sábado, 9 de junho de 2012

Um modo incoerente de fazer jornalismo

Por Tamires Coêlho em Observatório da Imprensa
 
Os profissionais de Comunicação, sobretudo os jornalistas, estão sendo cada vez mais vistos com olhos de desconfiança por boa parcela da população. Diante de notícias e comentários estereotipados e (muitas vezes) de mau gosto, o jornalismo já não é mais visto como um lugar de construção e desconstrução de fatos, mas como legitimador de um senso comum superficial. É possível encontrar distorções (sutis e escrachadas) nos mais variados meios de comunicação, nas abordagens de incontáveis temas.
Como seria impossível relatar todas as falhas éticas (sejam de ethos jornalístico ou relativas a um código de moralidade da profissão) que – infelizmente – encontramos publicadas cotidianamente em diversas interfaces, este artigo tem seu foco voltado à cobertura da Marcha das Vadias de Porto Alegre em 2012 pela Rede Brasil Sul de Televisão (RBS – distribuidora da Rede Globo para os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina).
A Marcha das Vadias é um manifesto que ocorre desde 2011 em várias partes do mundo, inclusive em várias cidades do Brasil. A onda de protestos começou quando foi constatado um número bastante alto de estupros na Universidade de Toronto (Canadá) e um policial tentou “conscientizar” as mulheres dizendo-lhes que “não se vestissem como vadias” se não quisessem ser estupradas – como se (absurdamente) as mulheres abusadas pudessem ser culpadas por seu estupro. A manifestação em Porto Alegre aconteceu no dia 27 de maio (domingo) e atraiu pelo menos 1.500 pessoas à Praça da Redenção (Praça Farroupilha).
Roupas curtas
O evento ativista reuniu mulheres, homens, homossexuais, idosos e crianças que reivindicaram igualdade de direitos, clamaram pelo fim do machismo, do abuso sexual e da violência contra as mulheres – independentemente da roupa que elas estejam usando. O movimento pacífico não era partidarizado, embora houvessem algumas pessoas com símbolos e bandeiras de partidos políticos, e não pretendia visibilizar nenhuma organização ou instituição em específico. Apesar de frases e gritos de crítica à Igreja católica (que é totalmente contra o aborto) e ao sistema capitalista (iniciativas mais isoladas), foi uma marcha voltada à sociedade em seus mais diversos âmbitos.
Desde o início, durante a confecção de cartazes, muitos ativistas já comentavam os possíveis desdobramentos midiáticos que a marcha – organizada com a ajuda imprescindível de redes sociais virtuais – poderia causar e especulavam quais seriam os discursos e críticas ao protesto por parte da RBS, que concentra boa parte dos meios de comunicação do estado e da região Sul do país. Mas a empresa surpreendeu. E não foi de maneira positiva.
Distorcer entrevistas e minimizar a participação popular da marcha foi apenas o começo. Afirmar que um movimento que parou uma importante via da capital com mais de mil manifestantes tinha “dezenas de pessoas” no jornal impresso Zero Hora foi uma piadinha bem rápida, perto da stand up comedy que se desenrolaria na segunda-feira subsequente (28 de maio). Logo no Bom Dia Rio Grande, telejornal matinal da emissora no estado, gritos e frases de efeito contra a violência sexual e pela igualdade de gênero foram simplesmente igualados às escolhas de vestuário das mulheres – com direito a comparações com personagens caricaturais de novelas. Mensagens como “Meu corpo, minhas regras”, “Estupro não tem justificativa”, “Pelo fim da violência contra a mulher”, “Menos violência + orgasmo”, “Se ser livre é ser vadia, somos todas vadias”, “Estupro = Machismo”, “Eu não vim da tua costela, tu que vieste do meu útero”, “Basta! Não somos estupráveis”, “Mulher bonita é a que luta”, foram simplesmente ignoradas em parte da matéria, que mostrou a Marcha das Vadias como um protesto para que as mulheres usem roupas curtas ou chamativas. E só.
Participação “oportuna”
Parece óbvio que se a marcha tivesse um motivo eminentemente estético, de aparência, relativo à moda, não haveria o por quê de marchar e de mobilizar tantas pessoas em torno de uma causa. Mas o discurso da RBS deixou claro que o grupo ativista lutava pelo direito de usar roupas consideradas “vulgares” quando as mulheres bem entendessem. Visão reducionista que transfere o valor do poder político das mulheres a uma discussão sobre moda, consumo e corpo físico.
Apesar de a matéria televisiva ter mencionado que a organização do protesto defendia que “[...] a mulher deve ser respeitada, independente (sic) da forma de se vestir”, imediatamente depois a repórter Dayanne Rodrigues diz que as mulheres estavam lutando (pasmem!) para que as roupas justas não fossem consideradas vulgares. O foco da matéria foi nas roupas das mulheres, e não no manifesto pacífico contra o machismo e a violência sexual. E como já não fosse suficientemente incoerente, exibe um trecho de entrevista (que contradiz a fala da própria repórter) com uma das organizadoras da marcha explicando que, não importa a roupa que a mulher use, nada confere a um homem o direito de abusar sexualmente dela.
Até aí, talvez algum leitor pense que esta análise é totalmente feminista, radical e que não considera eventuais deslizes que ocorrem naturalmente na profissão de jornalista, na correria das redações etc. Mas a reportagem é fechada com “chave de ouro” com a participação bastante “oportuna” de uma consultora de moda. Sim, porque uma consultora de moda obviamente iria revelar dados importantes correlacionados a uma marcha contra a violência sexual (quanta coerência!). Deturpando o objetivo principal da Marcha das Vadias, a matéria passa a discutir o que uma mulher pode vestir (ou não) e quando vestir, ratificando assim os padrões impostos às mulheres quanto ao estereótipo e ao comportamento – aspectos ironicamente questionados na marcha.
