sábado, 17 de dezembro de 2011

O protesto nu contra os islamitas - Rui Martins

A primavera árabe poderá custar caro para muitas mulheres que manifestaram na praça Al-Tahrir. E uma delas, decidiu ficar nua para desafiar os fanáticos islamitas.
Ela se chama Aliaa Magda Elmahdy, é egípcia e decidiu enfrentar os islamitas que, pelo jeito, se apropriaram da « primavera árabe ».
Ameaçada de morte, essa jovem de 20 anos, ainda com cara de adolescente, tirou toda roupa e nua desfechou seu ataque contra os fanáticos muçulmanos, capazes de acabarem com todos os direitos das mulheres conquistados, no século passado, pela mulheres egípcias e mergulharem o Egito numa Idade Média corânica.
« Eu reivindico minha liberdade sexual, o direito de não me casar, meu ateismo. As mulheres devem poder viver sua vida como bem entendem », é o desafio lançado por Aliaa.
Se fosse na França medieval, ela seria queimada na fogueira como filha do diabo ou feiticieira, pelos religiosos católicos da Inquisição. Mas a Idade Média cristã-ocidental acabou com a modernização do cristinianismo decorrente dos movimentos da Reforma, de Lutero a Zwinglio e Calvino, e seus estertores foram provocados pela Renascença e pelo Iluminismo, com o laicismo sacralizado pela Revolução Francesa.
Entretanto, no mundo religioso árabe, sem uma central religiosa ditadora dos dogmas, como o Vaticano, ainda é difícil se esperar uma modernização e uma leitura liberal do Corão, para se chegar à moderação e a uma separação do poder divino e poder temporal como aconteceu na Europa. Além disso, a divisão entre sunitas e xiitas (minoritários), é relativizada pela ascenção dos integristas que pregam o retorno à chariá, a aplicação literal da lei do Corão, uma lei que poderia ter seu lugar naqueles anos do VII século, mas hoje é uma lei cruel e desumana.
Por que a importância do desafio de Aliaa Magda Elmahdy ? Porque a tendência hoje, nos países transformados pela « primavera árabe » é a do poder político ser tomado pelos Irmãos Muçulmanos, movimento integrista combatido na tentativa panarábica do líder laico, anticolonialista e não religioso Gamal Abel Nasser. Para Nasser, a tentativa frustrada de unificação árabe visava criar uma frente contra os países colonialistas, Inglaterra e França principalmente, para desenvolver os países árabes.
Os integristas de hoje estão conseguindo a unificação árabe pela religião e, embora os inimigos sejam praticamente os mesmos, os ocidentais, mas as consequências serão desastrosas. O integrismo islamita se alimenta da pobreza, já que os donos do petróleo não souberam distribuir a riqueza nem instaurar regimes com participação popular.
A instauração da chariá é o retorno literal aos preceitos do Corão com punições físicas, tortura e morte, em nome de uma rigorosa moralização dos costumes. E as principais vítimas são as mulheres, que retornam a ser meros objetos, obrigadas a cobrir todo o corpo a fim de não tentarem os homens. Justamente quando estavam conquistando alguns dos direitos mais que comuns entre as mulheres ocidentais.
Evidentemente, existe a exceção turca, país muçulmano que optou pela laicidade, na queda do Império Otomano. O risco é o dos islamitas, usando de força e inquisição, acabarem com sociedades muçulmanas liberais como a existente na Tunísia. Quanto ao Egito, parece já ter o destino selado, devendo ser proibido mesmo às turistas se bronzearem nas praias.
Em termos futuros, basta se imaginar a presença de governos teocráticos islamitas em frente à Europa, do outro lado do Mediterrâneo. Sem se contar a atual presença islamita dentro da Europa. E o mais absurdo é que foi o próprio Ocidente o autor desse quadro – a destruição do Iraque de Sadam Hussein e da Líbia de Kadafi foram o equivalente a retirar as barreiras que continham os xiitas do Irã e os Irmãos Muçulmanos do Egito. Abriu-se a Caixa de Pandora.
Rui Martins, jornalista, escritor, líder emigrante, em Correio do Brasil

