sábado, 12 de novembro de 2011
Pagu, admirável, incontrolável, intensa! Hildegard Angel
Muitos de vocês já devem ter ouvido falar em Pagu, a eterna musa do Modernismo brasileiro. Por muitos anos, tocar no nome de Patricia Galvão, a Pagu, foi sinônimo de preconceito ou motivo de menosprezo. Muitos a consideravam louca, devassa e subversiva para sua época. Na verdade, Pagu estava muito à frente de seu tempo. Era mulher livre, intensa, inteligente, contestadora, criativa, sem papas na língua e cheia de estilo...
A bela e instigante Pagu, no auge de sua juventude, final da década de 20. O poeta Raul Bopp escreveu o seguinte poema para a jovem: Pagú tem uns olhos moles/ uns olhos de fazer doer/ Bate-coco quando passa/ Coração pega a bater/ Eh Pagú eh!/ Dói porque é bom de fazer doer (...)
Ano passado, se estivesse viva, Pagu teria completado 100 anos. Neste 2011, não poderia haver uma homenagem mais justa do que fazer dela tema central da Ordem do Mérito Cultural, a mais importante condecoração conferida pelo governo brasileiro a pessoas e entidades que, de forma significativa, conferiram para a Cultura Brasileira. A premiação aconteceu nesta quarta-feira, no Teatro Santa Isabel, no Recife. Na ocasião, Zuzu Angel, minha querida mãe, também foi homenageada. Mas a noite era mesmo de Pagu...
Pagu foi pensada e apresentada em detalhes. Toda a sinalização do evento, as imagens projetadas no palco durante a premiação, o livreto de apresentação dos premiados e até um kit Pagu foi distribuído a todos os convidados na cerimônia de entrega da Ordem do Mérito Cultural, constando de foulard Pagu, t-shirt Pagu, bolsa Pagu, diário de Pagu...
Pagu nasceu em 1910, na cidade de São João da Boa Vista, interior de São Paulo. Sempre foi muito precoce. Aos 12 de idade, conheceu conheceu Olympio Guilherme, diretor do primeiro filme neorrealista brasileiro, Fome (1931), com quem iniciou sua vida sexual. Aos 15, Pagu já colaborava, sob o pseudônimo de Patsy, para um pequeno jornal em circulação na cidade de São Paulo. Na mesma época, frequentou o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, onde tinha aulas com ninguém menos que Mário de Andrade...
Por volta dos 18 anos, conheceu o poeta Raul Bopp, que lhe deu o apelido de Pagu, pois achava que seu nome era Patrícia Goulart, ao invés de Patrícia Galvão. O apelido, vocês sabem, a acompanhou pela vida toda. Foi o mesmo Raul Bopp quem a enturmou com os artistas e poetas modernistas. A jovem passou a frequentar reuniões na casa de Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade. O casal ficou encantado por ela. Tarsila adorava vestir Pagu como se fosse a sua bonequinha e a levava para todos os lugares. A admiração era mútua. Pagu foi bastante influenciada por Tarsila, e também a influenciou nos traços de seus desenhos. Era impossível não se encantar pelo ar misterioso da bela Pagu... Oswald de Andrade que o diga! O encantamento foi tal, que ele acabou largando Tarsila para ficar com a menina, para grande sofrimento da artista...
Aos 19, Pagu passa a colaborar com a revista modernista da Antropofagia, onde publica alguns de seus desenhos. No ano seguinte, 1930, casa-se com Oswald de Andrade, com quem tem um filho chamado Rudá. A escolha do local para a cerimônia do "Sim" foi um tanto ou quanto peculiar: um cemitério! Nessa mesma época, Pagu viaja para Buenos Aires, onde conhece Luis Carlos Prestes. Volta ao Brasil, encantada com seus ideais e filia-se ao Partido Comunista Brasileiro. Junto com Oswald, publica o polêmico jornal O Homem do Povo, impedido de circular pela polícia. Pouco tempo depois, Pagu é presa por se envolver em uma manifestação. Tornou-se a primeira mulher a ser presa no Brasil por motivos políticos...
A história segue, Pagu é libertada, mas ainda seria presa mais 22 vezes em sua vida! Todas por motivos políticos. Algum tempo depois, publica o primeiro romance proletário brasileiro, Parque industrial, e passa a viajar o mundo, como correspondente de jornais do Brasil...
Pagu sendo libertada de uma de suas inúmeras prisões por motivos políticos |
Em sua volta ao Brasil, se separa de Oswald de Andrade. Devido a suas ideias libertárias, passa a ser considerada uma "inimiga" do governo Vargas. Anos mais tarde, casa-se com o jornalista Geraldo Ferraz, com quem tem um filho, Geraldo Galvão Ferraz. Continua escrevendo poesias, crônicas e romances. Além de colaborar com jornais e traduzir livros, arrisca-se, também, como dramaturga. Pagu foi uma mulher muito ativa, mesmo com as idas e vinda da prisão, ela continuava a produzir. Em 1962, doente, morre de câncer, aos 52 anos...
Pagu era cheia de personalidade. Além de vanguardista no modo de pensar, agir, escrever e desenhar, ela ainda ficou bastante marcada por seu estilo de se vestir. Pagu era ultra-fashion. Andava sempre maquiada, lábios preenchidos por batom vermelho bem escuro, quase roxo de tão intenso. Os cabelos no ombro, desgrenhados, um pouco desarrumados, mas super charmosos. Blusas transparentes ou roupas curtas demais para a época não eram problema para ela...
A Ordem do Mérito Cultural 2011, além de contemplar, merecidamente, tantos nomes e valores da cultura nacional, também foi uma boa oportunidade para muitos conhecerem a admirável, incontrolável e intensa Pagu!...
De:Luis Nassif
Finanças Islâmicas
Diogo Bercito (Folha de S. Paulo, 30/10/11) informa sobre Finanças Islâmicas, que crescem na Ásia. Nelas não se pode ter “gharar“. “Riba“, também não. Diz o ditado: “al maal li i’mar al ardh“. O mercado financeiro islâmico, regido pelas leis da sharia (regras religiosas), tem o próprio jargão econômico. “Gharar” é especulação. “Riba“, juros. Ambos são proibidos para respeitar o ditado: “o dinheiro serve ao desenvolvimento do mundo”. Um outro termo desse mercado tem ganhado destaque: sukuk: as operações financeiras que remuneram investidores sem pagar juros ou envolver especulação.
