sábado, 4 de agosto de 2012

Os legados de Marilyn Monroe e Carmen Miranda

Da Folha 
RUY CASTRO

RIO DE JANEIRO - Dois mitos do século 20 morreram em Los Angeles num dia 5 de agosto: Carmen Miranda, em 1955, aos 46 anos, e Marilyn Monroe, em 1962, aos 36. Eram fenomenais, maiores que a vida e foram vítimas, ambas, de anos de abuso de substâncias legais, mas letais. Deixaram um imenso legado artístico e são cultuadas hoje por pessoas que nem eram nascidas quando elas partiram. A forma como se administra seus legados é que difere.
Marilyn, por exemplo. Nesses 50 anos, seu rosto nunca saiu da mídia, e sua imagem em "O Pecado Mora ao Lado", com o vestido branco esvoaçando e a calcinha à mostra, foi copiada, caricaturada e explorada de todo jeito, por fãs sinceros ou apenas espertos. Há pouco, materializou-se numa estátua de oito metros de altura, exposta numa praça de Chicago.
Os livros a seu respeito já chegam a mil -qualquer um que tenha passado 15 minutos perto dela sente-se apto a escrever suas "memórias de Marilyn". E a teoria segundo a qual
ela foi morta pelo FBI, a mando dos Kennedy, continua a render vários livros por ano. Tudo isso é visto com indiferença ou prazer pelos herdeiros de Lee Strasberg, fundador do Actor's Studio, a quem Marilyn deixou seu espólio.
Eles sabem que é esse material que mantém Marilyn viva e faz com que seus filmes nunca deixem de circular. Não importa o formato (VHS, laser, DVD, blu-ray, o que vier), eles sempre estarão à venda e atraindo propostas para Marilyn estrelar campanhas publicitárias, produtos de beleza, joias, até óculos. É daí que vem o dinheiro -e Marilyn ganha mais hoje do que em vida.
Já a eternidade de Carmen depende de seus amorosos fãs. Amanhã, um grupo deles, reforçado pelo Império Serrano, o Bola Preta e a Confraria do Garoto, irá ao seu túmulo no São João Batista pedir algo modesto, mas que lhe é devido há muito tempo: uma estátua no Rio.
Na sequência, dois vídeos significativos da carreira de cada uma.
My Heart Belongs To Daddy - Marilyn Monroe from Things from my things on Vimeo.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

No Volveré - Chavela Vargas


No Volveré 

Cuando lejos me encuentre de mi,
Cuando quieras que yo este contigo,
No tendras un recuerdo de mi,
Ni tendras mas amores conmigo.

Joaquim Barbosa, o avesso do avesso de Gilmar Mendes

No começo os juízes eram deuses mudos, que só falavam nos autos. Havia até uma certa predisposição da classe em ter juízes que se expressassem politicamente. Na presidência do Supremo, Gilmar Mendes exacerbou esse personalismo, com um comportamento mais próximo de brigas políticas provincianas. Dava um arrepio de vergonha cívica a cada manifestação sua.
Próximo presidente do STF, Joaquim Barbosa não fica atrás.
Juro: com todos os defeitos do país, do Judiciário, da mídia, da blogosfera, não merecíamos um segundo Gilmar na presidência do STF. É castigo demais.

Do Blog de Fernando Rodrigues

Fernando Rodrigues
Depois de protagonizar uma altercação com o ministro Ricardo Lewandowski no primeiro dia do julgamento do mensalão, a quem acusou de "deslealdade", agora o relator do caso no Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, voltou suas baterias contra outro colega.
Numa nota oficial distribuída no início da noite de hoje (3.ago.2012), Joaquim atacou o colega Marco Aurélio Mello. Eis a nota de Joaquim:
"Em qualquer atividade humana, urbanidade e responsabilidade são qualidades que não se excluem. Mas, às vezes, a urbanidade presta-se a ocultar a falta de responsabilidade. A propósito, é com extrema urbanidade que muitas vezes se praticam as mais sórdidas ações contra o interesse público."
"Ministro Joaquim Barbosa"
"Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal"
A nota de Joaquim se refere a uma declaração dada por Marco Aurélio a respeito do primeiro dia do julgamento. Na sua declaração, Marco Aurélio fala da "falta de urbanidade" de Joaquim:
"Não gostei [do primeiro dia], pela falta de urbanidade do relator. Será que ele se arvora censor dos colegas? Fiquei pasmo, inclusive com as adjetivações impróprias, em se tratando de colegas. Isso é muito ruim, a instituição é que fica prejudicada. Espero que não haja novos incidentes".
Marco Aurélio também se referiu ao fato de que Joaquim vai assumir a presidência do STF até o final do ano, com a aposentadoria de Ayres Britto: "Já me assusta o que poderemos ter em novembro. O presidente é algodão entre cristais, não pode ser metal entre cristais".
As declarações de Joaquim contra Lewandowski e contra Marco Aurélio são um prenúncio de como será o clima no STF daqui para a frente –não só no julgamento do mensalão, mas durante todo o futuro mandato de dois de Joaquim como presidente da Corte a partir de novembro próximo.

Apple, bonitinha mas (ambientalmente) ordinária?


