sábado, 30 de março de 2013

Globo consegue o que a ditadura não conseguiu: calar imprensa alternativa


Meu advogado, Cesar Kloury, me proíbe de discutir especificidades sobre a sentença da Justiça carioca que me condenou a pagar 30 mil reais ao diretor de Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, supostamente por mover contra ele uma “campanha difamatória” em 28 posts do Viomundo, todos ligados a críticas políticas que fiz a Kamel em circunstâncias diretamente relacionadas à campanha presidencial de 2006, quando eu era repórter da Globo.
Lembro: eu não era um qualquer, na Globo, então. Era recém-chegado de ser correspondente da emissora em Nova York. Fui o repórter destacado para cobrir o candidato tucano Geraldo Alckmin durante a campanha de 2006. Ouvi, na redação de São Paulo, diretamente do então editor de economia do Jornal Nacional, Marco Aurélio Mello, que tinha sido determinado desde o Rio que as reportagens de economia deveriam ser “esquecidas”– tirar o pé, foi a frase — porque supostamente poderiam beneficiar a reeleição de Lula.
Vi colegas, como Mariana Kotscho e Cecília Negrão, reclamando que a cobertura da emissora nas eleições presidenciais não era imparcial.
Um importante repórter da emissora ligava para o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, dizendo que a Globo pretendia entregar a eleição para o tucano Geraldo Alckmin. Ouvi o telefonema. Mais tarde, instado pelo próprio ministro, confirmei o que era também minha impressão.
Pessoalmente, tive uma reportagem potencialmente danosa para o então candidato a governador de São Paulo, José Serra, censurada. A reportagem dava conta de que Serra, enquanto ministro, tinha autorizado a maior parte das doações irregulares de ambulâncias a prefeituras.
Quando uma produtora localizou no interior de Minas Gerais o ex-assessor do ministro da Saúde Serra, Platão Fischer-Puller, que poderia esclarecer aspectos obscuros sobre a gestão do ministro no governo FHC, ela foi desencorajada a perseguí-lo, enquanto todos os recursos da emissora foram destinados a denunciar o contador do PT Delúbio Soares e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa, este posteriormente absolvido de todas as acusações.
Tive reportagem sobre Carlinhos Cachoeira — muito mais tarde revelado como fonte da revista Veja para escândalos do governo Lula — ‘deslocada’ de telejornal mais nobre da emissora para o Bom Dia Brasil, como pode atestar o então editor Marco Aurélio Mello.
Num episódio específico, fui perseguido na redação por um feitor munido de um rádio de comunicação com o qual falava diretamente com o Rio de Janeiro: tratava-se de obter minha assinatura para um abaixo-assinado em apoio a Ali Kamel sobre a cobertura das eleições de 2006.
Considero que isso caracteriza assédio moral, já que o beneficiado pelo abaixo-assinado era chefe e poderia promover ou prejudicar subordinados de acordo com a adesão.
Argumentei, então, que o comentarista de política da Globo, Arnaldo Jabor, havia dito em plena campanha eleitoral que Lula era comparável ao ditador da Coréia do Norte, Kim Il-Sung, e que não acreditava ser essa postura compatível com a suposta imparcialidade da emissora. Resposta do editor, que hoje ocupa importante cargo na hierarquia da Globo: Jabor era o “palhaço” da casa, não deveria ser levado a sério.
No dia do primeiro turno das eleições, alertado por colega, ouvi uma gravação entre o delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno e um grupo de jornalistas, na qual eles combinavam como deveria ser feito o vazamento das fotos do dinheiro que teria sido usado pelo PT para comprar um dossiê contra o candidato Serra.
Achei o assunto relevante e reproduzi uma transcrição — confesso, defeituosa pela pressa – no Viomundo.
Fui advertido por telefone pelo atual chefão da Globo, Carlos Henrique Schroeder, de que não deveria ter revelado em meu blog pessoal, hospedado na Globo.com, informações levantadas durante meu trabalho como repórter da emissora.
Contestei: a gravação, em minha opinião, era jornalisticamente relevante para o entendimento de todo o contexto do vazamento, que se deu exatamente na véspera do primeiro turno.
Enojado com o que havia testemunhado ao longo de 2006, inclusive com a represália exercida contra colegas — dentre os quais Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello e Carlos Dornelles — e interessado especialmente em conhecer o mundo da blogosfera — pedi antecipadamente a rescisão de meu contrato com a emissora, na qual ganhava salário de alto executivo, com mais de um ano de antecedência, assumindo o compromisso de não trabalhar para outra emissora antes do vencimento do contrato pelo qual já não recebia salário.
Ou seja, fiz isso apesar dos grandes danos para minha carreira profissional e meu sustento pessoal.
Apesar das mentiras, ilações e tentativas de assassinato de caráter, perpretradas pelo jornal O Globo* e colunistas associados de Veja, friso: sempre vivi de meu salário. Este site sempre foi mantido graças a meu próprio salário de jornalista-trabalhador.
O objetivo do Viomundo sempre foi o de defender o interesse público e os movimentos sociais, sub-representados na mídia corporativa. Declaramos oficialmente: não recebemos patrocínio de governos ou empresas públicas ou estatais, ao contrário da Folha, de O Globo ou do Estadão. Nem do governo federal, nem de governos estaduais ou municipais.
Porém, para tudo existe um limite. A ação que me foi movida pela TV Globo (nominalmente por Ali Kamel) me custou R$ 30 mil reais em honorários advocatícios.
Fora o que eventualmente terei de gastar para derrotá-la. Agora, pensem comigo: qual é o limite das Organizações Globo para gastar com advogados?
O objetivo da emissora, ainda que por vias tortas, é claro: intimidar e calar aqueles que são capazes de desvendar o que se passa nos bastidores dela, justamente por terem fontes e conhecimento das engrenagens globais.
Sou arrimo de família: sustento mãe, irmão, ajudo irmã, filhas e mantenho este site graças a dinheiro de meu próprio bolso e da valiosa colaboração gratuita de milhares de leitores.
Cheguei ao extremo de meu limite financeiro, o que obviamente não é o caso das Organizações Globo, que concentram pelo menos 50% de todas as verbas publicitárias do Brasil, com o equivalente poder político, midiático e lobístico.
Durante a ditadura militar, implantada com o apoio das Organizações Globo, da Folha e do Estadão — entre outros que teriam se beneficiado do regime de força — houve uma forte tentativa de sufocar os meios alternativos de informação, dentre os quais destaco os jornais Movimento e Pasquim.
Hoje, através da judicialização de debate político, de um confronto que leva para a Justiça uma disputa entre desiguais, estamos fadados ao sufoco lento e gradual.
E, por mais que isso me doa profundamente no coração e na alma, devo admitir que perdemos. Não no campo político, mas no financeiro. Perdi. Ali Kamel e a Globo venceram. Calaram, pelo bolso, o Viomundo.
Estou certo de que meus queridíssimos leitores e apoiadores encontrarão alternativas à altura. O certo é que as Organizações Globo, uma das maiores empresas de jornalismo do mundo, nominalmente representadas aqui por Ali Kamel, mais uma vez impuseram seu monopólio informativo ao Brasil.
Eu os vejo por aí.
PS do Viomundo: Vem aí um livro escrito por mim com Rodrigo Vianna, Marco Aurelio Mello e outras testemunhas — identificadas ou não — narrando os bastidores da cobertura da eleição presidencial de 2006 na Globo, além de retratar tudo o que vocês testemunharam pessoalmente em 2010 e 2012.
PS do Viomundo 2: *Descreverei detalhadamente, em breve, como O Globo e associados tentaram praticar comigo o tradicional assassinato de caráter da mídia corporativa brasileira.
Leia também:

