Se dependesse desta música, eu seria um crente fervoroso
sábado, 21 de abril de 2012
Brasília faz 52 anos e cresce a desigualdade, diz presidente do Ipea
Folha/UOL
FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA
Ao completar 52 anos neste sábado (21), Brasília continua inviável do ponto de vista econômico. De cada R$ 10 gastos para sustentar a capital da República, R$ 4 têm de sair dos bolsos de todos os brasileiros.
A cidade também tem aumentado o seu grau de desigualdade, a distância entre os mais pobres e os mais ricos, diz o presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Márcio Pochmann. Ele falou ao "Poder e Política - Entrevista", programa do UOL e da Folha realizado no estúdio do Grupo Folha em Brasília.
Leia a transcrição da entrevista de Pochmann à Folha e ao UOL
Veja fotos da gravação da entrevista com Pochmann
Pochmann é também pré-candidato a prefeito pelo PT na cidade de Campinas (SP), indicado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nos próximos dias ou semanas ele deve deixar a presidência do Ipea para se dedicar à eleição.
Ao falar sobre economia nacional, Pochmann diz que faltou uma calibragem melhor por parte da equipe econômica em 2011 quando houve a decisão de colocar um freio na economia.
Abaixo, trechos da entrevista de Pochmann e também a íntegra da entrevista. Atranscrição completa também está disponível.
Brasília contraria país e aumenta injustiça social
Os números compilados por Pochmann mostram que Brasília é ao mesmo tempo uma cidade muito rica, mas com bolsões de subdesenvolvimento nos quais vivem os mais pobres.
Uma forma mais científica de medir desigualdade social é o Índice Gini, que considera a renda de toda a sociedade. O Índice Gini vai de 0 (menos desigualdade) a 100 (mais desigualdade).
Pois em 2005, o índice de Gini para Brasília, era de 60,34. Em 2009, já era de 61,95. No mesmo período, o índice de Gini para o Brasil todo recuou de 56,75 para 54,01. Ou seja, enquanto o Brasil melhora, Brasília anda para trás na redução da desigualdade.
Já quando se trata de números macroeconômicos no atacado, a capital da República e os seus cerca de 2,6 milhões de habitantes se destacam do restante do Brasil. O PIB per capita (Produto Interno Bruto) de Brasília é o maior do país: R$ 50.438,46. O segundo lugar fica com São Paulo, com R$ 26.202,22.
A renda domiciliar per capita de Brasília também é mais do que o dobro da média brasileira. Na capital federal, o valor é de R$ 1.326,23. No Brasil, R$ 631,71.
A internet está disseminada de maneira ampla entre os brasilienses: 53,7% das casas têm acesso à web. No Brasil, a média é de 28,1%.
Os problemas começam quando se observa a fonte dos recursos para tanta riqueza. Brasília padece do mal da "esatdodependência" de forma aguda. Não produz receita própria. Criada entre outras razões para trazer desenvolvimento para o interior do Brasil, a capital não cumpriu ainda essa missão.
O PIB do Distrito Federal é derivado basicamente de dinheiro público: 93% são serviços. E quem paga por esses serviços? Os funcionários públicos que ganham os melhores salários. Quase não existe indústria em Brasília (só 6% do PIB) e a agropecuária é nula (0,5% do PIB). Esse quadro tem se mantido estagnado há mais de uma década.
Uma outra análise possível é sobre os salários e os empregos em Brasília. Fica evidente que a capital federal é dependente de maneira extrema do Estado.
Em 2001, os servidores públicos representavam 16,1% de toda força de trabalho empregada no Distrito Federal. Em 2009, último dado disponível, o percentual teve leve elevação, para 16,8%.
Mas mesmo com um percentual pequeno na força de trabalho total, os funcionários públicos são os donos da maior renda. Em 2001, os salários dos servidores em Brasília representavam 32,8% de todo o Distrito Federal. Em 2009, o percentual pulou para 40,8%.
Ou seja, embora apenas 17 de cada 100 empregos em Brasília sejam no setor público, de cada R$ 100 pagos em salários, R$ 41 vão para o bolso de algum servidor do Estado.
Como não há receita própria que sustente a riqueza local, quem banca essa realidade são todos os brasileiros por meio do Fundo Constitucional do Distrito Federal: um dinheiro que é doado anualmente pela União para Brasília.
No ano passado, o Fundo Constitucional do Distrito Federal foi de R$ 8,3 bilhões. Correspondeu a 39,1% de tudo o que foi gasto na capital. Ou seja, todos os brasileiros precisam dar compulsoriamente esse dinheiro, anualmente, para que Brasília possa continuar a existir.
Neste ano de 2012, o valor previsto para o Fundo Constitucional de Brasília é de R$ 10 bilhões.
Ainda assim, mesmo com tanto dinheiro público recebido de mão beijada, a cidade não consegue resolver alguns problemas crônicos. Um deles é a pobreza nas regiões administrativas mais afastadas do centro -as chamadas "cidades satélites", uma expressão hoje considerada politicamente incorreta pelos brasilienses.
Brasília tem a segunda maior favela do Brasil, o Condomínio Sol Nascente, com 56.483 moradores, segundo o IBGE divulgou em dezembro de 2011. A Sol Nascente perde apenas para Rocinha, no Rio, com uma população oficial de 69.161 pessoas.
Essa favela fica em Ceilândia, uma outra história triste de segregação dentro do Distrito Federal. No final dos anos 60 e início dos 70, começaram a surgir pequenas favelas perto do centro de Brasília. A ditadura militar então criou, em 1971, a Campanha de Erradicação de Invasões: CEI. Hoje, Ceilândia tem perto de 400 mil habitantes de baixa renda, todos estrategicamente instalado a 26 quilômetros de distância do centro rico da capital federal.
Para Marcio Pochmann, está em formação uma região em Brasília parecida com a Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. "A realidade que nós temos hoje aqui na capital federal decorre de um desvio do projeto original estabelecido pelo presidente Juscelino Kubitschek, que era de interiorização do desenvolvimento e atração da indústria para o Centro-Oeste", diz o presidente do Ipea.
A partir da ditadura militar (1964-1985), segundo Marcio Pochmann, o eixo de desenvolvimento para o Centro-Oeste passou a ser apenas a agricultura. "Mas a agricultura por si só não é suficiente para gerar empregos e renda suficientes para dar um grau de economia para o DF que nós não temos hoje".
Mas já se passaram 27 anos desde o fim da ditadura militar. Por que nada foi feito para corrigir a falta de industrialização? "O discurso dos governos democráticos nesses últimos 27 anos são diferentes do discurso do regime militar. Mas a prática não se revelou diferente", constata Pochmann.