Por André Trigueiro, no Mundosustentável
Nos Estados Unidos e no Brasil, surgem novos sinais de que empresa recusa-se a assumir compromissos com uso de componentes sustentáveis e com redução e reciclagem do lixo eletrônico

O gênero de resíduos que mais cresce no mundo é o lixo eletrônico, ou seja, pilhas, baterias e tudo o que precise de eletricidade para funcionar (computadores, televisores, aparelhos de som,etc). Os obsessivos lançamentos de novos produtos e o encurtamento da obsolescência programada (equipamentos projetados para durar pouco) são responsáveis por uma “tsunami” de lixo eletrônico que já ultrapassou 50 milhões de toneladas/ano em todo o mundo.
Para reduzir o volume de lixo – e facilitar o reúso ou a reciclagem dos componentes – os Estados Unidos criaram uma certificação ambiental para produtos eletrônicos (EPEAT http://www.epeat.net ) que valoriza, entre outras iniciativas, eficiência energética, maior facilidade para desmontar o equipamento após o descarte e segurança na segregação dos componentes tóxicos.
Segundo reportagem do Wall Street Journal, o Governo dos Estados Unidos exige que 95% dos produtos eletrônicos adquiridos com recursos públicos sejam certificados pelos padrões da EPEAT. Também seguem a certificação grandes empresas como a Ford e HSBC. Duzentas e vinte e duas das mais importantes universidades norte-americanas também dão preferência a computadores certificados pelo EPEAT.
Pois a mesma reportagem informa que um funcionário da Apple avisou, no final de junho ao Diretor Executivo da EPEAT, Robert Frisbee, que a orientação de design da empresa não era mais compatível com as exigências da EPEAT, e que por isso, pediu para tirar da lista de produtos sujeitos à certificação ambiental 39 computadores desktop, monitores e laptops (incluindo alguns modelos MacBook Pro e MacBook Air).
Foi a segunda vez em menos de três meses que a Apple desapontou seus seguidores mais antenados com os assuntos na sustentabilidade. No último mês de abril a empresa apareceu como vilã em um relatório do Greenpeace que avaliou as fontes de energia mais utilizadas pelas gigantes da TI. O relatório “How clean is your cloud?”  informou que mais da metade da energia que mantém a estrutura da Apple funcionando tem origem em combustíveis fósseis, principalmente o carvão mineral.
Completando a onda de notícias ruins que alcançam a maçã de Steve Jobs, um relatório recente produzido pelo Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática da Universidade de São Paulo (USP) avaliou os esforços realizados pelas empresas que atuam no Brasil para recuperar os equipamentos que são descartados como lixo. Pela atual Lei Nacional de Resíduos Sólidos, essas empresas são obrigadas a promover a logística reversa, ou seja, a recuperação desses produtos quando eles são descartados como lixo. A Apple (juntamente com Samsung, Sony, IBM, Proviews e Brother) aparece na lista negra do relatório, justamente entre as empresas que não se prontificam a buscar o resíduo (quando o usuário está pronto para descartá-lo como lixo), nem aceitá-lo quando entregue em uma de suas lojas.
É pena saber de tudo isso depois de já ter um Iphone.
Se a Apple não desmonstrar de forma bastante convicente seu comprometimento com os valores socioambientais, será meu último tablet sabor maçã.
PS: Este espaço está completamente disponível para que a Apple faça as considerações que desejar.

Agressores de mulheres deverão ressarcir pagamento de benefícios previdenciários a suas vítimas


INSS deve juizar a primeira ação regressiva relacionada à violência contra a mulher no dia 7 de agosto

Da Redação (Brasília)- Na próxima semana, no dia 7 de agosto, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) deverá ajuizar a primeira ação regressiva relacionada à violência doméstica e familiar praticada contra a mulher. A data foi escolhida por ser o aniversário da Lei nº 11.340/2006, que ficou conhecida como a Lei Maria da Penha. Nessa terça-feira (31) foram formalizadas parcerias entre o Ministério da Previdência Social, a Secretaria de Políticas para as Mulheres, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e o Instituto Maria da Penha para a realização de ações e políticas de proteção à mulher.
Os ministros Garibaldi Alves Filho (Previdência Social) e Eleonora Menicucci (Políticas para as Mulheres), o presidente Mauro Hauschild (INSS) e a vice-presidente Regina Célia Almeida Silva Barbosa (Instituto Maria da Penha) foram signatários de um convênio e um acordo que estabelecem medidas preventivas e repressivas como ações socioeducativas e o ajuizamento de ações regressivas.
Na avaliação da ministra Eleonora Menicucci, a iniciativa da Previdência Social de cobrar, aos agressores de mulheres, reparação financeira dos valores pagos em benefícios previdenciários resultado da violência doméstica terá, sobretudo, um caráter pedagógico. Ela elogiou o fato de, pela primeira vez na história, um ministério ter procurado a Secretaria de Políticas para as Mulheres solicitando e propondo uma parceria concreta.
Por sua vez, o ministro Garibaldi Alves Filho declarou que a Previdência Social procurará a Secretaria da ministra Eleonora Menicucci e o Instituto Maria da Penha para outros acordos que protejam a mulher contra a violência doméstica. “Temos que fazer com que a violência contra as mulheres se torne cada vez mais residual, minoritária e a expressão de um absurdo”, declarou o titular da Pasta da Previdência Social. Ele concluiu que a violência empobrece a condição humana.
Já a fundadora do Instituto Maria da Penha, a farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, parafraseando Martin Luther King, declarou que sonhou com o dia em que as mulheres do Brasil viveriam livres da violência doméstica. “A cada solenidade como essa de hoje vejo o meu sonho se aproximar da realidade”, afirmou Maria da Penha. O presidente do INSS, Mauro Hauschild, registrou que a parceria demonstra que o Estado não está mais inerte em relação às questões importantes e sensíveis às quais a sociedade está exposta.

