sexta-feira, 27 de julho de 2012

CartaCapital: O valerioduto abasteceu Gilmar Mendes

Exclusivo CartaCapital
CartaCapital publica na edição que chega às bancas em São Paulo nesta sexta-feira 27 uma lista inédita de beneficiários do caixa 2 da campanha à reeleição do então governador Eduardo Azeredo em 1998. O esquema foi operado pelo publicitário Marcos Valério de Souza, que assina a lista, registrada em cartório. O agora ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes aparece entre os beneficiários. Mendes teria recebido 185 mil reais.
Há ainda governadores, deputados e senadores na lista. Entre os doadores, empresas públicas e prefeituras proibidas de fazer doações de campanha. O banqueiro Daniel Dantas também aparece como repassador de dinheiro ao caixa 2.
A documentação foi entregue à Polícia Federal pelo advogado Dino Miraglia Filho, de Belo Horizonte. Ele defende a família da modelo Cristiana Aparecida Ferreira, assassinada em 2000. Segundo Miraglia, a morte foi “queima de arquivo”, pois a modelo participava do esquema e era escalada para transportar malas de dinheiro. Na lista, Cristiana aparece como destinatária de 1,8 milhão de reais.

Erenice e advogados estudam processo contra mídia


Erenice Guerra
Erenice Guerra foi vítima de um ataque da mídia durante a campanha eleitoral de 2010
Livre do processo que lhe custou o cargo de ministra-chefe da Casa Civil, assumido após a presidenta Dilma Rousseff se afastar da pasta ao assumir a candidatura ao Planato, em 2010, Erenice Guerra e seus advogados estudam um processo por danos morais contra os veículos de comunicação que, segundo afirmou fonte ao Correio do Brasil, nesta quinta-feira, em caráter sigiloso, “promoveu um verdadeiro linchamento público” com objetivo eleitoral.
“Em síntese: tratou-se de mais um assassinato de reputação patrocinado pela mídia!”, afirmou, em artigo publicado no CdB, o jornalista Altamiro Borges.
“O escândalo não teve apenas razões comerciais, não visou apenas aumentar as vendas com base em matérias sensacionalistas. Ele teve conotação política. Visou interferir diretamente nas eleições presidenciais de 2010. Erenice era considerada o braço direito da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e ocupou a pasta quando esta deixou o posto para disputar a sucessão”. O diário conservador paulistano Folha de S. Paulo e a revista semanal de ultradireita Veja fizeram carga contra a servidora pública.
Altamiro Borges lembra que “a mesma Folha se jacta, na maior caradura, que ‘o escândalo tirou votos de Dilma e acabou contribuindo para levar a eleição ao segundo turno”.
“Além da Folha, a revista Veja fez da denúncia leviana uma corrosiva peça de campanha eleitoral. Num gesto criminoso, ela obrou a capa terrorista com o título Caraca, que dinheiro é esse. A reporcagem dizia que pacotes de até R$ 200 mil teriam sido entregues no interior da Casa Civil, então comandada por Erenice Guerra. Tudo a partir de denúncias em off, de fontes anônimas. A revista não apresentou qualquer prova concreta e, na sequência, também se gabou da degola da ex-ministra. Um crime!”, acrescenta o jornalista.
“Agora, Erenice foi inocentada pela Justiça. E como ficam os assassinos de reputações da Folha e da Veja?”, questiona.
Na véspera, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região arquivou o processo contra a ex-ministra por suposto tráfico de influência, após acatar recomendação do Ministério Público Federal (MPF). A decisão de arquivar a ação, por absoluta falta de provas, foi decretada na última sexta-feira pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal.
Erenice era pessoa de confiança da presidenta quando ela ocupou o Ministério das Minas e Energia e, em seguida, chefe da Casa Civil do governo Lula. A ex-ministra deixou o cargo em setembro de 2010 em meio à disputa eleitoral, já desgastada pelas denúncias veiculadas na imprensa. Ela sempre negou todas as acusações.