“Voz do povo”
Quando a repórter diz que “vale o bom senso” em relação às roupas a serem usadas por mulheres, ela deve ter esquecido (ironicamente) sobre como esse é também um elemento primordial na produção de conteúdo jornalístico. O direito de sair de shortinho ou de minissaia defendido na marcha não é um apelo comercial para que se compre mais dessas peças de roupas, mas um pedido de respeito para que, muito vestida ou pouco vestida, nada dê o direito a qualquer homem de considerá-la fácil, vulgar ou “estuprável”. A impressão que ficou é a de que, se não houvesse imagens, facilmente acreditaríamos que a repórter nem teria se dado ao trabalho de ir à manifestação para ouvir a versão dos ativistas.
E as incoerências supracitadas no impresso e na TV do grupo RBS foram apenas uma preparação ao que viria a ser dito em um programa da Rádio Atlântida (pertencente ao mesmo conglomerado comunicacional) horas mais tarde. O locutor Alexandre Fetter, em total desrespeito às manifestantes, disse: “Vão lavar uma louça. Como vou respeitar quem se auto-intitula de vadia?” O comentário gerou revolta por parte de muita gente e gerou uma série de réplicas ao “comunicador” (se é que é possível utilizar essa denominação), a ponto de ele escrever debochadamente em sua conta de Twitter as seguintes mensagens: “Sofrendo ataque de vadias e variações sobre o gênero, a tarde inteira” e “Daí quem se auto intitula vadia fica braba por que a chamo pelo título. Não consigo entender, daí, gurias. Relaxem e, eventualmente, gozem.”
Surge, então, o questionamento: seria essa a “voz do povo” do Rio Grande do Sul? De uma pessoa que utiliza um programa de rádio para debochar de causas ativistas e claramente corrobora com agressões simbólicas machistas? De alguém que sequer foi capaz de pesquisar no Google sobre os motivos do nome da Marcha das Vadias? O já referido “bom senso” citado pela repórter do Bom Dia Rio Grande espera que não.
“Aprodução e transmissão do saber”
Percebe-se que, se a sociedade e a cultura do brasileiro estão tendendo (mesmo que lentamente) à não aceitação de estereótipos e ao não conformismo, o profissional de comunicação das grandes empresas (talvez imposto por seus editores, ou não) deturpa critérios de noticiabilidade, modifica narrativas e sentidos, desconsidera denúncias importantes. E um jornalismo que não acompanha esse processo está fadado a ser tão desacreditado quanto a política eleitoral no país.
Levando em conta a noção de ethos, que seria “a imagem de si que o locutor constrói em seu discurso para exercer uma influência sobre seu alocutário” (CHARAUDEAU & MAINGUENEAU, 2004, p.220), qual é a imagem de si que os comunicadores estão construindo? Será que os jornalistas e o locutor do grupo RBS tentam ser objetivos à medida do possível, ou seria esse um jornalismo híbrido deformado no qual “nem temos um jornalismo opinativo consistente, pluralista; nem temos um jornalismo noticioso habilitado a exercer a grande reportagem de aprofundamento e investigação dos problemas sociais” (MEDINA, 1988, p. 140)?
Se, como diz Pena (2005), “a notícia nunca esteve tão carregada de opinião”, por que travestir de informativo o que não é? Se o mesmo teórico diz que o jornalismo é uma “prática discursiva especializada de produção e transmissão de saber”, não seria esse saber orientado e direcionado previamente? Se “a percepção individual, para ser ampliada, necessita da assistência de intérpretes munidos com dados não amplamente disponíveis à experiência individual” (BAUMAN, 2004), como proceder quando os intérpretes não estão devidamente informados e bradam o que primeiro lhes vier à cabeça?
Pretensa objetividade
Este artigo não tem a intenção de incitar o boicote à RBS, ou de propor alternativas de comunicação aos produtos do grupo. Mas questionamos como dar credibilidade a uma empresa de comunicação que age da forma supracitada e que, muito irônica e incoerentemente, recém publicou um “guia de ética” que prega que “o primeiro dever do jornalismo é a busca da verdade”, que considera como seu objetivo “assegurar ao público seu direito à informação independente, à opinião plural, às respostas e às correções sempre que estas se fizerem necessárias” e que se diz “uma empresa ética e que se orgulha do que faz”. É difícil encontrar na prática um “bom senso” da RBS que seja tão lindo e transparente como é o guia utópico.
A Marcha das Vadias de Porto Alegre conseguiu o que queria: gerar debates, discussões, dissabores, polêmica e visibilidade ao movimento pelo fim da violência sexual. Junto com um novo pensamento em termos de sociedade e de educação (voltadas à diversidade), o que deve ser repensado no fazer jornalístico e na sua pretensa objetividade?
Referências bibliográficas
BAUMAN, Zigmunt. Entrevista com Zygmunt Bauman. Entrevista concedida a Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke. São Paulo: Tempo Social, 2004. Disponível aqui, acesso em 28 de maio de 2012.
CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENAU, Dominique.Dicionário de análise do discurso. São Paulo: Contexto, 2004.
GRUPO RBS. Guia de Ética e autorregulamentação jornalística. PortoAlegre: RBS Publicações, 2011. Disponível aqui, acesso em 28 de maio de 2012.
GRUPO RBS. Marcha das vadias pede mais respeito às mulheres, em Porto Alegre. 28 de maio de 2012. Disponível aqui, acesso em 28 de maio de 2012.
MEDINA, Cremilda. Notícia um produto à venda: Jornalismo na sociedade urbana e industrial. 2ªed. São Paulo: Summus, 1988.
PENA, Felipe.Teoria do jornalismo. São Paulo: Contexto, 2005.