Informações para a imprensa  Roberto Homem  Ascom/MPS

Justiça manda portal tirar do ar notícias sobre suposto namoro entre Raí e Zeca Camargo

Na Justiça, Raí afirma que Zeca Camargo "sequer faz parte do seu círculo de amizade"
Na Justiça, Raí afirma que Zeca Camargo "sequer faz parte do seu círculo de amizade"

Vinícius Segalla  Do UOL, em São Paulo 
 
A Justiça de São Paulo proferiu decisão na última quarta-feira determinando que o portal de internet R7 retire do ar, dentro de 48 horas, notícias que mencionem um suposto relacionamento afetivo do ex-jogador de futebol Raí com o apresentador da TV Globo Zeca Camargo. A ordem judicial trata especificamente de textos sobre o assunto publicados pela jornalista Fabíola Reipert em seu blog, hospedado no portal.
Além disso, o R7 não deve mais produzir nenhuma nota jornalística a respeito deste assunto. A multa diária para o eventual descumprimento da decisão é de R$ 2 mil. O prazo passa a contar a partir do momento que o veículo for notificado oficialmente acerca da determinação judicial.
Procurado pelo UOL Esporte na noite da última quinta-feira, o departamento de comunicação do R7 informou que não comentaria o assunto, pois ainda não havia sido notificado oficialmente pela Justiça.
Fabíola Reipert também informou que ainda não havia sido notificada, e orientou a reportagem a procurar o departamento de comunicação do R7.
No último dia 31, Raí entrou com uma ação na Justiça contra a jornalista Fabíola Reipert, blogueira do portal R7, e contra o próprio veículo, pela publicação de notícias que insinuaram que o atleta teria um envolvimento afetivo com o apresentador da TV Globo Zeca Camargo. O ex-jogador pede uma retratação pública, uma indenização de R$ 10 mil e a retirada do ar das notícias já existentes.
Na mesma ação, o ex-jogador fazia um pedido de "tutela antecipada" sobre a retirada das notícias do ar, ou seja, requereu que a Justiça considerasse este pedido antes do término do julgamento, em caráter emergencial, já que a manutenção das referidas notícias no ar estariam prejudicando a sua imagem. A decisão judicial proferida na última quarta-feira atendeu a este pedido e ordenou a retirada do ar das notícias dentro de 48 horas.
A ação judicial como um todo, porém, seguirá seu trâmite normal, e tanto o portal R7 quanto a jornalista Fabíola Reipert ainda terão tempo para apresentarem suas defesas antes que uma decisão final seja tomada.
Entenda o caso
O ex-jogador Raí deu entrada, na última terça-feira, com uma ação na Justiça contra a jornalista Fabíola Reipert, blogueira do portal R7, e contra o próprio veículo, pela publicação de notícias que insinuaram que o atleta teria um envolvimento afetivo com o apresentador da TV Globo Zeca Camargo.
No último dia 16, a blogueira publicou que a "emissora (Globo) proibiu os programas da casa de associar os nomes de Zeca Camargo e Raí", completando com as perguntas: "O que será que eles têm para esconder, hein? E o que têm em comum?". Fabíola Reipert estava repercutindo notícia anterior publicada por ela mesma, que dava conta de que "um belo ex-jogador de futebol teria deixado a mulher em troca de um novo amor. Ele foi morar com um apresentador da Globo, que ainda não saiu publicamente do armário".
As publicações geraram ampla repercussão na internet e nas redes sociais, que passaram a reproduzir o boato de suposto relacionamento homossexual entre os dois.
Na última terça-feira, o sócio de Raí em uma empresa de gestão de imagem, Paulo Velasco, informou que o ex-jogador decidira "tomar as medidas judiciais cabíveis contra os autores do boato".
"Informamos que foi proposta ação judicial referente ao falso boato publicado na internet em relação ao Raí. Esperamos com isso, além da retratação e indenização por parte dos responsáveis, colaborar para a construção de um jornalismo sério e verdadeiro", afirmou Velasco, que também responde pela assessoria de imprensa de Raí.
De acordo com ele, não existe nenhum fundamento nas informações divulgadas sobre o suposto relacionamento entre Raí e Zeca Camargo. "Trata-se de uma notícia falsa, desrespeitosa e sem pé nem cabeça", disse Velasco.

Foto 1 de 66 - Raí, ex-jogador do São Paulo, acena para a torcida após homenagem antes de partida contra o Atlético-MG Leandro Moraes/UOL