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Victoria’s Secrets é acusada de usar algodão de fazendas que exploram trabalho infantil e escravo

Victoria's Secrets
As modelos vestem lingeries produzidas por mãos de escravos
Trabalho infantil e escravo foi explorado em fazendas de algodão orgânico em Burkina Faso, na África, que fornecem para produtos da grife britânica de lingeries Victoria’s Secrets. A informação consta em um relatório de 2008 sobre fazendas certificadas com selos de comércio justo no país e confirmada por reportagem da agência norte-americana Bloomberg News, publicada nesta sexta-feira.
O estudo de 2008 da Helvetas Swiss Intercooperation, organização sediada em Zurique, sugere que “centenas, senão milhares” de crianças poderiam estar vulneráveis a exploração em fazendas no país, na produção de algodão empregado em cadeias produtivas de marcas importantes. O produto era beneficiado e transformado em roupas em fábricas no Sri Lanka e na Índia.
A jornalista Cam Simpson passou seis semanas no país e encontrou casos como o de uma menina de 13 anos que trabalha junto da mãe em uma propriedade na colheita do algodão. Segundo a reportagem, é o segundo ano em que a adolescente trabalha no local.
A marca Victoria’s Secret usa como marketing a informação de que a maior parte do algodão provém de fazendas com certificação de produção orgânica ou de comércio justo. Parte das roupas íntimas da grife traz o percentual mínimo de “fibras orgânicas” que compõe a peça vendida.
A empresa nega ter conhecimento do relatório de 2008. A federação de fazendeiros de Burkina Faso, parceira comercial responsável por promover os princípios orgânicos e de comércio justo, também rechaça a hipótese de serem empregadas crianças nas colheitas.
Segundo a reportagem da Bloomberg, o caso mostra fragilidades de certificações de comércio justo. O segmento teve crescimento de 27% em 2010, alcançando US$ 5,8 bilhões. Parte do avanço decorre justamente da promessa das marcas de que não há exploração de trabalhadores em condições sub-humanas.
Neste ano, no Brasil, a marca espanhola Zara, da empresa Inditex, foi acusada de explorar trabalho escravo no interior de São Paulo. Imigrantes bolivianos estavam entre as pessoas libertadas por fiscais do Ministério Público do Trabalho e do Ministério do Trabalho e Emprego. A companhia ainda negocia um termo de ajuste de conduta (TAC) com os promotores que acompanham o caso e viu sua imagem ser desgastada pelo amplo alcance internacional da notícia.