Mapa do Trabalho Escravo no Brasil

sexta-feira, 29 de março de 2013

Protestos contra o aumento da passagem, mais uma opinião


Por motivos genéticos e intuitivos, sou favorável a protestos. Em qualquer situação é preciso respeitar as pessoas que se movimentam para contestar a ordem. É a contestação da ordem que faz o mundo andar. Desde a criação do vale-transporte, as mobilizações contra os preços das passagens de ônibus perderam força. Afinal, para uma grande parte da população trabalhadora, o gasto com o transporte passou a ser uma parte fixa da sua remuneração; o restante cabaoe empregador.
O fato é que o transporte público em Porto Alegre está ficando cada vez pior. Ao que parece, apesar do incômodo, muitos usuários acabaram assimilando as longas filas e as viagens apertadas como coisas normais de quem pega ônibus. Assim, o potencial de protesto  arrefece e a maioria dos usuários vota no candidato que têm mantido essa situação degradante.

Militantes da bandeira preta

Não é à toa que os estudantes saíram às ruas. Eles são menos dependentes de um patrão que cobra pontualidade e são jovens, momento da vida em que as inconformidades com a vida se manifestam mais vigorosamente. Sou a favor dos protestos, mas não sou condescendente com os "militantes da bandeira presta". Pelas imagens que vi, os protestos eram incisivos, mas a ação completamente descolada da realidade de atacar o prédio da Prefeitura (que não tinha nada a ver com a situação) partiu dos militantes que se identificam com a bandeira preta. Minoritários ao extremo, essas pessoas vivem "surfando" na onda das mobilizações de massa. Intolerantes, arrogantes e autoritários, contestam qualquer autoridade e não se submetem à direção de entidades, no caso, o DCE da UFRGS. Sou solidário às manifestações contra o aumento das passagens. Elas têm sido as maiores mobilizações  dos últimos tempos em Porto Alegre. Contesto a repressão, mas não me peçam para avalizar os "militantes da bandeira preta". Aliás, eles também estão pouco se lixando comigo.

China reavalia política em relação à Coreia do Norte


A estratégia chinesa para norte-coreanos é tema de debate: tradicionalistas defendem curso atual, estrategistas querem medidas mais severas e aproximação dos EUA. Pequim teme instabilidade crescente em suas fronteiras.
"O terceiro teste nuclear da Coreia do Norte é uma boa oportunidade para a China reconsiderar a aliança de muitos anos com a dinastia Kim", exigiu o jornalista chinês Deng Yuwen em artigo no Financial Times. Deng é vice-editor-chefe da revista Study Times, publicada pela Escola do Partido Comunista em Pequim. O apelo do jornalista: "A China deve abrir mão da Coreia do Norte".
Vozes como a de Deng são um fardo para a amizade de dezenas de anos entre os vizinhos comunistas. Desde o final do ano passado, as relações bilaterais atingiram um novo nadir. E em fevereiro a Coreia do Norte voltou a provocar com a realização de um teste nuclear. Dois meses antes, o foguete norte-coreano Unha-3 lançou um satélite em órbita terrestre. Única parceira do país, a China está obviamente irritada: o imprevisível vizinho abusa de sua paciência.
Na última assembleia geral do Congresso Nacional do Povo, o parlamento chinês, alguns delegados realizaram um debate de fundo sobre a política em relação à Coreia do Norte. A vice-diretora do Escritório Central de Assuntos Estrangeiros, Qiu Yuanping, relata que os debates giraram em torno da questão se a China continuará a "apoiar" ou "deixará de lado" o país vizinho. Essa abordagem aberta é algo incomum, pois as lideranças de Pequim são geralmente bastante reservadas com tais observações.
Entre tradicionalistas e estrategistas
Dentro do circuito político chinês não há consenso sobre como lidar com o país vizinho. Desde o segundo teste nuclear norte-coreano, em 2009, duas correntes de opinião se definiram. Os chamados "tradicionalistas" se atêm à imagem propagada pelo fundador do atual Estado chinês, Mao Tsé-tung: a China e a Coreia do Norte estão "tão intimamente ligadas como os lábios e os dentes". Para eles, abandonar o Estado-irmão comunista está fora de cogitação, e vêm os EUA como maior desafio aos interesses chineses na Ásia Oriental.
Pequim vê como ameaça à segurança nacional a forte presença militar estadunidense na região pacífico-asiática – considerada pelo presidente Barack Obama como um novo foco estratégico. A Coreia do Norte é para a China uma importante zona-tampão face à Coreia do Sul e ao Japão, ambos parceiros dos Estados Unidos.
Debate no Congresso Nacional do Povo
Até agora, a política da China para a Coreia do Norte foi basicamente definida pelo Exército Popular de Libertação. Dados os laços de longa data com a Coreia do Norte e a grande desconfiança em relação ao poder militar dos EUA, as lideranças militares chinesas mantêm seu curso conservador.
De acordo com Jia Qingguo, professor de Ciências Políticas na Universidade de Pequim, tal estratégia é obsoleta. A China deveria tomar a Coreia do Norte como ponto de partida para uma cooperação mais estreita com os Estados Unidos, declarou ao New York Times. Jia pertence ao grupo dos chamados "estrategistas", que pedem medidas mais rigorosas em relação à Coreia do Norte, ao mesmo tempo que defendem uma maior cooperação com os EUA.
Mesmo Zhang Liangui, da Universidade Central do Partido em Pequim, pede medidas mais duras contra o país vizinho. É ingênua a crença de que Pyongyang pode ser persuadida a renunciar às armas nucleares por meio de uma política de apaziguamento, afirmou o perito em segurança ao jornal estatal Global Times.
Nenhuma mudança radical de direção
Mao Tsé-tung, em foto de 1960: Coreia do Norte e China, inseparáveis como "os lábios e os dentes"
"O apoio a sanções mais duras contra a Coreia do Norte não deve ser interpretado como uma alteração fundamental da posição chinesa", enfatizou Yang Jiechi, até recentemente ministro do Exterior chinês, e agora responsável pela política externa no Conselho de Estado. Suas palavras mostram que, por enquanto, não deverá haver uma mudança de curso.
Especialistas acreditam que a China pode temer que, com o colapso da Coreia do Norte e uma possível reunificação dos dois Estados coreanos, as tropas norte-americanas cheguem até as fronteiras do território chinês. Paul Haenle, da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, e também diretor do Centro Carnegie-Tsinghua da Universidade Tsinghua, em Pequim, é da opinião de que as contínuas provocações de Pyongyang podem levar, a longo prazo, a uma corrida armamentista. "Porque assim como os EUA, também o Japão e a Coreia do Sul irão reconsiderar suas estratégias de segurança", e isso contradiz diametralmente os interesses chineses, disse em entrevista à DW.
Enquanto os Estados ocidentais tentam dissuadir a Coreia do Norte de prosseguir com seu programa nuclear, para o governo chinês a preservação da estabilidade está em primeiro plano, observa Stephanie Kleine-Ahlbrandt, do International Crisis Group da Deutsche Welle. "Pequim teme um confronto militar direto entre Pyongyang e Washington."
Recentemente, o secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, anunciou que Washington iria ampliar sua defesa antimíssil, devido às ameaças de ataques da Coreia do Norte. Uma guerra ou um colapso da ditadura Kim iria provocar uma onda de refugiados em direção ao norte da China. Sob a liderança do novo chefe de Estado chinês, Xi Jinping, não deverá haver, todavia, mudanças radicais, afirmou Kleine-Ahlbrandt. "Mas Pequim irá adotar uma linha mais dura em relação a Pyongyang."