Uma polêmica que divide o Rio Grande

Não tinham mais nada pra inventar.
Agora, o MTG ocupou as páginas do brioso diário da família Syrotsky para discutir os critérios de escolha da 1ª Prenda do Rio Grande do Sul, com direito ao título de "Reportagem Especial".
E tem gente que ainda se envolve com esse debate, inclusive eu.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Uma outra Paris

Uma outra cidade

A Paris actual não é a mesma urbe em que Victor Hugo situou os seus Misérables. Essa Paris foi demolida em meados do século dezanove, e foi então que dois fotógrafos fizeram o seu retrato da capital francesa. Um captou os bairros antigos nos seus derradeiros momentos, o outro foi o primeiro a registar a estranha cidade subterrânea.
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Willy Ronis, Os amantes da Bastilha, Paris
© espólio de Willy Ronis

Paris tem uma notável relação com a Fotografia, começando pelo cognome de cidade luz. Este terá começado por ser uma associação figurativa (a capital francesa era o centro da revolução cultural do Iluminismo) no séc. XVIII, e terá posteriormente passado a ter uma asserção literal quando foi aí instalada a primeira grande rede de iluminação pública a gás.
Depois, muitas são as imagens de Paris que entraram no imaginário popular por via fotográfica, cujo exemplo máximo será talvez “Le baiser de l'hôtel de ville” de Robert Doisneau, imagem de 1950 em que um casal se beija numa larga e movimentada via parisiense.
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Robert Doisneau, Le baiser de l'hôtel de ville, Paris, 1950
© espólio de Robert Doisneau

Por último, há que ter em conta o facto de nela se terem passado alguns dos episódios mais marcantes da invenção do processo fotográfico, estando sediados aí (ou ao seu redor) alguns dos pioneiros mais marcantes, como Louis-Jacques Mandé Daguerre, Hippolyte Bayard e Abel Niepce de Saint-Victor.
Porém, a Paris dos pioneiros da Fotografia era uma cidade bastante diferente daquela que temos em mente hoje. As ruas que Daguerre e Bayard percorriam enquanto matutavam nos sais de prata, eram as de uma pólis de raiz medieval que até ao século doze se fora improvisando e construindo, consumindo a pedra das construções da cidade romana que a precedeu. E que partir de então se continuará a expandir, movida sobretudo por inércia, e não tanto por planos, e de uma forma estranhamente autofágica. Esgotada a fonte das construções romanas, os parisienses escavaram as entranhas da cidade, em pedreiras subterrâneas que alimentaram com gesso e calcário, durante séculos, o fulgor construtivo da capital francesa. Sem controlo e sem projecto, as galerias alastraram-se por quilómetros, criando uma verdadeira cidade debaixo da cidade.
Nem sempre seguros, nem sempre cuidados, os subterrâneos revelaram-se por vezes uma fonte de catástrofe. Pequenos desabamentos prenunciaram o enorme colapso de 27 de Julho de 1778, em a rua Boyer foi engolida pelo próprio solo. Perante o sucedido, Luís XVI (exacto, o que mais tarde perderá a cabeça na guilhotina) ordena a criação do corpo de inspectores das pedreiras liderado pelo arquitecto do rei, Charles Axel Guillaumot. É iniciado então um trabalho gigantesco, que incluirá a inspecção, inventariação e cartografia das galerias, o escoramento das instáveis pedreiras e a criação de acessos adicionais para facilitar as vistorias e a conservação. Para facilitar a orientação, Guillaumot ordena a identificação das galerias e túneis, mandando gravar nos seus extremos o nome da rua correspondente no plano superior.
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Joseph-Siffred Duplessis, Retrato de Luís XVI, 1776
imagem da Wikipedia Commons

A Paris subterrânea torna-se um espelho viário da Paris das Luzes. E será assim até que, aquando da instauração do Segundo Império, em meados do século dezanove, se reunem as condições políticas e as ambições de Napoleão III e do prefeito do Sena, o Barão Georges-Eugène Haussmann, que juntos levarão a cabo o que, por várias vezes, havia sido antes defendido – a construção de uma nova Paris. A velha Paris, de ruas caóticas e estreitas, insalubre, não era aceitável para os que defendiam que a capital deveria reflectir no seu traçado e construção a racionalidade da Modernidade. Pesou também a velha rivalidade com os ingleses que, por essa altura, já haviam dotado Londres de um conjunto de Parques Públicos e de um amplo sistema de esgotos. Assim, de 1853 em diante, iniciar-se-á a destruição e o renascimento da capital, trabalho que verdadeiramente só será concluído no final desse século, bem depois do estertor do segundo Império e do afastamento do barão.
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Henri Lehmann, Retrato do barão Georges-Eugène Haussmann, cerca de 1860
colecções do MUSÉE CARNAVALET, Paris, França