Devendo R$ 100 mi e baixo Ibope, Rede TV! naufraga



Devendo R$ 100 mi e baixo Ibope, Rede TV! naufraga
Foto: Felipe L. Gonçalves/Edição/247
Emissora de Marcelo de Carvalho e Amilcare Dallevo balança; dívida é com Banco Rural - e audiência está inferior à da TV Cultura; mulher de Carvalho, Luciana Gimenez está sem salário há quatro meses; mas Daniela Albuquerque, patroa de Dallevo, recebe em dia; pânico geral!!!
A Rede TV! vive seu pior momento em 12 anos de história na concorrida e quase monopolizada TV aberta brasileira. Apresentadora do SuperPop, Luciana Gimenez anda conversando com a Band. Casada com o sócio minoritário da emissora, Marcelo de Carvalho, a ex-modelo viu completarem quatro meses sem salário, enquanto Daniela Albuquerque, mulher de Amilcare Dallevo (o sócio majoritário), que aparece num programa matinal, está com o salário em dia – e assim permanecerá, em seu período de gravidez.
E a retirada de pro-labore para ele [Marcelo] também ficou complicada. Agora, é Marcelo quem espalha a possível venda para um grupo americano chamado Global Eagle, supostamente ligado à MGM. Contudo, nenhuma transação será efetuada se não for resolvida a pendência com o Banco Rural, hoje aproximadamente de R$ 100 milhões. Para quem não sabe, Rural e TV Ômega (razão social da emissora) se digladiam na justiça há anos, onde correm quatro processos diferentes.
Num deles, sigiloso, o banco revela procedimentos contábeis e financeiros da TV Ômega com os quais, literalmente, não concorda. Os problemas da emissora não param por aí. A audiência, na média, nos últimos dias, conseguiu ser inferior a da TV Cultura. O programa jornalístico comandado por Kennedy Alencar, no final da tarde, Tema Quente (patrocinado pela Petrobras), tem audiência média de 0,2.
O diretor da Rede TV! Marcelo Meira planeja, como já aconteceu com o SBT, executar uma estratégia de redução de salários. Ficam de fora o pessoal do Pânico na TV (dá audiência e faturamento) e a superintendente artística Mônica Pimentel (mais de R$ 100 mil mensais). Para piorar, a emissora não conseguiu até agora certidão negativa (Receita e INSS), que está completando quatro meses de vencimento de sua concessão de funcionamento no Ministério das Comunicações.
Fica a pergunta: a Rede TV! terá o mesmo destino da sua antecessora, a TV Manchete do polêmico empresário ucraniano Adolpho Bloch?
De: 247,com informações do portal Panorama Mercantil

China: 100 anos sem imperadores

publicado em recortes por diana guerra

Há cem anos a China mudou a direcção da sua História. Depois de milénios de governação imperial, uma série de revoltas e manifestações violentas forçou o imperador Puyi, de apenas seis anos, a abdicar. A 1 de Janeiro de 1912, a China tornava-se uma República.
 
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Pintura Dinastia Qing, Aqueduto de Bamboo em Hong Kong, 1843.
A 12 de Fevereiro de 1912, a vida do último imperador da China e a própria história da China mudariam para sempre. A revolução de Xinhai (que decorria desde Outubro do ano anterior) precipitara os acontecimentos e o imperador Puyi, com apenas seis anos e dias depois de instaurada a república, acabou por abdicar do seu título. Foi o fim da era da dinastia de Qing, que reinava desde 1644, e dos imperadores na China. O país era governado por imperadores desde 3500 A.C.
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Pintura Dinastia Qing, Cidade de Nanking, 1843.
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Pintura Dinastia Qing, Ataque e captura de Chuenpee perto de Canton, 1843.