De: DW.DE

Arquivos do Dops sobre a ditadura serão liberados na internet na segunda-feira

Órgão era uma das principais centrais da repressão militar e foi palco de torturas e mortes

Edison Veiga - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - O Arquivo Público do Estado de São Paulo deixará disponível online, a partir da semana que vem, 274.105 fichas e 12.874 prontuários produzidos pelo Departamento de Ordem Política e Social, o Dops-SP (1923- 1983). O material, que equivale a cerca de 10% de todo o acervo, poderá ser acessado no site www.arquivoestado.sp.gov.br.
Antigo prédio do Dops em São Paulo - Arquivo/AE
Arquivo/AE
Antigo prédio do Dops em São Paulo
O Dops paulista foi uma das principais centrais da repressão da ditadura militar (1964-1985), de onde o governo controlava e reprimia movimentos políticos contrários ao regime. O local foi palco de torturas e mortes.
“É apenas o começo. Continuamos o trabalho de digitalização e, nos próximos anos, iremos disponibilizar todo o material”, afirma o coordenador Carlos Bacellar. A divulgação oficial acontecerá em evento na segunda-feira no Arquivo Público do Estado de São Paulo, com a presença do governador Geraldo Alckmin (PSDB), palestra e mesa-redonda com especialistas.
O material publicado online facilita o acesso do cidadão à documentação do Estado – das fichas publicadas, boa parte é nominal, ou seja, fichas pessoais –, e ao mesmo tempo abre uma fonte de pesquisa a estudiosos, jornalistas e público em geral. Até agora, era preciso ir pessoalmente ao Arquivo do Estado, no centro paulistano, para consultar esses documentos. Entre os milhares de fichados, há muitas personalidades.
Acesse os livros com os registros de entrada e saída do departamento.
A digitalização e publicação do acervo do Dops foi uma decisão administrativa do Arquivo do Estado dentro do espírito da Lei Federal nº 12.527 – a Lei de Acesso à Informação –, e do Decreto Estadual nº 58.052, que a regulamenta. Guardiã do acervo do Dops – acessível fisicamente desde 1994 –, a instituição acredita que a internet é uma ferramenta para democratizar as informações. “O pesquisador não precisa se preocupar com horários de funcionamento ou mesmo se deslocar”, comenta o coordenador. “Facilita muito o processo.”
A Lei de Acesso à Informação removeu alguns dos principais obstáculos à consulta livre do Fundo Deops pela Internet. Logo no início do seu capítulo IV, que trata das restrições do acesso, ela estabelece que “as informações ou documentos que versem sobre condutas que impliquem violação dos direitos humanos praticada por agentes públicos ou a mando de autoridades públicas não poderão ser objeto de restrição de acesso”.
Sem obstáculos legais, a digitalização e publicação deste material foi possível graças a verbas provenientes de editais da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), do Projeto Marcas da Memória da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, e da Casa Civil da Presidência da República (projeto Memórias Reveladas).

No aniversário do golpe, clubes militares atacam Comissão Nacional da Verdade

São Paulo – A Comissão Nacional da Verdade foi o alvo escolhido pelos clubes Militar, da Marinha e da Aeronáutica em mensagem “à nação brasileira” pela passagem dos 49 anos do golpe de 1964 – ou "revolução", como preferem os defensores do movimento. Em nota, as entidades atacam os “democratas arrivistas” e reafirmam que a intervenção de quase cinco décadas atrás ocorreu para preservar a ordem.
Segundo os clubes, as ações das Forças Armadas desde o início da República garantiram sua credibilidade. “Não foi por outro entendimento que o povo brasileiro, no início da década de 1960, em movimento crescente, apelou e levou as Forças Armadas Brasileiras à intervenção, em Março de 1964, num governo que, minado por teorias marxistas-leninistas, instalava e incentivava a desordem administrativa, a quebra da hierarquia e disciplina no meio militar e a cizânia entre os Poderes da República”, diz a nota, divulgada ontem (28), mas com data de 31 de março, assinada pelos presidentes do Clube Militar, general do Exército Renato Cesar Tibau da Costa, do Clube Naval, vice-almirante Ricardo Antonio da Veiga Cabral, e do Clube da Aeronáutica, tenente brigadeiro-do-ar Ivan Moacyr da Frota.
Essa intervenção, afirmam os militares, teria beneficiado o país em várias setores (economia, comunicações, transportes, social, político), “além de outros que a História registra e que somente o passar do tempo poderá refinar ou ampliar, como sempre acontece”. Mas – acrescentam – as “minorias envolvidas na liderança da baderna que pretendiam instalar no Brasil” tentaram se organizar e, financiadas por capital estrangeiro, “iniciaram ações de terrorismo, com atentados à vida de inocentes que, por acaso ou por simples dever de ofício, estivessem no caminho dos atos delituosos que levaram a cabo”.
Nesse trecho da mensagem entram os ataques à Comissão da Verdade. “E que não venham, agora, os democratas arrivistas, arautos da mentira, pretender dar lições de democracia. Disfarçados de democratas, continuam a ser os totalitários de sempre”, afirmam, apontando uma resolução da CNV, de agosto de 2012, que definiu sua área de investigação as violações de direitos humanos praticadas “por agentes públicos, pessoas a seu serviço, com apoio ou no interesse do Estado”. Para os militares, a comissão alterou a Lei 12.528 (que criou a própria CNV) a fim de “'varrer para debaixo do tapete' os crimes hediondos praticados pelos militantes de sua própria ideologia”.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, em fevereiro o brigadeiro Ivan Frota procurou o então presidente da comissão, Cláudio Fonteles, para encaminhar em nome da Academia Brasileira de Defesa (ABD), que ele preside, documentos e publicações para que servissem de "subsídios para a apreciação isenta dos fatos". Em entrevista, o militar disse que a CNV "tem trabalhado em uma direção única", sem dar direito à defesa ao "outro lado".
No manifesto referente aos 49 anos do golpe, os representantes militares criticaram o que chamam de terrorismo daqueles que "almejavam empalmar o poder para fins escusos". Não fazem referência as ações praticadas pelo "outro lado", representado pelo Estado, exatamente o foco das investigações feitas pela comissão, que em maio completará metade de seu mandato de dois anos.
A nota é divulgada no dia em que se completam 45 anos da morte, pela polícia, do estudante paraense Edson Luís de Lima Souto, de 18 anos, durante protesto no Rio de Janeiro. Em 13 de dezembro daquele ano (1968), o governo baixaria o Ato Institucional número 5 (AI-5), formalizando a fase mais dura do regime iniciado em 1964.

