e do afastamento do barão.
Henri Lehmann, Retrato do barão Georges-Eugène Haussmann, cerca de 1860
colecções do MUSÉE CARNAVALET, Paris, França
Na década de 60 de oitocentos, quando os trabalhos estavam
verdadeiramente a começar, foi contratado o fotógrafo Charles Marville
para registar, para memória futura, a Paris em vias de desaparecer.
Charles Marville, pseudónimo de Charles François Bossu, um pintor,
gravador e ilustrador nascido em 1813, que mudara de mister aquando do
aparecimento da fotografia, havia-se destacado da grande quantidade de
fotógrafos da época ao se ter especializado na fotografia de obras de
Arte e de Arquitectura, primeiro utilizando a técnica de negativos em
papel salgado, depois chapas de vidro com colódio húmido.
Em 1858, inicia uma ligação formal com o município de Paris,
fotografando o Bois de Boulogne, o recentemente renovado parque real,
que se tornara um dos locais preferidos da burguesia parisiense. Este
trabalho é, na prática, o início da enorme série de fotografias
relacionada com a renovação da cidade, e como vimos, durante a década
seguinte realizará cerca de 400 fotografias das ruas e becos que serão
arrasados pela programada acção de Haussmann (que aliás lhe encomendará
igualmente o retrato da nova cidade, numa outra sequência de imagens,
que incluirá desde as novas igrejas e avenidas aos pitorescos urinóis).
O fotógrafo oficial do município fará assim uma abrangente recolha
visual da Paris mutante do segundo império, mas o que mais nos
impressiona é o corpo de imagens da cidade condenada. A ele devemos a
fonte que permite as reconstruções cinematográficas realistas da cidade,
em séries ou filmes. Graças a ele podemos, com propriedade, imaginar as
ruas de Les misérables, de Vitor Hugo, onde Jean Valjean deambula (no
meu caso, por falta de imaginação, Valjean parece-se sempre com Gérard
Depardieu).
Charles Marville, Bois de Boulogne, Paris, 1858
coleccções da National Gallery of Art, Washington, E.U.A
Os
aspectos positivos e negativos do Programa Um Computador por Aluno
(Prouca), do governo federal, foram discutidos ontem (24) na
mesa-redonda 'Tablets, notebooks e computadores na escola: políticas
públicas em debate', realizada durante a 64ª Reunião Anual da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorre
em São Luís até sexta-feira (27).
Entre os aspectos positivos, foram ressaltados o aumento
da motivação de alunos e professores e o envolvimento de toda a
escola e da comunidade da qual ela faz parte com o programa. Quanto
aos negativos, destacou-se a falta de sintonia do Prouca com a
realidade das redes estaduais e municipais de educação,
desconsiderando as diferenças regionais.
O Programa Um Computador por Aluno tem como objetivo ser
um projeto educacional utilizando tecnologia e inclusão digital.
Para isso, num primeiro momento, foram distribuídos 150 mil laptops
educacionais, para estudantes e professores de 300 escolas públicas
(urbanas, rurais, estaduais, municipais), das 27 unidades da
federação. Além disso, o Prouca forneceu a infraestrutura
necessária para acesso à internet e a capacitação de gestores e
professores no uso da tecnologia.
Coordenada pelo físico e mestre em Educação, Nelson
de Luca Pretto, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a
mesa-redonda teve como debatedores Roseli de Deus Lopes, da Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), e Paulo Gileno
Cysneiros, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ambos
especialistas no assunto e com experiência no Prouca. Embora os dois
tenham abordado os aspectos positivos e negativos do Programa, Roseli
deu mais destaque aos primeiros, enquanto Cysneiros preferiu
ressaltar os segundos.
Para Roseli, o Prouca possibilita a reorganização de
tempo e espaço de alunos e professores, tornando as aulas mais
produtivas, e aumenta a colaboração entre docentes, entre
estudantes, e entre estudantes e docentes. Mas ela também vê
problemas, como descontinuidades e a interrupção ou não
formalização de responsabilidades em projetos do Programa. "A
falta de manutenção e atualização dos computadores e softwares
também prejudica o Prouca", disse. "Há ainda uma
excessiva rotatividade de professores nas redes de ensino e
interrupção das atividades de formação continuada dos docentes."