Rafinha Bastos também era processado
Fabíola Reipert e portal R7 não foram os únicos contra quem Raí tentou mover a ação judicial. Em sua petição inicial, o atleta também pedia a condenação da Rede TV! e do humorista Rafinha Bastos, que, em programa de TV, fez piada sobre o assunto. O site Orkut e a TV Bandeirantes também contavam na ação, além do jornal O Dia, dom Rio de Janeiro.
A decisão judicial proferida na última quarta, porém, considerou que apenas Fabíola Reipert, o portal R7 e o jornal O Dia deveriam ser mantidos na ação, entendendo que "os réus Rede TV!, Raphael Bastos (sic) e Rede Bandeirantes divulgaram a informação com caráter de humor". Leia abaixo a íntegra da decisão judicial:
"Despacho Proferido Trata-se de ação de obrigação de fazer e indenização por danos morais, com pedido de tutela antecipada, ajuizada por RAÍ SOUZA VIEIRA DE OLIVEIRA contra ENTRETENIMENTO.R7 (RECORD), FABÍOLA REIPERT, REDE TV, RAPHAEL BASTOS, REDE BANDEIRANTES DE TELECOMUNICAÇÃO, ORKUT E JORNAL “O DIA”.
Alega o autor, em síntese, que, a partir do final do ano de 2011, os réus passaram a divulgar notícias de que ele teria deixado a esposa, doente, para morar com o jornalista Zeca Camargo, com quem estaria tendo um relacionamento afetivo.
Sustenta que tais fatos são inverídicos, pelas seguintes razões: a) a informação não retrata sua orientação sexual; b) o jornalista Zeca Camargo sequer faz parte do seu círculo de amizade; c) não é casado nem houve qualquer problema de saúde em sua família ou com pessoa de seu relacionamento.
Pretende o autor, nesta ação, fazer cessar a veiculação das informações inverídicas, além de indenização por danos morais. Pois bem. De início, de rigor a limitação do litisconsórcio passivo, pois o número de réus, no caso, comprometerá a rápida solução do litígio.
Com efeito, ao que se depreende da leitura da inicial, os réus REDE TV, RAPHAEL BASTOS e REDE BANDEIRANTES divulgaram a informação com caráter de humor. Já os réus ENTRETENIMENTO.R7 (RECORD), FABÍOLA REIPERT e JORNAL “O DIA” teriam criado a notícia, conduta esta bem mais grave do ponto de vista da responsabilidade civil. Por fim, o próprio autor afirma que o Orkut, como os outros sites, apenas republicou as informações, alimentando a notícia criada por terceiros.
Neste contexto, com fundamento no art. 46, parágrafo único, do Código de Processo Civil, excluo do polo passivo da ação os réus REDE TV, RAPHAEL BASTOS, REDE BANDEIRANTES e ORKUT, em face dos quais o autor deverá ajuizar ação ou ações próprias.
Reafirmo que sua manutenção na lide prejudicará o próprio autor, pois os fundamentos da responsabilização dos réus pela conduta ilícita são diferentes e tal discussão certamente implicará em demora na entrega da prestação jurisdicional.
Com relação aos réus que ficam no polo passivo, ENTRETENIMENTO.R7 (RECORD), FABÍOLA REIPERT e JORNAL “O DIA”, passo a apreciar o pedido de antecipação da tutela. Os documentos que instruem a petição inicial demonstram a relevância da demanda, decorrente da necessidade do autor em fazer cessar a divulgação das informações que afirma serem falsas e impedir o uso indevido de sua imagem.
De outra banda, há fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, pois a propagação das notícias poderá comprometer a celebração e a execução de contratos que têm por objeto a imagem pública do autor, os quais constituem uma de suas fontes de renda.
Anoto que, a par da documentação carreada com a inicial, uma simples pesquisa sobre o assunto no google, efetuada por esta magistrada na data de hoje, revela a enorme proporção que o assunto ganhou. Tal circunstância reforça a necessidade de limitação do litisconsórcio passivo, pois do contrário poderão figurar no polo passivo todos os sites que divulgaram a informação.
Por tais sucessos, concedo a tutela específica da obrigação, determinando aos réus que se abstenham de veicular as notícias mencionadas na inicial a respeito de um relacionamento afetivo do autor com o jornalista Zeca Camargo, retirando do ar as já veiculadas, no prazo de 48hs, tudo sob pena de multa diária de R$ 2.000,00. Oficie-se.
O pedido referente à retratação fica indeferido, por ora, pois não poderá ser averiguado por meio de simples cognição sumária, antes do exercício do contraditório. Observo que a presente determinação não atenta contra a liberdade de informação, diante da afirmada ausência de veracidade das afirmações.
Além disso, segundo o art. 20 do Código Civil, salvo se autorizadas ou necessárias à manutenção da ordem pública, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade.
No caso dos autos, é evidente que as informações divulgadas, ainda que fossem verdadeiras, não são de interesse público, relacionando-se, sim, à vida privada do autor, tutelada pelo art. 5°, X, da CF e pelo art. 21 do Código Civil. Citem-se. Int. Ofício à disposição do autor."

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Desdobramentos políticos e institucionais do julgamento do mensalão




Antônio de Queiroz, em Congresso em Foco

“Se o julgamento produzir mudanças legais e comportamentais que contribuam para o aperfeiçoamento do sistema político e das instituições brasileiras, já terá cumprido um papel fundamental para o país”
A grande pergunta que se faz hoje é quais serão os desdobramentos políticos e institucionais do julgamento do chamado “mensalão”, em face da expectativa criada pela imprensa de condenação pesada para os denunciados naquele escândalo.
É preciso registrar, antes de qualquer coisa, que a divulgação da existência do “mensalão” já produziu resultados, entre os quais a cassação dos deputados Roberto Jefferson (PTB) e José Dirceu (PT), em 2005, a realização do segundo turno entre Lula e Alckmin, assim como a redução da bancada do PT na eleição de 2006.
Os reflexos do julgamento sobre a eleição municipal de 2012, considerando que o tema já foi muito explorado em três eleições anteriores (geral de 2006, municipal de 2008 e geral de 2010), tende a ser menor do que se imagina.
Os eleitores, especialmente no pleito municipal, estarão mais preocupados com os problemas locais. Mesmo nos grandes centros urbanos mais politizados, este episódio será pouco considerado no momento do voto, refletindo residualmente no desempenho eleitoral dos partidos, inclusive do PT.
Na disputa por voto, os partidos que não tiveram integrantes denunciados nesse episódio irão explorar o escândalo, buscando tirar proveito durante a campanha, mas a tendência é que a Justiça Eleitoral fique atenta a isto e puna quem utilizar seu horário para se referir ao mensalão.
Vários dos crimes apontados na denúncia já prescreveram, ou seja, mesmo que a sentença condene os réus, eles não poderão ser punidos (presos) em função desses crimes já prescritos. A punição (civil ou penal) poderá se concretizar, no entanto, por outros crimes ainda não prescritos.
Assim, o que se pode esperar como desdobramento do julgamento, especialmente em função da pressão da opinião pública, são aperfeiçoamentos na legislação e nos mecanismos de controle que impeçam a repetição de situações como essas no futuro.
Nesse diapasão, certamente o Poder Executivo ampliará o escopo de atuação – com mais estrutura e pessoal – do sistema brasileiro de prevenção e combate aos crimes financeiros, com fortalecimento das unidades de inteligência dos órgãos envolvidos, dentro dos parâmetros da recente lei sancionada sobre lavagem de dinheiro.
O resultado do julgamento também poderá impulsionar a votação dos vários projetos que aceleram a prestação jurisdicional, com mudanças nos códigos de processos, para, entre outras medidas, reduzir drasticamente os recursos de natureza protelatórios, que levam à prescrição dos crimes praticados.
Poderá contribuir, ainda, para que o Congresso conclua a votação de dois projetos importantes para a higienização da política e da administração pública: o projeto que trata do conflito de interesse (PLC nº 26/2012, no Senado), com quarentena e pena pesada para servidor que utilizar de modo indevido o cargo público, bem como o que responsabiliza a pessoa jurídica por atos irregulares (PL 6.826/2010, na Câmara), determinando que, além do corrupto, haja punição também para o corruptor.
E, por fim, poderá jogar luzes sobre o debate relativo ao financiamento de campanhas eleitorais, que representa a origem de tudo isto. Seja adotando o financiamento exclusivamente público, que seria a solução mais drástica, seja eliminando o financiamento de pessoa jurídica, com a permissão de doação apenas de pessoas físicas e, ainda assim, limitada a determinado valor.
Se o julgamento desse episódio produzir mudanças legais e comportamentais que contribuam para o aperfeiçoamento do sistema político e das instituições brasileiras, já terá cumprido um papel fundamental para o país, com reflexos sobre a melhoria ética da representação política.