Se você acredita na páscoa, por favor, NÃO leia esta postagem

Nossa religiosidade - Laerte

quinta-feira, 28 de março de 2013

Protestos contra aumento da passagem em Porto Alegre:comentário inicial

Alunos com Bolsa Família repetem menos de ano

Cruzamento inédito de três bases destaca alta repetência de deficientes, meninos, em escola pública

Entre os estudantes de famílias inscritas no Cadastro Único (CadÚnico), os que recebem Bolsa Família têm chances de repetir de ano cerca de 11% menores que as de alunos cadastrados mas não beneficiados pelo programa. Os pesquisadores Luis de Oliveira e Sergei Soares, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), chegaram a esse resultado ao cruzar pela primeira vez os dados de três bases administrativas – CadÚnico, Projeto Frequência e Censo Escolar – e concluíram haver “evidências de que o Programa Bolsa Família reduz a repetência de quem o recebe”.

Enquanto o Bolsa Família é focalizado nas famílias do CadÚnico com renda de até R$ 140 por pessoa, o cadastro inclui um conjunto bem maior de famílias, com renda de até meio salário mínimo por pessoa (R$ 339 atualmente) ou de até 3 salários mínimos no total (R$ 2.034). Assim, com mais de 1,2 milhão de casos analisados, a pesquisa aponta indícios de que o benefício do Bolsa Família eleva a taxa de aprovação entre crianças que, em geral, estavam nas famílias mais pobres do cadastro.

Crianças cadastradas cujos responsáveis completaram pelo menos o ensino fundamental têm chance 32% menor de repetir, enquanto os domicílios menos favorecidos tendem a abrigar os estudantes com piores resultados. Na contramão dessa tendência, o benefício de renda, condicionado à frequência escolar, “tem ajudado essas famílias a garantir melhores condições para seus filhos”.
Tabela - Alguns fatores ligados à chance de um aluno do CadÚnico repetir na escola



Os autores ressalvam que, por trabalharem com dados de registros administrativos sujeitos a falhas de preenchimento e de qualidade, seus resultados devem ser mais interpretados em termos de direção do que por suas magnitudes. Eles esperam que o contínuo aperfeiçoamento do CadÚnico e do Censo Escolar possibilite estimativas cada vez mais precisas, mas afirmam haver evidências suficientes para sustentar que o Bolsa Família aumenta as chances de aprovação de seus beneficiários.

O cruzamento de dados permitiu ainda outras constatações. Os meninos do cadastro repetem 71% mais do que as meninas. O índice de repetência entre estudantes que possuem algum tipo de necessidade especial é aproximadamente 76% maior que o dos demais. Segundo os autores, isso indica “uma dificuldade do sistema escolar em lidar com essas pessoas”. Alunos já defasados têm 24% mais chances de repetir e, além disso, os que repetiram o ano anterior têm outros 46% adicionais em probabilidade de permanecer mais um ano estacionados na mesma série.
Leia a íntegra do Texto para Discussão “O impacto do Programa Bolsa Família sobre a repetência: resultados a partir do Cadastro Único, Projeto Frequência e Censo Escolar”

CQC's não aceitam um "CQC" com eles, imaginem o "Pânico"

Justiça seja feita, Rafael Cortez até que se segurou, mesmo assim, perdeu a paciência. Os outros membros da equipe (câmeras?, produtores?) provaram do próprio veneno e viram o que é ser assediado por uma equipe de falsos repórteres brincando de humoristas (ou seria o contrário?). Já gostei do CQC, mas o programa não passa de um "Pânico" metido a besta.
Esse tipo de programa, cada vez mais explorado, parte do princípio de que as pessoas são obrigadas a dar entrevistas mesmo sobre temas com os quais não têm nenhuma relação. Além disso, comportam-se como um "Sérgio Malandro" de terno e gravata, preparando pegadinhas e exibindo o que interessa.

Há 45 anos, era assassinado Edson Luis

Blowin' in the Wind - 50 anos

Este ano, não sei o dia nem o mês, lembramos os 50 anos do lançamento de "Blowin' in the Wind", de autoria do eterno Bob Dylan. Segundo soube, a melodia foi inspirada em canções de negros estadunidenses do séc. XIX. "Blowin'  in the wind " tornou-se hino da luta pelos direitos civis nos EUA da década de 60 e, até hoje, traz uma reflexão que vale a pena ser feita. Esse é o poder revolucionário da música.
Ainda hoje, as respostas estão soprando no vento.

Canções do Exílio - os músicos sob a ditadura militar

quarta-feira, 27 de março de 2013

Construtoras do Minha Casa, Minha Vida com queixas recorrentes irão para cadastro negativo da Caixa

Mariana Branco Repórter da Agência Brasil

Brasília – Criado há dez dias, o canal da Caixa Econômica Federal para atendimento exclusivo sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida recebeu 800 ligações. O vice-presidente do banco, José Urbano Duarte, explica que as queixas recebidas por meio do serviço 0800 721 6268 e que não forem resolvidas impedirão a empresa de contratar com a Caixa até que solucione o problema. Além disso, construtoras alvo de reclamações recorrentes entrarão para o cadastro negativo do banco.  
O canal chega em um momento em que são relatados problemas na qualidade de imóveis do Minha Casa, Minha Vida, a exemplo do que ocorreu com prédios do programa que tiveram de ser demolidos em Niterói (RJ) no último sábado (23). Mas, segundo José Urbano Duarte, o motivo para a implementação do 0800 foi a importância e a abrangência do programa de habitação do governo federal. “O que estimulou a gente [a criar o 0800] é que [o Minha Casa, Minha Vida] é um programa extremamente importante com um alto número de famílias. Nós queremos que o cliente saiba que estamos nos posicionando ao lado dele em caso de problemas”, disse, citando um total de 1,130 milhão de famílias que receberam moradia até o momento.
O vice-presidente da Caixa explica que as construtoras serão informadas das reclamações e terão prazo de cinco dias para entrar em contato com o cliente. Se o problema não for sanado dentro de intervalo acertado com o comprador, a empresa ficará impedida de operar com a Caixa Econômica Federal até que o assunto seja resolvido. Se houver repetidas reclamações contra a mesma empresa, ela entrará para um cadastro negativo e o impedimento de contratar com a Caixa será permanente. “A tolerância será 5% de recorrência ”, explica José Urbano Duarte.
Duarte disse que as 800 ligações recebidas até agora são uma quantidade modesta e que o banco espera que o número se torne mais conhecido. “Para um banco do tamanho da Caixa é pouco. Estamos divulgando [o 0800] na prestação habitacional, no autoatendimento”, declarou. De acordo com o vice-presidente, ainda não se sabe quanto as reclamações representam do total de demandas. Também não há informação sobre se algum contato se deveu a vícios de construção (falha decorrente de alguma fase da construção mal feita ou uso de material de baixa qualidade, como uma parede torta, rachaduras e nivelamento do piso).
Segundo José Urbano Duarte, no caso de famílias com renda até R$ 1,6 mil, enquadradas na faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida, a própria Caixa pode enviar uma empresa para consertar o vício, caso a construtora demore a dar solução.
Edição: Carolina Pimentel

O Dia que Durou 21 Anos estreia nesta sexta (29/3)