A Malásia concentra dois terços desse mercado, estimado em US$ 100 bilhões, emitindo sukuks para financiar megaprojetos no país. No último dia 14, o governo da Malásia lançou o primeiro desses títulos atrelado ao yuan (moeda chinesa), em um valor equivalente a R$ 140 milhões.
A emissão de sukuk vem crescendo 15% ao ano, não apenas por diversificar investimentos, mas também por oferecer uma espécie de alternativa ética ao mercado financeiro convencional. “São pessoas reais, ativos reais, projetos reais e empregos reais – e não o vapor do ‘subprime’ e dos derivativos que não criam valor real”, diz à Folha Daud Abdulla, presidente da Universidade Global de Finanças Islâmicas.
É uma mobilização de capital eficiente para o benefício da economia real segundo seus defensores. Apesar das loas que recebe de seus partidários, o mercado financeiro islâmico ainda se restringe a um montante limitado de operações. No Brasil já se operou alguma coisa, mas não com sukuk. Há expectativa, porém, de que o país se torne polo regional da prática na América Latina.
Isso enquanto investidores tradicionais se acostumam a um aparato distinto daquele em que costumam operar. “Para obedecer aos princípios religiosos e, ainda assim, oferecer produtos atrativos, os bancos islâmicos têm de montar operações muitas vezes complexas”, afirma Ahmed Sameer el Khatib, que pesquisa Finanças Islâmicas na Faculdade de Economia e Administração da USP.
Entre as estratégias possíveis, está a criação de uma empresa, capitalizada por meio de sukuk. O investidor que comprar esses títulos se torna uma espécie de acionista. Ele é remunerado não com juros, mas “leasing” (como um aluguel), recebendo de acordo com os rendimentos da firma.
Além de ser uma movimentação complicada, não é consenso entre islâmicos que todo esse aparato evite, de fato, a cobrança de juros. “É uma indústria controversa”, diz Angela Martins, diretora do Banco Pine, que nem por isso deixa de ser entusiasta da prática. “Há a tentativa de fazer as operações de uma maneira mais justa.” Autora do livro “A Banca Islâmica” (ed. Qualitymark), Martins é uma das únicas especialistas nesse mercado no Brasil. Ela trabalhou antes no banco árabe ABC. “É um desafio porque, em sua maioria, as grandes instituições islâmicas estão ‘contagiadas’ pela cobrança de juros”, afirma a especialista.
Estudos costumam marcar o Brasil no mapa do sukuk como um futuro centro da prática na América Latina. Se faltam evidências, sobram especulações em relação a esse cenário promissor.
O especialista Daud Abdulla afirmou que o Brasil deve emitir o primeiro sukuk do país em 2012. O presidente da Universidade Global de Finanças Islâmicas disse não poder entrar em detalhes devido a “acordos de confidencialidade prévios”. Mas ele dá pistas. “Algumas companhias brasileiras planejam levantar capital por meio de sukuk para demonstrar que compreendem que ‘halal’ é todo o processo de produção, e não apenas o abate da carne.” “Halal” é o nome dado aos produtos que respeitam as leis islâmicas, semelhante ao “kosher” para os judeus.
Ao levar essas regras em consideração inclusive na hora de financiar projetos, empresas brasileiras podem receber maiores investimentos vindos de países islâmicos.
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que regularia esse tipo de prática no Brasil, diz que “no momento não recebeu pedido para avaliar a oferta de tais títulos”.
Em 2000, a Petrobras testou outra variedade de operação no mercado islâmico: a murabaha, modalidade de venda em que os custos de produção são declarados previamente ao comprador. A empresa confirma ter realizado a operação, detalhando apenas que ela envolveu uma “vinculação com importação de óleo”.
Para Angela Martins, especialista nesse mercado, um dos obstáculos para a expansão do sukuk no Brasil, perpassando as fronteiras da religião, é o desconhecimento a respeito desse mercado. “Você não consegue praticar um produto com essa dificuldade se as pessoas não estiverem preparadas.” Ela planeja, em parceria com a FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade), a criação de uma disciplina a respeito das Finanças Islâmicas.
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
Justiça triunfa. Homem rouba atum e é preso!
A Defensoria Pública de São Paulo entrou na quinta-feira (10) com um pedido de habeas corpus em favor de um rapaz de 29 anos, acusado de tentar furtar quatro latas de atum e uma lata de óleo. Juntos, os produtos somam R$ 20,69. Na véspera, quarta-feira (8), ele havia sido condenado à pena de um ano e seis meses de prisão pela juíza da 9º Vara Criminal da Capital pelos furtos.
Como ele não estava presente à audiência, por ter se atrasado, a juíza determinou que o rapaz fique preso enquanto tramitar recurso da Defensoria contra a condenação. O rapaz mora na Zona Leste da cidade e alega que demorou mais de três horas para chegar ao Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste. Quando ele se apresentou, foi preso na hora.
A defensora pública Paula Barbosa Cardoso esclareceu a situação à Juíza Patrícia Alvares Cruz, mas a prisão foi mantida, segundo informações da assessoria de imprensa da Defensoria Pública. No pedido de habeas corpus, a Defensoria argumentou que, conforme decisão anterior do Supremo Tribunal Federal (STF), em função do baixo valor dos bens e de sua natureza alimentícia, deve ser aplicado o princípio da insignificância para arquivar o processo criminal.
A defensora também destaca que a pena de prisão em regime fechado é excessiva e, por essa razão, ele deve continuar respondendo ao processo em liberdade – inclusive por ter comparecido à Justiça na data agendada. O pedido liminar do habeas corpus deve ser apreciado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.
Mata Hari: espiã ou vítima?
“As evidências indicam que ela foi inocente” afirma Pat Shipman, autora de “Femme Fatale: Love, Lies and the Unknown life of Mata Hari”. Mata Hari, a bailarina exótica que em 1917 foi condenada e executada por espionagem ao serviço do governo alemão, transformou-se numa eterna lenda. A aura de mistério por detrás da personagem que criou colocou-a no meio de jogos de guerra, como um peão estrategicamente movido entre inimigos. Shipman acrescenta ainda que “ela nunca poderia ser clandestina, pois atraía todas as atenções”.