Tudo considerado, Brasília completa 52 anos muito rica. Sua população é bem instruída. Entre os adultos com 15 anos ou mais, a média de estudo é de 9,6 anos. A média nacional é de 7,6 anos de estudo. Mas o entorno do núcleo abastado é miserável e a cidade tem a mais alta taxa de homicídios do Brasil (121 para cada 100 mil homens de 15 a 29 anos) -apesar de os policiais militares locais terem o maior salário entre PMs do país.
As perspectivas de melhoria são pequenas.
O governador de Brasília, Agnelo Queiroz , foi indagado pela Folha e pelo UOL em 2011 sobre quando a capital federal poderia caminhar com as próprias pernas, ter uma economia robusta e prescindir do Fundo Constitucional. Ele não respondeu de forma direta. Mas deu a entender que esse é um projeto de longo prazo: "Nosso planejamento tem que ser para os próximos 50 anos".
Saiba mais sobre Brasília, as razões que levaram a cidade a ser construída onde está e o histórico de escândalos recentes no Blog do Fernando Rodrigues.
sexta-feira, 20 de abril de 2012
O LIVRO URBANO DE GENTILEZA
Barba longa, estandarte e túnica branca: ele era paulista, mas foi
nas ruas do Rio de Janeiro que José Datrino virou figura conhecida. Até
os anos 1960 era gente comum, trabalhador, casado e pai de cinco filhos.
Mas a história do Gran Circus Norte Americano o impulsionaria a virar profeta, pregador e por que não dizer, artista.
Em dezembro de 1961, o Gran Circus chegava na cidade de
Niterói, prometendo apresentações memoráveis. Era uma sensação:
crianças ou adultos, todo mundo queria ver o circo. Mas antes de
completar seus dez espetáculos suas lonas de nylon coloridas
arderam em chamas, num incêndio criminoso. Contabilizaram mais de 500
mortos, já que muitos feridos não resistiram no hospital. A notícia
ganhou as páginas de todos os jornais brasileiros, e o episódio ficou
conhecido como a maior tragédia circense do mundo.
Alguns dias depois do ocorrido, José Datrino teve uma visão,
abandonou tudo o que tinha e se encaminhou para o local do incêndio.
Começaria aí a dedicar a vida à pregar bondade, respeito e
agradecimento: nascia o Profeta Gentileza.
Sobre as cinzas do circo fez um jardim de flores e hortaliças, e
permaneceu trabalhando no que ficou conhecido como “Paraíso Gentileza”
por quatro anos. Durante esse tempo, Gentileza levou consolo aos
familiares dos mortos e a quem por ali passava, cultuando e disseminando
palavras como Gentileza e Agradecido, em contraposição à Favor e Obrigado.
A partir da década de 1970 era visto pelas ruas e grandes avenidas,
nas barcas que ligam o Rio de Janeiro à cidade de Niterói, nas praças,
nos ônibus e trens, pregando suas mensagens. Ele era inconfundível:
virou lenda viva urbana. Alguns dizem que o profeta era um anjo na
Terra, já outros que pregava gentileza, mas era desbocado e agressivo
com os transeuntes.
Apesar de muito conhecido em terras cariocas, Gentileza também
peregrinou o país. Arrastava multidões, arrancava reações variadas do
público e virava notícia de jornal.
Muita gente o achava louco. Aliás, se chamado de maluco, respondia
prontamente: “Sou maluco pra te amar e louco pra te salvar”. “Pinel” ou
não, o fato é que o Profeta Gentileza deixou um verdadeiro “livro
urbano”: os murais do Viaduto do Caju. Com caligrafia
peculiar, começaram a ser pintados na década de 1980, em 56 “pilastras -
páginas”. Dos viadutos cinzas em concreto, surgiram sua arte, sua obra,
sua marca: seus inscritos verde-amarelos. Os murais retratam sua visão
de mundo, suas críticas à sociedade e ao capitalismo (segundo ele,
“capeta-lismo”) e sua proposta de ser: gentil.
“Concluída a obra, o alcance da sua
inscrição territorial sobre a cidade, torna-se impressionante. Como
slides diurnos, seus escritos passam a constituir a maior manifestação
de arte mural pública de caráter espontâneo no Rio de Janeiro. Sua nova
atitude - de escriba da cidade - reaviva sua figura lendária e
mitológica.” (Leonardo Guelman em “Brasil Tempo de Gentileza”)
Gentileza morreu em 1996, e depois disso seus murais foram
intensamente modificados: pichados, cobertos parcialmente de tinta,
desbotados. A cantora e compositora Marisa Monte gravou uma música em
homenagem à Gentileza, onde fala da decadência das pinturas do profeta:
Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
A palavra no muro
Ficou coberta de tinta
(Marisa Monte)
Pintaram tudo de cinza
A palavra no muro
Ficou coberta de tinta
(Marisa Monte)
Havia
então um apelo pela recuperação de suas obras. E não só de artistas
como Marisa Monte, mas Gentileza também virou objeto de estudos
universitários. Sob orientação de Leonardo Guelman, sua história e
percurso foram resgatados, e os murais estudados e restaurados, com
ajuda da prefeitura do Rio de Janeiro, que por sua vez o tombou como
Patrimônio Cultural. Nasceu aí o Projeto Rio com Gentileza.
Este movimento deu grande projeção às mensagens de Gentileza na
mídia. “Gentileza gera Gentileza”, frase-chave do profeta, começou a
estampar produtos, virou febre, moda. Pobre profeta, não teria
gostado... para sua intervenção na cidade ser reavivada e sua mensagem
amplamente disseminada, virou ele próprio um produto, em mais uma
contradição do tal “Capeta-lismo”.
Protógenes, Ricardo Teixeira, Dadá, Cachoeira,Satiagraha...
A prisão de Daniel Dantas |
Um relato em primeira pessoa sobre a maior operação da Polícia Federal, que prendeu Daniel Dantas, gerou um racha histórico entre jornalistas e começa finalmente a ser esclarecida
Leonardo Attuch _247 – No dia 18 de maio de 2005, a revista Veja publicou uma reportagem emblemática. Chamava-se “A usina de espionagem da Kroll” (leia mais aqui). Nela, eu era acusado de receber informações da Kroll, empresa americana de inteligência, como se isso fosse indício de crime. E um dos meus supostos interesses seria atacar o ex-ministro José Dirceu para favorecer o banqueiro Daniel Dantas numa disputa comercial. Como “prova” do crime, Veja trazia um trecho de um relatório da Polícia Federal no qual eu era citado como autor de diversas reportagens que favoreceriam tanto a Kroll como Dantas. Uma delas era uma entrevista com Jules Kroll, fundador da empresa, em que ele dizia ter sido vítima de uma armação.