Direitos para domésticas é uma espécie de Abolição no séc. XXI

Senado aprova PEC das Domésticas e amplia direitos das trabalhadoras

Mariana Jungmann Repórter da Agência Brasil

Brasília - O Senado aprovou hoje (26), em segundo turno, a proposta de emenda à Constituição (PEC) que estende aos empregados domésticos todos os direitos dos demais trabalhadores regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Foram 66 votos favoráveis e nenhum contrário.
A PEC das Domésticas, como ficou conhecida a proposta, garante a essa classe trabalhadora o direito, entre outras coisas, a ter recolhido o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a receber indenização em caso de demissão sem justa causa. A indenização, no entanto, deverá ser regulamentada posteriormente por projeto de lei complementar.
Os empregados que trabalham em domicílios, caso de faxineiras, jardineiros, cozinheiras e babás, por exemplo, também passam a ter a jornada máxima de trabalho estabelecida em oito horas diárias e 44 horas semanais. Em caso de o serviço se prolongar para além desse período, eles também passam a ter direito ao recebimento de horas extras de 50% a mais que o valor da hora normal e adicional noturno de 20%, no caso de o trabalho ocorrer após as 22h.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) aponta que existem atualmente cerca de 6,6 milhões de trabalhadores domésticos no Brasil, sendo 92,6% deles mulheres. Apesar de mostrar o receio de que as empregadas domésticas caiam ainda mais na informalidade com o aumento dos custos da contratação para os patrões, os senadores oposicionistas também apoiaram a aprovação da PEC.
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse que a nova fase de transição vai “demandar cuidado e atenção”, mas que o Brasil está fazendo um avanço. “Hoje, de fato e não apenas na retórica, nós damos um passo para nos aproximarmos dos países desenvolvidos”, disse Aécio.
A presidenta da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, Creuza Maria Oliveira, acompanhou a votação e disse não acreditar em aumento do desemprego ou da informalidade. “Não acredito no desemprego, ele ocorre quando o salário aumenta. Vai haver uma acomodação do mercado”, disse. Para ela, isso compensa porque se trata de “uma conquista de quase 80 anos”.
A Secretaria Especial de Políticas para a Mulher (SPM) também acompanhou de perto a votação. A ministra Eleonora Menicucci compareceu ao Senado, mas deixou as declarações a cargo da secretária de Autonomia Econômica das Mulheres, Tatau Godinho. Para ela, a ampliação de direito não pode ser vista como um “problema” e a PEC não vai significar um aumento importante dos custos para quem já paga os direitos trabalhistas das domésticas.
“O que aumenta efetivamente é a obrigatoriedade do FGTS. Aqueles empregadores que cumprem a legislação, esses já pagam décimo terceiro salário, férias, INSS, já cumprem com a jornada de 44 horas semanais. São direitos que já existiam. Então para esses, o aumento é muito pouco”, disse.
O presidente do Congresso Nacional e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que a promulgação da PEC será feita em uma sessão solene na próxima terça-feira (2).
 
Edição: Fábio Massalli

Prefeitura do Rio decide interditar Engenhão por falhas na cobertura

torcida estádio Engenhão jogo Vasco x Flamengo (Foto: Janir Júnior)

Eduardo Paes se baseia em relatórios de construtoras do consórcio e vai discutir atitude em reunião com presidentes de Bota, Fla, Flu e Vasco

Por GLOBOESPORTE.COM Rio de Janeiro
Cobertura do Engenhão estaria condenada por relatório de construtoras (Foto: Janir Júnior)
 
Após ter acesso a relatórios recentes das construtoras responsáveis pelo projeto, que apontam problemas na estrutura da cobertura do Engenhão, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, decidiu interditar o estádio imediatamente e convocou os presidentes dos quatro grandes clubes do estado, de acordo com a sua assessoria de imprensa, para uma reunião às 18h desta terça, no gabinete da Prefeitura, no bairro da Cidade Nova, para informar sua decisão e discutir as futuras possibilidades.
O GLOBOESPORTE.COM acompanhará em tempo real todos os detalhes deste encontro, que pode mexer com o calendário do futebol carioca. Haverá uma coletiva posteriormente para explicar as razões da ação.
O fechamento causará impacto já na terceira rodada da Taça Rio, com início nesta quarta-feira, quando o Fluminense enfrenta o Macaé às 19h30m. Nos contatos por telefone, feitos por volta das 15h30m, Paes avisou que a interdição aconteceria por tempo indeterminado e que, provavelmente, este jogo seria adiado. Diante do curtíssimo espaço, o Tricolor acredita que é possível transferi-lo para São Januário, que, então, também receberia, eventualmente, os confrontos válidos pela Taça Libertadores. O presidente Peter Siemsen estará no local.
O diretor executivo do Flu, Rodrigo Caetano, diz que prefere aguardar a informação oficial.
- Vamos aguardar a manifestação oficial do prefeito. Nem a Federação (do Rio) sabe direito o que aconteceu, fomos pegos de surpresa. Tem de ver o que será feito, porque o Estatuto do Torcedor não permite uma mudança desse jeito. Existem ingressos que foram impressos, um planejamento que foi feito - afirmou Caetano, sobre o compromisso marcado de seu time.
Tem de ver o que será feito, porque o Estatuto do Torcedor não permite uma mudança desse jeito. Existem ingressos que foram impressos, um planejamento feito"
Rodrigo Caetano
Concessionário do estádio, o Botafogo também admite a convocação, mas garante que "desconhece totalmente" a interdição. O presidente Mauricio Assumpção e o diretor Sergio Landau estarão presentes. Já o Flamengo terá seu mandatário, Eduardo Bandeira de Mello. A diretoria do Vasco, através de Roberto Dinamite, também confirmou que vai ao encontro. O Cruz-Maltino, aliás, é o único dos quatro que só vai ao Engenhão para disputar clássicos.
Em virtude do fechamento do Maracanã para a reforma para a Copa das Confederações (no próximo mês de junho) e Copa do Mundo (entre junho e julho de 2014), trata-se da principal arena da cidade desde 2010 e que foi utilizada 90 jogos oficiais em 2012, por exemplo.
O projeto do estádio foi elaborado pelos arquitetos Carlos Porto, Gilson Santos, Geraldo Lopes e José Raymundo Ferreira Gomes. O consórcio foi vencido pelo Consórcio Odebrecht-OAS, sob fiscalização da Riourbe, da Secretaria de Obras do Município. O período de garantia dado pelas empreiteiras expirou no ano passado.
Histórico do estádio indica problemas
Construído entre 2004 e 2007, ao custo de R$ 380 milhões, para os Jogos Pan-Americanos de 2007, o estádio foi alugado ao Glorioso por 20 anos pelo governo César Maia. Em 2010, no entanto, já havia relatórios indicando problemas estruturais em sua origem, que foram confirmados pelo presidente Mauricio Assumpção em ofício com 30 itens, segundo publicação de 25 de março do jornal O Globo. O clube dizia que estava em dia com a manutenção.
Período de garantia com as empreiteiras venceu em 2012. Em 2010, Bota dizia que manutenção estava em dia, mas confirmava 30 falhas estruturais
O texto citava falhas de projeto e infiltrações, que atingiam as casas de máquinas dos elevadores, "expondo equipamentos delicados ao risco de curto circuito", e "nas juntas de dilatação que sustentam as estruturas". O assessor da presidência do Crea-RJ (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio de Janeiro), Abílio Borges, que também é presidente do Conselho Deliberativo do Vasco, informou que constatou "problemas pontuais de corrosão na estrutura". Até houve reunião, mas nenhuma obra de magnitude foi realizada.
Ainda em 2007, antes dos Jogos Parapan-Americanos, porém, dois muros desabaram na área interna do estádio, sem feridos. A explicação era que a estrutura era da época da RFF (Rede Ferroviária Federal) e seria substituída, o que acabou acontecendo meses depois.
De lá para cá, ocorreram diversos apagões durante jogos de futebol, que marcaram negativamente o estádio. Apesar disso tudo, jamais houve um incidente de qualquer tipo.
- Vou olhar com muito carinho os problemas do Engenhão, mas quero esclarecer que não é uma situação de pânico. A situação é perfeitamente administrável - disse Paes, em 2010.