A criação de “Mata Hari”
Margaretha Gertruida Zelle nasceu na Holanda em 1876. Com apenas 19 anos casou-se com um capitão, funcionário da Companhia das Índias Orientais. Após o casamento, partiram para a Indonésia, onde viveram durante sete anos. Esta nova vida encantou Margaretha que aproveitou, então, para aprender as danças que a tornaram conhecida. No entanto, era também infeliz: o marido era alcoólico e tinha um caso com a ama dos filhos. Com a morte do filho mais velho, decidem regressar à Holanda. E a súbita morte do mais novo, no caminho, leva-a a deixar o marido e ir para França.
Em Paris, Margaretha consegue trabalho como modelo para alguns artistas, e depois num circo. Naquela época, apercebendo-se do fascínio que os parisienses tinham por espectáculos alusivos à cultura oriental, decide criar “Mata Hari” (ou “Olho da Manhã”). Uma bailarina exótica e misteriosa, que actuava em trajes indianos e conquistava todos os homens da alta sociedade.
Fama e espionagem
O sucesso dos seus espectáculos levou-a até aos principais palcos da Europa, muito frequentados por aristocratas e militares. Esta fama trouxe-lhe (mais) um novo amor, pelo qual abandonou a carreira entre 1910 e 1911. Mas pouco depois, terminada essa relação, Mata Hari volta a dançar e viaja para Berlim. Colecciona uma série de amantes e, com a situação na cidade a ficar difícil, a sua vida complica-se também.
Em 1914, com a Primeira Guerra Mundial, Mata Hari, sem trabalho e sem dinheiro, tenta regressar a Paris. Só que, sem saber, a bailarina já está na mira dos militares, que a impedem de entrar. As ligações desprendidas daquela mulher levantam suspeitas nas autoridades francesas e inglesas.
Quando finalmente deixa Berlim, conhece um oficial russo por quem se apaixona. Entretanto, este é vítima de um tiro no olho que o leva a um hospital longe da capital. Mata Hari, ao procurar saber onde estava o oficial, é detida pela polícia francesa. Sob a vigilância de investigadores – desde que entrara novamente em Paris -, a bailarina era considerada uma espia inimiga, a agente H21 ao serviço do governo alemão. As autoridades exigem que “mude de lado” caso queira ver novamente o oficial. Desesperada, aceita a proposta e é enviada para Espanha com a missão de seduzir o militar alemão Hauptmann Kalle.
Pouco habilidosa na espionagem, não consegue nenhuma informação sobre os planos de guerra dos alemães. O próprio militar Kalle envia ainda um telegrama a Berlim, interceptado pelos franceses, referindo-se a Mata Hari como agente secreta. Sem explicação para tal, a bailarina é presa em Fevereiro de 1917 e condenada em Outubro por traição a França e por actuar como espia dupla.
Greta Garbo interpretando Mata Hari.
Condenação e dúvidas sobre a sua actuação
O papel de Mata Hari nas estratégias de guerra tornou-se um mito. A sua vida despertou tanta curiosidade que, em 1931, chegou ao grande ecrã interpretada por Greta Garbo. A personagem que criou em torno de si é vista como um símbolo da ousadia feminina numa época de valores demasiado conservadores. Por essa razão, as dúvidas sobre se teria realmente sido espia ou não sempre pairaram no ar. Nos anos 70, um veterano de guerra que iniciou uma investigação sobre a condenação de Mata Hari afirmou que o governo francês a sacrificou para evitar uma derrota. “Eles usaram-na como uma campanha de propaganda contra a Alemanha. Ela queria aproveitar a vida ao máximo e não percebeu que, com a guerra, tudo tinha mudado”.
No seu julgamento em 1917, não ficou provado que tivesse passado informações secretas. Sobre o telegrama que a denunciou, este veterano explicou que tudo não passou de uma vingança montada, pois o Major Kalle sabia que este seria interceptado pelos franceses. É que a bailarina recebera, em 1916, 20 mil francos do cônsul Karl Kroemer para espiar os aliados. Recebeu o dinheiro, mas nunca actuou como agente H21. Isto levou a que fosse incriminada de forma estratégica.
A escritora Pat Shipman, autora da biografia “Femme Fatale: Love, Lies and the Unknown life of Mata Hari”, afirma também a inocência da bailarina. A autora compara o seu status com o de Marilyn Monroe na década de 60 “Era reconhecida em toda a parte e vista como a mulher mais sexy e desejada da Europa”. Depois de ter analisado vários documentos que tinham permanecido secretos, descobriu que não foi espia, mas apenas um bode expiatório. A sua condenação esteve envolta em provas fabricadas e intrigas de um poderoso jogo de inimigos. Uma mulher como Mata Hari “nunca podia ser clandestina, pois atraía todas as atenções. (…) Ela foi condenada não por espionagem, mas por imoralidade e falta de vergonha” acrescenta.
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Servidora da Guarda denuncia assédio moral
Denúncia de assédio moral na Central de Operações da Guarda Municipal Foto: Leonardo Contursi |
Atitudes autoritárias, privilégios para alguns em detrimento de outros, uso de agressão física e gritos para intimidação, chacotas sobre idade e tipo físico de mulheres. Essas são algumas das situações que ocorrem na Central de Operações da Guarda Municipal de Porto Alegre, conforme relato feito por Ana Maria Bombassaro, integrante da corporação há nove anos. As denúncias de assédio moral feitas pela servidora foram relatadas na Comissão de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana (Cedecondh) da Câmara Municipal da Capital na tarde desta terça-feira (8/11).
Os problemas funcionais trazidos por Ana Maria foram corroborados por quase duas dezenas de guardas municipais que acompanharam a reunião e também apresentaram seus relatos. Diversos servidores da corporação manifestaram na Cedecondh situações que incluem a falta de acompanhamento psicológico em situações de estresse no trabalho, o mau uso de recursos e equipamentos, a falta de opções para reclamações de situações no trabalho, e intrigas promovidas por chefias colocando servidores contra servidores. "O assédio moral e político nunca foi tão grande como agora", relatou a guarda municipal, que tem 18 anos de serviço.
