quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Por que os espaços e objetos públicos são depredados?

O que leva os moradores de nossas cidades a cometerem atos de vandalismo e depredação de patrimônio público? De escolas a orelhões, passando por pontos de ônibus, transporte público em geral, cabos de iluminação, lixeiras e até monumentos e esculturas, a destruição é sistemática e recorrente. Anos atrás, a revista Problemas Brasileiros, do Sesc SP, publicou uma matéria que traz alguns dados impressionantes sobre essa questão. Embora não sejam informações atualizadas, elas dão ideia da dimensão do problema.
De acordo com a matéria, 25% dos “orelhões” da empresa Telefônica são destruídos todos os meses no Estado de São Paulo. A manutenção mensal consome R$ 1,2 milhão na recuperação dos aparelhos. No Rio de Janeiro, a prefeitura gasta R$ 200 mil todos os anos para repor partes de monumentos ou repor placas. Para se ter uma ideia, de 2002 a 2009 os óculos da estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade, que fica em Copacabana, foram furtados sete vezes.
Em Curitiba, nos primeiros seis meses de 2009, 11.285 ônibus tiveram suas janelas riscadas, gerando um custo de reposição de R$ 2,6 milhões. No mesmo período, as estações tubo tiveram um prejuízo de cerca de R$ 115 mil por conta da depredação. Em todo o ano de 2008 o sistema gastou R$ 350 mil para repor vidros, catracas, elevadores, corrimões e portas. Na cidade de São Paulo todos os meses 20% dos pontos e abrigos de ônibus são danificados. O custo mensal da manutenção desses equipamentos, em 2009, foi de R$ 600 mil de acordo com a SPTrans.
O vandalismo também atinge o sistema de iluminação pública. De acordo com a reportagem, todos os meses 150 quilômetros de cabos usados na iluminação da capital paulista são furtados e 300 lâmpadas são substituídas diariamente. Nem os bueiros estão a salvo: 500 peças são roubadas mensalmente. Além disso, todos os meses desaparecem 400 placas de trânsito da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).
Por que isso acontece? A explicação mais recorrente que encontrei explorando o tema atribui o vandalismo à falta de educação das pessoas, de cidadania etc. Embora seja verdadeira, essa explicação não é suficiente. Me parece que há uma relação estreita entre a qualidade urbanística de nossas cidades e a ocorrência de atos de vandalismo. O fato é que a qualidade geral das nossas cidades é péssima — elas são mal cuidadas, mal mantidas, em grande parte autoproduzidas e depois consolidadas de qualquer maneira, sem cuidado: essa situação provavelmente confere um não valor às cidades.
Outra dimensão que deve ser considerada é a qualidade e constância da manutenção dos espaços e equipamentos públicos. Um lugar como o parque Villa Lobos, em São Paulo, por exemplo, está sempre impecável. O metrô também está sempre limpo e bem mantido. Significa que não existe vandalismo e depredação nestes locais? Certamente, não. Mas a ação da administração desses espaços é rápida e permanente, o que provavelmente contribui para que haja menos depredação. Falta de educação e cidadania? Sim. Mas a cidade nos educa (ou deseduca também).

Niemeyer foi o "Aleijadinho modernista"

Documentário produzido pelo IPHAN

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A moral de velhas prostitutas