Durante vinte anos como jornalista, nunca publiquei grampos ou filmes clandestinos. E, por isso mesmo, nunca fui classificado como “repórter investigativo”. No auge dos ataques, eu jamais poderia imaginar que, sete anos depois, a mesma revista Veja que incitava uma ação da Polícia Federal contra mim vinha trabalhando numa parceria tão estreita com o bicheiro Carlos Cachoeira e sua gangue de arapongas. Eu também jamais seria capaz de supor que Veja e Cachoeira teriam a ousadia de plantar câmeras num hotel para filmar o ex-ministro José Dirceu e algumas autoridades do governo Dilma.
Tempo, tempo, tempo.
Naquela entrevista de 2004, questionada pela Polícia Federal, Jules Kroll dizia que a Operação Cachal, embrião da Satiagraha, era uma farsa e que, mais cedo ou mais tarde, tudo seria devidamente esclarecido. Hoje, quando se tornam cada vez mais explícitos os vínculos entre o deputado Protógenes Queiroz (PC do B/SP) e os arapongas de Cachoeira, como o sargento Dadá e o policial Jairo Martins, a verdade, aos poucos, emerge.
Uma guerra na telefonia
Protógenes e Ricardo Teixeira |
Poucas pessoas no Brasil conseguiram, de fato, compreender a natureza da Operação Chacal e da Operação Satiagraha. Não eram ações policiais. Eram apenas ações comerciais, com a utilização indevida da polícia. Na Rússia, empresários compram frequentemente a polícia para fustigar seus concorrentes. O Brasil é apenas uma Rússia light.
O pano de fundo da Operação Chacal era uma disputa bilionária, que envolvia basicamente quatro atores: Brasil Telecom (Daniel Dantas), Oi (Carlos Jereissati e Sérgio Andrade), Telecom Italia e fundos de pensão estatais. O que se buscava era uma consolidação das telecomunicações no Brasil, criando aquilo que hoje é conhecido como “supertele”.
Dantas, que tinha fundos de pensão e italianos como sócios, foi o primeiro a falar numa eventual fusão entre Brasil Telecom e Oi, numa entrevista ao jornal Valor Econômico. Os sócios privados da Oi cobiçavam o mesmo pote de ouro, assim como os sócios de Dantas.
Em 2003, na virada do governo Fernando Henrique Cardoso para o governo Lula, as peças começaram a se mover. E na mudança de governos também despontou uma nova visão ideológica sobre o papel dos fundos de pensão. O PSDB os via como investidores passivos, que deveriam delegar a gestão de seus recursos a profissionais do ramo. Para o PT, os fundos deveriam ser, ao mesmo tempo, investidores e gestores.
Resumidamente, os quatros atores – Dantas, Oi, italianos e fundos – pretendiam controlar a supertele brasileira. E a primeira guerra se deu entre Dantas e italianos. Nesse contexto, Naji Nahas, a quem conheço, era um agente pacificador entre os italianos, que defendia um acordo – e não uma guerra – com Dantas.
Foi nesse contexto conturbado que nasceu a Operação Chacal, numa reportagem da Folha de S. Paulo, que acusava a Brasil Telecom de “espionar” o governo federal, em razão da contratação da Kroll.
Publiquei várias reportagens sobre o assunto, batendo sempre na mesma tecla: disputa comercial é assunto privado, que não diz respeito à polícia. Isso, aparentemente, incomodava uma parte da polícia, que se movia por interesses comerciais. Três anos depois, 30 pessoas ligadas à Telecom Italia foram presas justamente porque, entre outras coisas, encomendaram uma ação policial no Brasil.
Uma guerra entre jornalistas
Inegavelmente, essa disputa comercial criou rótulos entre os jornalistas. Fulano é ligado a A, siclano a B e beltrano a C. E o rótulo que coube a mim foi explorado nesta quinta-feira, de forma absolutamente leviana, pelo jornalista Mino Pedrosa, responsável pelo site Quidnovi (leia aqui o que ele escreveu a meu respeito e sobre o 247). Mino, que provavelmente não gostou de ser citado dias atrás no 247 como ex-assessor de Carlos Cachoeira – o que ele, de fato, foi – responderá criminalmente por suas mentiras.
Nessa disputa telefônica, um ex-funcionário do Opportunity, chamado Luís Roberto Demarco, teve papel decisivo como agente provocador de toda a confusão. Fui um dos primeiros a conhecê-lo e recebi dele um documento chamado “Privatização oportuna”, em 1999. Já naquele ano, ele dizia que conseguiria prender Dantas. E se movia em todas as redações com extrema desenvoltura.
Anos depois, soube-se que Demarco foi contratado por concorrentes do Opportunity, como a própria Telecom Italia, para organizar ações policiais e midiáticas contra o ex-empregador. Soube-se ainda que o lobista Paulo Marinho, ex-marido da atriz Maitê Proença, também foi remunerado pela Telecom Italia com a mesma finalidade.
Em 2005, os fundos de pensão conseguiram assumir o controle da Brasil Telecom, que, por sua vez, controlava o portal iG. Naquele ano, quem dava as cartas nos fundos de pensão era o ex-ministro Luiz Gushiken. Graças a ele, foram levados para o iG jornalistas como Paulo Henrique Amorim, Mino Carta e Luís Nassif.
Na contracorrente, todos os três começaram a ser atacados, em Veja, por Diogo Mainardi. E, em meio ao fogo cruzado, sobravam disparos também contra mim. Carta Capital publicou um email falso, Veja fez os ataques aqui já relatados e o resultado é que, nunca antes na história deste país, tantos jornalistas processaram tantos jornalistas.
Lamentável.
A Operação Satiagraha
Em 2008, já na segunda metade de seu mandato, o ex-presidente Lula decidiu colocar em marcha o projeto de criação da “supertele” nacional. Incumbiu a então ministra Dilma Rousseff de conduzir a tarefa. E o governo deixou claro que Dantas, tido pelo Planalto como personagem hostil ao lulismo, não seria bem-vindo ao projeto.
Naquele ano, Dantas contratou o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, do PT, que levou ao governo a informação de que ele não colocaria nenhum óbice à supertele. Apenas venderia sua participação. Dilma acreditou. Sérgio Rosa, então presidente da Previ e braço direito de Luiz Gushiken, desconfiou.
E foi exatamente no período de negociação da supertele entre Brasil Telecom e Oi, com o governo agindo em favor da Oi (Carlos Jereissati e Sérgio Andrade), que foram feitas as gravações da Satiagraha.
Com a Telecom Italia já abatida e fora do páreo, dois projetos concorriam entre si: o dos fundos de pensão, liderados por Sérgio Rosa, e o da Oi. O segundo prevaleceu.
Meses depois, em julho de 2008, foi então deflagrada a Satiagraha, que deu notoriedade ao delegado Protógenes Queiroz. No Palácio do Planalto, a primeira reação de Lula foi de júbilo. O ex-presidente afirmou que o Brasil havia mudado e que ninguém mais poderia sair da linha. Dias depois, quando emergiu a agenda oculta da Satiagraha, o quadro mudou radicalmente. Lula chegou a bater boca, pelos jornais, com um simples delegado, que acabou sendo afastado da Polícia Federal.