Todos os relatos foram acompanhados por representação do Sindicato dos Servidores do Município de Porto Alegre (Simpa) e da Secretaria Municipal de Administração. Carmem Padilha, do Simpa, lembrou que a entidade já enviou várias solicitações de reuniões com o titular da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Segurança Urbana, órgão ao qual está ligada a Guarda Municipal. "O secretário Nereu D Avila tem se negado sistematicamente a conversar", afirmou ela. A Secretaria também não enviou representante à reunião. "Nereu D"Avila, de forma covarde, mais uma vez não veio para o debate", disse ainda Carmem.
No início das discussões, a vereadora Maria Celeste (PT), presidente da Cedecondh, deu conhecimento de ofício encaminhado por Nereu D Avila e recebido no dia 4 de novembro. No texto, o secretário diz que considera a reunião uma "proposição prematura antes da tramitação de alguns procedimentos necessários para a verificação dos fatos que geraram o processo". O oficio ressalta ainda que, ao ter a conclusão, a Secretaria "dará ciência restrita aos integrantes da Cedecondh por se tratar de matéria confidencial". Contudo, ainda durante os debates, o vereador Sebastião Melo (PMDB) manteve contato com Nereu D"Avila, que se comprometeu a vir em uma próxima reunião da Cedecondh para tratar da questão.
A vereadora Fernanda Melchionna (PSOL), que acompanhou as discussões, sugeriu que o relatório da reunião, com todos os depoimentos apresentados por integrantes da Guarda Municipal na Cedecondh, seja encaminhado ao Ministério Público do Trabalho. A reunião teve ainda a presença do vereador Toni Proença (PPL), que dirigiu os trabalhos de recolhimento de depoimentos dos guardas municipais.
Helio Panzenhagen (reg. prof. 7154)
De: Camarapoa
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
Os prisioneiros da Micro$oft
Este texto foi publicado originalmente na Revista A Rede, ano 7, n.74, Outubro 2011
Sérgio Amadeu da Silveira
Em 2007, o presidente da Microsoft do Brasil procurou o embaixador norte-americano em Brasília para acusar o governo brasileiro de fazer uma campanha mundial pela consolidação de um padrão aberto, o chamado Open Documento Format (ODF) . O relato do encontro faz parte dos documentos encontrados no no CableGate, os vazamentos de mensagens trocadas entre o governo norte-americano e suas embaixadas, divulgados pelo Wikileaks.
O Brasil, na gestão do presidente Lula, teve um papel internacional destacado em defesa dos padrões tecnológicos abertos, pela atuação dos seus gestores públicos, pelas contribuições de sua comunidade de software livre e pela enorme competência e dedicação de Jomar Silva, coordenador da ODF no Brasil. Jomar estudou detalhadamente o padrão que a microsoft resolveu definir como aberto e mostrou suas falhas e incongruências técnicas contribuindo decisivamente pela não-aprovação do chamado OpenXML na primeira rodada na ISO (Organização Internacional de Padrões) sobre sua adoção.
A microsoft participou da formulação inicial que gerou o ODF. Entretanto, a corporação de softwares proprietários percebeu que se o mundo tivesse um único formato para a guarda de documentos poderia perder sua base de usuários, pois a interoperabilidade e compatibilidade plena trariam mais competição para os seus produtos. Por isso, rompeu com o ODF e alavancou um padrão chamado Open XML que é um amontoado de especificações do chamado Office da microsoft. A corporação passou a pressionar a ISO para aprovar o OpenXML, pois se o mundo tiver dois padrões, na prática não terá a plena comunicabilidade e assim as técnicas de aprisionamento de usuários da corporação de Seatle estariam preservadas.
Formatos são as definições para o armazenamento de dados digitais. Eles podem ser abertos ou fechados. Um formato é aberto quando: está baseado em padrões abertos; foi e é desenvolvido de forma transparente e de modo coletivo; suas especificações estão totalmente documentadas e acessíveis a todos; é mantido para ser usado independente de qualquer produto ou empresa; por fim, é livre de qualquer extensão proprietária que impeça seu uso livre.
Formatos têm grande poder cibernético, pois delimitam, controlam, bloqueiam, aprisionam e criam dependências. Daqui dez anos conseguiremos ler um texto escrito em um papel, mas será que conseguiremos ler um texto guardado em um formato proprietário feito por um software específico? Será que conseguiremos abrir um arquivo de som armazenado em um formato controlado por uma única empresa? E se a empresa descontinuar o formato? Perderemos nossa memória digital?
Existe uma grande diferença entre a “leitura direta” e a “leitura dos formatos”. Esta última exige a intermediação de softwares. Por isso, precisamos de formatos que sejam seguidos por todos e que permitam que diversos softwares possam abri-los. Desse modo, estaremos livres para usar o programa de quisermos para salvar e abrir nossos arquivos.
Em abril de 2010, o então líder da Apple, Steve Jobs, escreveu um texto explicando que Apple não utiliza o formato flash exatamente para não ficar aprisionada a empresa Adobe. Nele, Jobs afirma que “os produtos Flash da Adobe são 100% proprietários. Eles só estão disponíveis a partir da Adobe e a Adobe tem autoridade exclusiva sobre a sua valorização futura, preços, etc.”
No mesmo texto Jobs alerta que “embora os produtos Flash da Adobe estejam amplamente disponíveis, isso não significa que eles sejam abertos, pois eles são controlados totalmente pela Adobe e estão disponíveis somente a partir do Adobe. Por basicamente qualquer definição, o Flash é um sistema fechado.” Jobs sabe que o padrão aberto é o que garante a liberdade de criação e de ação de usuários e de desenvolvedores. Padrões fechados colocam os usuários em prisões lógicas que os tornam completamente dependentes dos desenvolvimentos das empresas que os dominam.