A dinastia Qing mostrava dificuldades em manter as fronteiras e modernizar o país desde a segunda metade do século XIX e no final do século surgiram os primeiros grupos de contestação do poder imposto. Ao longo dos anos, as vozes opositoras do regime tornaram-se mais fortes, criticando o poder da minoria Manchu (provenientes da província da Manchuria à qual a dinastia Qing pertencia) que reinava sobre a maioria Han, grupo étnico que representa 92% da população chinesa. Soldados, homens de negócio, grupos de direitos civis e intelectuais juntaram-se e levaram a cabo várias revoltas e motins por todo o país.
Nos primeiros anos do século XX assitiu-se a uma escalada de violência que punha em causa o regime. Os revoltosos pretendiam tomar o poder a 6 de Outubro de 1911 mas, devido à falta de meios, adiaram as movimentações. No entanto, devido à explosão acidental de uma bomba, os acontecimentos precipiratam-se e a revolta instalou-se por toda a China a 10 de Outubro. Rapidamente, a cidade de Wuchang foi tomada pelos manifestantes. Seguindo o exemplo, outras cidades por todo o país também foram tomadas.
Numa tentativa de acalmar os ânimos da população, o governo da família Qing elegeu Yuan Shikai primeiro-ministro a 1 de Novembro, um cargo inexistente até então e que retirava a Puyi o seu poder absoluto. Dois dias depois, a corte aprovou os Dezanove Artigos, documentos legais nos quais constava a alteração do sistema autocrático (em que o imperador tinha poderes ilimitados) para uma monarquia constitucional.
Contudo, estas alterações ocorreram demasiado tarde. Os revoltosos exigiam a instauração de uma república e as manifestações continuaram. Com o país à beira da guerra civil devido às tensões entre as províncias do norte e do sul, era urgente chegar a um acordo. A 18 de Dezembro, foi feita uma decisão. Yuan Shikai forçaria o imperador a abdicar, tornando-se o pirmeiro Presidente da República da China. Finalmente, o primeiro dia da República chegou, a 1 de Janeiro de 1912, e a 12 de Fevereiro Puyi assinava a abdicação. Tinha apenas seis anos.
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Puyi, 1909.
Durante a primeira parte da sua vida, o último imperador da China esteve ligado ao poder. Recuperou-o momentaneamenteno período de 1 a 12 de Julho de 1917. De 1932 a 1945, reinou sobre a província da Manchúria, tornando-se um imperador fantoche ao serviço dos japoneses. Depois da II Guerra Mundial, toda a sua influência desapareceu. Foi preso pelo Exército Vermelho, passando os dez anos seguintes na prisão, passando por privações que nunca tinha conhecido. Quando saiu, levou uma vida modesta: apoiou publicamente o Partido Comunista e trabalhou nos Jardins Botânicos de Beijing e nos Arquivos do Governo. Acabaria por morrer em 1967 vítima de cancro renal.
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Puyi, 1922.
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Puyi em Xuantong (imagem da esquerda).Puyi em Manchukuo (imagem da direita).
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Mao Tse Tung, lider dos comunistas chineses, dirige-se a alguns dos seus seguidores.

A vida de Puyi é retratada no filme "O Último Imperador" de Bernardo Bertolucci, baseado na autobiografia escrita pelo imperador.
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Cidade Proibida de Beijing.
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Cidade Proibida de Beijing.
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Cidade Proibida de Beijing.

Leia mais: em Obvious

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A (indi)gestão de Porto Alegre



Uma das marcas do Governo Fortunati
Porto Alegre vive problemas sérios de gestão. Não vou ficar nos detalhes, mas apenas em fatos imediatos que expressam o problema que tem raízes profundas no modo em que o governo municipal foi composto e é conduzido: limpeza pública, conservação da cidade e equipamentos culturais .
A coleta de lixo é sempre um ponto fraco em qualquer gestão. As gestões da Administração Popular conseguiram estabelecer um padrão de limpeza que é referência ainda hoje. Ainda que no último governo  encabeçado pelo PT tenha havido dificuldades na área, nunca se chegou ao ponto em que estamos hoje. A conteineirização do lixo é uma ideia boa com aplicação deficiente. Porém, onde o lixo não é colocado em conteineres a situação tornou-se caótica. O gerenciamento de contratos é tão importante quanto o controle das licitações. Mas gerenciamento não é o forte da gestão Fortunati. O prefeito fica bravo quando criticam seu governo, mas é a pura verdade. É só apertar um pouquinho que o Fortunati, com todo a sua imagem de conciliador e amante do diálogo, descamab para o lado do que o PT tinha de pior: ataca a imprensa e quem estiver à sua volta com uma virulência desproporcional à crítica.
O problema é que o lixo é a ponta mais visível de um problema generalizado na cidade: a gestão dos serviços e a conservação da cidade vão de mal a pior. Fortunati nomeou a Srª Ana Pellini em um alto CC da Procempa para fazer o que deveria ser do dia-a-dia da administração: cuidar do conserto das calçadas. E a SMOV, faz o quê? Fortunati cria grupos de trabalho em profusão para responder sem dar resposta e assim vai levando.
No âmbito dos equipamentos culturais, Fortunati já prometeu (talvez seja a última de tantas promessas) entregar o Auditório Opus, aliás, Araújo Vianna, no mês de aniversário de Porto Alegre (março de 2012). Mal ele prometeu isso, a Justiça manda fechar o Sambódromo e a Usina do Gasômetro por não respeitarem a legislação contra incêdio. Isso pra não falar da falta de ar-condicionado no Renascença.
A situação é crítica. A mídia portoalegrense toca no assunto pra não dizer que não disse nada, mas o assunto aparece como um problema "da cidade" e não da prefeitura.
Dá pra ver que há muita coisa a ser enfrentada para tornar Porto Alegre uma cidade mais habitável. Algo mais que "uma nova atitude", ou "um novo jeito de fazer política". É preciso saber o que tem que ser feito, e fazê-lo.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Duda Mendonça perde e põe a culpa no medo do povo