Curtindo a Vida Adoidado - Twist and shout

terça-feira, 26 de março de 2013

Prefeitura de São Paulo detém ação violenta da PM contra manifestantes

A PM paulista atuou, mais uma vez, com extrema violência contra moradores de uma ocupação na capital

Por Redação, com Vermelho.org - de São Paulo

A PM paulista atuou, mais uma vez, com extrema violência contra moradores de uma ocupação na capital
Após a ação violenta da Polícia Militar de São Paulo, a reintegração de posse de um terreno onde vivem 750 famílias, no Jardim Iguatemi, Zona Leste da capital paulista, foi suspensa na tarde desta terça-feira. Segundo a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de São Paulo, houve suspensão da liminar que determinava, em primeira instância, a reintegração do terreno.
De acordo com o vice-presidente da Associação de Moradores, Luciano Santos, o prefeito Fernando Haddad disse que irá assinar decreto de interesse social do terreno de 132 mil metros quadrados, no qual estão construídas as casas. No início da manhã, a tropa de choque havia iniciado a desocupação e chegou a entrar em confronto com os moradores, usando bombas de efeito moral, gás lacrimogênio e balas de borracha. Os moradores revidaram com pedras.
As famílias chegaram a colocar os pertences para fora das casas e parte delas tinha embarcado os móveis dentro em caminhões disponibilizados pelo proprietário do terreno. Em algumas casas, moradores retiraram telhas e janelas para serem reaproveitadas. Apenas um imóvel começou a ser demolido pelos tratores.
Segundo Luciano Santos, o decreto de interesse social do terreno foi apresentado pela prefeitura ao juiz Jurandir de Abreu da Quarta Vara do Fórum de Itaquera. O pedido, porém, foi negado na noite passada. Ele disse que as famílias vivem no local desde maio de 2012. O proprietário Heraclides Batalha teria oferecido os lotes, com tamanho de 5 metros por 20 metros às famílias, no valor de cerca de R$ 8 mil cada, a serem pagos em parcelas de aproximadamente R$ 300.
Porém, ainda segundo Luciano Santos, conforme notou o crescimento do número de moradores, Batalha teria aumentado o preço dos lotes para R$ 16 mil, valor que deveria ser pago à vista. O valor total do terreno pedido pelo proprietário, segundo os moradores, chegou a 30 milhões. As famílias teriam se recusado a pagar.
Heraclides Batalha, no entanto, nega que tenha existido qualquer acordo de venda do terreno. “Eles são invasores, eles invadiram a minha terra”, disse. “Eu fui desapossado clandestinamente”, acrescentou.
No outro lado, o pedreiro Agustinho da Silva disse ter construído sua casa no terreno e planejava se mudar com a esposa e os dois filhos, um de 2 anos e outro de 10 anos. Ele conta que conseguiu gastou R$ 3 mil com material de construção.
Machucado no braço após o conflito com a Tropa de Choque, Silva diz que achou a ação policial muita dura.
– Na hora do tumulto, eu escorreguei e me machuquei. Quando eles começaram a jogar bomba, eu tentei me livrar e cai, escorreguei. Eu sei que eles estão cumprindo ordens, mas eles foram muito duros com a gente – concluiu.

Suíços preocupados com barulho das crianças

Crianças aproveitam para extravasar, aos gritos, a alegria durante o carnaval em Basileia.
Crianças aproveitam para extravasar, aos gritos, a alegria durante o carnaval em Basileia. (Keystone)
Por Clare O'dea, swissinfo.ch
 
O som das crianças brincando pode ser reconfortante para alguns, mas na Suíça, onde um em cada seis habitantes se sente incomodado com barulho, o ruído das crianças é uma causa comum de queixa. A questão agora pode acabar sendo decidida nas urnas.
No ano passado, a Alemanha mudou a lei para proteger o barulho das crianças e colocar um fim a uma onda de queixas legais contra parques infantis e creches. Militantes suíços estão pedindo uma reforma semelhante na Suíça.

Em novembro do ano passado, uma associação infanto-juvenil de Zurique lançou uma campanha para proteger na lei o barulho das crianças. "Nós que trabalhamos com crianças e jovens gostaríamos que os espaços públicos fossem considerados espaços educativos", diz Ivica Petrusic, da associação Okaj.

"O que acontece nesses espaços é essencial para o desenvolvimento integral das crianças e dos jovens. Este é o lugar onde eles aprendem como funciona a sociedade, como se comportar, como aprender limites", acrescentou.

Para Petrusic e seus colegas, o importante é tomar uma posição em um cenário de crescente intolerância. "Cada conflito que surge em um espaço público é sempre visto de forma bem negativa e na maioria das vezes são as crianças e os jovens que sofrem com isso. Eles são expulsos e até já impuseram um toque de recolher, os menores de 16 anos não podem ficar do lado de fora depois das 22 horas. Nós achamos que a situação está ficando preocupante".

Toque de recolher à noite para menores de 16 ou 14 anos já foram impostos em várias cidades suíças, entre elas Kehrsatz, Interlaken e Biel, no cantão de Berna, ou Zurzach, no cantão da Argóvia.

Atividade silenciosa

Enquanto isso, dois deputados estaduais de Zurique, Philipp Kutter e Johannes Zollinger, questionaram recentemente o governo do cantão sobre a segurança nos locais de lazer para as crianças.

"As crianças e os adolescentes estão sendo forçados a sair dos espaços públicos e estão sendo expulso de seus pontos de encontro e de recreação", alegam em conjunto Kutter e Zollinger.

Os deputados se referem, em parte, a uma decisão da justiça de Wädenswil, no cantão de Zurique, que deu razão a uma queixa por barulho dos moradores vizinhos a um campo de futebol de uma escola.

Em resposta escrita, o governo de Zurique confirmou no mês passado (fevereiro) a decisão da justiça, lembrando que a lei “de proteção de ruído” também se aplica aos pontos de reunião e de lazer dos jovens.

Petrusic vê uma contradição na questão. "Por um lado, queremos uma vida saudável para as crianças para combater a obesidade. Queremos jovens mais ativos, mas quando se trata de ser ativo os adultos é que decidem os limites."

Primavera

Nesta época do ano, as pessoas de todas as idades começam a passar mais tempo ao ar livre, aumentando o número de reclamações de barulho. Entre as queixas, é comum ver reclamações contra o ruído causado pelas crianças, revela Markus Chastonay, da Cercle Bruit, a associação de peritos cantonais de proteção de ruído.