A microsoft é uma das empresas que apostam no aprisionamento dos usuários e não na competitividade de seus produtos. Por isso, sua mais recente cartada de aprisionamento foi anunciada por seus dirigentes para o lançamento do Windows 8. A corporação de Seatle exigirá que as empresas de hardware vendam seus computadores com as instruções de inicialização, a BIOS, criptografadas. Assim, será improvável que um usuário comum possa desinstalar o Windows, instalar o GNU/Linux, o FreeBSD, OpenBSD, e até usar o dual boot, ou seja, os dois sistemas operacionais na máquina. Os estrategistas da microsoft chamam isto de “Trusted Computing” que em protuguês pode ser traduzido por “computação confiável”. Para quem? Confiável para a microsoft tentar manter os computadores de seus usuários aprisionados a seus formatos proprietários. Liberte-se!
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
Neonazistas alemães usam o futebol para divulgar sua ideologia
O futebol é a modalidade esportiva mais popular da Alemanha, e também os políticos gostam de "tirar uma casquinha" da popularidade do esporte. Até mesmo a chanceler federal alemã, Angela Merkel, apareceu na mídia, durante a Copa do Mundo de 2006, ao lado de jogadores ou acompanhando jogos nos estádios.
Mas não só os políticos fazem uso da popularidade do esporte das massas. "Por saber disso, grupos neonazistas fazem o mesmo", afirma o jornalista Ronny Blaschke, autor do livro Angriff von Rechtsaussen – wie Neonazis den Fussball missbrauchen (Ataque da extrema direita – como neonazis se aproveitam do futebol).
Ele não se concentrou nas ligas profissionais, pois nelas a exposição de símbolos da extrema direita, como a suástica, por torcedores de tendência neonazista é sabidamente mais difícil, mas privilegiou o esporte amador. Ainda assim, o resultado da apuração feita por Blaschke em diversos clubes alemães e no seu entorno é assustador: o futebol alemão tem um problema, tanto no Leste como no Oeste. É só uma questão de observar com cuidado.
Neonazistas não são facilmente reconhecíveis
Jaquetas de couro, cabeça raspada e coturno: esse estilo já está ultrapassado, segundo Blaschke. "Não se pode mais reconhecer tão facilmente os neonazistas. E no futebol isso fica claro." Nesse meio, os radicais de direita expressam sua ideologia através de códigos ou símbolos específicos.
Eles priorizam, por exemplo, certas grifes de roupa. Também os escudos dos clubes são complementados com a águia imperial alemã. Ou, em jogos das ligas amadoras, um grupo uniformizado de torcedores neonazistas se dispõe nas arquibancadas de maneira a formar uma "suástica humana".
Números estampados nas camisetas dos clubes também podem trazer uma mensagem. Por exemplo, o 88. "Isso poderia ser a idade da avó ou o ano de nascimento do filho. Mas pode também ser a saudação 'Heil Hitler': o H é a oitava letra do alfabeto". O mesmo vale para a combinação de 1 e 8, que equivaleriam à primeira e à oitava letra do alfabeto: A e H, iniciais de Adolf Hitler.
Futebol: plataforma perfeita
Além de tudo isso, a estrutura das torcidas organizadas extremistas, como os ultras, fornece pontos de contato para os grupos de extrema direita. Assim como os grupos neonazistas, as torcidas organizadas são compostas principalmente por homens jovens, que se organizam de forma hierárquica e para os quais o clube significa muito mais do que uma simples ocupação das horas vagas.
"Frequentemente ouvi de torcedores o mesmo vocabulário dos integrantes do NPD [partido alemão de extrema direita]", relata Blaschke. "Honra, coesão, pátria, lealdade. É, portanto, muito fácil combinar uma coisa com a outra", afirma o jornalista.
O assistente social Andreas Schmidt observa fenômeno semelhante. Ele trabalha no projeto voltado aos torcedores do Colônia. Ele lembra que no futebol trata-se também de criar rivalidade e excluir os adversários. "Xingamentos são comuns no futebol. A questão é somente como alguém será xingado", diz Schmidt.
Quem já esteve numa arquibancada e já prestou atenção aos cantos das torcidas sabe exatamente do que Schmidt está falando. Antigos ídolos que trocaram de camisa e agora jogam para o arquirrival são chamados de "ciganos", por exemplo. Também homofobia e outros tipos de insultos são comuns. Quando se faz parte de uma massa anônima, preconceitos e difamações vêm com mais facilidade à tona.
Clubes amadores
Principalmente no esporte amador, Blaschke observou reiteradamente como neonazistas se infiltram nas torcidas ou até mesmo atuam como trabalhadores sociais voluntários nos clubes, como treinadores de divisões de base ou até mesmo como árbitros de partidas.
O futebol é o espaço perfeito para isso, se comparado a outros esportes. "Isso existe também no basquete e no handebol, mas não é tão desenvolvido e reforçado pela tradição e pela cultura", explica. No esporte amador, um neonazista ou um integrante do NPD também poderia ser treinador de natação, por exemplo. "No hóquei no gelo, eu já ouvi falar de coisas assim, mas não é uma prática comum."
Blaschke enumera uma série de exemplos que mostram que hoje os neonazistas divulgam sua mensagem de forma muito mais sutil, e que não é possível separar futebol e política, mesmo que muitos torcedores não queiram admitir isso.
Ele cita, por exemplo, o caso de um líder de torcida organizada "ultra", candidato a representante municipal pelo NPD, que usa as cores do seu clube de futebol nos seus cartazes de propaganda.
O que fazer?
O projeto voltado aos torcedores do Colônia se engaja em diferentes campanhas de esclarecimento e também organiza excursões para centros de memória sobre as consequências do extremismo de direita. Existem também diversas iniciativas isoladas, que tem a juventude como público-alvo.
O Arquivo de Imprensa Antifascista de Berlim, por exemplo, apoia muitas dessas iniciativas e presta esclarecimentos sobre diferentes emblemas e códigos usados pelos neonazistas.
A questão não é nova, mas pouco é feito para enfrentá-la. Também por definição o problema não é tão simples. O que é exatamente "extrema direita" e quem pode ser classificado como tal? Blaschke alerta que é preciso ter muito cuidado para julgar, quando se trata, por exemplo, de hooligans, skinheads ou ultras. "É tudo muito difícil de decodificar. É preciso se esforçar e analisar separadamente."
Autora: Olivia Fritz (mp) Revisão: Alexandre Schossler De: Deutsche Welle
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Mercenários: uma tradição suíça
Durante quinhentos anos mercenários suíços foram à guerra por governantes estrangeiros em troca de remuneração.