Na década de 60 de oitocentos, quando os trabalhos estavam verdadeiramente a começar, foi contratado o fotógrafo Charles Marville para registar, para memória futura, a Paris em vias de desaparecer. Charles Marville, pseudónimo de Charles François Bossu, um pintor, gravador e ilustrador nascido em 1813, que mudara de mister aquando do aparecimento da fotografia, havia-se destacado da grande quantidade de fotógrafos da época ao se ter especializado na fotografia de obras de Arte e de Arquitectura, primeiro utilizando a técnica de negativos em papel salgado, depois chapas de vidro com colódio húmido.
Em 1858, inicia uma ligação formal com o município de Paris, fotografando o Bois de Boulogne, o recentemente renovado parque real, que se tornara um dos locais preferidos da burguesia parisiense. Este trabalho é, na prática, o início da enorme série de fotografias relacionada com a renovação da cidade, e como vimos, durante a década seguinte realizará cerca de 400 fotografias das ruas e becos que serão arrasados pela programada acção de Haussmann (que aliás lhe encomendará igualmente o retrato da nova cidade, numa outra sequência de imagens, que incluirá desde as novas igrejas e avenidas aos pitorescos urinóis).
O fotógrafo oficial do município fará assim uma abrangente recolha visual da Paris mutante do segundo império, mas o que mais nos impressiona é o corpo de imagens da cidade condenada. A ele devemos a fonte que permite as reconstruções cinematográficas realistas da cidade, em séries ou filmes. Graças a ele podemos, com propriedade, imaginar as ruas de Les misérables, de Vitor Hugo, onde Jean Valjean deambula (no meu caso, por falta de imaginação, Valjean parece-se sempre com Gérard Depardieu).
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Charles Marville, Bois de Boulogne, Paris, 1858
coleccções da National Gallery of Art, Washington, E.U.A

SBPC: 7. Debate sobre uso dos computadores nas escolas



Os aspectos positivos e negativos do Programa Um Computador por Aluno (Prouca), do governo federal, foram discutidos ontem (24) na mesa-redonda 'Tablets, notebooks e computadores na escola: políticas públicas em debate', realizada durante a 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorre em São Luís até sexta-feira (27).

Entre os aspectos positivos, foram ressaltados o aumento da motivação de alunos e professores e o envolvimento de toda a escola e da comunidade da qual ela faz parte com o programa. Quanto aos negativos, destacou-se a falta de sintonia do Prouca com a realidade das redes estaduais e municipais de educação, desconsiderando as diferenças regionais.

O Programa Um Computador por Aluno tem como objetivo ser um projeto educacional utilizando tecnologia e inclusão digital. Para isso, num primeiro momento, foram distribuídos 150 mil laptops educacionais, para estudantes e professores de 300 escolas públicas (urbanas, rurais, estaduais, municipais), das 27 unidades da federação. Além disso, o Prouca forneceu a infraestrutura necessária para acesso à internet e a capacitação de gestores e professores no uso da tecnologia.

Coordenada pelo físico e mestre em Educação, Nelson de Luca Pretto, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a mesa-redonda teve como debatedores Roseli de Deus Lopes, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), e Paulo Gileno Cysneiros, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ambos especialistas no assunto e com experiência no Prouca. Embora os dois tenham abordado os aspectos positivos e negativos do Programa, Roseli deu mais destaque aos primeiros, enquanto Cysneiros preferiu ressaltar os segundos.

Para Roseli, o Prouca possibilita a reorganização de tempo e espaço de alunos e professores, tornando as aulas mais produtivas, e aumenta a colaboração entre docentes, entre estudantes, e entre estudantes e docentes. Mas ela também vê problemas, como descontinuidades e a interrupção ou não formalização de responsabilidades em projetos do Programa. "A falta de manutenção e atualização dos computadores e softwares também prejudica o Prouca", disse. "Há ainda uma excessiva rotatividade de professores nas redes de ensino e interrupção das atividades de formação continuada dos docentes."