"No passado, tivemos muitos problemas de ruído da indústria, mas agora há muitos mais problemas nas áreas residenciais. Na Suíça, as planícies são como uma grande cidade. Vivemos cada vez mais perto uns dos outros e as pessoas estão menos tolerantes", disse Chastonay.

Para Stefan Ritz, responsável da infância e juventude de Dübendorf, na periferia de Zurique, ficou "praticamente impossível" construir novos playgrounds, declarou ao jornal do mesmo cantão Tages Anzeiger.

"As pessoas movem céu e terra para bloqueá-los. Geralmente, elas são bem antipáticas", disse Ritz. Para superar este problema, Dübendorf comprou um ônibus que funciona como playground móvel no verão.

Pela lei de proteção do meio ambiente, os playgrounds são amenidades, o que significa que o barulho vindo deles tem que ser limitado o tanto quanto possível. Mas não há limites que possam ser medidos e cumpridos à risca, por isso as queixas são julgadas caso a caso.

A lei suíça

Diferentes regulamentações são aplicáveis aos diferentes tipos de ruído.

O ruído de igrejas, playgrounds e áreas de lazer são abrangidos pela lei de proteção ambiental e a proteção contra o ruído se aplica. Mas limites máximos não são necessariamente aplicado aqui. Há limites apenas para o tráfego aéreo, ferroviário e rodoviário, a indústria e os campos de tiro.

A regra para todos os outros lugares é que eles não devem causar perturbação considerável para a população. As decisões são tomadas caso a caso.

O artigo 684 do Código Civil protege vizinhos de ruído nocivo e incômodo. Mais uma vez, deve ser decidido em uma base caso a caso se o ruído é prejudicial ou incômodo.

Algumas localidades introduziram regulamentos estabelecendo os chamados "momentos de silêncio". Durante essas horas (geralmente à noite ou na hora do almoço), a proteção contra ruído é maior.


(Fonte Larm.ch)

Música do futuro

De acordo com Caroline Marki von Zeerleder, da associação familial Familylab, o problema se resume em diferentes necessidades e relações entre as gerações. "É um fato que as crianças brinquem em voz alta e é um fato que muitos idosos preferem paz e sossego. Ambos estão com a razão, mas eles não andam juntos. Nós só podemos encontrar uma solução através do diálogo baseado no respeito mútuo."

Mas este diálogo, ainda segundo Marki von Zeerleder, não estaria ocorrendo com bastante frequência. Em caso de conflito, a especialista observou uma falta de vontade por parte das pessoas mais idosas em se adaptar às crianças. "Elas agem assim porque são mais velhas, elas têm a autoridade e as crianças têm que obedecer. Em seguida, elas encontram resistência da nova geração porque as coisas não funcionam mais assim hoje em dia."

Algumas disputas já fizeram as manchetes dos jornais, como a escolinha Montessori de Zug (centro), obrigada a fechar este verão por causa das queixas dos vizinhos com os níveis de ruído, mas a questão principal com o barulho das crianças não é ouvida.

Há um ditado em alemão que os suíços parecem discordar: "Kinderlärm ist Zukunftsmusik”, o barulho das crianças é a música do futuro.
Clare O'dea, swissinfo.ch
Adaptação: Fernando Hirschy

segunda-feira, 25 de março de 2013

Há 68 anos, nascia Leila Diniz!