Cysneiros, por sua vez, vê problemas tanto nos
equipamentos fornecidos pelo Programa como nos professores e gestores
encarregados de colocá-lo em prática. "As telas dos laptops
são de baixa qualidade e seu funcionamento é lento, a duração das
baterias é limitada, há travamento de programas e assistência
técnica é precária", criticou. "Quanto aos professores e
gestores, a maioria é iniciante em informática, desconhece os
software no laptop, não têm conexão com a internet em casa e não
dispõem de tempo para estudo na escola e nem interesse para a
formação a distância."
Ricos brasileiros são os quartos no mundo em remessas a paraísos fiscais
Os super-ricos brasileiros detêm
o equivalente a um terço do Produto Interno Bruto, a soma de todas as
riquezas produzidas do país em um ano, em contas em paraísos fiscais,
livres de tributação. Trata-se da quarta maior quantia do mundo
depositada nesta modalidade de conta bancária.
A informação foi revelada este este domingo por
um estudo inédito, que pela primeira vez chegou a valores depositados
nas chamadas contas offshore, sobre as quais as autoridades tributárias
dos países não têm como cobrar impostos.
O documento The Price of Offshore Revisited,
escrito por James Henry, ex-economista-chefe da consultoria McKinsey, e
encomendado pela Tax Justice Network, mostra que os super-ricos
brasileiros somaram até 2010 cerca de US$ 520 bilhões (ou mais de R$ 1
trilhão) em paraísos fiscais.
O estudo cruzou dados do Banco de Compensações
Internacionais, do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e de
governos nacionais para chegar a valores considerados pelo autor. Em 2010, o Produto Interno Bruto Brasileiro somou cerca de R$ 3,6 trilhões.
'Enorme buraco negro'
O relatório destaca o impacto sobre as economias
dos 139 países mais desenvolvidos da movimentação de dinheiro enviado a
paraísos fiscais. Henry estima que desde os anos 1970 até 2010, os
cidadãos mais ricos desses 139 países aumentaram de US$ $ 7,3 trilhões
para US$ 9,3 trilhões a "riqueza offshore não registrada" para fins de
tributação. A riqueza privada offshore representa "um enorme buraco negro na economia mundial", disse o autor do estudo.
"Instituições como Bank of America, Goldman Sachs, JP Morgan e Citibank vêm ofrecendo este serviço"
John Christensen, diretor Tax Justice Network
Na América Latina, chama a atenção o fato de,
além do Brasil, países como México, Argentina e Venezuela aparecerem
entre os 20 que mais enviaram recusos a paraísos fiscais. John Christensen, diretor da Tax Justice
Network, organização que combate os paraísos fiscais e que encomendou o
estudo, afirmou à BBC Brasil que países exportadores de riquezas
minerais seguem um padrão. Segundo ele, elites locais vêm sendo
abordadas há décadas por bancos, principalmente norte-americanos, pára
enviarem seus recursos ao exterior. "Instituições como Bank of America, Goldman
Sachs, JP Morgan e Citibank vêm oferecendo este serviço. Como o governo
americano não compartilha informações tributárias, fica muito difícil
para estes países chegar aos donos destas contas e taxar os recuros",
afirma. "Isso aumentou muito nos anos 70, durante as ditaduras", observa.
Quem envia
Segundo o diretor da Tax Justice Network, além
dos acionistas de empresas dos setores exportadores de minerais
(mineração e petróleo), os segmentos farmacêutico, de comunicações e de
transportes estão entre os que mais remetem recursos para paraísos
fiscais. "As elites fazem muito barulho sobre os impostos
cobrados delas, mas não gostam de pagar impostos", afirma Christensen.
"No caso do Brasil, quando vejo os ricos brasileiros reclamando de
impostos, só posso crer que estejam blefando. Porque eles remetem
dinheiro para paraísos fiscais há muito tempo". Chistensen afirma que no caso de México,
Venezuela e Argentina, tratados bilaterais como o Nafta (tratado de
livre comércio EUA-México) e a ação dos bancos americanos fizeram os
valores escondidos no exterior subirem vertiginosamente desde os anos
70, embora "este seja um fenômeno de mais de meio século".