A agenda oculta era melar a criação da supertele. Falava-se até que Protógenes pretendia investigar a Gamecorp, empresa dos filhos de Lula, financiada pela Oi.
Hoje, sabe-se que há indícios consistentes de que, assim como a Operação Chacal, a Satiagraha também foi financiada por recursos privados. Na Brasil Telecom, então controlada pelos fundos de pensão, estavam infiltrados agentes muito próximos à turma de Carlos Cachoeira e Mino Pedrosa, como o advogado José Roberto Santoro – o mesmo que, num grampo recente, teve reveladas suas relações com o bicheiro e suas tentativas de desestabilizar o governo Lula (leia mais aqui).
Sobre a Operação Satiagraha em si, as evidências de uma suposta tentativa de suborno já foram desmontadas, de forma veemente, pelo brilhante jornalista Raimundo Rodrigues Pereira. Um homem acima de qualquer suspeita, que é, inegavelmente, um herói do jornalismo brasileiro.
Protógenes, um estranho personagem
A Satiagraha fez de Protógenes Queiroz uma celebridade nacional. Afinal, ele era o destemido delegado que colocava ricos na cadeia.
Mas poucos atentaram ao fato de que Protógenes não é apenas um homem rico. É milionário, dono de um patrimônio totalmente incompatível com sua atividade. Tinha até conta bancária na Suíça, alimentada no tempo em que era consultor de Ricardo Teixeira, um personagem a quem já havia investigado.
Na CPI do Cachoeira, Protógenes terá a oportunidade de esclarecer qual é a sua real ligação com os arapongas Dadá e Jairo Martins. E porque foram apreendidos, nos seus cinco endereços, frutos de espionagem conduzida contra José Dirceu, Gilberto Carvalho e até mesmo Dilma Rousseff.
O 247
No seu ataque desta noite, Mino Pedrosa também tenta utilizar o mesmo rótulo do passado para atingir o 247. Mais uma leviandade. Dantas não tem qualquer relação conosco, mas poderia ter – não há nenhum impedimento a isso.
Primeiro jornal desenvolvido para o iPad e outros tablets, o 247 é hoje uma rede de informação que se expande rapidamente e que preza a liberdade. E que dá voz a todas as forças da sociedade brasileira.
Além do Brasil 247, já foram criados seis jornais regionais: Bahia, Brasília, Minas, Goiás, Rio e Pernambuco. Em breve, a bandeira chegará a todos os estados brasileiros.
Aqui, todos podem se expressar livremente, seja nos artigos ou nos comentários. Aqui, também é possível concordar ou discordar, ao mesmo tempo, de nomes como Reinaldo Azevedo, Luís Nassif ou Paulo Henrique Amorim.
Afinal, não temos rótulos, não temos preconceitos e não somos nem JEGs nem PIGs. Somos livres.
É esse espírito libertário que tem atraído cada vez mais leitores.
quarta-feira, 18 de abril de 2012
Entrevista: Fundador de grupo de ‘cura de homossexuais’ que se assumiu gay
Como começou sua vida junto à igreja evangélica? Como foi a sua entrada?
- Eu comecei aos 16 anos, numa igreja noepentecostal, mas depois migrei para a igreja batista. Eu me converti a partir da pregação de colegas, não era de família, que era católica. Hoje parte é católica e parte é evangélica.
Nessa época você já sabia que era gay? Já tinha tido relacionamentos com guris?
- Havia tido relacionamentos gays, sim, mas não assumia, eu pensava que fosse passageiro. Meu primeiro relacionamento foi aos 12 anos, com um garoto um pouco mais velho, de forma escondida, é claro, durante dois anos. Na verdade, queria pensar que tudo isso fosse passageiro, por causa das pressões em casa. Minha família era muito tradicional.
Como foi o processo de “virar ex-gay”?
- Na verdade, ex-gay não existe, é pura auto-sugestão. Eu comecei a ir à igreja e percebi que os homossexuais não tinham como lidar com suas ‘dificuldades’, por falta de orientação das lideranças, então decidi fundar o Movimento pela Sexualidade Sadia (Moses), junto com João Luiz Santolin e Liane França. Foi aí que comecei realmente a dizer em momentos oportunos que era ex-gay.
Você nunca se convenceu que tinha virado ex gay? Sempre soube que estava se enganando?
- Hoje sei que estava me enganando. Na época, pensava que qualquer sentimento ou atração fosse mera ‘tentação’ e que isso poderia ser superado com oração e dedicação a deus. No grupo, basicamente, pensávamos que ser gay fosse pecado, que devia ser confessado e abandonado e para isso, fazíamos proselitismo, aconselhamento, oração, pregação, recomendávamos certos livros, leitura bíblica, coisas que os crentes geralmente fazem, mas com foco na homossexualidade, sempre demonizando a homoafetividade, infelizmente. Eu trabalhei com a igreja num total de 18 anos, o Moses começou em 1997, em 2003 eu estava fora, foram quase sete anos. Tínhamos psicólogos parceiros e contávamos com vários voluntários. Uma vez enchemos um ônibus e levamos para o Miss Brasil Gay em Juiz de Fora só para evangelizarmos os LGBT que foram ao evento, mas na diretoria eram cerca de 10 pessoas.
Mas como era esse processo de ‘abandonar o pecado’? Era como um tratamento?
– Isso não acontecia de fato, era o que se chamava discipulado, acaba sendo uma lavagem cerebral. Você tem que se isolar do seu antigo círculo de amigos, começar a se enfiar nas reuniões da igreja, fazer sessões de aconselhamento, orar, jejuar, essas coisas. Quando acontecia de alguém se envolver com outro homossexual, ele tinha que confessar o que fez, UMA LOUCURA DO CARALHO! Desculpe, mas ainda hoje tenho até raiva de lembrar disso.
Por que raiva?
– Ninguém deixava de ser gay, houve relacionamentos até dentro do grupo, entre uma atividade e outra da igreja, eles sempre arrumavam tempo pra isso. Você consegue imaginar quanto sofrimento para mim mesmo e para todos os que atuaram ou foram influenciados por esse trabalho? É irritante! E tem gente até hoje repetindo esse discurso imbecil.
O que tu sente quando vê pessoas como o pastor Silas Malafaia fazendo pregações do tipo que você fazia? É um discurso parecido?