* Jornalista, analista político, diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), colunista da revista Teoria e Debate, idealizador e coordenador da publicação Cabeças do Congresso. É autor dos livros Por dentro do processo decisório – como se fazem as leis e Por dentro do governo – como funciona a máquina publica.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Gustavo Ioschpe e Cládio Moura Castro: os especialistas de plantão

Para ser um especialista em educação

Por Gabriel Perissé em 16/09/2008 na edição 503 do Observatório da Imprensa

Que características deve ter alguém para ser um especialista em educação? Teoricamente, esse especialista tem autoridade para escrever sobre o tema, criticar, analisar, palestrar, oferecer sugestões práticas. É possível distinguir o especialista em questões educacionais daquele que emite opiniões mais ou menos oportunas?
A revista Veja propõe um tipo de especialista. É o que se autodeclara expert em educação pelo fato de ser especialista em economia. Na última edição (nº 2078) de Veja, Camila Pereira entrevista o norte-americano Eric Hanushek, cujos trabalhos inspiram outros dois economistas que escrevem sobre educação: Claudio de Moura Castro e Gustavo Ioschpe. (Os dois são autores de um estudo recente que difunde o pensamento representado por Hanushek.)
A tese defendida por esses economistas é a de que a qualidade da educação é o principal impulso da economia. Uma vez que o nosso nível educacional está baixo, conclui-se que o desenvolvimento do país corre sérios riscos. Pensando em termos econômicos, o principal "produtor" de boas aulas é o professor. Portanto, deveria ser instaurado um ambiente competitivo, como nas grandes empresas, para que os bons docentes fossem incentivados com salários melhores e os maus, se não se corrigirem, devidamente afastados.

Lista de evasões
Analisada a situação desse ponto de vista, simplifica-se o problema e encontra-se a solução fácil, óbvia, científica! O resto são intuições, mitos esquerdistas, corporativismo dos sindicatos de professores, opiniões vazias (opiniões não alicerçadas em números), desconhecimento das práticas vitoriosas de países (tão parecidos com o Brasil...) como Finlândia e Coréia do Sul!
Outro tipo de especialista, que não escreve em revistas de grande circulação, seria o professor que está na sala de aula, que enfrenta as dificuldades reais e complexas da educação brasileira. Este docente muitas vezes concluiu a sua graduação em faculdades privadas, fez alguns cursos de aperfeiçoamento com sacrifício, talvez um mestrado, mas sempre aprende mais com a vivência do que com os livros.
Este especialista (para o qual o economista da educação há de reclamar o uso das aspas) depara com problemas concretos que interferem no aprendizado das crianças e jovens: o ambiente familiar (ou a falta de ambiente familiar) desses alunos, o lugar adverso em que vivem, a precariedade física de muitas escolas e o desânimo de alguns professores (há os que entregaram os pontos e, não raro, porque estão doentes).
Este especialista enfrenta, sobretudo, o que se costuma chamar de "sistema", um conjunto de práticas impostas que os professores se vêem na obrigação de adotar, como na questão da aprovação de alunos sem condições de prosseguir... mas que precisam prosseguir de alguma forma, porque a fila anda... ou cresceria a indesejável lista das evasões.

Leituras de fácil digestão
Muitas cidades brasileiras, muitas capitais, registram altos índices de aprovação no Fundamental I (do 1º ao 4º ano, ou ao 5º, se já foi adotado o sistema de 9 anos), mas um número expressivo desses aprovados tem graves dificuldades para ler, escrever e realizar operações matemáticas. Todos os alunos vão para o Fundamental II (os 4 anos restantes, antes do ensino médio), e seus professores de língua portuguesa, matemática, história, geografia, ciências, inglês e educação artística vêem-se perante o grande dilema: ensinamos o conteúdo previsto para os alunos mais adiantados ou tentamos alfabetizar os mais atrasados?
Houve interesse (legítimo) em manter a criança e o jovem na escola, mas os especialistas, os professores, não foram consultados sobre a viabilidade do que se propunha, ou não foram auxiliados para fazer da progressão continuada um caminho de estudo, e não de mera aprovação.
Se aspas devem ser usadas contra algum tipo de pretenso especialista, ficariam reservadas para aqueles autores que se arvoram a dizer o que bem entendem sobre educação e, pior, com grande aceitação por parte dos professores. Não me cabe citar nomes, mesmo porque algum tipo de serviço motivacional esses autores oferecem. São auto-ajudistas. Assim como Paulo Coelho fez milhares de leitores brasileiros entrarem numa livraria pela primeira vez na vida, assim também muitos professores encontram nessas leituras de fácil digestão receitas e frases de estímulo para o seu cotidiano.