Toda mulher é meio Leila Diniz

publicado em recortes por
 
Atriz popular, símbolo sexual, transgressora e ícone feminista. Amada e odiada, seu comportamento desafiou uma ditadura e o destino tratou de fazer dela um mito. Afinal, quem foi Leila Diniz?
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© Antonio Guerreiro.
"...Toda mulher quer ser amada / Toda mulher quer ser feliz / Toda mulher se faz de coitada / Toda mulher é meio Leila Diniz." Assim disse Rita Lee na canção "Todas as Mulheres do Mundo". Mas quem foi Leila Diniz? Uma das brasileiras mais marcantes do século XX, nascida em Niterói, à época capital do estado do Rio de Janeiro, em 25 de março de 1945.
Sagaz, desbocada e esperta, vinda de uma família de classe média, desde pequena já chamava a atenção pelo comportamento "diferente" e pelas ideias que tinha. Formou-se em magistério e dos 15 aos 17 anos de idade foi professora do maternal e jardim de infância no subúrbio carioca. Já naquela curta experiência ficou marcada a sua inadaptação aos costumes. Por exemplo, Leila chegou a abolir a mesa de professora para ficar sempre entre os alunos, queria mudar a maneira como se tratavam as crianças. Era bastante querida, mas seu comportamento causou desagrado. Cansada de brigar com os pais e a diretora da escola, Leila se demitiu e nunca mais voltou a lecionar.
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© Antonio Guerreiro.
Aos 17 anos, conheceu o diretor de cinema Domingos de Oliveira. Um dos grandes amores de sua vida. Ficaram juntos apenas três anos, mas tempo suficiente para que Leila descobrisse uma outra paixão: atuar. Leila começou a carreira de atriz atuando em peças de teatro infantis, fazendo anúncios de comerciais e pequenas figurações em filmes e participações menores em programas de televisão.
Leila já estava separada de Domingos de Oliveira quando atuou sob a direção dele no filme Todas as Mulheres do Mundo (1967). Nessa deliciosa comédia carioca, um dos maiores sucessos nacionais de público e crítica nos anos 60, o conquistador Paulo (Paulo José) vive os dilemas entre a vida de solteiro e o casamento com sua amada Maria Alice (Leila Diniz). Cheio de referências ao romance de Leila e Domingos de Oliveira, o filme se tornou um clássico do cinema brasileiro, que catapultou Leila ao estrelato nacional.
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© Antonio Guerreiro.
Embarcando no sucesso do cinema, Leila tornou-se a grande estrela da Rede Globo (então TV Globo), fundada apenas dois anos antes, em 1965. Na emissora carioca, que ainda engatinhava, Leila estrelou as telenovelas Eu Compro Esta Mulher (1966) e O Sheik de Agadir (1966/1967), dois grandes sucessos de audiência, ambos de Glória Magadan, novelista cubana radicada no Brasil.
Uma ingênua "Quase que de propósito"
Em pouco tempo tempo, Leila Diniz tornou-se uma das atrizes mais populares do Brasil. Mas seu comportamento liberal e seu estilo de vida desencanado dividiam opiniões. Leila era autêntica, controversa, desbocada e desprendida. Mesmo com o alto nível de popularidade que gozava, ela dizia que não sabia ganhar dinheiro, gostava mesmo era de trabalhar com quem a divertia, não importando quem fosse ou o quanto ela ganharia por aquele trabalho. Extremamente simpática e carismática, se dava muito bem com os fãs, principalmente com as crianças, entre as quais fazia um grande sucesso. Leila só abria uma reticência - não gostava de ser abordada na praia. Lugar que era quase uma extensão do quintal da casa dela.
Sua beleza não era extraordinária. Fora suas curvas generosas, aquilo que a tornava fenomenal era a sua alma carioca, aliada a uma sensualidade explosiva e uma ingenuidade "quase que de propósito" - como se ela não fosse aquela sex-symbol que a mídia propagava. Mas Leila parecia mesmo um vulcão sempre prestes a entrar em atividade. As aparições sempre bombásticas, os papéis sexy que ela fazia no cinema e na televisão e a personagem fomentada pela mídia da época criaram a imagem de uma mulher explosiva, sedenta por sexo, que quebrava tabus e não respeitava nenhum dogma imposto, escandalizando a tudo e todos. O que viria a causar bastantes problemas para a atriz no futuro.
Palavrões, polêmicas e polícia política
Em 1969, Leila foi entrevistada pelo semanário carioca O Pasquim, na edição de novembro. O tabloide editado pelos intelectuais Jaguar, Tarso de Castro, Sergio Cabral e Ziraldo, tornou-se um símbolo da oposição ao Regime Militar no Brasil. Considerado subversivo pela polícia política, o exemplar com maior número de vendagens foi justamente o que trazia a entrevista de Leila. Na sabatina de sete páginas, Leila falou abertamente sobre tudo - carreira, cinema, teatro, sexo, amor e afins. As declarações de Leila - totalmente desinibida - chocaram a sociedade de um jeito nunca antes visto, e causaram um dos maiores rebuliços da história da imprensa no Brasil. Foi nessa fatídica entrevista que substituíram os muitos palavrões que Leila falava por asteriscos. Foi ali que ela também proferiu sua frase mais polêmica: "Você pode amar muito uma pessoa e ir pra cama com outra. Isso já aconteceu comigo."
Tudo isso teve um preço, e foi logo depois da publicação dessa entrevista que foi instaurada a censura prévia à imprensa, mais conhecida como Decreto Leila Diniz. É necessário abrir um parêntese para ilustrar a situação sócio-política do Brasil à época. O país vivia um dos períodos mais tensos da Ditadura Militar, que endurecia o regime gradativamente após o decreto do Ato Institucional Nº5 (AI-5) que dava ao regime, na pessoa do presidente da república, poderes absolutos e extraordinários. Vivia-se uma época de perseguição política em que qualquer cidadão considerado subversivo estava na mira da polícia política.
"Não quero brigar nunca, e queria mesmo é fazer amor sem parar"
Sendo assim, Leila se tornou uma das vítimas da repressão da Ditadura Militar. Mesmo que ela jamais tivesse qualquer engajamento político, seu comportamento independente, liberal, que levantava uma bandeira ao amor livre e à liberdade feminina, representava uma ameaça à moral e aos bons costumes, à seriedade e robustez do regime - regime este feito por homens, que viram naquela mulher um grande incômodo. Leila ia diretamente contra a ideologia do regime. Passou a ser vista como uma anarquista social, uma mulher promíscua, que não tinha vergonha ou pudor em debater publicamente os assuntos relacionados a sua sexualidade. Viviam-se os anos 60, época da revolução comportamental e da liberação sexual: nada mais natural do que ter Leila Diniz como ícone do movimento, mas tal era inadmissível num país que vivia nas trevas de uma ditadura. Mas Leila estava muito alheia daquilo tudo, só queria amar e ser livre. "No fundo, eu sou uma mulher meiga, adoro amar, não quero brigar nunca, e queria mesmo é fazer amor sem parar."
Leila passou a viver um dos piores momentos de sua vida. Vigiada pelos militares, sempre atentos aos seus passos, execrada pela direita e criticada pela esquerda. Ela também provocou indignação nas feministas tradicionais, que a acusavam de "servir aos homens". Formou-se uma espécie de boicote à atriz, que passou a ter dificuldades até para trabalhar. Conta-se que a TV Globo, pressionada pelos militares, preferiu não renovar o contrato dela.
Em 1970, no auge da polêmica, Leila foi chamada para compor o juri do Programa Flávio Cavalcanti. O histriônico Flávio foi um dos apresentadores mais controversos da televisão brasileira, famoso pelas polêmicas em que se metia com outros artistas. Na briga pela audiência, seus programas deixavam a concorrência comendo poeira. Quando ele chamou Leila para participar do programa, o circo estava armado. Acusada de proteger militantes da esquerda, Leila foi perseguida pela polícia política, que foi até os estúdios da TV Tupi no Rio de Janeiro, bairro da Urca, para prendê-la. Flávio Cavalcanti, então, escondeu-a em sua casa de campo em Petrópolis. Depois desse episódio, a censura resolveu tirar o programa do ar.
Meses depois, Leila reabilita o teatro de revista, com sucesso, na revista musical Tem Banana na Banda. No espetáculo, estilizado à la Carmen Miranda, ela improvisava textos escritos por amigos, como Millôr Fernandes, Luiz Carlos Maciel, José Wilker e Oduvaldo Viana Filho. Repercutindo o sucesso, ela recebeu das mãos de Virgínia Lane, a maior vedete do teatro de revista no Brasil dos anos 40, o título de Rainha das Vedetes. No carnaval de 1971, foi eleita Rainha da Banda de Ipanema por Albino Pinheiro, o fundador do tradicional bloco de rua carnavalesco da Zona Sul do Rio de Janeiro.
Quebrando tabus: uma grávida na praia
Em 1971, grávida de sua única filha, Janaína, Leila também provocou um escândalo ao aparecer na praia, de biquíni, ostentando uma enorme barriga de seis meses. A atitude de Leila não era comum na época: as mulheres não iam à praia grávidas, e ainda mais vestindo biquíni. Leila acabou quebrando mais um tabu sem querer - conta-se que ela teria ido à praia principalmente porque o seu médico lhe disse que o sol faria bem ao bebê.
Nascida em em 1971, Janaína Diniz Guerra viveu apenas sete meses de sua vida ao lado da mãe, Leila Diniz. Durante esses sete meses, Leila amou muito sua filha e aproveitou intensamente os momentos que teve com ela, levou a menina para o carnaval de 1972 e chegou até a amamentá-la no meio da folia. Leila não sabia que seus dias juntas estavam a terminar.
De volta de uma viagem à Austrália, para promover o filme Mãos Vazias (1971) de Luiz Carlos Lacerda num festival de cinema, Leila morreu em um desastre aéreo, voo JAL 471 da companhia aérea Japan Airlines, no dia 14 de junho de 1972. O avião colidiu contra o solo nas margens do Rio Yamuna, na cidade de Nova Delhi, capital da Índia. 85 passageiros morreram, entre eles, Leila Diniz. Milagrosamente, cinco pessoas escaparam do desastre com vida. Diz-se que aquele não era o seu voo; ela teria decidido voltar antes para ficar ao lado de Janaína. Tinha apenas 27 anos de idade.
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© Antonio Guerreiro.
A grande estrela tornou-se um mito. Em sua carreira, ao todo, fez quatorze filmes no cinema e doze telenovelas. A atriz Marieta Severo e seu ex-marido, o compositor e cantor Chico Buarque, cuidaram da filha de Leila Diniz e Ruy Guerra por muito tempo, até que o pai dela tivesse condições de assumir a criança. Leila morreu jovem, cedo demais, rápido demais. Mas viveu intensamente. Como a maioria das grandes divas, teve uma vida breve, intensa, uma morte triste e deixou um legado incalculável. Seu mito é o de uma das brasileiras mais significativas do século XX.
"Sem discurso nem requerimento, Leila Diniz soltou as mulheres de vinte anos presas ao tronco de uma especial escravidão.", disse Carlos Drummond de Andrade.

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