Graças a esse "produto" de exportação a Suíça foi poupada em sua história, como explica o historiador Jost Auf der Maur, autor do livro "Mercenários pela Europa".
O primeiro material de guerra para exportação do país dos Alpes era de carne e sangue: eram seus próprios filhos, que saiam para outras terras servir imperadores estrangeiros em suas batalhas através da Europa.
Para utilizar uma expressão moderna, os serviços de mercenário eram uma situação "win-win", ou seja, onde todos ganhavam, como explica o historiador suíço Jost Auf der Maur em seu mais recente livro. Potentados estrangeiros asseguravam seu poder graças a essa mão-de-obra especializada. Esta retornava à Suíça com bastante dinheiro e ainda assegurava outra benesse: a região que compreendia a Suíça no passado foi poupada das batalhas para que não necessitasse ela própria de soldados. Um conflito interno teria minado esse "produto" de exportação.
Para utilizar uma expressão moderna, os serviços de mercenário eram uma situação "win-win", ou seja, onde todos ganhavam, como explica o historiador suíço Jost Auf der Maur em seu mais recente livro. Potentados estrangeiros asseguravam seu poder graças a essa mão-de-obra especializada. Esta retornava à Suíça com bastante dinheiro e ainda assegurava outra benesse: a região que compreendia a Suíça no passado foi poupada das batalhas para que não necessitasse ela própria de soldados. Um conflito interno teria minado esse "produto" de exportação.
swissinfo.ch: O senhor mesmo é originário de uma família do cantão de Schwyz que, graças à intermediação de mercenário para potentados estrangeiros, ganhou muito dinheiro e poder. Existe um orgulho pelos antepassados?
Jost Auf der Maur: Não, pois eles faziam um negócio sujo.
swissinfo.ch: Foi a própria história da família que levou o senhor a escrever esse livro?
J.A.d.M.: Eu quero destacar em um capítulo que o mercenarismo teve muito mais importância do que é ensinado nas escolas. Durante meio milênio mercenários suíços colaboraram em conflitos conduzidos por governantes estrangeiros. Isso ocorre em completa oposição à tradição humanitária da Suíça, hoje tão comumente invocada, mas que existe na verdade há relativamente pouco tempo.
swissinfo.ch: O senhor descreve que muitos homens se ofereciam como mercenários mais pela paixão por aventuras. Não teria sido a penúria econômica o argumento mais importante?
J.A.d.M.: Na época existiam várias razões para abandonar a pátria, dentre elas também a fome. Mas na realidade havia outras necessidades como a sede pelo butim e por aventuras. Um mercenário podia ganhar dinheiro vivo, o que na época era algo muito raro. O interesse era tanto por esse trabalho, que por vezes chegou até mesmo a faltar mão-de-obra na agricultura.
swissinfo.ch: Os mercenários retornavam, se conseguissem, muitas vezes como inválidos, traumatizados ou alcóolatras. Isso não provocava também problemas sociais para as famílias?
J.A.d.M.: Um motivo de escrever o livro é iluminar alguns aspectos pouco esclarecidos como as consequências políticas, sociais, culturais e científicas, pois o contexto militar do mercenarismo é bastante conhecido. Mas seguramente o estado de saúde daqueles que retornavam era seguramente um problema.
swissinfo.ch: A intermediação de mercenários estava na mão de poucas famílias, que na verdade eram empresas militares e de guerra. Elas chegavam a ter lucros de até 18%. Como era esse negócio realmente?
J.A.d.M.: Essas famílias de intermediadores eram formadas geralmente por antigos suboficiais, muitas vezes também gastrônomos. Elas necessitavam de uma licença, que era dada pelos cantões. Os intermediários faziam os contratos com os mercenários, lhes pagavam um dinheiro de mão e informavam sobre as futuras funções e obrigações.
Faltava mão-de-obra nas tropas de mercenários suíços e para arregimentar pessoal muitas vezes eram utilizados métodos pouco lícitos. Jovens homens, por exemplo, eram conquistados através de vinho barato oferecido por gastrônomos. Muitas vezes colocava-se dinheiro nos seus bolsos e depois diziam que eles teriam assinado antes um contrato.
Faltava mão-de-obra nas tropas de mercenários suíços e para arregimentar pessoal muitas vezes eram utilizados métodos pouco lícitos. Jovens homens, por exemplo, eram conquistados através de vinho barato oferecido por gastrônomos. Muitas vezes colocava-se dinheiro nos seus bolsos e depois diziam que eles teriam assinado antes um contrato.
swissinfo.ch: Haviam empresas militares dirigidas pelas esposas, enquanto seus maridos chefiavam regimentos de suíços nas casas reais europeias. Esses eram casos excepcionais?
Jost Auf der Maur (Echtzeitverlag) |
J.A.d.M.: Também nesse caso as pesquisas ainda estão no seu estágio inicial. Uma das novidades que conto no meu livro é o papel das mulheres em determinadas empresas militares familiares. Elas tinham obrigações complexas de administração ao chefiar esses escritórios de intermediação. Dentre suas tarefas incluíam-se também a organização do trabalho de engajamento, abrigar aqueles que assinaram os contratos e planejar a viagem até o local de trabalho. A flutuação era relativamente elevada. Os efetivos das tropas nas casas reais eram controlados mensalmente e precisavam ser sempre completados. A tarefa das mulheres era também de vigiar a construção das residências que os chefes de tropas faziam construir na sua pátria.
swissinfo.ch: Seria possível definir a forma de negócios na antiga Confederação Helvética através da seguinte fórmula: "Filhos vendidos e felicidade comprada para o país"? Talvez o juramento do Rütli não seja o verdadeiro fundamento da Suíça, mas sim o sangue dos seus próprios filhos?