Espaço para o educacionista
Alimento que não encontram quando lêem textos de autores sérios, pesquisadores universitários brasileiros ou estrangeiros, verdadeiramente especialistas em educação, pedagogos, filósofos, sociólogos ou psicólogos, cuja linguagem lhes parece hermética: "epistemologia apriorista", "angústia simbolizada", "o imperativo categórico da instância escolar" etc.
Tanto o auto-ajudista quanto o hermético mais atrapalham do que ajudam. O primeiro oferece paliativos. O segundo, afasta.
O desejável seria encontrar especialistas que reunissem as melhores características dos modelos mencionados nos parágrafos anteriores.
Um especialista com formação acadêmica que soubesse comunicar-se com o professor brasileiro. Sejamos realistas: a nossa formação inicial não permite a muitos docentes discutirem de maneira sofisticada... e talvez isso nem seja tão necessário. A melhor virtude do profissional do ensino é a sua dedicação e muitas vezes ele se deixa desvalorizar pelo poder público porque recebe algum tipo de remuneração afetiva no âmbito da sua comunidade.
Que o especialista especial não desprezasse os dados que a economia e a estatística nos entregam, contanto que saiba relativizá-los, dando à experiência prática um destaque que incomoda, e muito, os que vivem longe, bem longe, sonhando com a sala de aula finlandesa.
Que o educacionista, para usarmos uma palavra que o senador Cristovam Buarque gosta de repetir, seja um especialista realista e obtenha mais espaço na mídia. Quem sabe, até mesmo em alguma página da revista Veja.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

O esquema de distribuição da Globo me deixou enojado, disse o ator Caio Blat

Escrito por Simone de Moraes

Por Victor Zacharias, No Democracia na Mídia - 
O ator Caio Blat esteve em Suzano em um evento promovido pela prefeitura durante o qual participou de uma roda de conversa com a juventude e contou um pouco da sua trajetória de vida, a experiência no teatro, cinema e televisão.
Sua premiada carreira começou precocemente, primeiro fez comerciais de publicidade aos 8 anos, depois atuou em novelas, só então chegou ao teatro. Quanto aos estudos, preferiu fazer faculdade de direito ao invés de artes cênicas, pois a intenção era a de ampliar sua cultura e conhecimento. Entrou na USP, mas não concluiu o curso.
Cinema não chega aos pobres

Quando foi fazer o filme Bróder morou por um tempo no bairro de Capão Redondo em São Paulo, foi lá que percebeu que o cinema não chega até as pessoas da periferia, o público que atinge é restrito, o motivo a seu ver é porque não existem salas disponíveis nestes lugares, o ingresso é caro e o filme brasileiro fica uma semana em cartaz e sai para dar lugar aos filmes da indústria americana.
Esquema para fazer sucesso

Ele foi produtor de seus últimos filmes, por isso descobriu qual era o esquema da distribuição, e Caio indignado disse "é uma coisa que me deixou enojado, me deixou horrorizado".
"No cinema a distribuição é predatória, ainda é um monopólio", disse Caio, "são pouquíssimas empresas distribuidoras e o que elas fazem é absolutamente cruel, elas sugam os filmes, não fazem crescer, sugam para elas, são grandes corporações".
Ele disse, "ia ao Vídeo Show, no programa do Serginho Groisman e outros. Achava que era um processo natural de divulgação, foi quando descobri que estas coisas são pagas. Quando vou ao programa do Jô fazer uma entrevista isso é considerado merchandising, não é jornalismo".
A Globo faz estas ações de merchandising, inclusive em novelas, e fatura para a Globo Filmes. Comenta Caio, "Ela cobra dela mesma". Ele notou que este é uma espécie de "kit" para que o filme aconteça e seja exibido em dezenas de salas em todo o Brasil. Se por acaso os produtores não aceitarem esta imposição, a Globo não levará ao ar nada do filme em nenhum de seus veículos, nem no eletrônico, nem no impresso, Caio completa, "Se não fechar com a Globo Filmes, seu filme morreu"
No contrato de distribuição, Caio detalha, fica estabelecido que o primeiro dinheiro a entrar da bilheteria do filme é para pagar a Globo Filmes, "É um adiantamento que estamos fazendo. Olha o que eles estão dizendo! Adiantamento fez quem realizou o filme, investiu muito antes". Ele pergunta, "O que a Globo faz? Quanto ela gastou para fazer este "investimento"? Nada. O programa deles tem que acontecer todos os dias, eles precisam de gente para ser entrevistada, finaliza sobre este tema.
Jornalismo que é propaganda disfarçada

Sem contar o lado ético, que no capitalismo é apenas retórica, chega-se a primeira conclusão que tudo que é exibido na televisão, uma concessão pública, é propaganda, ora em formato de comercial, ora como merchandising, isto é, dentro do programa e até em estilo jornalístico. Outra conclusão é que a TV gera lucro em outros negócios para seus concessionários que nada tem a ver com a atividade fim da concessão.
Lei limita propaganda

Nas leis, que completam 50 anos, de números 52.795/63, art.67 e 88.067/63, art.1, art 28, 12, D, está escrito o seguinte: Limitar ao máximo de 25% (vinte e cinco por cento) do horário da sua programação diária o tempo destinado à publicidade comercial. Pelo visto, ela claramente não é cumprida na programação que vai ao ar.

Existem também canais que passam promoção de vendas o tempo, neste caso, além da lei citada, também deixam de cumprir o princípio constitucional : Art. 221 - A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios: I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas.

Tudo leva a crer que estas questões são graves o suficiente para suspensão das outorgas das emissoras infratoras.
Por isso, e por muitas outras coisas, é preciso que este tema da democracia da mídia seja discutido no país e o Marco Regulatório da Comunicação, após ampla consulta pública, encaminhado o mais rapidamente ao Congresso, sem o qual a Liberdade de Expressão com diversidade e pluralidade continuará seriamente prejudicada.
Assista ao vídeo do bate papo, a questão da mídia começa a ser colocada com 12'53"

Aos quase 70 anos, Paulinho da Viola conta causos de um passado glorioso

Artista deu depoimento sobre sua trajetória na última sexta-feira, 27, no Museu da Imagem e Som em São Paulo