UNE X Globo

Por um sentimento de dever, ficarei ao lado da UNE na disputa contra a Globo. 
Agora, tem uma coisa, embora a UNE não me deva explicação nenhuma sobre nada, ficaria muito feliz de saber como podem ser tão críticos à Globo e, ao mesmo tempo, colocarem a Memória do Movimento Estudantil ao encargo da Fundação Roberto Marinho, com copyright e tudo?
Haja paciência para tamanha incoerência!
Clique AQUI na imagem e vá até a página original

Mino Carta: A Marcha dos Marcianos


Recebi de um leitor a imagem que ilustra este editorial. Primeira página de O Globo pós-golpe de 1964, Presidência interina de Ranieri Mazzilli, enquanto os donos do poder e seus gendarmes decidem o que virá. Treze dias depois o então presidente da Câmara volta a seu assento de congressista e a ditadura é oficialmente instalada. Comentário do amável leitor: eis aí os defensores midiáticos da democracia sem povo.
De fato, acabava de ser desferido um golpe de Estado, mas seus escribas, arautos e trompetistas declamam e sinfonizam a história oposta. O marciano que subitamente descesse à Terra, diante da página de O Globo, e de todas as dos jornalões, acreditaria que o Brasil vivera anos a fio uma ditadura e agora assistia à sua derrubada. Em editorial, nosso colega Roberto Marinho celebrava: “Ressurge a Democracia!”
….
É o jornalismo nativo em ação, entre a ficção e o sonho, a hipocrisia e a prepotência, sempre na sua função de chapa-branca da casa-grande. Vaticinava a invasão bárbara da marcha da subversão, passou, entretanto, a Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade. A Marcha dos Marcianos, me arrisco a dizer. Não é que faltassem entre os marchadores os hipócritas e os prepotentes. A maioria, contudo, era marciana. Só mesmo um alienígena para acreditar em certos, retumbantes contos da carochinha.
Agora, observem. Quarenta e oito anos depois, a Marcha dos Marcianos ainda desfila, sem deixar de arrolar hipócritas e prepotentes. Ocorre que muitas mudanças aconteceram neste tempo longo. Inúteis ferocidades e desmandos a ditadura praticou, para esvair-se em suas próprias contradições enquanto fermentava a fortuna de empreiteiros, banqueiros e barões midiáticos. A pretensa redemocratização teve seus lances de ópera-bufa. Collor foi louvado por abrir os portos, mas cobrou pedágios nunca vistos. O governo tucano quebrou o País três vezes.
Fernando Henrique Cardoso contou de fio a pavio com os aplausos febris da mídia, seduzida pelo príncipe dos sociólogos disposto, oh, surpresa, a encarnar as preferências da reação, impávido ao conduzir a privataria tucana e a comprar congressistas para garantir a reeleição. A vitória de Lula é o divisor de águas, não somente porque um homem dito do povo chegou ao trono, mas também em virtude de um governo que elevou o teor de vida dos setores menos favorecidos da população e ganhou prestígio internacional nunca dantes navegado. A presidenta Dilma garante a continuidade. Para entender melhor, leiam nesta edição a coluna Vox Populi de Marcos Coimbra.
Sim, os bairros ricos, alguns dubaienses, ainda pululam de marcianos, assinantes fiéis e parvos dos jornalões, sem falar das pilhas de Veja que abarrotam no fim de semana os saguões dos seus prédios. Não enxergo, porém, a maioria dos brasileiros debruçados sobre estes textos sagrados e consagrados pela chamada classe A e parte da B. É possível que os da maioria ainda não tenham atingido o grau adequado de consciência da cidadania, de resto incomum em geral, mas estão maciçamente com Dilma como estiveram com Lula. E, quem sabe, pouco se preocupem com os destinos do processo do mensalão.
Leio e ouço até agora que a questão incomoda sobremaneira tanto Lula quanto Dilma, e que a CPI do Cachoeira foi excogitada para desviar as atenções da Nação. CartaCapital entende que é do interesse geral, inclusive do PT, que o julgamento se faça o mais rapidamente possível e que o assunto seja finalmente encerrado por sentença justa.
Insistimos na convicção de que o mensalão, conforme a denúncia original de Roberto Jefferson, como mesada oferecida a um certo número de congressistas, não será provado. Outros crimes, acreditamos, terão prova. Crimes igualmente gravíssimos, uso de caixa 2, lavagem de dinheiro, aquele que o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos recebe do contraventor Cachoeira para defendê-lo. CartaCapital arrisca-se a prever condenações óbvias, e nem tanto, e espera que o conspícuo envolvimento do banqueiro Daniel Dantas venha à tona neste enredo. Difícil imaginar como a mídia se portará ao cabo. Vale acentuar apenas o silêncio que manteve sem pestanejar diante dos “mensalões” tucanos. De todo modo, limpar a mancha convém ao País.

Tango, em "Frida"



   A Música chama-se "Alcoba Azul" e a voz é de Lila Downs, cantora mexicana.

Malagueña Salerosa: Trio Los Panchos e Chingón

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Ilusão: Julieta Venegas e Marisa Monte

Nem às paredes confesso - Amália Rodrigues

“Caso Araguaia pode ter audiência ainda este ano”, diz brasileiro eleito para CIDH

Roberto Caldas | Foto: Divulgação
Rachel Duarte, em Sul21
Uma audiência sobre a sentença dada ao Brasil pela Organização dos Estados Americanos (OEA) no caso da Guerrilha do Araguaia pode ser realizada ainda este ano. Com a criação da Comissão da Verdade e da Lei de Acesso à Informação, o país começa a liquidar sua dívida de justiça e memória perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Ao menos esta é a avaliação feita pelo advogado brasileiro eleito juiz da CIDH nesta semana, Roberto Caldas.

A eleição foi no último dia 5, em Cochabamba, na Bolívia. Caldas é o segundo jurista nascido no Brasil a ocupar o cargo no organismo, que já foi também presidido por um brasileiro — o advogado Antonio Augusto Cançado Trindade, que hoje é juiz na Corte Internacional de Justiça. O mandato na CIDH é de seis anos, passíveis de renovação por mais seis. Roberto Caldas foi eleito com 19 votos, vencendo a preferência dos 24 países que integram a OEA. “Foi bastante disputado. Duas juízas que concorriam para renovação de mandatos não foram eleitas, assim como México e Colombia, que ficaram com 18 e 15 votos, respecativamente”, diz Caldas.
Segundo o advogado brasileiro, só tem direito a voto os países que ratificaram a Convenção Internacional de Direitos Humanos, o que exclui Estados Unidos e Canadá, que não o fizeram até hoje. “Cada país votava em até três candidatos. O Brasil obteve maior votação”, comemora. Caldas acredita que sua eleição na Corte será importante para a imagem do Brasil em âmbito internacional. “Os Direitos Humanos estão na pauta dos debates e políticas públicas mundiais. É bom para o Brasil se reinserir na CIDH neste momento. Todas as decisões da Corte, mesmo que as que não envolvem diretamente o estado brasileiro tem caráter vinculante”, disse. Os 24 países que ratificaram a Convenção de Direitos Humanos são obrigados a seguir as determinações da CIDH.
Caldas é bacharel em direito pela Universidade de Brasília. Atua como advogado nas áreas de direitos humanos, constitucional, trabalhista, administrativo, ambiental, do consumidor, eleitoral e internacional. Ele também é membro da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, da Comissão Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae).
 Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“Eleição consolida respeito brasileiro aos Direitos Humanos”, diz Maria do Rosário

