sábado, 28 de fevereiro de 2015

A inocência póstuma graças a um vídeo gravado pelo celular

Polícia diz que jovem atirou em PMs, mas vídeo gravado pela vítima desmente essa versão


Chauan Cezário, uma das vítimas dos PMs, em delegacia no Rio. / URBANO ERBISTE  (AG. O GLOBO)
De: El Pais
Atira primeiro. Pergunta depois. Foi assim que um grupo de policiais que fazia uma operação na favela da Palmeirinha, na zona norte do Rio de Janeiro, agiu na noite do último sábado quando matou um jovem de 15 anos e feriu outro, de 19, com um tiro no peito. Até a 
tarde da última quarta-feira, a versão oficial da polícia era de que quatro criminosos atiraram contra um blindado da PM que fazia uma ação de rotina na região. Ou seja, tratava-se de um caso de auto de resistência ou morte em decorrência da atividade policial. A filmagem feita pelo celular do jovem que morreu, porém, contradiz essa tese e mostra que os policiais dispararam ao menos dez vezes contra um grupo de quatro amigos sem nenhuma razão.

Ao fundo, o autônomo Chauan Jambre Cezário, 19 anos, que foi atingido por um tiro no peito ora: “Pai do céu. Me ajuda, Jesus”. Evangélico, ele recorre a Deus o tempo inteiro. Enquanto isso, mulheres xingam os policiais e pedem para as crianças deixarem as ruas. O clima na favela Palmeirinha ficou pesado e alguns moradores promoveram protestos no fim de semana, queimando veículos e interditando vias que passam pela comunidade, como a avenida Brasil.No vídeo de pouco mais de nove minutos, publicado na página daorganização Rio Consciente, há quatro jovens moradores da comunidade sentados em suas bicicletas, conversando e contando piadas. Todos estavam desarmados. Pouco depois do primeiro minuto da gravação, é possível notar que os rapazes começam a correr, na sequência, tiros. De repente o jovem que estava filmando, Alan de Souza Lima, de 15 anos, cai e começa a gemer de dor. Ele fora atingido por dois disparos no abdômen. O vídeo não mostra quem atira nem o rapaz sendo baleado, mas é possível ouvir os policiais perguntando por qual razão os jovens correram. E eles respondem que só estavam brincando. Lima morre no local.


A reviravolta no caso só ocorreu na quinta-feira, quando, após a divulgação do vídeo, o comandante da Polícia Militar do Rio, coronel Alberto Pinheiro Neto, determinou que os nove PMs envolvidos na ocorrência fossem investigados internamente pela corregedoria. A suspeita é que os policiais tenham criado uma falsa cena de crime ao apresentar duas armas que diziam ser das vítimas. A prática é comum na corporação, independentemente do Estado, conforme revelou o EL PAÍS no dia último 8. Nesta sexta-feira, o comandante do 9o batalhão, o tenente-coronel Luiz Garcia Baptista, onde os policiais trabalhavam, foi exonerado da função.
Os nomes dos nove PMs que participaram da desastrada ação na Palmeirinha não foram divulgados. Eles tiveram suas armas apreendidas e estão fazendo trabalhos internos.
Cezário, que é negro, ficou internado por três dias e quando recebeu alta médica, foi preso por porte ilegal de arma. Ele só está em liberdade porque conseguiu reverter a decisão do juiz que o deteve por meio de um habeas corpus. Em entrevista à TV Bandeirantes, ele disse que não portava nenhuma arma e que seu amigo Lima morreu sem ter feito nada.
O Rio de Janeiro foi o Estado brasileiro em que a Polícia Militar mais matou cidadãos em supostos confrontos em 2013. Em 2014, ficou em segundo lugar, atrás só de São Paulo, e em janeiro deste ano foram 64 assassinatos, média superior a uma morte por dia.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Decisão da Moody’s é ataque especulativo à Petrobras e à soberania do Brasil

A decisão da agência de riscos Moody’s, de rebaixar a nota da Petrobras, criou o cenário perfeito para a oposição na mídia e no país recrudescer  a campanha que move contra a estatal. À frente o Jornal Nacional (JN) da Rede Globo que, como não poderia ser diferente, na edição de ontem, deu um espaço extraordinário ao assunto. Criou o palco para o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG) repetir sua catilinária contra a maior e mais emblemática empresa nacional.
O rebaixamento cavado pela torcida da oposição e da mídia e conseguido junto a Moody’s, leva os jornalões da velha e conservadora imprensa nacional a vibrarem com a decisão em suas edições de hoje. Mas, nada de uma cobertura mais séria para com seus leitores. Silenciam sobre o histórico dessas agências de riscos – especialmente da Moody’s – parceiras e sócias da aventura dos derivativos que levou a eclosão em setembro de 2008 da crise econômica mundial que vem até os nossos dias.
Pior, jornalões e toda a nossa mídia conservadora, a pretexto do rebaixamento, traçam cenários catastróficos. Torcem para que o país também tenha notas rebaixadas por agência e acabe perdendo o grau de investimentos para os fundos especulativos – os abutres -  em corrida desenfreada comprarem as ações da Petrobras.
Não se conformam com modelo de partilha e 60% de conteúdo nacional
O fato concreto é que o rebaixamento da Petrobras pela agência Moody’s encarece seu crédito e o do país, na medida em que fecha o acesso a várias linhas de financiamento e aperta o cerco contra a estatal e contra a sua política de conteúdo nacional (60% exigidos na exploração do pré-sal) e o atual modelo de partilha (na exploração) estabelecidos pelos governos do PT.
Não precisamos ir longe na análise. Vocês sabem, o verdadeiro objetivo é a privatização da empresa ou a volta aos bons tempos tucanos. Eles já tentaram fazê-lo durante a era de privatarias do governo FHC, lembram-se? Para facilitar, até tentaram mudar o nome da Petrobras para Petrobrax…
Nessa conjuntura salta à vista a importância do ato em defesa da Petrobras realizado na 3ª feira pp., na sede nacional da ABI, no Rio, com a presença do ex-presidente Lula e a mobilização nacional ali proposta.
Objetivo é a privatização da Petrobras ou a volta aos bons tempos tucanos
É evidente, não resta nenhuma dúvida, que a Petrobras e seu acionista controlador, o governo brasileiro, têm todas as condições de sustentar, adequado à nova realidade do mercado global de óleo e gás, o plano de investimentos da empresa – um dos maiores, se não o o maior do mundo. Da mesma forma, não há o menor risco, ela tem tudo para pagar em dia os seus compromissos.
A própria Petrobras e as reservas de óleo que detêm sua capacidade tecnológica única no mundo também e seu quadro técnico (afora a garantia soberana do próprio país sócio-controlador da empresa) são garantias mais do que suficientes do que afirmamos: a Petrobras sustentará seu plano de investimentos e pagará seus compromissos em dia.
Como alinhados acima, são fatos, portanto, que transformam a decisão da Moody’s num ataque especulativo à Petrobras e à soberania do Brasil.