– Ele é um idiota! Eu era um garoto quando me envolvi com tudo isso, tinha pouquíssima experiência de vida e não ainda não havia tanta informação como hoje. Agora, ele atua na base da má-fé mesmo, com interesses financeiros, projetos de poder, etc. E diz ele que nunca foi gay, será? Fico muito desconfiado de gente que gasta tanta energia e dinheiro para combater algo que não tenha nada a ver consigo mesma. Entendo heterossexuais que compreendem os riscos da homofobia, mas não entendo heterossexuais que quase surtam só por saberem que os gays estão felizes, saudáveis e produzindo para o país…
Será que não é pra ter uma bandeira atualmente? Ganhar visibilidade, sei lá…
– Não deixa de ser má-fé. Só confirma minha tese.
Quando você decidiu que era momento de parar? Você saiu do movimento ao mesmo tempo em que saiu do armário?
– Sim, saí ao mesmo tempo. Tudo aconteceu quando eu tive certeza de que já tinha feito e crido ao máximo. A gota d’água foi uma viagem a Cingapura, durante a qual conheci um filipino e fiquei com ele. Já voltei decido que iria colocar um fim nessa panacéia. Fiz isso e comecei imediatamente a repensar diversas das minhas posturas e crenças, levou ainda dois anos para que eu dissesse tudo o que digo até hoje. Houve perseguição por parte do Moses, muita gente ficou em choque, mas eles tiveram que se dobrar, pois minha atuação no movimento era grande. Minha maior projeção, porém, se dava na igreja. Eu era pastor, editor do jornal Desafio das Seitas, que teve seu auge durante minha atuação, e por aí vai…
E na sua família? Qual foi a reação?
– Houve um choque por parte dos meus pais, mas meus filhos nunca criaram problema, só ficaram perplexos, porque eu saí da igreja, já que eu era tão dedicado. Separei-me da mãe deles, mas isso não criava grandes problemas, aparentemente. Só me perguntaram francamente sobre o assunto aos 12 (ela) e aos 11 (ele). Ambos compreenderam numa boa e sempre foram meus amigos. Relacionam-se muito bem comigo e com meu parceiro Emanuel.
Você hoje se sente completo, feliz?
– Sim, hoje me sinto em paz comigo mesmo, feliz e me pergunto como pude ter suportado tanta castração inútil por tanto tempo.
Você acha que o que vocês faziam era uma violência, contra vocês mesmos, e contra os outros?
– Sim, era uma violência contra nós mesmos, por termos internalizado a homofobia que nos circundava desde cedo, e contra os outros, porque reproduzíamos essa mesma homofobia que eles mesmos já tinham internalizado. Só reforçávamos ainda mais isso.
Você não apenas largou a igreja, o movimento, como deixou de acreditar em deus… Como se deu isso?
– Isso se deu em função de questionamentos honestos e ousados sobre deus/deuses, escrituras cristãs e de outras religiões, igreja e outras instituições religiosas. Meu pensamento e atitude com relação a ideia de deus/deuses não é mero fruto de sofrimento com essa ou aquela igreja ou crença. Na verdade, muitas igrejas se abriram para mim quando saí do armário e confessaram seu interesse em que eu, não só participasse da vida da igreja, como ministrasse como pastor dela. O próprio bispo fundador da Metropolitan Community Church, Troy Perry, me disse isso pessoalmente. Também não foi por ver mau comportamento de crentes em geral, uma vez que conheço alguns que considero pessoas fantásticas até hoje (tanto do mainstream evangélico e protestante, como das modernas igrejas inclusivas). Tendo isso em mente, nem deus, nem escrituras, nem igrejas passam pelo crivo da razão, e não me refiro à razão de uma mente brilhante como a de Nietzsche, Darwin, Sartre, Hopkins, Dawkins, etc., refiro-me à razão de uma mente mediana como a minha. Não posso ir contra mim mesmo e contra aquilo que enxergo tão distintamente. No entanto, defendo a liberdade. E por isso, crer e não crer são coisas que não podem ser controladas, coibidas, exceto quando colocam os direitos humanos em xeque.
Pra terminar, o que você diria pra um jovem gay que está passando por este processo de ‘cura espiritual da homossexualidade’? Vale a pena?
– Conversão religiosa que não admite e CELEBRA sua homossexualidade não merece seu tempo e talento. Se quiser frequentar alguma comunidade, procure uma que tenha maturidade até para questionar a validade das assertivas religiosas. Mas, preferencialmente, viva sem depender de muletas existenciais quaisquer que sejam elas. Aproveito para sugerir a leitura de um post escrito por mim. Esse post nasceu do esboço de uma palestra que dei na Igreja Ecumênica de Copacabana por ocasião das comemorações do dia da Bíblia no calendário católico. Foi esse ano.
William De Luca é repórter de economia do Jornal da Paraíba. Jornalista, ativista LGBT.
Pela 1ª vez, justiça reconhece que João Batista Drumond morreu sob tortura no DOI-Codi
Em decisão inédita, o juiz Guilherme Madeira Dezem, da 2ª Vara de Registros Públicos de São Paulo determinou a retificação do assentamento de óbito de João Batista Franco Drummond, lavrado em 16 de outubro de 1976, alterando o local da morte, “avenida 9 de julho” para dependências do “Doi Codi do II Exército em São Paulo”.
Justiça afirma que João Batista Drumond morreu de traumatismo craniano para “decorrência de torturas físicas”
O juiz Guilherme Madeira Dezem, do Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo, é o primeiro no país a reconhecer a sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos para fundamentar uma sentença sobre crimes cometidos pela ditadura (1964-85). A decisão é inédita também ao reconhecer a mudança da causa e do local da morte do militante João Batista Drumond, assassinado em 1976. Agora, no atestado de óbito, onde antes se lia “Avenida 9 de Julho” deve constar “DOI-Codi”, um aparelho de repressão do regime, e onde constava “traumatismo craniano” será necessário grafar “decorrência de torturas físicas”.
A ação foi apresentada este ano por Maria Ester Cristelli Drumond, viúva da vítima, que ainda mora com as filhas em Paris, cidade de exílio durante o regime autoritário. “Mesmo que passados 35 anos do fato, o que a família objetivamente almeja é que a verdade prevaleça sobre a mentira. A versão de que estava em fuga e foi atropelado há muito tempo se sabe que é uma farsa montada pela ditadura”, afirmou, por telefone, o advogado responsável pela causa, Egmar José de Oliveira. “Para grata surpresa, o juiz entendeu o pedido e até inovou na decisão com os argumentos. Porque usa como fundamentação a decisão da Corte Interamericana.”
Na decisão, o magistrado cita trecho da sentença da Corte, proferida em 2010, na qual se afirma que o Estado brasileiro falhou na tarefa de garantir que a Lei de Anistia não significasse empecilho para o conhecimento da verdade. Com isso, segundo Dezem, estava equivocada a visão do Ministério Público Estadual de dizer que certidão de óbito não é “local” para discutir crime ou outros elementos de questionamento jurídico. “Não se trata de discutir se tortura pode ser incluída como causa mortis ou não”, discorda o juiz. “Trata-se de reconhecer que, na nova ordem jurídica, há tribunal cujas decisões o Brasil se obrigou a cumprir e esta é mais uma destas decisões.”