Foto: Ricardo Stuckert / Instituto Lula
Leandro Fortes: Carta Capital

Aos poucos, sem nenhum respeito ou rigor jornalístico, boa parte da mídia passou a tratar Rosemary Noronha como amante do ex-presidente Lula. A “namorada” de Lula, a acompanhante de suas viagens internacionais, a versão tupiniquim de Ana Bolena, quiçá a reencarnação de Giselle, a espiã nua que abalou Paris.
Como a versão das conversas grampeadas entre ela e Lula foi desmentida pelo Ministério Público Federal, e é pouco provável que o submundo midiático volte a apelar para grampos sem áudio, restou essa nova sanha: acabar com o casamento de Lula e Marisa.
Já que a torcida pelo câncer não vingou e a tentativa de incluí-lo no processo do “mensalão” está, por ora, restrita a umas poucas colunas diárias do golpismo nacional, o jeito foi apelar para a vida privada.
Lula pode continuar sendo popular, pode continuar como referência internacional de grande estadista que foi, pode até eleger o prefeito de São Paulo e se anunciar possível candidato ao governo paulista, para desespero das senhoras de Santana. Mas não pode ser feliz. Como não é possível vencê-lo nas urnas, urge, ao menos, atingi-lo na vida pessoal.
Isso vem da mesma mídia que, por oito anos, escondeu uma notícia, essa sim, relevante, sobre uma amante de um presidente da República.
Por dois mandatos, Fernando Henrique Cardoso foi refém da Rede Globo, uma empresa beneficiária de uma concessão pública que exilou uma repórter, Míriam Dutra, alegadamente grávida do presidente. Miriam foi ter o filho na Europa e, enquanto FHC foi presidente, virou uma espécie de prisioneira da torre do castelo, a maior parte do tempo na Espanha.
Não há um único tucano que não saiba a dimensão da dor que essa velhacaria causou no coração de Ruth Cardoso, a discreta e brilhante primeira-dama que o Brasil aprendeu desde muito cedo a admirar e respeitar. Dona Ruth morreu com essa mágoa, antes de saber que o incauto marido, além de tudo, havia sido vítima do famoso “golpe da barriga”. O filho, a quem ele reconheceu quando o garoto fez 18 anos, não é dele, segundo exame de DNA exigido pelos filhos de Ruth Cardoso. Uma tragicomédia varrida para debaixo do tapete, portanto.
O assunto, salvo uma reportagem da revista Caros Amigos, jamais foi sequer aventado por essa mesma mídia que, agora, destila fel sobre a “namorada” de Lula. Assim, sem nenhum respeito ao constrangimento que isso deve estar causando ao ex-presidente, a Dona Marisa e aos filhos do casal. Liberados pela falta de caráter, bom senso e humanidade, a baixa assessoria de tucanos, entre os quais alguns jornalistas, tem usado as redes sociais para fazer piadas sobre o tema, palhaços da tristeza absorvidos pela vilania de quem lhes confere o soldo.
Esse tipo de abordagem, hipócrita sob qualquer prisma, era o fruto que faltava ser parido desse ventre recheado de ódio e ressentimento transformado em doutrina pela fracassada oposição política e por jornalistas que, sob a justificativa da sobrevivência e do emprego, se prestam ao emporcalhamento do jornalismo.

Abraço ao Monumento aos Mortos e Desparecidos


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Salve, Glória! Novelista e pensionista

Gloria Perez, além de novelista, destacou-se por liderar movimentos por justiça, a partir do trágico assassinato de sua filha. Na minha modesta opinião, Gloria Perez tem ideias interessantes que se tranformam em novelas chatas e sua pregação por justiça, parece o discurso de um personagem. 
Mas não são as novelas de Gloria Perez que vou comentar, mas o fato de a ilustre autora, segundo a IstoÉ, receber pensão do pai, um ex-ministro do STJ. Informa, ainda, a revista, que o valor da pensão quase dobrou, saltando de R$ 16 mil para R$ 28 mil.
Ora, a única justificativa para a novelista receber pensão seria sua condição de filha solteira do magistrado. Ocorre que Gloria Perez já foi casada (daí, seu sobrenome). É fato que seu pai faleceu em 2001, quando ela não era mais oficialmente casada, mas perfeitamente capaz de se manter sem um benefício que é pago com o nosso dinheiro.
Já não ia com a cara da Glória Perez, embora reconheça que ela aborda causas importantes em suas novelas (como é o caso do tráfico humano). Agora mesmo é que me indignei com a pessoa que mantém um blog com aquele discurso fácil atacando os políticos e com link para o blog do Noblat, mas não tem vergonha de receber todo mês um dinheirão ao qual pode fazer jus pela lei, mas não pela "justiça".