Cysneiros, por sua vez, vê problemas tanto nos equipamentos fornecidos pelo Programa como nos professores e gestores encarregados de colocá-lo em prática. "As telas dos laptops são de baixa qualidade e seu funcionamento é lento, a duração das baterias é limitada, há travamento de programas e assistência técnica é precária", criticou. "Quanto aos professores e gestores, a maioria é iniciante em informática, desconhece os software no laptop, não têm conexão com a internet em casa e não dispõem de tempo para estudo na escola e nem interesse para a formação a distância."

(Evanildo da Silveira para o Jornal da Ciência)

domingo, 22 de julho de 2012

Ricos brasileiros têm quarta maior fortuna do mundo em paraísos fiscais

Garota de Ipanema, de Tom e Vinícius, completa 50 anos

Em 247
Composta por Tom Jobim, a canção Garota de Ipanema faz suas bodas de ouro; confira nas vozes de vários artistas 22 de Julho de 2012 às 18:26 247 – “Ah, se ela soubesse, que quando ela passa, o mundo inteirinho se enche de graça...” Composta por Antônio Carlos Jobim, em 1962, a canção Garota de Ipanema, feita em homenagem a Helô Pinheiro, completa suas bodas de ouro. Clássico da bossa nova, ela foi interpretada por vários artistas, como João Gilberto, Ella Fitzgerald, Frank Sinatra e, mais recentemente, por Amy Winehouse. Poucas obras humanas projetaram tanto o Brasil ao longo das últimas décadas como a canção de Jobim. E gravaram no inconsciente coletivo global a imagem de um Rio de Janeiro suave, romântico e deliciosamente sensual. Confira o clássico na voz de vários artistas.

 