Em nota, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse que recebeu com grande satisfação a notícia da eleição de Caldas. Segundo ela, a confirmação do candidato brasileiro como jurista da CIDH ocorreu durante um importante momento da história do Brasil, no qual se busca a consolidação da democracia e do respeito aos direitos humanos.
“A atuação do dr. Roberto Caldas no campo dos direitos sociais, bem como sua vasta experiência em assuntos relacionados aos direitos civis e políticos, reforçará a perspectiva universal e indivisível que deve balizar os trabalhos da Corte Interamericana na interpretação e aplicação do direito internacional dos direitos humanos”, diz o texto assinado pela ministra.
Antes da eleição, Roberto Caldas já integrava a CIDH, como juiz indicado pelo governo brasileiro para julgar o caso Araguaia. Segundo ele, “o Brasil está dando passos importantes” para o cumprimento da sentença. Segundo ele, este ano deve acontecer uma audiência que irá colocar diante da Corte os familiares das vítimas para avaliação do compromisso do governo brasileiro na reparação. “A Corte acompanha e cobra o país. Enquanto ele não cumpre tudo o caso não é arquivado”, salienta.

Quantas são e onde estão as moradias adequadas no Brasil?

Uma das dificuldades de se medir exatamente quais são as necessidades habitacionais do país é a ausência de dados oficiais, universais e produzidos periodicamente sobre a condição urbana dos locais onde as moradias estão inseridas.  O IBGE divulgou recentemente uma novidade do censo de 2010 que são os dados sobre a presença, no entorno dos domicílios, dos chamados “melhoramentos urbanos”.
Pela primeira vez, o órgão buscou informações sobre as características das ruas onde estão os domicílios urbanos. Basicamente, o IBGE procurou saber se as ruas têm nome, se há iluminação pública, arborização, pavimentação, calçadas, guias, rampas de acesso a cadeirantes, bueiros ou bocas de lobo, e também se existe esgoto a céu aberto e lixo acumulado nas ruas.
Analisando os resultados e cruzando estas informações com a renda dos moradores, já era de se esperar que, quanto maior a renda, maior a presença dessas melhorias no entorno. Enquanto na faixa de renda per capita de até ¼ do salário mínimo, menos da metade das ruas têm calçadas e apenas 20% possuem bueiros e bocas de lobo, na faixa de renda superior a 2 salários mínimos per capita  esses mesmos itens estão presentes em 85% das ruas onde estes domicílios estão localizados.
As desigualdades regionais também aparecem claramente nos novos dados divulgados pelo IBGE. O Sudeste e o Centro-Oeste são as regiões com melhores condições no entorno dos domicílios e a região Norte é a que apresenta as condições mais precárias. Na Amazônia, por exemplo, 32% dos domicílios apresentam esgoto a céu aberto, enquanto que no Centro Oeste este índice é de 2,9% e, no Sudeste, de 4,2%.
Outra importante novidade é que o IBGE, também pela primeira vez, estabeleceu critérios de adequação dos domicílios baseados nas condições de saneamento ambiental — se os domicílios estão ou não ligados à rede de água, se possuem ou não soluções de esgoto e coleta de lixo.
Desde 1991, venho participando de pesquisas, com distintas instituições e financiadores, que procuram justamente dimensionar a condição dos domicílios para além das condições físicas da própria casa. Nestas pesquisas, procuramos saber quantos domicílios do país estão ligados simultaneamente à rede de água e de coleta de esgoto, e possuem coleta de lixo, eletricidade, têm banheiro dentro da casa e não mais do que duas pessoas por cômodo. A pergunta fundamental que nos colocamos, usando a base de dados do censo, é: que percentual de domicílios, por município, apresenta todas estas condições simultaneamente?
Nossas pesquisas demonstraram que, em 1991, apenas 23% do total de domicílios no Brasil apresentavam todas as condições de adequação que estabelecemos. Consistentemente, este índice vem aumentando 10 pontos percentuais por década: em 2000, foi de 33% e agora, em 2010, chegou a 43%. Isso significa que menos da metade dos domicílios do país têm uma condição adequada de infraestrutura. E não estamos falando de arborização, pavimentação, calçadas, bueiros, nem, muito menos, de proximidade de áreas verdes, escolas e equipamentos de saúde e culturais.
Além disso, assim como nos dados do IBGE sobre o entorno dos domicílios, estas pesquisas mostram também que a desigualdade regional com relação às condições dos domicílios ainda é muito grande. Nos mapas abaixo, vemos que, em 2000, as cidades que estavam na melhor situação — entre 60% e 87% de seus domicílios (representados pela cor mais escura) com infraestrutura adequada — estão fortemente concentradas na região Sudeste, com avanço em direção ao Centro Oeste.  O mesmo se verifica no mapa de 2010: a faixa mais escura (agora correspondendo a 60% a 90% dos domicílios com infraestrutura adequada), que corresponde a cidades onde os domicílios estão em melhores condições, continua concentrada no Sudeste. Os mapas também mostram claramente o sério problema de inadequação dos domicílios localizados em municípios das regiões Norte e do interior do Nordeste.
De forma geral, percebemos que, por um lado, há uma região chegando perto da universalidade, com base nos critérios de adequação adotados pela pesquisa, mas outras estão ainda muito longe de alcançar bons índices. Outra questão importante é que, a análise do mapa nesta escala pode enganar, pois mesmo na região Sudeste há precariedade, muito relacionada à renda. Além disso, olhar todos esses dados não esgota a discussão sobre as condições dos domicílios, que não podem se resumir apenas às condições de infraestrutura, devendo incluir também questões como o acesso a transporte e equipamentos públicos, que a base de dados do censo hoje não nos permite aferir. Ainda faltam elementos, portanto, para que possamos afirmar com certeza quantas e onde estão as moradias adequadas em nosso país.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