"O Lula perdeu dois mandatos por causa do medo", afirmou Duda, que já coordenou campanhas do ex-presidente.
O marqueteiro Duda Mendonça --que coordenou a campanha pela divisão do Pará, derrotada nas urnas neste domingo-- disse que a propaganda do "não" à separação fez "terrorismo", sem apresentar argumentos.
"O Lula perdeu dois mandatos por causa do medo", afirmou Duda, que já coordenou campanhas do ex-presidente.
Os eleitores do Pará votaram ontem em um plebiscito sobre a criação de mais dois Estados no atual território: Carajás (região sudeste) e Tapajós (oeste). A divisão foi rejeitada por 66,60% e 66,08% dos eleitores, respectivamente.
Duda foi convidado por representantes da frente favorável à criação do Estado do Carajás --dono de terras na região, ele disse ter aceitado sem cobrar cachê.
Segundo Duda, as frentes contrárias à divisão inventaram mentiras para moradores da região metropolitana de Belém, que ficaria no Pará remanescente, como perda de riquezas naturais. "Que riqueza? O Pará não tem riqueza. As florestas, os rios, os minérios são do governo federal."
Ele disse também que teve de contratar paraenses que moram em São Paulo, porque pessoas do próprio Estado recusaram, com medo de que parentes que trabalham em órgãos públicos sofressem retaliações.
Para Duda, o plebiscito deveria ter ocorrido apenas nas regiões que queriam se separar. "Se tivesse ocorrido plebiscito em Portugal para a independência do Brasil, a gente seria colônia até hoje."
PROBLEMAS
O marqueteiro teve de enfrentar baixa arrecadação de dinheiro (em comparação a eleições de políticos) e o atraso no início da campanha.
Apesar disso, ele não admitiu erros --ele foi criticado por ter usado o nome do governador Simão Jatene (PSDB) no horário eleitoral.
Disse que foi preciso "dar nome aos bois", já que o governador palpitou sobre a divisão ("ele não devia se meter", afirmou Duda) e não lutou contra a Lei Kandir, criada em 1996. A lei causou perdas na arrecadação de impostos das mineradoras no Pará.
Duda pretende agora fazer um documentário sobre os problemas das regiões de Carajás e Tapajós. "Adoro a região, vou continuar ajudando. A luta continua."

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: O retrocesso brasileiro



O Brasil está diante de um retrocesso histórico. A qualquer momento pode ser votada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a queda de parte de uma das maiores conquistas no que tange à regulação da comunicação no Brasil: a Classificação Indicativa. Na tarde da última quarta-feira (30/11), o STF iniciou o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) que pede o fim da obrigatoriedade de horários, em conformidade com as faixas etárias, para a classificação indicativa de programas de rádio e TV. Apesar de a ação questionar especificamente a vinculação da programação aos horários adequados às faixas etárias, como prevê, inclusive, o Art. 220 da Constituição Federal, esta medida coloca em risco a eficácia de todo o processo da Classificação Indicativa para televisão e rádio.
A ação, movida pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), já teve o voto favorável de quatro ministros e não houve continuidade da votação ainda na mesma seção porque o Ministro Joaquim Barbosa pediu vistas ao processo. A ADIN é claramente movida pelos interesses das emissoras de rádio e televisão, que desde a implementação das Portarias que regulamentam a Classificação Indicativa tentam derrubá-la. Vale a pena lembrar da tentativa de mudança do fuso horário do Acre em benefício dessas redes há cerca de dois anos e as propagandas criticando o projeto.