O diretor da Tax Justice Network destaca ainda que há enormes recursos de países africanos em contas offshore.
Composta por Tom Jobim, a canção Garota de Ipanema faz suas bodas de ouro; confira nas vozes de vários artistas
22 de Julho de 2012 às 18:26
247 – “Ah, se ela soubesse, que quando ela passa, o mundo inteirinho se enche de graça...” Composta por Antônio Carlos Jobim, em 1962, a canção Garota de Ipanema, feita em homenagem a Helô Pinheiro, completa suas bodas de ouro. Clássico da bossa nova, ela foi interpretada por vários artistas, como João Gilberto, Ella Fitzgerald, Frank Sinatra e, mais recentemente, por Amy Winehouse.
Poucas obras humanas projetaram tanto o Brasil ao longo das últimas décadas como a canção de Jobim. E gravaram no inconsciente coletivo global a imagem de um Rio de Janeiro suave, romântico e deliciosamente sensual. Confira o clássico na voz de vários artistas.
Por Zach Toombs e R. Jeffrey Smith, da iWatch News
Enquanto critica a repressão a
manifestações populares, Washington autoriza e estimula venda de
armamento americano para países como o Egito e a Argélia
Uma cisão dentro do governo americano revela uma das maiores
contradições no modo como o país se posiciona internacionalmente.
Enquanto se anuncia como defensor da democracia, e apóia manifestações
populares contra regimes totalitários pelo mundo, Washington autoriza
vendas bilionárias de armas e equipamentos para controle de protestos
(como gás lacrimogêneo) para esses mesmos regimes.
A contradição veio à tona depois de um racha na publicação de
relatórios feitos por diferentes setores do governo em maio e junho
desse ano. De um lado, os departamentos envolvidos com a proteção
aos direitos humanos criticam os governos de outros países por falta de
princípios democráticos, citando abusos ao direito de expressão,
reunião, discurso e escolha política. Do outro, setores ligados aos
assuntos político-militares exaltam o sucesso do governo americano no
estímulo a um mercado bilionário que só cresce: à exportação de
armamento.
Para se ter uma ideia do tamanho desse mercado, o relatório do
Departamento de Estado sobre assistência militar, de 8 de junho, afirma
que o governo aprovou U$44,28 bilhões em carregamentos e armas para 173
nações no último ano. Entre elas, há lugares onde há fartos relatos de
violações de direitos humanos, como Emirados Árabes, Qatar, Israel,
Djibouti, Honduras, Arábia Saudita, Kuwait e Bahrein. E pelo menos três
países onde o governo local reprimiu a resistência democrática no ano
passado – Argélia, Egito e Peru. Além do governo do Egito, que
comprou equipamentos para dispersar manifestante, como o gás
lacrimogêneo, com o aval de Washington.
No mesmo ano em que estourou a primavera árabe, cresceu a exportação
de armas americanas – comércio que o governo americano prefere chamar de
“parceria”. As vendas de armas autorizadas alcançou U$44,28 bilhões no
ano passado, U$10 bilhões a mais que em 2010. Segundo o departamento de
estado americano, deve haver um aumento de 70% no ano que vem.
Essas vendas – somados à a exportação feita diretamente de governo
para governo, que são supervisionados pelo Pentágono – fazem dos Estados
Unidos o maior provedor mundial de armas convencionais, segundo o
Instituto Internacional de Estocolmo para Pesquisa sobre Paz (Stockholm International Peace Research Institute).
Rússia, França e China estão logo atrás nesse ranking. Os EUA cresceu
recentemente nesse setor graças à expansão das vendas para o Brasil,
Arábia Saudita e Índia.
“Nós vamos continuar a pressionar e defender a venda de armas dos
Estados Unidos”, disse Andrew Shapiro, Secretário Assistente da
Secretaria de Assuntos Político-Militares do governo americano, em
coletiva de imprensa sobre a exportação de armas em junho. “Estamos
esperançosos de que as vendas para a Índia aumentem. Fizemos grande
progresso nessa relação na última década”. Segundo ele, na última
década, as vendas de armas para a Índia saltaram de “quase zero” para
U$8 bilhões.