A eleição de Porto Alegre e o PP

Coligação partidária não tem mais nada a ver com identidade programática. Baseia-se, fundamentalmente, em um cálculo político, pragmático e de conveniência. Isso vale para todos os partidos eleitoralmente competitivos. 
A eleição de Lula, em 2002, consagrou, inclusive no PT, onde sempre houve resistência a coligações, o princípio de coligar com o máximo possível de partidos para vencer e reunir o máximo possível de partidos para governar. Sendo assim, ninguém me convence com argumentos pró ou contra coligações baseado em programa. O que tem fundamentado as coligações no Brasil são os interesses políticos concretos daquela disputa e suas consequências a curto e médio prazo. Na luta pelas coligações, cada um oferece o que pode: quem está no governo, pode oferecer maior participação no presente, quem não está, pode oferecer maior participação no futuro, além de uma vaga de vice, por exemplo.
Isso significa que todas as coligações são igualmente válidas e todos os partidos representam exatamente a mesma coisa, certo? Errado, ao menos na minha singela opinião. Aí entram as consequências a curto e médio prazo que precisam ser consideradas.
Por que ninguém estranha que Fortunati (PDT) queira o apoio do PP, mas estranham que a Manuela (PC do B) queira? Pelo simples motivo que, atualmente, o PP já apoia Fortunati, que é o herdeiro da coallização conservadora que derrotou o PT após dezesseis anos. O "leito natural" do PP, politicamente falando, é Fortunati. Já Manuela, supostamente representa algo novo e é estranho que o "novo" busque apoio na "experiência administrativa" de quem só governou Porto Alegre nos tempos da ditadura militar e está umbilicalmente ligado ao modelo de gestão que a candidata critica. Ou seja, não é ciúme da coligação, é um estranhamento legítimo.
Vamos além, pensando nas consequências de curto e médio prazo. Não é segredo que Ana Amélia (que também posa de "novidade" na política) trabalha pela vitória de Manuela. E o objetivo de Ana Amélia é claro: obter apoio da prefeita da capital, já que seu partido tem representação reduzida e imagem desgastada no principal colégio eleitoral do estado. Afora isso, descola do atual governador, de quem ela é a principal adversária em 2014, um apoio importante para a reeleição. Já o PC do B, ávido pela Prefeitura de Porto Alegre e inconformado com o não-apoio do PT, está disposto a tudo por seu objetivo imediato. Para mim, é tudo muito simples, não precisam inventar argumentos baseados em ideologia ou em programa. Quero saber a que objetivos as candidaturas servem.
Se alguém não sabe, sou petista e votarei no candidato do partido por vários motivos. Entre eles, penso que: Votar na Manuela é ajudar a Ana Amélia. Ela que vá buscar ajuda no lado de lá da cerca dos latifundiários que a apoiam.

PS:Acho que o Fortunati vai levar o apoio do PP, vamos aguardar.

Serra e Tiririca? Agora vai

A corrupção correu solta durante a ditadura

 Postado por Juremir em 7 de junho de 2012 - História
 
A velha corrupção

Muita gente, repetindo os lacerdinhas da Veja, manda recados com o tradicional “não havia corrupção durante o regime militar” e “nenhum general presidente enriqueceu no poder”. Na primeira parte, confundem falta de divulgação com inexistência. Na segunda, consideram que sustentar um regime de tortura e morte é menos grave. A corrupção durante o regime militar foi uma constante. O historiador Carlos Fico, em “Como eles agiam”, mostra que a ação contra a suposta “crise moral” foi o mote dos militares. Sempre que a expressão “dissolução de costumes” se espalha, tem autoritarismo no ar. Os ditadores queriam acabar com a corrupção, que viam como um traço cultural muito “característico do brasileiro”.
O ministro Armando Falcão, pilar da ditadura, chegou a dizer: “O problema mais grave no Brasil não é a subversão. É a corrupção, muito mais difícil de caracterizar, punir e erradicar”. Com o AI-5, de 1968, a ditadura dotou-se de mecanismo para confiscar bens de corruptos. A Comissão Geral de Investigações, criada em 17 de dezembro de 1968, propunha-se a “promover investigações sumárias para o confisco de bens de todos quanto tenham enriquecido ilicitamente, no exercício do cargo ou função pública”. A roubalheira correu solta durante todo o regime militar. Carlos Fico conta que, entre 1968 e 1973, auge da ditadura, a CGI analisou 1.153 processos de corrupção. Aprovou 41 confiscos de um total de 58 pedidos. Entre os investigados ou condenados, “mais de 41% dos atingidos eram políticos (prefeitos e parlamentares) e aproximadamente 36% eram funcionários públicos. Num único ato, em 1973, chegaram ao Sistema CGI cerca de 400 representações ou denúncias”. Seria o caso de dizer: nunca se roubou tanto no país quanto em 1973.
Carlos Fico pergunta: “Por que, então, fracassou a iniciativa de ‘combate à corrupção’ do regime militar pós- AI-5?”. A resposta vai enfurecer os adeptos dos lacerdinhas: “Em primeiro lugar, a impossibilidade de manter os militares num compartimento estanque, imunes à corrupção, notadamente quando já ocupavam tantos cargos importantes da estrutura administrativa federal. Não terão sido pouco os casos de processos interrompidos por causa da identificação de envolvimento de afiliados ao regime”. Fico sabe do que fala. Foi um dos primeiros a ter acesso a arquivos com material sigiloso do regime. Examinou todos os processos de confisco no Arquivo Nacional. Cláudio Guerra, no recente “Memórias de uma guerra suja”, afirma que o regime financiou a repressão, na sua fase final, com dinheiro do jogo do bicho. Cita empresários, como o dono da Itapemirim, que receberam vantagens oficiais pelos bons serviços à repressão.
Uma determinação do Ministério da Justiça orientava a mídia: “É vedada a descrição minuciosa  do modo de cometimento de delitos”. Não foi possível divulgar a descoberta de uma carga de drogas no quartel da Barra Mansa. O ministro do Trabalho, o gaúcho Arnaldo Prieto, em 1974, censurou as notícias sobre sua desastrada política salarial. Foram censuradas também as “gravuras eróticas de Picasso”. O consumo de drogas era considerado parte do “variado arsenal do movimento comunista internacional”. Que tempos! Um paraíso artificial. Uau!