Diminuição no valor da conta de luz não atinge meta do governo

Redução não atinge meta do governo (Foto: Matt MacGillivray / Creative Commons)
Luciene Cruz - Agência Brasil 

Brasília – O valor da conta de luz dos brasileiros pode ficar até 16,7% menor a partir de 2013, disse hoje (4) o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia (MME), Márcio Zimmermann. A diminuição é resultado das assinaturas antecipadas de contratos de concessão de energia elétrica que ocorreu há pouco.
O percentual é inferior aos 20,2% anunciados pela presidenta Dilma Rousseff, em setembro. Segundo Zimmermann, o percentual menor é atribuído à recusa das companhias Energética de São Paulo (Cesp), Energética de Minas Gerais (Cemig) e Paranaense de Energia (Copel) em aderir à proposta do governo.
“A decisão dessas empresas estaduais, que decidiram pela não prorrogação, está causando diretamente, o impacto de não atingir a meta de 20,2%. Estranhamos que essas empresas preferiram priorizar os acionistas do que a população”, disse o secretário executivo.
Segundo o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner, a redução no valor da conta de energia elétrica, de 16,7%, poderá ser sentida pelos consumidores em março do ano que vem.
Do montante de 25.452 megawatts (MWs) de capacidade instaladas das hidrelétricas, apenas 15.311 MWs foram renovados antecipadamente, ou seja, apenas 60% das companhias de geração aceitaram os termos do governo. Com isso, a expectativa de conseguir diminuir em 8,5% o percentual da geração caiu para 5,1%. Em contrapartida, todas as empresas de transmissão fizeram adesão ao plano.
Uma das usinas da Cesp, a Hidrelétrica Três Irmãos, entre os municípios de Andradina e Pereira Barreto, em São Paulo, terá que ser devolvida à União, por causa da não renovação da concessão, no começo de janeiro. Segundo Zimmermann, a expectativa do governo é fazer o leilão ainda no primeiro semestre do ano que vem. No segundo semestre, o mesmo deverá ocorrer com a Usina Hidrelétrica de Jaguará, em Minas Gerais, pertencente à Cemig. As duas companhias têm capacidade de 1.300 MWs.
Mesmo sem a meta de redução atingida, o secretário executivo do MME acredita que houve “uma grande vitória” por parte do governo, que conseguiu adesão de 100% das transmissoras e 60% das usinas de geração. Com os termos assinados, haverá discussões internas no governo para avaliar a possibilidade de um aporte do Tesouro Nacional a fim de atingir os 20,2%, anunciados anteriormente.
 
Edição: Aécio Amado

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A Verdade Ainda que Tardia. Elifas Andreato retrata a tortura

Elifas Andreato é um dos artistas de maior notoriedade do Brasil, especialmente pelo fato de ser o responsável pela criação de algumas das mais importantes capas de discos brasileiras. No documentário "A verdade ainda que tardia", entretanto, conheceremos outro lado de sua história.
Tudo começou com uma encomenda feita pela Comissão da Verdade, instalada em Brasília para a revisão da lei de anistia no Brasil. Elifas, que passou por situações complicadas durante a ditadura, foi convidado a registrar em um enorme painel cenas dos mais diversos tipos de torturas executadas pela polícia política no período compreendido entre 1964 e 1985.
Decidiu, então, gravar em vídeo todas as etapas da pintura deste incrível painel, que ficará exposto no Congresso Nacional.
Passo a passo, a cada pincelada, Elifas explica seus pormenores e faz graves denúncias ao regime, além de homenagear as inúmeras vítimas dos terríveis maus-tratos praticados na época, algumas inclusive mortas, como é o caso de seu amigo Vladimir Herzog.
"Quando se vê as imagens do holocausto, você acredita que 6 milhões de judeus foram mortos na segunda guerra".
Com estas palavras e mentalidade, Elifas se propõe a representar com a maior fidelidade possível imagens nunca antes vistas deste triste período da história brasileira.
Um documento intenso, emocionante, mas que traz tão somente a Verdade, ainda que tardia.

Lançamento: Dezembro/2012