A visão da Secretaria para Democracia, Direitos e Trabalho sobre a
Índia é bem diferente. Em maio, esse departamento emitiu um relatório
sobre o país em que registrava: “abusos policiais e das forças de
segurança, incluindo assassinatos extrajudiciais, tortura e estupro.
Corrupção generalizada em altos níveis do governos”. Além de
“desaparecimentos, condições precárias nas prisões que eram
frequentemente ameaças para a vida, prisões e detenções arbitrária”.
A Índia não é a única engordar os fabricantes de armas americanos
enquanto Washington apontam violações de direitos ligados ao uso desse
armamento. Vendas para os Emirados Árabes no valor de U$2,4 bilhões
foram aprovadas enquanto o Departamento de Estado afirmava que o país
estava violando liberdades políticas fundamentai. Vendas totalizando
U$1,7 bilhões foram aprovadas para o Qatar, país que carece de meios de
comunicação independentes e restringe a liberdade de reunião. Por fim,
vendas que somam U$1,39 bilhões foram aprovadas para Djibouti, país que,
segundo o Departamento de Estado americano, assediou, abusou e prendeu
críticos do governo.
“Quando julgamos que a cooperação com um aliado ou parceiro no setor
de segurança irá contribuir para nossa segurança nacional, nós
defendemos as empresas [de fabricação de armas] americanas”, disse
Shapiro.
Não há uma lei nos Estados Unidos que determine que armas só podem
ser vendidas para governos que traem bem seus cidadãos. Mas há uma
restrição conhecida como “Leahy Law” (Lei Leahy), do Senador Patrick
Leahy e aprovada em 1997, que proíbe a assistência a unidades militares e
policiais responsáveis por violações de direitos humanos.
Mas, como ressalta o porta-voz de Leahy, David Carle, a lei só cobre
transferências diretas de governo para governo – uma corrente de
exportaçõe diferente das vendas comerciais (que também são aprovadas
pelo Departamento de Estado). Portanto, por mais que os U$34,8 bilhões
de dólares vendidos de governo para governo estejam regulados sob a Lei
Leahy, há U$44,28 bilhões de dólares em vendas autorizadas pelo Estado
norte-americano que estão livres das restrições dessa lei.
Adotei Akwei, o diretor de relações entre governos da Anistia
Internacional, diz que “em todos esses países, existe a necessidade de
um processo mais rigoroso para verificar o destino dessas armas e como
elas estão sendo usadas. Mesmo que o Departamento de Estado americano
identifique problemas, nós ainda vemos essas vendas acontecendo
repetidas vezes”.
Shapiro garante que qualquer assistência para militares e empresas
estrangeiras está de acordo com a política externa dos Estados Unidos.
“Nós só permitimos a venda depois que examinamos cuidadosamente assuntos
como direitos humanos, segurança regional e preocupações com a
proliferação”, disse na coletiva de imprensa.
O Departamento de Estado argumenta ainda que muitos dos itens
despachados para militares estrangeiros são usados somente para defesa
externa desses países. No caso dos Emirados Árabes, por exemplo, uma
venda autorizada em janeiro de 2012, no valor de U$29,4 bilhões ,
consistia na compra de 84 aviões de caça F-15. No entanto, o governo
americano também autorizou bilhões de dólares em vendas de armas
pequenas, munição e equipamentos toxicológicos (como o gás lacrimogêneo)
para vários países. (veja valores e tipo de armamento vendido para
cada país abaixo).
Esse comércio carece de transparência. As informações públicas sobre
exportação de armamentos listam categorias bastante abrangentes, não
determina exatamente qual é o carregamento. O porta-voz David McKeeby se
recusou a discutir se o Peru e a Argélia compraram equipamentos para
controlar manifestações, apesar da confirmação de que o Egito havia
comprado. Ele justifica dizendo que as informações são sigilosas. O
Egito foi um caso muito único. Infelizmente, não posso dar mais detalhes
sobre esses países ou essas licenças. O que eu posso falar sobre os
casos do Bahrein e da Argélia é que várias dessas licenças datam de
antes da Primavera Árabe”.