Pesquisas reescrevem história da escravidão no Brasil

Contagem feita em 1873 mostra que apenas 27 dos 25 mil proprietários em 1873 tinham mais de 100 escravos. Quase a metade tinha apenas um.
Francisco Brasileiro - Da Secretaria de Comunicação da UnB

A imagem retratada pelos livros de história e obras artísticas brasileiras de centenas de escravos negros trabalhando nas lavouras de açúcar e café não traduz com fidelidade a realidade da escravidão no Brasil. Apenas 27 dos 25 mil proprietários de negros escravizados registrados oficialmente nos estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Bahia e Piauí, no ano de 1873, tinham mais de 100 escravos. Mais da metade deles tinha até 4 escravos e pelo menos 10 mil eram proprietários de apenas um.
A escravidão não foi exclusividade dos grandes latifundiários. Mais que isso. A grande maioria dos escravos identificados nos registros da época não estava nas grandes lavouras e sim nas casas de famílias comuns de brancos e também em pequenas propriedades rurais. Em Pernambuco, por exemplo, mais da metade dos senhores identificados em 3.993 inventários, durante quase um século de escravidão, tinha menos de 20 escravos.
Os números constam de duas pesquisas apresentadas na Universidade de Brasília (UnB) no último dia 10 de junho, em seminário organizado pelo Núcleo de Estudos Comparados do Escravismo Brasileiro da universidade. Uma delas, foi desenvolvida pela UnB e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A outra, pela Universidade de São Paulo (USP). Os estudos fazem parte de um projeto ainda maior, que durou cinco anos e envolve outras duas universidades, de Sergipe (UFS) e do Rio Grande do Sul (UFRGS).
VENTRE LIVRE - Para chegar à conclusão de que apenas 27 senhores tinham mais de 100 escravos, demonstrando que se tratavam de grandes latifundiários, o professor Renato Marcondes, da USP, analisou as matrículas e as classificações de escravos feitas pelo Império em cinco estados diferentes, abarcando 14 províncias. Para os 25 mil senhores haviam 100 mil negros. O ano escolhido para a coleta dos dados foi o de 1873, porque foi quando se deram os registros por exigência da Lei do Ventre Livre.
“Os dados contrariam a imagem que tínhamos de que a posse de escravos predominava no grande latifúndio”, afirmou o professor Renato Marcondes, da USP, pesquisador responsável pelo estudo. “Evidenciam uma outra realidade da escravidão, diferente do que se via nos modelos consagrados. A escravidão era muito mais integrada à realidade brasileira”, completou.
INVENTÁRIOS - A pesquisa conduzida pelos economistas Flávio Versiani, da UnB, e José Vergolino, da UFPE, confirma que a maioria dos escravos trazidos ao Brasil não estavam nos grandes latifúndios, mas em pequenas propriedades. Os dois professores coordenaram o levantamento dos 3.933 inventários, registros pessoais de bens originários de cartórios de todo o estado de Pernambuco. A pesquisa abrange o período de 1800 a 1888. “Os dados não consideram, entretanto, pessoas que não tinham bens suficientes para fazer um inventário”, pondera Flávio.
Os dois estudos mostram, ainda, que os senhores de poucos escravos exerciam praticamente todas as atividades profissionais, entre eles lavradores, comerciantes e até artesãos.
A apresentação dos estudos na UnB teve como objetivo colher impressões de outros especialistas no tema para aprimoramento. Alguns pesquisadores apontaram a necessidade de ajustes nos dados. Os resultados das pesquisas serão reunidas em uma publicação que será lançada em dois volumes. O projeto é financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF).

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Para onde vão os moradores da Vila Dique? Veja o vídeo


  Por Andrea Dip, Agência Pùblica
As remoções na Vila Dique em Porto Alegre começaram em 2009 mas até hoje há pessoas morando lá em condições precárias. Os que foram transferidos encontraram infraestrutura inacabada

O vídeo feito pelo Comitê Popular da Copa de Porto Alegre mostra a situação das famílias removidas da antiga Vila Dique para a obra de duplicação da pista do aeroporto Salgado Filho, prevista para a Copa de 2014. Expulsos de suas casas para dar lugar às obras, os moradores de Vila Dique mostram que o local escolhido pelo Departamento Municipal de Habitação da Prefeitura (Demhab) para reassentá-los é, na verdade, um amontoado de obras inacabadas.
Lucimar F. Siqueira, geógrafa do Observatório das Metrópoles Núcleo Porto Alegre que acompanha o processo de desapropriação desde o início, explica que, apesar de o mini documentário ser de julho de 2011, a situação na Dique continua precária. E acrescenta que muitas famílias ainda não foram transferidas: “Foram reassentadas menos de 50% das famílias. As remanescentes estão em situação ainda mais precária pois os serviços públicos como coleta de lixo e energia elétrica foram minimizados e muitas vezes são até cortados por um período. Frequentemente os moradores fazem manifestações e fecham ruas para pedir a volta dos serviços”.
O Loteamento Bernardino da Silveira, criado para o reassentamento da Vila Dique, deveria estar concluído em meados de 2010 e oferecer 1.476 unidades habitacionais; 103 unidades comerciais e um centro comunitário, obras orçadas em R$ 56,5 milhões, segundo Lucimar: “R$ 33,5 milhões da União, 59,28%, e R$ 23,02 milhões da prefeitura, ou 40,72%”. Em julho de 2011, apenas 440 famílias haviam se transferido para o loteamento.
Lucimar conta que, descarregadas as mudanças na porta da casa, técnicos do Demhab solicitavam a assinatura do contrato em troca da entrega das chaves. Esta atitude fez com que os moradores entrassem para as casas sem saber as condições descritas no contrato, inclusive o valor das mensalidades que deveriam pagar. “Inúmeros problemas foram identificados no caso da Vila Dique. Desde o projeto básico, às condições em que aconteceram as mudanças, com problemas graves de saneamento – esgoto à céu aberto nos primeiros meses de 2011 -, moradores portadores de necessidades especiais acomodados em casas não apropriadas, paralisação da construtora responsável pelas unidades habitacionais, e da construtora que deveria executar a obra da escola e creche”.
A Pública tentou entrar em contato com a prefeitura de Porto Alegre mas não obteve resposta. O site da DEMHAB fala sobre o reassentamento de 1.476 famílias: “Dentro do projeto de remoção, o trabalho social está sendo desenvolvido pela mobilização e organização da comunidade, cursos de capacitação profissional e oficinas de educação ambiental”.