Governo americano autorizou venda de armas que reprimem a primavera árabe

De: Agência Pública



Uma cisão dentro do governo americano revela uma das maiores contradições no modo como o país se posiciona internacionalmente. Enquanto se anuncia como defensor da democracia, e apóia manifestações populares contra regimes totalitários pelo mundo, Washington autoriza vendas bilionárias de armas e equipamentos para controle de protestos (como gás lacrimogêneo) para esses mesmos regimes.
A contradição veio à tona depois de um racha na publicação de relatórios feitos por diferentes setores do governo em maio e junho desse ano. De um lado, os departamentos envolvidos com a proteção aos direitos humanos criticam os governos de outros países por falta de princípios democráticos, citando abusos ao direito de expressão, reunião, discurso e escolha política. Do outro, setores ligados aos assuntos político-militares exaltam o sucesso do governo americano no estímulo a um mercado bilionário que só cresce: à exportação de armamento.
Para se ter uma ideia do tamanho desse mercado, o relatório do Departamento de Estado sobre assistência militar, de 8 de junho, afirma que o governo aprovou U$44,28 bilhões em carregamentos e armas para 173 nações no último ano. Entre elas, há lugares onde há fartos relatos de violações de direitos humanos, como Emirados Árabes, Qatar, Israel, Djibouti, Honduras, Arábia Saudita, Kuwait e Bahrein. E pelo menos três países onde o governo local reprimiu a resistência democrática no ano passado – Argélia, Egito e Peru. Além do governo do Egito, que comprou equipamentos para dispersar manifestante, como o gás lacrimogêneo, com o aval de Washington.
No mesmo ano em que estourou a primavera árabe, cresceu a exportação de armas americanas – comércio que o governo americano prefere chamar de “parceria”. As vendas de armas autorizadas alcançou U$44,28 bilhões no ano passado, U$10 bilhões a mais que em 2010. Segundo o departamento de estado americano, deve haver um aumento de 70% no ano que vem.
Essas vendas – somados à a exportação feita diretamente de governo para governo, que são supervisionados pelo Pentágono – fazem dos Estados Unidos o maior provedor mundial de armas convencionais, segundo o Instituto Internacional de Estocolmo para Pesquisa sobre Paz (Stockholm International Peace Research Institute). Rússia, França e China estão logo atrás nesse ranking. Os EUA cresceu recentemente nesse setor graças à expansão das vendas para o Brasil, Arábia Saudita e Índia.
“Nós vamos continuar a pressionar e defender a venda de armas dos Estados Unidos”, disse Andrew Shapiro, Secretário Assistente da Secretaria de Assuntos Político-Militares do governo americano, em coletiva de imprensa sobre a exportação de armas em junho. “Estamos esperançosos de que as vendas para a Índia aumentem. Fizemos grande progresso nessa relação na última década”. Segundo ele, na última década, as vendas de armas para a Índia saltaram de “quase zero” para U$8 bilhões.
A visão da Secretaria para Democracia, Direitos e Trabalho sobre a Índia é bem diferente. Em maio, esse departamento emitiu um relatório sobre o país em que registrava: “abusos policiais e das forças de segurança, incluindo assassinatos extrajudiciais, tortura e estupro. Corrupção generalizada em altos níveis do governos”. Além de “desaparecimentos, condições precárias nas prisões que eram frequentemente ameaças para a vida, prisões e detenções arbitrária”.
A Índia não é a única engordar os fabricantes de armas americanos enquanto Washington apontam violações de direitos ligados ao uso desse armamento. Vendas para os Emirados Árabes no valor de U$2,4 bilhões foram aprovadas enquanto o Departamento de Estado afirmava que o país estava violando liberdades políticas fundamentai. Vendas totalizando U$1,7 bilhões foram aprovadas para o Qatar, país que carece de meios de comunicação independentes e restringe a liberdade de reunião. Por fim, vendas que somam U$1,39 bilhões foram aprovadas para Djibouti, país que, segundo o Departamento de Estado americano, assediou, abusou e prendeu críticos do governo.
“Quando julgamos que a cooperação com um aliado ou parceiro no setor de segurança irá contribuir para nossa segurança nacional, nós defendemos as empresas [de fabricação de armas] americanas”, disse Shapiro.
Não há uma lei nos Estados Unidos que determine que armas só podem ser vendidas para governos que traem bem seus cidadãos. Mas há uma restrição conhecida como “Leahy Law” (Lei Leahy), do Senador Patrick Leahy e aprovada em 1997, que proíbe a assistência a unidades militares e policiais responsáveis por violações de direitos humanos.
Mas, como ressalta o porta-voz de Leahy, David Carle, a lei só cobre transferências diretas de governo para governo – uma corrente de exportaçõe diferente das vendas comerciais (que também são aprovadas pelo Departamento de Estado). Portanto, por mais que os U$34,8 bilhões de dólares vendidos de governo para governo estejam regulados sob a Lei Leahy, há U$44,28 bilhões de dólares em vendas autorizadas pelo Estado norte-americano que estão livres das restrições dessa lei.
Adotei Akwei, o diretor de relações entre governos da Anistia Internacional, diz que “em todos esses países, existe a necessidade de um processo mais rigoroso para verificar o destino dessas armas e como elas estão sendo usadas. Mesmo que o Departamento de Estado americano identifique problemas, nós ainda vemos essas vendas acontecendo repetidas vezes”.