Roberta Pennafort, O Estado de S. Paulo
RIO - Os 70 anos de Paulinho da Viola começaram a ser comemorados no carnaval, com o primeiro desfile do bloco-tributo Timoneiros da Viola. Seguem até novembro, mês em que ele nasceu (dia 12) e no qual cantará no Carnegie Hall (dia 28), em Nova York (no site da casa, os ingressos já estão pela metade).
Na sexta-feira, sua vida familiar, a carreira, dos momentos iniciais em que fazer música "era só festa" à profissionalização, as influências, pontos altos e baixos de sua trajetória foram rememorado pelo próprio, com o auxílio de amigos, no depoimento à posteridade dado ao Museu da Imagem e do Som - instituição que recolhe relatos de grandes artistas brasileiros desde 1966.
Foram seis horas de papo, do qual participaram cinco entrevistadores: os parceiros Elton Medeiros (Onde a Dor Não Tem Razão, Ame, Pra Fugir da Saudade) e Hermínio Bello de Carvalho (Timoneiro, Sei Lá, Mangueira), Sérgio Cabral (jornalista a quem Paulo César Baptista de Faria deve o apelido, emprestado do sambista Mano Décio da Viola), o também jornalista Ruy Fabiano, um dos irmãos de sua mulher, Lila Rabello, e a presidente do MIS, Rosa Maria Araujo.
A procura por senhas para o pequeno auditório, onde couberam cerca de 70 pessoas, foi a maior nos últimos seis anos de depoimentos. O público - fãs felizes por estarem tão perto dele e uns poucos artistas, como Monarco e Teresa Cristina - se surpreendeu com o lado contador de histórias de Paulinho, conhecido somente pelos chegados.
A timidez estava lá, a modéstia, mas ele se soltou ao recordar peripécias da infância ("fui o único menino da rua a ser pego pela radiopatrulha, o maior vexame da minha vida"), e até mesmo o motivo que o fez, em 1977, romper com a Portela, o que sempre preferiu não comentar: tudo se deveu a uma escolha de samba-enredo no esquema "cartas marcadas", seguida de declarações grosseiras por parte da escola, na linha "não precisamos dele".
Paulinho falou da relação com o violão, desde os 12 anos, do papel da batida de João Gilberto, à qual, como toda a sua geração, não ficou imune, dos festivais dos anos 60, do perfeccionismo extremo ("já deixei de cantar uma música por causa de um acorde"), da dificuldade, até hoje, para escrever letra para melodia já pronta ("para o Eduardo Gudin, demorei dez anos para entregar; para o Francis Hime, cinco. Até bilhete é difícil...")
"Dá nervoso uma plateia pequena. Com plateia grande parece que não tem ninguém", confessou de cara. Sobre o ofício, disse que não sente falta se fica sem tocar ou cantar, tampouco compor. "Houve períodos em que pegava no violão todos os dias. Não faço mais isso." Deixou claro o peso dos 70 - "o médico disse que preciso fazer musculação para a idade; acho um horror!"
Hermínio estava ali para lembrar o fato que mudaria de vez o destino do bancário Paulo César: ele levou o jovem de Botafogo ao Zicartola, à convivência próxima com Zé Kéti, que o estimulou a compor mais e mais.
A noção de que viveria daquilo viria só com o sucesso incrível de Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida, em 1970. "Não era tão conhecido e estava na Cinelândia num dia de carnaval quando veio um bloco de milhares de pessoas cantando a música. E eu doido para alguém dizer: ‘Olha ali o compositor!’"
O esperado CD de inéditas (não lança um desde 1997) não deve sair este ano; falta disposição para compor. Mas ele tem dois discos ao vivo gravados no Teatro Fecap em 2006 e em 2010 - só falta uma gravadora lançar.
"Gosto de recordar, é uma maneira de sentir", disse, ao fim. Paulinho e Ruy Fabiano negociam com a Cosac Naify uma biografia que conte isso tudo em mais detalhes.

Nos cem anos do poeta: um poeminha de Mario Quintana

domingo, 29 de julho de 2012

O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE - O FIM DA ERA NOLAN PARA A SAGA DO HOMEM-MORCEGO

por em 27 de jul de 2012 às 21:24
O Fim de uma das melhores trilogias do cinema.