Quase metade dos brasileiros aprova provas obtidas por tortura

De: Jorge Werthein

O estudo indica que para a maioria dos entrevistados, a polícia deve interrogar sem violência. No entanto, para alguns crimes a população defende o uso de métodos como “bater”, “dar choques ou queimar com ponta de cigarro” e “deixar alguém sem água ou comida”. O uso de algum desses métodos contra suspeitos de estupro é aceito por 43,2% dos entrevistados. O porcentual de apoio aumenta entre os entrevistados mais jovens.

Pesquisa da USP foi elaborada com 4025 entrevistas domiciliares em onze capitais

SÃO PAULO - Quase metade dos brasileiros (47,5%) concorda que os tribunais aceitem provas obtidas mediante tortura policial, segundo pesquisa realizada em 2010 e divulgada nesta terça-feira pelo Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP). Os dados indicam que aumentou a aceitação à prática em relação a 1999, quando 28,8% diziam ser favoráveis a obtenção de provas por meio de violência. A Pesquisa sobre Atitudes, Normas Culturais e Valores em Relação à Violação de Direitos Humanos e Violência foi elaborada com 4025 entrevistas domiciliares em onze capitais brasileiras, incluindo Rio e São Paulo.
 — São números que particularmente me deixam muito inquieta. Nossa democracia tem quase 30 anos e essas práticas não deveriam ter defesa — diz a psicóloga Nancy Cardia, coordenadora da pesquisa.De modo geral, houve também uma melhora na avaliação do trabalho da polícia. Entre 1999 e 2010, a aprovação da Polícia Federal saltou de 42% para 60%. A Polícia Militar, a que tem pior avaliação entre as polícias, saltou de 21,2% para 38% na aceitação da população.O estudo ainda indica que 42% dos brasileiros acreditam que há momentos, 'em defesa da segurança nacional', em que é justificável o governo censurar a imprensa. O mesmo percentual acha que o país pode expulsar pessoas que tenham posições políticas que possam prejudicar o governo.
— É uma submissão a um autoritarismo que dá um tiro no próprio pé. São bandeiras que não são toleráveis em uma democracia.O trabalho do Núcleo de Estudos da Violência da USP também faz um recorte da violência na infância. Sete em cada dez brasileiros já sofreram algum tipo de agressão quando crianças. A violência foi regular (houve agressão quase todos os dias ou pelo menos uma vez por semana) para 20% dos entrevistados. Embora tenha ocorrido uma diminuição no percentual de brasileiros que relataram agressões – em 1999 eram 79,6% -, a pesquisa indica a formação de um círculo vicioso no uso de violência sobre os filhos.— Quem sofreu agressões diz que repetiria esse padrão com os filhos mesmo para coisas pequenas, como faltar aulas ou grafitar. Além disso, mesmo entre os que nunca apanharam, tem mais gente dizendo que iria bater nos filhos. Essa agressão dentro de casa se reflete em um padrão social de aceitação da violência — diz Nancy Cardia.Para ela, os dados são 'preocupantes' porque mostram que não houve uma conscientização da sociedade sobre os danos causados pela violência contra as crianças.— Isso evidencia a necessidade de discutir a Lei da Palmada, que tem sido tratada até com certa ironia, com as justificativas de que 'é só uma beliscãozinho', 'é só uma palmadinha'. Mas isso é banalizar a agressão porque nunca fica só no beliscão e na palmadinha.

terça-feira, 5 de junho de 2012

O primeiro mapa do cérebro humano

publicado em recortes por
 
O novo Atlas do Cérebro Humano mostra imagens jamais vistas do nosso mais complexo e mais importante órgão. O atlas é o resultado de quatro anos de pesquisa dos cientistas do Allen Institute for Brain Science de Seattle, EUA.
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© NewScientist (Brain Atlas Prozac).
É uma fantástica descoberta científica. Uma ferramenta interactiva que tornará possível um estudo mais aprofundado de certas doenças e a descoberta de novos tratamentos. Até agora não existia um mapa com tal rigor, tal detalhe do nosso cérebro. Utilizando imagens por ressonância magnética e por uma técnica chamada de “imagem de tensor de difusão”, a partir de dois cérebros humanos, os cientistas fatiaram pequenas partes destes cérebros de modo a conseguirem extrair ácido ribonucleico (RNA). Apartir daí foi, efectivamente, possível obter a leitura de 25 mil genes do genoma humano.
Os cientistas descobriram então 94% de similaridade bioquímica entre os dois cérebros e que pelo menos 82% de todos os genes humanos estão presentes no cérebro. Toda esta informação junta permitiu a criação de um mapa cerebral detalhado, com os cientistas a chegarem até mil lugares anatómicos específicos no cérebro. Citando Allan Jones, director executivo do Instituto: “Quando pensamos na complexidade das funções do cérebro humano e na variedade dos diferentes tipos de células encontradas dentro do cérebro, não é tão surpreendente ver quanto do genoma humano é usado para servir o cérebro".
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© NewScientist (Lateral View).
Curiosamente, foram usados apenas cérebros masculinos já que, segundo Allan Jones, os seus dadores morrem mais frequentemente de causas acidentais ou cardíacas, o que torna a doação para tais experiências mais frequente. No entanto, Jones prevê que o processo abranja igualmente o cérebro feminino, havendo a possibilidade de análise de um mínimo de dez cérebros.
Não é novidade que o cérebro é o órgão mais misterioso do corpo humano. Por ser o menos estudado e pela sua complexidade, existem ainda muitas questões pendentes. As fantásticas imagens captadas pelo Allen Institute poderão ser um passo importantíssimo no deslindar deste misterioso órgão, levantando o véu acerca de novas zonas cerebrais não exploradas ou ainda indevidamente estudadas. Fascinante.
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© NewScientist (Human Brain).