Shapiro garante que qualquer assistência para militares e empresas estrangeiras está de acordo com a política externa dos Estados Unidos. “Nós só permitimos a venda depois que examinamos cuidadosamente assuntos como direitos humanos, segurança regional e preocupações com a proliferação”, disse na coletiva de imprensa.
O Departamento de Estado argumenta ainda que muitos dos itens despachados para militares estrangeiros são usados somente para defesa externa desses países. No caso dos Emirados Árabes, por exemplo, uma venda autorizada em janeiro de 2012, no valor de U$29,4 bilhões , consistia na compra de 84 aviões de caça F-15. No entanto, o governo americano também autorizou bilhões de dólares em vendas de armas pequenas, munição e equipamentos toxicológicos (como o gás lacrimogêneo)  para vários países. (veja valores e tipo de armamento vendido para cada país abaixo).
Esse comércio carece de transparência. As informações públicas sobre exportação de armamentos listam categorias bastante abrangentes, não determina exatamente qual é o carregamento. O porta-voz David McKeeby se recusou a discutir se o Peru e a Argélia compraram equipamentos para controlar manifestações, apesar da confirmação de que o Egito havia comprado. Ele justifica dizendo que as informações são sigilosas. O Egito foi um caso muito único. Infelizmente, não posso dar mais detalhes sobre esses países ou essas licenças. O que eu posso falar sobre os casos do Bahrein e da Argélia é que várias dessas licenças datam de antes da Primavera Árabe”.
Representantes de várias empresas com contas ligadas ao carregamento de vasilhas de gás lacrimogêneo para o Oriente Médio não quiseram comentar o assunto. Jose Corbera, porta-voz do escritório comercial da embaixada peruana não deu resposta ao pedido de entrevista. Oficiais na embaixada da Argélia também não quiseram fornecer dados sobre importações de munições dos Estados Unidos.
Segundo a porta-voz do Departamento de Estado, Beth Gosselin, algumas armas exportadas foram feitas para as forças americanas no exterior, não para militares estrangeiros. Ela disse que no Bahrein, U$266,7 milhões de dólares, de U$280,3 milhões total em armas e equipamentos, eram itens para a estação “Fifth Fleet” da Marinha na ilha da nação. Gosselin não forneceu dados similares sobre outros países.
Matt Schroeder, diretor do Arms Sales Monitoring Project at the Federation of American Scientists (Projeto de Monitoramento de Vendas de Armas da Federação de Cientistas Americanos), disse que o veto dos Estados Unidos é melhor do que o de muitas outras nações que fornecem armas. Mas admite que a informação sobre quais armas vão para as forças dos Estados Unidos ou para outros usuários é raramente acessível. “É difícil ter o valor em dólares das armas enviadas para um país e estipular que seção desses itens podem ser vulneráveis ao mau uso,” Schroeder diz.
Uma cláusula escrita por Leahy e aprovada pelo Congresso em 2011 requer aprovação legislativa para a venda de materiais de controle de multidões para governos do Oriente Médio que enfrentam inquietação democrática. Essa cláusula forçou, de início, uma parada nas transferências de armas para o Bahrein, que tem enfrentado protestos desde a Primavera Árabe do ano passado. Mas, em maio, o governo americano liberou alguns itens e renovou a exportação de armas feitas originalmente para a defesa do país, como barcos de segurança de portos e motores para aviões a jato.
O assunto da exportação de armas para países envolvidos com repressão de suas populações tem sido debatido recentemente por oficiais de alta patente dos Estados Unidos e da Rússia. Hillary Clinton, secretária de Estado, em 12 de junho, acusou a Rússia de vender helicópteros de ataque para o regime do presidente da Síria, Bashar al-Assad, armas que estariam sendo usadas contra o povo sírio. Em réplica, Sergey Lavrov, Ministro de Exterior da Rússia, disse: “Nós não estamos fornecendo para a Síria otro país equipamentos usados em combate às manifestações pacíficas, ao contrário dos Estados Unidos, que regularmente envia tais equipamentos a países da região.”
Lavrov não mencionou o país, mas Shapiro considerou o comentário como uma crítica às exportações americanas ao Bahrein e falou que a crítica russa era “totalmente ilusória”. “Não estamos vendendo equipamento para o Bahrein até que haja melhoras nos direitos humanos”, ele disse. “Como a Secretária Clinton ressaltou, as vendas para a Síria estão diretamente implicadas em atacar pessoas inocentes, civis e inocentes. Então acreditamos que essa comparação não se sustenta.”
Atualmente, a Organização das Nações Unidas discute um tratado global que irá requerer relatórios anuais de todas as nações detalhando os valores e os tipos de armas que exportaram. Ainda que a administração do ex-presidente George W. Bush tenha se oposto ao Tratado sobre Comércio de Armas da ONU para rastrear as armas, Clinton reverteu essa posição em uma declaração de Outubro de 2009, dizendo que “Os Estados Unidos está preparado para trabalhar duro para um padrão internacional.”
Akwei, da Anistia, expressou esperança de que o resultado seja um sistema mais concreto para rastrear armas e garantir que eles não sejam usadas em casos de violação de direitos humanos.
“O tratado coloca uma lente internacional sobre esse comércio, cuja fiscalização é escassa e aleatória,” diz Akwei. “Vai depender da cooperação de países como a China e a Rússia, mas dará a possibilidade das ONGs verificarem esses registros e fazerem questionamentos sobre o comércio de armas”.
A seguir, a lista dos 10 países que mais receberam armas americanas em 2011. E como seus governos violam direitos dos cidadãos, segundo relatório do Departamento de Estado americano no mesmo ano.