Representantes de várias empresas com contas ligadas ao carregamento
de vasilhas de gás lacrimogêneo para o Oriente Médio não quiseram
comentar o assunto. Jose Corbera, porta-voz do escritório comercial da
embaixada peruana não deu resposta ao pedido de entrevista. Oficiais na
embaixada da Argélia também não quiseram fornecer dados sobre
importações de munições dos Estados Unidos.
Segundo a porta-voz do Departamento de Estado, Beth Gosselin, algumas
armas exportadas foram feitas para as forças americanas no exterior,
não para militares estrangeiros. Ela disse que no Bahrein, U$266,7
milhões de dólares, de U$280,3 milhões total em armas e equipamentos,
eram itens para a estação “Fifth Fleet” da Marinha na ilha da nação.
Gosselin não forneceu dados similares sobre outros países.
Matt Schroeder, diretor do Arms Sales Monitoring Project at the
Federation of American Scientists (Projeto de Monitoramento de Vendas de
Armas da Federação de Cientistas Americanos), disse que o veto dos
Estados Unidos é melhor do que o de muitas outras nações que fornecem
armas. Mas admite que a informação sobre quais armas vão para as forças
dos Estados Unidos ou para outros usuários é raramente acessível. “É
difícil ter o valor em dólares das armas enviadas para um país e
estipular que seção desses itens podem ser vulneráveis ao mau uso,”
Schroeder diz.
Uma cláusulaescrita por Leahy e aprovada pelo Congresso em
2011 requer aprovação legislativa para a venda de materiais de controle
de multidões para governos do Oriente Médio que enfrentam inquietação
democrática. Essa cláusula forçou, de início, uma parada nas
transferências de armas para o Bahrein, que tem enfrentado protestos
desde a Primavera Árabe do ano passado. Mas, em maio, o governo
americano liberou alguns itens e renovou a exportação de armas feitas
originalmente para a defesa do país, como barcos de segurança de portos e
motores para aviões a jato.
O assunto da exportação de armas para países envolvidos com repressão
de suas populações tem sido debatido recentemente por oficiais de alta
patente dos Estados Unidos e da Rússia. Hillary Clinton, secretária de
Estado, em 12 de junho, acusou a Rússia de vender helicópteros de ataque
para o regime do presidente da Síria, Bashar al-Assad, armas que
estariam sendo usadas contra o povo sírio. Em réplica, Sergey Lavrov,
Ministro de Exterior da Rússia, disse: “Nós não estamos fornecendo para a
Síria otro país equipamentos usados em combate às
manifestações pacíficas, ao contrário dos Estados Unidos, que
regularmente envia tais equipamentos a países da região.”
Lavrov não mencionou o país, mas Shapiro considerou o comentário como
uma crítica às exportações americanas ao Bahrein e falou que a crítica
russa era “totalmente ilusória”. “Não estamos vendendo equipamento para o
Bahrein até que haja melhoras nos direitos humanos”, ele disse. “Como a
Secretária Clinton ressaltou, as vendas para a Síria estão diretamente
implicadas em atacar pessoas inocentes, civis e inocentes. Então
acreditamos que essa comparação não se sustenta.”
Atualmente, a Organização das Nações Unidas discute um tratado global
que irá requerer relatórios anuais de todas as nações detalhando os
valores e os tipos de armas que exportaram. Ainda que a administração do
ex-presidente George W. Bush tenha se oposto ao Tratado sobre Comércio
de Armas da ONU para rastrear as armas, Clinton reverteu essa posição em
uma declaração de Outubro de 2009, dizendo que “Os Estados Unidos está
preparado para trabalhar duro para um padrão internacional.”
Akwei, da Anistia, expressou esperança de que o resultado seja um
sistema mais concreto para rastrear armas e garantir que eles não sejam
usadas em casos de violação de direitos humanos.
“O tratado coloca uma lente internacional sobre esse comércio, cuja
fiscalização é escassa e aleatória,” diz Akwei. “Vai depender da
cooperação de países como a China e a Rússia, mas dará a possibilidade
das ONGs verificarem esses registros e fazerem questionamentos sobre o
comércio de armas”.
A seguir, a lista dos 10 países que mais
receberam armas americanas em 2011. E como seus governos violam direitos
dos cidadãos, segundo relatório do Departamento de Estado americano no
mesmo ano.