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Marine Le Pen chama Madonna de velha e ameaça processo



Marine Le Pen chama Madona de velha e ameaça processo
Marine Le Pen. Foto: Pascal Rossignol/REUTERS

De: 247

Em estreia da turnê "MDNA" em Tel Aviv, cantora mostrou a presidente da Frente Nacional com uma suástica tatuada na testa

05 de Junho de 2012 às 05:44
Opera Mundi - Bastaram dois segundos em que a imagem da líder da extrema-direita francesa Marine Le Pen apareceu com uma suástica no rosto, durante a estreia da turnê mundial "M.D.N.A" da cantora norte-americana Madonna, em Tel Aviv, Israel, para acender a ira da ex-candidata da Frente Nacional às eleições presidenciais.
Em entrevista ao tabloide Daily Mail nesta segunda-feira (04/05), a líder conservadora chamou Madonna de "cantora velha" e prometeu processá-la caso a performance seja repetida em shows da turnê em território francês. "Nós entendemos como cantoras velhas, que precisam de pessoas falando sobre elas, vão a tais extremos. Se ela fizer isso na França no mês que vem, eu estarei esperando", ameaçou Le Pen.
Madonna tem shows marcado para abril nos estádios de Paris e no Riviera, na cidade de Nice. Também em resposta à exibição da artista, membros da Frente Nacional prometeram se unir a Le Pen caso a cantora insista em mostrar a imagem na França. "Nós não somos um partido nazista e não queremos ser retratados como tal . Se você acusa a Frente Nacional de ser racista ou anti-semita, você está acusando 5% dos eleitores da França, que votaram em nós nas últimas eleições. Se Madonna repetir a performance na França, ela será certamente levada a julgamento", disse uma fonte ao Daily Mail, que não quis ser identificada.
Marine Le Pen se comprometeu a reformar a Frente Nacional depois que assumiu a liderança do partido no ano passado, quando seu pai Jean-Marie Le Pen deixou o posto. Jean-Marie Le Pen é um conhecido político condenado por racismo e antissemitismo na Justiça da França e que negava o acontecimento do holocausto, durante a Segunda Guerra Mundial.
A filha tem liderado a legenda com ideias menos radicais, mas frequentemente defende limitações à imigração de muçulmanos para diminuir a influência da cultura islâmica na França. Ela ganhou 18% dos votos no primeiro turno das últimas eleições presidenciais.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Amorim vai abrir arquivos militares para a Comissão da Verdade

Daniella Jinkings Repórter da Agência Brasil
Brasília – O ministro da Defesa, Celso Amorim, disse hoje (4) que o Ministério da Defesa vai repassar todas as informações que forem requisitadas à pasta pela Comissão Nacional da Verdade. Essa foi a primeira reunião entre Amorim e os integrantes da comissão, após convite do coordenador do grupo, ministro Gilson Dipp, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
“Foi uma boa ocasião para reiterar o compromisso do Ministério da Defesa em colaborar com a Comissão da Verdade. Vamos facilitar todas as informações que nos forem pedidas e que possam ajudar os trabalhos da comissão. Designei uma pessoa, inclusive, para ficar em ligação permanente”, destacou o ministro.
De acordo com Amorim, todos os arquivos serão abertos para análise da comissão, o que pode incluir ainda os arquivos dos centros de informações do Exército (CIE), da Marinha (Cenimar) e da Aeronáutica (Cisa). "Não falamos sobre isso. Falamos em termos gerais. Tudo estará aberto", disse.
Segundo o ministro Gilson Dipp, o Arquivo Nacional vai fazer um apanhado dos documentos que ainda não foram analisados pela comissão. “Se é que tem alguma coisa que não foi apresentada, certamente vamos pedir ao Ministério da Defesa que nos apresente esses documentos ou preste essas informações”.
Além do encontro com Amorim, seis integrantes da comissão, com exceção da psicanalista Maria Rita Kehl, também estiveram reunidos com o diretor do Arquivo Nacional, Jaime Antunes da Silva.
A Comissão Nacional da Verdade foi criada para apurar os casos de violações aos direitos humanos ocorridos entre os anos de 1946 e 1988. A comissão, de acordo com a lei que a criou, poderá analisar documentos apurados e depoimentos obtidos pela Comissão de Mortos e Desaparecidos e pela Comissão de Anistia, ambas em funcionamento desde o governo de Fernando Henrique Cardoso.
Além dos sete integrantes, a comissão será composta por 14 auxiliares - servidores de carreira de órgãos federais indicados para ocupar os chamados cargos de Direção de Assessoramento Superior (DAS). As nomeações de cinco deles já foram publicadas no Diário Oficial da União, assinadas por Beto Ferreira Martins Vasconcelos, secretário executivo da Casa Civil, órgão da Presidência da República a que compete fornecer o suporte técnico, administrativo e financeiro necessários aos trabalhos da comissão.
Além do ministro Gilson Dipp, também foram indicados para integrar o colegiado o ex-ministro da Justiça, José Carlos Dias; Rosa Maria Cardoso da Cunha (advogada); Cláudio Fonteles (ex-procurador-geral da República); Paulo Sérgio Pinheiro (professor e diplomata); Maria Rita Kehl (psicanalista) e José Cavalcante Filho.
 
Edição: Rivadavia Severo

VÍDEO: 5 mil cruzeiros por cabeça no Araguaia

De: Agência Pública
Veja o vídeo produzido a partir de depoimentos de ex-colaboradores do exército. Muitos continuam calados por sofrerem ameaças até hoje.

Em três dias de pesquisa nos 149 volumes do processo judicial que investiga o desaparecimento dos guerrilheiros do Araguaia, a Pública coletou relatos de dezenas de moradores que foram obrigados a prender, enterrar, matar e decapitar guerrilheiros – e sofrem até hoje as consequências do que viveram nesse tempo.