Irmão de Ronaldinho é condenado à prisão por lavagem de dinheiro
De: Sul21
Irmão e empresário do jogador de futebol Ronaldinho Gaúcho, Roberto de Assis Moreira foi condenado a cinco anos e cinco meses de prisão por lavagem de dinheiro e sonegação de impostos. Além disso, pagará multas equivalentes a 55 salários mínimos, por valores da época (2002 a 2003). A decisão do Tribunal Federal da 4ª Região, publicada no último dia 12, só foi divulgada nesta terça-feira (17).
De acordo com a denúncia, Assis teria atuado no sentido de esconder operações de câmbio para transferências de dinheiro do exterior para o Brasil, em valores estimados em 88 mil dólares. As operações teriam sido feitas junto à LESPAN S/A, casa cambial com sede em Montevidéu (URU).
Além disso, Assis fez uso de uma conta na Suíça entre 2002 e 2003, com depósitos de cerca de 455 mil, nenhum deles declarado ao Banco Central. Outros R$ 776 mil foram movimentados de forma oculta entre fevereiro e dezembro de 2003, segundo a denúncia.
Em sua defesa, Assis alegou que os valores eram oriundos de sua carreira como jogador de futebol profissional na Europa, por isso mantidos junto ao banco na Suíça. As movimentações financeiras teriam como objetivo remeter esses valores para o Brasil, uma vez que sua carreira como atleta profissional estava se encerrando. O empresário pode recorrer em liberdade.
Assis está envolvido em outras polêmicas. A principal delas refere-se aos convênios do Instituto Ronaldinho Gaúcho com a prefeitura de Porto Alegre, que serão alvo de CPI da Câmara de Vereadores da capital gaúcha.
Entre 2007 e 2010, a Secretaria Municipal de Educação assinou o projeto Letras e Gols com a ONG Instituto Nacional América, totalizando um repasse de R$ 2,9 milhões, que a própria prefeitura alega que foram mal aplicados. Agora, o Executivo da Capital exige a devolução de R$ 503,3 mil.
O outro convênio, chamado Jogos de Verão, contou com repasse de R$ 2,3 milhões, mas a verba era do Ministério da Justiça, que escolheu o Instituto Ronaldinho Gaúcho como entidade realizadora do programa. Nesse caso, a prefeitura apenas intermediava o repasse de recursos. Entretanto, a administração da Capital aponta que, também nessa parceria, a ONG não aplicou corretamente o dinheiro, por isso a prefeitura exige devolução de R$ 354,9 mil, que serão repassados ao governo federal.
terça-feira, 17 de abril de 2012
Holanda já recicla 80% do lixo
Três décadas de políticas claras praticamente eliminaram aterros sanitários e incineradores. Brasil desafiado a implementar Plano de Nacional de Resíduos Sólidos
Por Estevam Elli Muniz, na Rede Brasil Atual
Na Holanda, 80% dos resíduos sólidos são reciclados, 16%, incinerados, e somente 4% destinados a aterros sanitários. Desde 1970, o governo holandês e empresários investem em soluções ambientais eficientes para um país que tem condições geográficas impróprias para o desperdício do lixo. € 250 são cobrados, por ano, de cada residência para que tenham um sistema de coleta e destinação eficaz. Há uma associação nacional que auxilia as municipalidades, responsáveis diretas pela remoção dos resíduos. E tanto o governo como os produtores são encarregados de dar destinação adequada do lixo.
O relato foi apresentado na terça-feira (10), na Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), onde foi realizado o seminário “Gerenciamento de Resíduos Sólidos: A Experiência Holandesa”.O evento teve a presença da ministra de Infraestrutura e Meio Ambiente da Holanda, Melanie Schultz van Haegen-Maas Geesteranus, juntamente com representantes da NL Agency, agência do Ministério de Assuntos Econômicos, Agricultura e Inovação dos Países Baixos (Holanda). A comitiva teve ainda integrantes da NVRD, uma associação nacional holandesa que auxilia as municipalidades na administração dos resíduos, além de executivos de diversas empresas daquele país que desenvolvem trabalhos com aproveitamento de resíduos.
As características geográficas da Holanda e o tamanho de seu território impulsionaram a criação de alternativas para o aproveitamento do material descartado. Cerca de 30% da área total da Holanda está abaixo do nível do mar. Portanto, a escavação da terra para a criação de aterros é inviável em boa parte do território. Além disso, por ser um país pequeno, os espaços disponíveis tornaram-se cada vez menores desde o início do século passado. Naturalmente, os custos associados aos aterros foram subindo progressivamente.
“Os aterros sanitários deveriam ser menos atrativos e mais caros”, disse Herman Huisman, executivo da NL Agency, como sugestão para o Brasil. O encarecimento desses espaços não deu outra opção às cidades a não ser optar pela reciclagem e pela incineração. Cada vez mais, há contêineres subterrâneos para abrigar os resíduos, de acordo com Maarten Goorhuis, da NVRD.
Mas o governo holandês também elevou os impostos para os aterros sanitários. “Como municipalidade, você seria sábio se organizasse sistemas de reciclagem. Nós tornamos o desperdício de lixo relativamente caro, então a coleta separada e a reciclagem é mais barata”, diz Goorhuis em entrevista.
Como no Brasil, cabe aos municípios holandeses desenvolver um sistema de coleta de lixo. Por lá, há uma taxa aplicada em diferentes faixas pela coleta do lixo. “Os preços podem ser estabelecidos por peso, por tamanho, por frequencia da coleta ou pela combinação desses fatores”, explica Goorhuis. Mas, nacionalmente, cobra-se 250€, anualmente, por residência.
O governo nacional certifica-se que os resíduos não sejam levados a lugares indesejáveis, e também há uma política de destinação de resíduos biológicos, mas são os municípios que elaboram de fato uma política de coleta. “O que você vê é que as municipalidades usam mais ou menos os mesmos sistemas, construindo mais pelas experiências do que por uma política nacional”, diz ele. Uma boa legislação, entretanto, de acordo com Goorhuis, é fundamental.
A responsabilidade compartilhada também contribuiu para os bons resultados da Holanda. “Para os tipos de resíduos cuja reciclagem não é mais barata que o desperdício, nós introduzimos a responsabilidade compartilhada para assegurar que, ainda que o mercado não tome cuidado com a reciclagem, os produtores o farão”, afirma.
No Brasil, em 2010 foi implantada a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, a PNRS. Ela aplica o princípio da responsabilidade compartilhada entre as três esferas de governo, cidadãos e iniciativa privada. Até 2014, os municípios terão de se adaptar a ela. Com ela, não só o governo, mas os produtores e os consumidores serão responsáveis pela destinação do lixo, também.