O debate sobre os efeitos da eleição municipal na política nacional
tem tomado um rumo mais realista. Velhas ideias equivocadas estão sendo
aposentadas.
Ainda existem aqueles que insistem em enxergar a escolha de prefeitos
e vereadores como uma preliminar da eleição presidencial. São os que
acham que nosso sistema político é igual ao americano e pensam que elas
são equivalentes a uma coisa que existe por lá, as midterm elections,
que acontecem a meio caminho entre as eleições presidenciais - para
renovar parte do Congresso e dois terços dos governos estaduais, e que
costumam antecipar os sentimentos do eleitorado em relação à sucessão na
Casa Branca.
A analogia não faz sentido e nossa experiência desde a
redemocratização o demonstra. A vitória de nenhum de nossos presidentes
decorreu do desempenho de seu partido nas eleições locais anteriores.
Isso vale no atacado e no varejo. Ser o campeão na quantidade de
prefeitos não quer dizer nada na hora de contar os votos para
presidente. Que o diga o PMDB, que conquista esse troféu a todo ano e
que, quando resolveu ter candidato próprio, amargou derrotas
acachapantes. Consciente de que de pouco adianta ter uma tonelada de
prefeitos, desde 2002 se contenta com o papel de coadjuvante, fornecendo
o vice a quem imagina que vai vencer (nem sempre acertando, mas com
ótimo retorno).
Tampouco é importante, do ponto de vista eleitoral, conquistar as
grandes cidades ou a maior de todas. Ganhar ou perder a prefeitura de
São Paulo é fundamental para quem lá atua, mas, na política nacional, é
puramente simbólico. Quem duvidar que se lembre de 1996: Celso Pitta se
sagrou prefeito, Maluf teve uma espetacular vitória e nada mudou na vida
política brasileira.
A maioria dos analistas se deu conta que as eleições locais são
decisivas por outra razão: nelas, os partidos melhoram ou pioram suas
possibilidades de eleger representantes no Legislativo. Muito
especialmente, o número de deputados que mandam para a Câmara em
Brasília.
O tamanho das bancadas é o primeiro critério que determina o acesso
dos partidos aos cargos de comando do Legislativo, desde a Presidência
do Senado e da Câmara, à chefia de suas comissões importantes.
Parlamentares eleitos por legendas pequenas só chegam aos postos
relevantes se tiverem muito prestígio pessoal – e o apoio das maiores.
O mesmo vale nas relações dos partidos com o Executivo. Nas coalizões
governistas, os grandes ocupam ministérios “de ponta” – os que têm
visibilidade e movimentam dinheiro. Aos menores, só resta indicar seus
preferidos para cargos secundários. Foi assim em todos os governos desde
Sarney.
Em outras palavras: o poder dos partidos aumenta exponencialmente se tiverem muitos deputados e senadores.
A grande maioria chega ao Parlamento em função de seus vínculos com a
política municipal. Ou foram eles mesmos prefeitos - assim obtendo
notoriedade e conceito -, ou contam com o apoio de lideranças locais.
São raros os que podem prescindir desse ingrediente na conquista de um
mandato.
Ter uma boa “prefeitama”, como se diz na linguagem coloquial da política mineira, é quase uma garantia de sucesso eleitoral.
Os prefeitos, vereadores e cabos eleitorais são, para os eleitores,
aqueles que orientam e informam um voto difícil. Como escolher, entre as
centenas de candidatos a deputado, o melhor para a região, cidade,
comunidade ou bairro? Se o cidadão não consegue identificá-lo sozinho,
por que não ouvir a indicação de alguém em quem confia?
Nem sempre dá certo, mas muitos acreditam que, assim, correm menos risco de errar na hora de votar.
Os atuais deputados e os que pretendem chegar à Câmara em 2014 sabem
que, se ajudarem na eleição de prefeitos e vereadores, darão um passo
decisivo para seu próprio sucesso daqui a dois anos.
A eleição municipal é quase irrelevante para a sucessão presidencial,
mas é fundamental para definir o balanço entre os partidos na
legislatura seguinte. Seu impacto eleitoral direto é mínimo, mas tem
amplas consequências políticas.