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Um dos filmes mais esperados em anos finalmente chega aos cinemas. A conclusão da épica trilogia, baseada no personagem dos quadrinhos criado na década de 30 por Bob Kane, orquestrada pelo cineasta sensação Christopher Nolan. A primeira vez que o personagem atingiu a tela grande com um tratamento sério e adulto (violento e sombrio), foi no final da década de 80, pelas mãos do então novato diretor Tim Burton.
Após dirigir mais um episódio, Burton foi afastado da série pelos executivos do estúdio, dando origem para a era desastrosa dos filmes criados por Joel Schumacher (cujo “Batman & Robin” é considerado uma das piores obras cinematográficas de todos os tempos), que quase acabaram com a carreira do herói nos cinemas (pelo menos a retardou por anos).
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Em 2005, Nolan recomeçava a história nas telonas, e era prezado como a versão correta, e melhor investida no universo do personagem no cinema até então. A seguir com “O Cavaleiro das Trevas”, Nolan se superava e entregava uma obra-prima estimada por todos os amantes do cinema. Críticos na época faziam propaganda para que o segundo filme da série de Nolan fosse inclusive indicado ao prêmio máximo do cinema, o Oscar de melhor filme. Dizem que foi a não indicação de “O Cavaleiro das Trevas” que fez a Academia reavaliar e reestruturar a quantidade dos filmes indicados, aumentando para dez ao invés de apenas cinco.
Uma coisa é certa, “O Cavaleiro das Trevas” entra na lista de dez entre dez críticos como uma das melhores obras cinematográficas da última década, e é considerado o melhor filme baseado numa história em quadrinhos. Tudo isso apenas para mostrar o poder que o segundo filme na trilogia de Nolan possui, resumindo, a expectativa para o anunciado terceiro e último, o fechamento de uma saga cinematográfica adorada, não poderia ser mais alta.
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Para começar devo dizer que será a minoria que irá considerar o novo “O Cavaleiro das Trevas Ressurge” superior a seu antecessor. Mas isso não quer dizer nada. Afinal quantos filmes são superiores a ele. Isso não diminui em nada a qualidade do novo filme, que se não é superior ao menos chega bem perto, e isso é mais do que um elogio. Nos EUA, foram poucos os críticos que não se encantaram com a obra, e para todos eles o motivo foi a comparação com os filmes anteriores do diretor Nolan, “A Origem” e o citado "Batman" anterior.
Com quase três horas de projeção “O Cavaleiro das Trevas Ressurge” se move num ritmo eficiente, e se não acelera o tempo todo, faz suas pausas necessárias para o desenvolvimento de um universo único e peculiar. Também foi dito que Gotham City ainda se encontra numa eterna metamorfose, após um design único em “Batman Begins”, se mudou para Chicago em 2008, chegando até Manhattan, Los Angeles e Pittsburg nesse terceiro filme. Nolan conta novamente com seu time na parte técnica, e nesse aspecto o novo filme é impecável. A fotografia de Wally Pfister é belíssima, e a música de Hans Zimmer continua empolgante.
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Na trama, após oito anos de reclusão devido aos eventos narrados no filme de 2008, Bruce Wayne precisa voltar à ativa quando um novo terrorista chega a sua amada cidade. Trata-se de Bane, um musculoso anarquista que incita o caos, pegando a cidade como refém com o propósito de dividir a riqueza dos poderosos com o povo, algo como um Robin Hood moderno. Quem também entra na jogada é a ladra Selina Kyle, uma mulher inteligente e esperta, adaptável no submundo, ela é o páreo perfeito e a contraparte feminina para o protagonista. Aqui o nome Mulher-Gato nunca é mencionado.
Temos ainda a volta de Michael Caine como o mordomo Alfred (com menos tempo em cena do que nos filmes anteriores, mas que entrega uma das melhores e mais emotivas cenas ao lado do protagonista), Morgan Freeman como Fox, e Gary Oldman como o honesto Gordon, que passa 1/3 do filme entrevado numa cama de hospital. Christian Bale vive o protagonista Wayne e seu alter-ego pela terceira vez. Muito se elogia os vilões da série, mas Bale criou um Batman especial, que nos faz imaginar a tarefa difícil que terá quem for segui-lo no papel.
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O ótimo Tom Hardy (“A Origem”, “Guerreiro” e “Guerra é Guerra”) é o vilão Bane, tendo que interpretar com uma máscara que tampa grande parte de seu rosto o tempo todo. Hardy se sai extremamente bem, e cria um vilão memorável e ameaçador, como disse o crítico da Rolling Stone, Peter Travers: “o sujeito soa como Sean Connery atrás de um ar condicionado”.
A gatuna Kyle é vivida de forma sensual e eficiente pela talentosa Anne Hathaway; a atriz e o diretor Nolan criam uma personagem, que poderia recair na caricatura, crível e que funciona bem dentro do contexto da história. Sem estragar demais temos as adições de Joseph Gordon-Levitt (“A Origem”, “50%” e “500 Dias Com Ela”) e Marion Cotillard (“A Origem”, “Contágio” e “Meia Noite em Paris”) com seus personagens que são mais do que aparentam e estão intimamente ligados ao passado e futuro da nova franquia.
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Um diferencial que pode ser considerado superior a obra de 2008, é o uso de algumas reviravoltas intrigantes e inesperadas no roteiro escrito pelo diretor Nolan, e seu irmão Jonathan, que assim como o protagonista e sua arte da ilusão nos dá uma coisa para depois nos mostrar outra. Mesmo a obra sendo adorada, dificilmente irá existir uma moção para a indicação do novo filme ao Oscar como ocorreu com o segundo.
Seja como for, “O Cavaleiro das Trevas Ressurge” te deixa grudado com os olhos na tela aguardando o próximo passo, sabemos que é o fim, e esperamos pelo pior. A conclusão te permite levar dela o que quiser, a ambiguidade do desfecho criado por Nolan permite que o público mais pessimista e o mais otimista se sintam satisfeitos. Acima de tudo, o novo projeto de Christopher Nolan é um blockbuster corajoso, cuja série redefiniu para sempre a maneira como os filmes de super-heróis serão e podem ser vistos.

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Drogas, não se pode entorpecer o debate

O tratamento a ser dado ao consumo e tráfico de drogas na proposta de novo Código Penal já sucitou debates. De imediato um grupo de parlamentares capitaneado por Osmar Terra, entidadese igrejas lançaram um manifesto contra a proposta. Sobre isso, Marcos Rolim escreveu um sensato artigo, intitulado Drogas? É preciso pensar.
O texto é esclarecedor por si próprio e dispensaria comentários. Porém, é relevante que as pessoas se pronunciem a partir de informações reais, não com base em preconceitos. especular com o "terror das drogas", rende votos, trabalha com o senso comum das pessoas, mas não resolve nada, efetivamente. 
Muito provavelmente, poucos dos que assinaram o manifesto leram o que diz a proposta da Comissão. Isso é comum no Brasil: comentar sobre algo que não se sabe, utilizando argumentos tão superficiais quanto conclusivos.
O debate sobre drogas, no Brasil, está entorpecido pela superficialidade e pelo preconceito. Assim, é difícil partir para soluções efetivas. A mídia contribui para esse entorpecimento deixando de lado as discussões de fundo e partindo para o senso comum e para as manchetes fácil. Nesse aspecto, o nosso infalível Lasier Martins extrapola. Sempre exigente quando se trata de dizer que as leis deveriam ser feitas a partir de conhecimento técnico (supondo que os parlamentares eleitos pela população só poderiam legislar bem se fossem formados em direito), bastou que uma comissão de especialistas definisse algo contrário ao que ele pensa para arremeter contra a comissão e exaltar a qualidade dos parlamentares gaúchos.
Por fim, para retomar um dos argumentos do artigo de Marcos Rolim: a RBS, e demais meios de comuicação, estariam dispostos a dispensar o patrocínio de marcas de bebida alcoólica para ajudar a reduzir os acidentes de trânsito?