Para Huisman, da NL Agency, o prazo da PNRS estabelecido pelo governo brasileiro é ousado. “O tempo é bastante limitado para que vocês possam atingir os altos objetivos estabelecidos pela lei. É uma tarefa bastante difícil. Todas as cidades e Estados deverão ter elaborado um plano de resíduos sólidos neste verão, uma transição bastante audaciosa”, comentou.
segunda-feira, 16 de abril de 2012
Dívida pode fazer Corinthians perder o Itaquerão
Foto: DIVULGAÇÃO |
De: 247
Clube não cumpriu o acordo que o obriga a investir mensalmente em obras sociais na região onde está sendo construído o estádio, em São Paulo; valor pendente chega a R$ 12 milhões
247 - As obras no Itaquerão estão sendo tocadas a todo vapor, mas o Corinthians pode perder os direitos sobre o terreno caso não quite uma dívida que mantém junto à Prefeitura de São Paulo. Segundo informações do Portal Uol, são R$ 12 milhões acumulados desde maio de 2011, quando foi assinado o contrato – as partes devem se reunir na próxima semana para buscar um acordo.
Para utilizar a área na zona leste da capital paulista, o Corinthians deveria reservar um valor equivalente a R$ 300 mil mensais para investir em projetos sociais como escolas e hospitais. Nada foi feito, porém, desde o início das obras no estádio. O valor pendente pode igualmente ser investido nesse tipo de projetos.
Caso não seja quitado, o terreno onde está sendo erguido o Itaquerão deve voltar a ser propriedade municipal, o que abalaria a engenharia financeira da qual participam também BNDES e a Odebrecht.
PT: Curitiba e BH... tudo a ver - Rudá Ricci
Publicado em: De esquerda em esquerda
A matéria do jornal O TEMPO, abaixo, revela a situação humilhante que parte da direção do PT-BH se encontrou na noite de ontem. Vice-prefeito e líder do PT na Assembléia Legislativa dormiram com a nova realidade do Partido dos Trabalhadores: "manda quem pode, obedece quem tem juízo".
Por ambição pessoal, por ingenuidade ou por acreditarem que o partido continuava vivendo o processo decisório da época de criação do partido, o fato é que a brincadeira acabou.
Por ambição pessoal, por ingenuidade ou por acreditarem que o partido continuava vivendo o processo decisório da época de criação do partido, o fato é que a brincadeira acabou.
PT oficializa apoio ao projeto de reeleição de Lacerda, mas sofre com racha interno
Revoltados com o fato de os socialistas se negarem a excluir o PSDB da coligação, alguns petistas admitem abandonar a campanha
15/04/2012 20h25
Daniel Leite e Cristiano Martins
A insatisfação dos delegados derrotados no encontro que oficializou, na manhã desse domingo (15) o apoio do PT de Belo Horizonte ao projeto de reeleição do prefeito Marcio Lacerda (PSB) deverá favorecer os peemedebistas da capital.
Revoltados com o fato de os socialistas se negarem a excluir o PSDB da coligação, alguns petistas admitem abandonar a campanha e até mesmo apoiar, nos bastidores, a candidatura “puro-sangue” prometida pelo PMDB, aliado do PT em nível nacional e principal adversário de Lacerda na eleição de 2008.
O encontro foi marcado para colocar um ponto final na discussão, que ganhou sobrevida durante a semana após a resposta evasiva do PSB às exigências feitas pelo PT para formalizar a aliança – no comunicado, os socialistas confirmam que o vice de Lacerda será um petista, mas se esquivam sobre a presença dos tucanos e o pedido de coligação PT-PSB para a chapa proporcional de vereadores.
Enquanto alguns demonstravam revolta contra a direção nacional, acusada de “intervenção branca” contra o diretório municipal, outros integrantes da sigla tentavam colocar panos quentes no racha interno, que ficou evidente.
Após o assunto ter sido discutido longa e fervorosamente nos últimos três encontros municipais, o saldo foi de 291 delegados favoráveis à coligação com o PSB – mesmo com os socialistas não cedendo a todas as exigências petistas – contra 196 insatisfeitos.
Reações
Revoltado com a direção nacional da legenda, o vice-prefeito e presidente do diretório municipal, Roberto Carvalho, afirmou que a decisão pode custar caro. “Infelizmente, confirmada a presença do PSDB na chapa e na coligação de vereadores, o PT não estará unido. É uma tragédia”.
Para ele, não haverá “golpe” se parte dos petistas decidir apoiar a candidatura adversária. “O PMDB é da base aliada. Pode ser uma possibilidade, e isso não seria golpe. Golpe é desrespeitar a resolução do PT (de não aliar-se com os tucanos)”, disparou o vice.
Reforçando o tom de indignação, o deputado estadual Rogério Correia disse acreditar que o partido da estrela vermelha poderá chegar rachado ao seu principal objetivo, que são as eleições de 2014. “Não podemos, em nome de cargos e do pragmatismo, unificarmos com esses partidos (de oposição ao governo federal) em torno de uma única candidatura”, declarou.
Cotado para ser vice na chapa de Lacerda, o deputado federal Miguel Correa amenizou as insatisfações e disse acreditar que Carvalho “não vai abrir mão” de estar com o PT durante o processo eleitoral. Ele também minimizou a polêmcia sobre a coligação proporcional. “Acredito que o PSDB não participará”, resumiu.
O deputado estadual Paulo Lamac também reforçou a confiança na união do partido. “A expectativa é que o grupo cuja tese de candidatura própria foi derrotada possa rever a posição e participar do processo”.
Revoltados com o fato de os socialistas se negarem a excluir o PSDB da coligação, alguns petistas admitem abandonar a campanha e até mesmo apoiar, nos bastidores, a candidatura “puro-sangue” prometida pelo PMDB, aliado do PT em nível nacional e principal adversário de Lacerda na eleição de 2008.
O encontro foi marcado para colocar um ponto final na discussão, que ganhou sobrevida durante a semana após a resposta evasiva do PSB às exigências feitas pelo PT para formalizar a aliança – no comunicado, os socialistas confirmam que o vice de Lacerda será um petista, mas se esquivam sobre a presença dos tucanos e o pedido de coligação PT-PSB para a chapa proporcional de vereadores.
Enquanto alguns demonstravam revolta contra a direção nacional, acusada de “intervenção branca” contra o diretório municipal, outros integrantes da sigla tentavam colocar panos quentes no racha interno, que ficou evidente.
Após o assunto ter sido discutido longa e fervorosamente nos últimos três encontros municipais, o saldo foi de 291 delegados favoráveis à coligação com o PSB – mesmo com os socialistas não cedendo a todas as exigências petistas – contra 196 insatisfeitos.