J.A.d.M.: Dizer isso talvez seja pouco diferenciado. Mas a felicidade da Suíça é um dos mais interessantes aspectos da história do mercenarismo. De forma nenhuma é verdade que a Confederação Helvética conseguiu conquistar sua independência somente através dessas lutas por liberdade. O país agradece a sua relativa tranquilidade apenas ao exportar o seu melhor produto: os mercenários. Por isso podemos dizer que a felicidade suíça é um predecessor da atual neutralidade.
swissinfo.ch: Um dos lucros do mercenarismo é avaliado pelo senhor no ponto em que os mercenários, ao retornarem às suas terras, traziam novas ideias e conhecimentos para uma Suíça que era relativamente atrasada. O futuro Estado moderno beneficiou-se disso?
J.A.d.M.: Oficiais como Henri Dufour seriam impossíveis de se pensar sem sua formação educacional na França. Dufour conseguiu resolver de forma ideal a guerra civil de 1847, que praticamente não deixou vestígios.
Também é simbolicamente uma forte imagem que o general tenha, juntamente com o pacifista Henry Dunant, fundado a Cruz Vermelha Internacional.
Também é simbolicamente uma forte imagem que o general tenha, juntamente com o pacifista Henry Dunant, fundado a Cruz Vermelha Internacional.
Renat Kuenzi, swissinfo.ch
Adaptação: Alexander Thoele
Adaptação: Alexander Thoele
domingo, 6 de novembro de 2011
Primeira condenação por ateofobia atinge Datena
Este que vos escreve é um dos que moveram ações contra José Luiz Datena por causa da miríade de falsas acusações e ofensas gratuitas por ele feitas contra ateus. O processo (№ 625.01.2010.018574) tramitou pela 3ª Vara Cível da Comarca de Taubaté.
No dia 13 de setembro foi proferida a sentença (publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo no dia 15), que pode ser lida aqui, condenando José Luiz Datena e Rádio e Televisão Bandeirantes Ltda. a pagarem ao autor desta postagem o valor de R$ 10.000,00.
Trata-se, até onde sabemos, da primeira vez na história deste país que alguém é condenado por discriminação contra ateus.
No dia 26 de outubro foram protocoladas as apelações de ambos os réus.
Será também, possivelmente, até onde sabemos, a primeira vez que, em um caso concreto, poderemos requerer que seja retirado da sala de julgamento o crucifixo que se ostenta sobre as cabeças dos julgadores, sem que esse pedido seja negado pelas tergiversações do Conselho Nacional de Justiça.
Petição Inicial: http://www.progressosustentavel.com/peticao.pdf
Sentença: http://www.progressosustentavel.com/sentenca.pdf
Apelações dos Réus: http://www.progressosustentavel.com/apelacoes.pdf
Sentença: http://www.progressosustentavel.com/sentenca.pdf
Apelações dos Réus: http://www.progressosustentavel.com/apelacoes.pdf
Sobre o Caso
No dia 27 de julho de 2010, no programa “Brasil Urgente”, pela TV Band, o apresentador José Luiz Datena dedicou cerca de uma hora a incitar o público ao ódio e a lançar as mais pérfidas acusações àqueles que, pela mais pura expressão da liberdade de consciência, amparados pela Constituição, decidiram não seguir religião alguma, não professar nenhum tipo de fé religiosa, nem adotar como objeto de adoração nenhum dos deuses criados pela história humana, não por serem contra alguns dos princípios dessas doutrinas, mas por não acreditarem, sinceramente, na existência de um plano metafísico que abrigue uma entidade onipotente que regeria o Universo e julgaria os homens.
Como todos aqui já sabem, Datena ultrapassou todos os limites da liberdade de expressão ao declarar e esbravejar, entre muitas outras coisas, que: não quer ateus assistindo seu programa; ateus são “pessoas do mal”; ateus são pessoas “aliadas do Capeta”; ateus são criminosos, egoístas, gananciosos, capazes de cometer os mais hediondos atos; ateus não têm limites; ateus são responsáveis pelas barbaridades narradas em seu programa; “quem não acredita em deus não costuma respeitar os limites, porque se acha o próprio deus”; é por causa dos ateus “que o mundo está assim, essa porcaria”; um homem que mata a tiros uma criança de dois anos seria “um exemplo típico de um sujeito que não acredita em deus”; só pode estar no “caminho certo” quem acredita em deus.
Datena chegou a lançar uma enquete para “provar para essas pessoas do mal” que deus existiria e que “o bem é maioria”, com a questão “Você acredita em Deus?”, cujas respostas “Sim” e “Não” poderiam ser dadas por telefone: “Mas se eu fizer uma pesquisa aqui, se você acredita em deus ou não, é capaz de aparecer gente que não acredita em deus”. Ao constatar que mais de mil pessoas declararam ser ateias, Datena, em tom indignado, passou a incitar o público a vencer a enquete, a “dar de lavada nos ateus”, além de declarar coisas como “tem muito bandido votando do outro lado”, “até de dentro da cadeia”.
Quando se esperava que, num programa seguinte, Datena fizesse algum tipo de retratação – ao menos em respeito à indignação que ele provocou na comunidade ateia do país com suas acusações caracterizadas pela mais árida argumentação –, o que ele fez foi debochar e reafirmar todas as suas declarações, baixando o nível da linguagem e explicitando a sua vontade gratuita de ofender: “Hah… Tem até uma associação… de ateus! Que pediu direito de resposta para falar aqui. Disse que eu teria metido o pau em quem não acredita em deus… que se lasque quem não acredita em deus!
Valendo-se do fato de que o programa do dia 27 de julho de 2010, até há bem pouco tempo, não tinha ido parar na Internet, Datena mostrou que sua palavra vale tanto quanto a de um moleque: ao invés de assumir o que disse e pedir desculpas (ou assumir sem pedir desculpas mesmo), Datena passou a querer se fazer de vítima, dizendo, em todas os seus pronunciamentos sobre esse assunto, que estava sendo processado só por ter dito que determinados comportamentos maus são coisa de “gente sem deus no coração”.
De: Bule Voador
O maior invasor de terras do Brasil não é do MST
A grilagem recorde
Por Lúcio Flávio Pinto
A maior propriedade rural do mundo deixou de existir legalmente na semana passada. O juiz Hugo Gama Filho, da 9ª vara da justiça federal de Belém, mandou cancelar o registro imobiliário da Fazenda Curuá, que consta dos assentamentos do cartório de Altamira, no Pará. O imóvel foi inscrito nos livros de propriedade como tendo nada menos do que 4,7 milhões de hectares.