domingo, 11 de dezembro de 2011

A Privataria Tucana

Terminei de ler o extraordinário trabalho jornalístico de Amaury Ribeiro Jr., “A Privataria Tucana”, (Geração Editorial), o livro mais importante do ano. Para quem acompanha a vida política do país através de alguns blogs e da revista Carta Capital, não há grandes novidades além dos documentos que comprovam o que já se sabia: a privatização no Brasil, comandada pelo governo tucano, foi a maior roubalheira da história da república. O grande mérito do livro de Amaury é a síntese que faz da rapinagem, e a base factual de suas afirmações, amparadas em documentos, todos públicos. Como bom jornalista, Amaury economiza nos adjetivos e esbanja conhecimento sobre o seu tema: o mundo dos crimes financeiros.
A reportagem de Amaury esclarece em detalhes como os protagonistas da privataria tucana enriqueceram saqueando o país. De um lado, no governo, vendendo o patrimônio público a preço de banana. Do outro, no mercado, comprando as empresas e garantindo vida mansa aos netos. Entre as duas pontas, os lavadores de dinheiro, suas conexões com a mídia e com o mundo político.
Os personagens principais da maracutaia, fartamente documentada, são gente do alto-tucanato, Ricardo Sérgio de Oliveira (senhor dos caminhos das offshores caribenhas, usadas pela turma para esquentar o dinheiro sujo e propinas),  Gregório Marin Preciado (sócio de José Serra), Alexandre Bourgeois (genro de José Serra), além da filha de Serra, Verônica (cuja offshore caribenha, em sociedade com Verônica Dantas, lavou, segundo o livro, pelo menos 5 milhões de dólares), além do próprio José Serra e Daniel Dantas. Mas também há informações comprometedoras sobre petistas (Ruy Falcão e Antonio Palocci) e sobre vários jornalistas.
A quadrilha de privatas tucanos movimentou cerca de 2,5 bilhões de dólares, há propinas comprovadas de 20 milhões de dólares, dinheiro que não cabe em malas ou cuecas. O livro revela também o indiciamento de Verônica Serra por quebra de sigilo de 60 milhões de brasileiros e traz provas documentais de sua sociedade com Verônica Dantas, irmã de Daniel Dantas, do Banco Oportunity.
Agora, imagine você o que a grande imprensa brasileira – que gasta dúzias de manchetes numa tapioca de 8 reais ou em calúnias proferidas por criminosos conhecidos - diria se um livro fartamente documentado afirmasse que Lula, Dilma ou qualquer petista mora numa pensão de propriedade de um de seus filhos, mansão esta comprada com dinheiro lavado nas offshores dos paraísos fiscais. Pois José Serra mora numa casa que é de propriedade de sua filha, Verônica, sócia de Verônica Dantas em empresas com sede nas Ilhas Virgens britânicas, um conhecido paraíso fiscal.
O livro de Amaury também lança um constrangedor holofote sobre a grande imprensa brasileira, cúmplice, ao menos por omissão, da roubalheira que tornou o país mais pobre e alguns ricos ainda mais ricos.
O ensurdecedor silêncio dos grandes jornais sobre “A privataria tucana” é um daqueles momentos que nos faz sentir vergonha pelo outro. Afinal, cadê o moralista que estava aqui?

É tão bom ser americano! Prepare-se para se emocionar...