Reações
Revoltado com a direção nacional da legenda, o vice-prefeito e presidente do diretório municipal, Roberto Carvalho, afirmou que a decisão pode custar caro. “Infelizmente, confirmada a presença do PSDB na chapa e na coligação de vereadores, o PT não estará unido. É uma tragédia”.
Para ele, não haverá “golpe” se parte dos petistas decidir apoiar a candidatura adversária. “O PMDB é da base aliada. Pode ser uma possibilidade, e isso não seria golpe. Golpe é desrespeitar a resolução do PT (de não aliar-se com os tucanos)”, disparou o vice.
Reforçando o tom de indignação, o deputado estadual Rogério Correia disse acreditar que o partido da estrela vermelha poderá chegar rachado ao seu principal objetivo, que são as eleições de 2014. “Não podemos, em nome de cargos e do pragmatismo, unificarmos com esses partidos (de oposição ao governo federal) em torno de uma única candidatura”, declarou.
Cotado para ser vice na chapa de Lacerda, o deputado federal Miguel Correa amenizou as insatisfações e disse acreditar que Carvalho “não vai abrir mão” de estar com o PT durante o processo eleitoral. Ele também minimizou a polêmcia sobre a coligação proporcional. “Acredito que o PSDB não participará”, resumiu.
O deputado estadual Paulo Lamac também reforçou a confiança na união do partido. “A expectativa é que o grupo cuja tese de candidatura própria foi derrotada possa rever a posição e participar do processo”.
domingo, 15 de abril de 2012
Valdemiro Santiago: o homem de deus...me livre
Mastrangelo Reino/Folhapress |
Leia a íntegra da entrevista com Valdemiro Santiago
DE SÃO PAULO
De mãos dadas com Francileia, sua esposa, ao longo de toda a entrevista, Valdemiro Santiago recebeu a reportagem da Folha no intervalo de um culto. Leia os principais trechos:
Folha: A doença é um problema de espírito?
Valdemiro Santiago: Às vezes. Mas se fosse um problema exclusivamente de ordem espiritual, então as pessoas que estão afinadas com Deus não correriam o risco de ficar doentes. O próprio Isaac morreu cego. Então algumas doenças são de ordem espiritual e precisam ser tratadas espiritualmente - ou seja, através da oração, avivando e fortalecendo a fé das pessoas. E há doenças que a ciência consegue tratar. Eu e minha família precisamos dos médicos, também. Há enfermidades que são para a ciência e outras que são para serem tratadas espiritualmente. Embora Deus possa curar todas elas.
Quais são as doenças que estão nas mãos de Deus e quais na da ciência? No ano passado você passou por um tratamento do joelho no hospital Albert Einstein...
Na verdade todas as doenças estão nas mãos de Deus. O sacerdote é um instrumento nas mãos de Deus.
Você é um instrumento nas mãos de Deus?
Tenho plena certeza disso. Só que os médicos também são. Deus é quem dá o conhecimento, Deus instituiu os médicos. Deus nos colocou essa autoridade para que pudéssemos suprir as pessoas, honrando cada um.
Você já curou doenças incuráveis?
Na verdade eu nunca curei ninguém, nem a mim mesmo. Tenho alguns momentos de tristeza que eu queria me livrar, mas não consigo. Aí chego à conclusão de que não sou eu que curo. Porque se curasse, evitaria meu próprio sofrimento. Então não sou eu que faço, é Deus que faz através da vontade dele. Deus através de minha oração já curou muitas doenças incuráveis pelo recurso da ciência. Eu já vi Deus fazendo coisas que a ciência não pode fazer.
Valdemiro Santiago, líder da Igreja Mundial, sob ataque da Record e da Universal |
Como foi sua infância?
Depois que minha mãe morreu, eu e meu pai nos desentendemos, ele até atentou contra minha vida, e eu contra a vida dele. Mas não por falta de amor... Então saí de casa. Tinha um quartinho, mas como não conseguia pagar fui colocado pra fora e fiquei meio desamparado. Passei a viver na rua por causa da liberdade que a rua dava e dá.
Você estudou?
Não concluí o segundo grau. Sou autodidata, estudei sozinho. Mas não li muitos livros, Não consigo pegar um livro... há livros que me ensinam mas sempre parcialmente. Só a Bíblia que tem sua totalidade, só a palavra de Deus.
Em que medida a Mundial se diferencia das outras igrejas?
Se eu analisar de fora, eu acho que pela simplicidade, pela forma como é pregada a palavra. O povo não busca a sofisticação, o luxo, o glamour, a igreja de mármore ou de ouro. Jesus pregava de maneira simples. Às vezes o pregador dificulta muito, não fala a língua do povo. Tem pregador que tem vergonha de falar que trabalhou nisso ou naquilo. Eu não, eu sou um lavrador da roça mesmo, minha profissão verdadeira é essa, pegar enxada e lavrar terra.
Como interpreta a ascensão da classe c?
Não atribuo a ascensão da classe c a esse ou aquele governo. E sim a Jesus. Porque a classe c não tem recurso intelectual para buscar bons empregos ou fazer bons negócios. Quando você se apoia na fé, Deus abre portas.
A Mundial já tem dois deputados. Quais são suas ambições políticas?
A política é necessária. Não é nociva. Deus criou a política. Sou do altar, mas pretendo um dia ver pessoas da igreja trabalhando na política. Se alguma aliança puder trazer benefício, coloco-me a disposição. Tenho amigos no PT, PMDB, PSDB, PSC, PTB.
Por que a ênfase no dízimo em seus cultos?
O dízimo é bíblico. É dez por cento. É o que sustenta a igreja. A oferta é voluntária. Não é uma coisa controlada, fiscalizada. Não é como a Receita, que cobra 27,5%. Devolver o dízimo faz parte da aliança entre você e Deus.
E as fazendas que apareceram na Record?
São fatos ainda não constatados. Eu desconheço aquelas propriedades, à exceção de uma - que eu tenho escritura e está no nome da igreja mundial do poder de deus. As outras eles criaram. Mas esta pertence a todo mundo, pertence à obra de Deus.
A fazenda é da igreja ou sua?
Olha, as coisas se misturam. Já vendi gado para pagar horário na TV. Mesmo com o gado não sendo propriedade da igreja, nesse caso. Eu tenho recurso, não sei se você já percebeu. O último CD vendeu um milhão de cópias a 20 reais. Dá pra comprar um bezerrinho, não dá?
BOX
Denúncias contra a Mundial são várias. Santiago já foi condenado a pagar cestas básicas por porte ilegal de armas. Em 2010, três pastores foram presos no Mato Grosso do Sul transportando sete fuzis M 15. Presume-se que em conluio com o tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Construções irregulares de alguns templos e o mau uso do dinheiro arrecadado nos templos também fazem parte da lista.
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