Seu suposto proprietário podia se considerar dono da 23ª maior unidade federativa do Brasil, com tamanho superior ao dos Estados do Rio de Janeiro, Alagoas, Sergipe e do Distrito Federal. Suas pretensões poderiam ainda exceder essas dimensões. Através de outros imóveis, pretendia alcançar uma área de 7 milhões de hectares, duas vezes e meia o tamanho da Bélgica, país onde vivem mais de 10 milhões de habitantes.
Como uma pessoa – física ou jurídica – consegue se apresentar como detentor de uma área dessas proporções e se manter nessa condição por tanto tempo, como aconteceu no caso da Fazenda Curuá?
Responder a esta pergunta de maneira satisfatória e eficaz pode contribuir para fortalecer o primado da lei nos “grotões” do país, as distantes e geralmente abandonadas fronteiras nacionais. De forma inversa, manter tal anomalia significa perpetuar o domínio da violência e do respeito às regras da vida coletiva e ao superior interesse público.
Em primeiro lugar porque o Estatuto da Terra, editado pelo primeiro governo militar pós-1964, o do marechal Castelo Branco, continua em vigor. Esse código agrário sobreviveu à Constituição de 1988 e se revelou superior em confronto com as regras da Carta Magna. O estatuto, com seu propósito de modernizar o campo brasileiro (mesmo que de forma autoritária, à semelhança do que fez o general MacArthur com o Japão ainda semi-feudal, derrotado pelos americanos na Segunda Guerra Mundial), proíbe a constituição de propriedade rural com área acima de 72 mil hectares (ou 600 vezes o maior módulo rural, o destinado ao reflorestamento, com 120 hectares).
A Fazenda Curuá foi registrada com quase 60 vezes o limite legal. Por que o cartorário legalizou a matrícula do imóvel com sua fé pública, ele que é serventuário de justiça, sujeito à polêmica (e questionada pelo Conselho Nacional de Justiça da ministra Eliana Calmon) Corregedoria de Justiça do Estado?
A apropriação ilegal de terras públicas, fenômeno a que se dá a qualificação de grilagem, é simples, embora de aparência complexa para o não iniciado nos seus meandros. Ainda mais porque lendas são criadas em torno da artimanha dos espertos e passam a ser apresentadas como verdade.
Muita gente acredita que a expressão grilagem se deve à prática dos fraudadores de colocar papéis para envelhecer artificialmente em gavetas com grilos.
Muita gente acredita que a expressão grilagem se deve à prática dos fraudadores de colocar papéis para envelhecer artificialmente em gavetas com grilos.
A verdade é menos engenhosa. A origem é romana e diz respeito ao fato de que a terra usurpada serve para a especulação imobiliária e a formação de latifúndios improdutivos. Tanta terra não cultivada acaba servindo de pasto para grilos. Uma maneira de estigmatizar o roubo de terras públicas de forma popularizada.
O espantoso, no caso da Fazenda Curuá, é que o golpe tenha se mantido por tantos anos. A ação de cancelamento foi proposta em 1996 pelo Instituto de Terras do Pará. Apesar de ter provado que nenhum título de propriedade havia na origem do imóvel, a justiça estadual manteve o registro incólume, decidindo sempre contra o órgão público. Até que o Ministério Público Federal e outros órgãos da União conseguiram desaforar o processo para a justiça federal, que, afinal, reconheceu a ilegalidade da propriedade e cancelou o registro.
Essa tramitação acidentada e pedregosa seria evitado se a justiça do Pará tivesse realmente examinado as provas dos autos. Neles está demonstrado que o uso das terras no rico vale do Xingu, onde está sendo construída a hidrelétrica de Belo Monte e agem com sofreguidão madeireiros e fazendeiros, começou em 1924.
Moradores da região foram autorizados a explorar seringueiras e castanheiras localizadas em terras públicas, através de concessões com tempo determinado de vigência e para fim específico. Exaurida a atividade extrativa vegetal, a área deixou de ter uso, mas algumas pessoas decidiram inscrevê-la em seu nome. Como os cartórios não se preocupavam com o rigor da iniciativa, até mesmo dívidas em jogo deram causa à transmissão da inexistente propriedade de um detentor para outro, formando cadeias sucessórias.
A lesão ao patrimônio público por causa dessas práticas ilícitas permaneceu latente até que uma das maiores empreiteiras do país colocou os olhos nesse mundo de águas, florestas, solos e animais. A C. R. Almeida, criada no Paraná por um polêmico engenheiro, Cecílio do Rego Almeida, que nasceu no próprio Pará, comprou uma firma de Altamira por preço vil (sem sequer pagá-lo por inteiro).
No ativo da firma estavam as terras cobiçadas. Não conseguindo regularizá-las pela via legal, por ser impossível, o empreiteiro decidiu se apossar da área à base do fato consumado e passando por cima de quem se colocasse no seu caminho. Montou uma pequena base no local, contratou seguranças, seduziu os índios vizinhos e fez uso da máquina pública que se amoldou à sua vontade. Os que resistiram à grilagem foram levados às barras dos tribunais, que sempre decidiram em favor do grileiro.
Os magistrados da justiça estadual não se sensibilizaram sequer pela publicação do Livro Branco da Grilagem, editado pelo Ministério da Reforma e do Desenvolvimento Agrário, que não deixava dúvida sobre a fraude praticada. Nem pelos resultados das comissões parlamentares de inquérito instauradas em Belém e em Brasília. Ou pelas seguidas manifestações de todas as instâncias do poder público, estadual e federal. Enquanto exerceu sua jurisdição sobre o caso, a justiça do Pará ficou ao lado do grileiro e de seus herdeiros, quando ele morreu, em 2008.
Foi preciso que o processo chegasse à justiça federal para, finalmente, 15 anos depois da propositura da ação pelo Iterpa, secundado por outros agentes públicos, a situação se invertesse. Não é ainda uma decisão definitiva. Os herdeiros da C. R. Almeida deverão recorrer. Mas já sem o registro cartorial que lhes permitia manipular terras como se fossem os donos do 22º maior Estado brasileiro.
Quem sabe, a partir de agora, a intensa grilagem, um dos males que assola a Amazônia, não possa refluir?
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