A Força dos Prefeitos - Marcos Coimbra

De: Luis Nassif
 
O debate sobre os efeitos da eleição municipal na política nacional tem tomado um rumo mais realista. Velhas ideias equivocadas estão sendo aposentadas.
Ainda existem aqueles que insistem em enxergar a escolha de prefeitos e vereadores como uma preliminar da eleição presidencial. São os que acham que nosso sistema político é igual ao americano e pensam que elas são equivalentes a uma coisa que existe por lá, as midterm elections, que acontecem a meio caminho entre as eleições presidenciais - para renovar parte do Congresso e dois terços dos governos estaduais, e  que costumam antecipar os sentimentos do eleitorado em relação à sucessão na Casa Branca. 
A analogia não faz sentido e nossa experiência desde a redemocratização o demonstra. A vitória de nenhum de nossos presidentes decorreu do desempenho de seu partido nas eleições locais anteriores.
Isso vale no atacado e no varejo. Ser o campeão na quantidade de prefeitos não quer dizer nada na hora de contar os votos para presidente. Que o diga o PMDB, que conquista esse troféu a todo ano e que, quando resolveu ter candidato próprio, amargou derrotas acachapantes. Consciente de que de pouco adianta ter uma tonelada de prefeitos, desde 2002 se contenta com o papel de coadjuvante, fornecendo o vice a quem imagina que vai vencer (nem sempre acertando, mas com ótimo retorno).
Tampouco é importante, do ponto de vista eleitoral, conquistar as grandes cidades ou a maior de todas. Ganhar ou perder a prefeitura de São Paulo é fundamental para quem lá atua, mas, na política nacional, é puramente simbólico. Quem duvidar que se lembre de 1996: Celso Pitta se sagrou prefeito, Maluf teve uma espetacular vitória e nada mudou na vida política brasileira.
A maioria dos analistas se deu conta que as eleições locais são decisivas por outra razão: nelas, os partidos melhoram ou pioram suas possibilidades de eleger representantes no Legislativo. Muito especialmente, o número de deputados que mandam para a Câmara em Brasília.
O tamanho das bancadas é o primeiro critério que determina o acesso dos partidos aos cargos de comando do Legislativo, desde a Presidência do Senado e da Câmara, à chefia de suas comissões importantes. Parlamentares eleitos por legendas pequenas só chegam aos postos relevantes se tiverem muito prestígio pessoal – e o apoio das maiores.
O mesmo vale nas relações dos partidos com o Executivo. Nas coalizões governistas, os grandes ocupam ministérios “de ponta” – os que têm visibilidade e movimentam dinheiro. Aos menores, só resta indicar seus preferidos para cargos secundários. Foi assim em todos os governos desde Sarney.
Em outras palavras: o poder dos partidos aumenta exponencialmente se tiverem  muitos deputados e senadores.
A grande maioria chega ao Parlamento em função de seus vínculos com a política municipal. Ou foram eles mesmos prefeitos - assim obtendo notoriedade e conceito -, ou contam com o apoio de lideranças locais. São raros os que podem prescindir desse ingrediente na conquista de um mandato.
Ter uma boa “prefeitama”, como se diz na linguagem coloquial da política mineira, é quase uma garantia de sucesso eleitoral. 
Os prefeitos, vereadores e cabos eleitorais são, para os eleitores, aqueles que orientam e informam um voto difícil. Como escolher, entre as centenas de candidatos a deputado, o melhor para a região, cidade, comunidade ou bairro? Se o cidadão não consegue identificá-lo sozinho, por que não ouvir a indicação de alguém em quem confia?  
Nem sempre dá certo, mas muitos acreditam que, assim, correm menos risco de errar na hora de votar.
Os atuais deputados e os que pretendem chegar à Câmara em 2014 sabem que, se ajudarem na eleição de prefeitos e vereadores, darão um passo decisivo para seu próprio sucesso daqui a dois anos.  
A eleição municipal é quase irrelevante para a sucessão presidencial, mas é fundamental para definir o balanço entre os partidos na legislatura seguinte. Seu  impacto eleitoral direto é mínimo, mas tem amplas consequências políticas.