domingo, 11 de dezembro de 2011

A Privataria Tucana

Terminei de ler o extraordinário trabalho jornalístico de Amaury Ribeiro Jr., “A Privataria Tucana”, (Geração Editorial), o livro mais importante do ano. Para quem acompanha a vida política do país através de alguns blogs e da revista Carta Capital, não há grandes novidades além dos documentos que comprovam o que já se sabia: a privatização no Brasil, comandada pelo governo tucano, foi a maior roubalheira da história da república. O grande mérito do livro de Amaury é a síntese que faz da rapinagem, e a base factual de suas afirmações, amparadas em documentos, todos públicos. Como bom jornalista, Amaury economiza nos adjetivos e esbanja conhecimento sobre o seu tema: o mundo dos crimes financeiros.
A reportagem de Amaury esclarece em detalhes como os protagonistas da privataria tucana enriqueceram saqueando o país. De um lado, no governo, vendendo o patrimônio público a preço de banana. Do outro, no mercado, comprando as empresas e garantindo vida mansa aos netos. Entre as duas pontas, os lavadores de dinheiro, suas conexões com a mídia e com o mundo político.
Os personagens principais da maracutaia, fartamente documentada, são gente do alto-tucanato, Ricardo Sérgio de Oliveira (senhor dos caminhos das offshores caribenhas, usadas pela turma para esquentar o dinheiro sujo e propinas),  Gregório Marin Preciado (sócio de José Serra), Alexandre Bourgeois (genro de José Serra), além da filha de Serra, Verônica (cuja offshore caribenha, em sociedade com Verônica Dantas, lavou, segundo o livro, pelo menos 5 milhões de dólares), além do próprio José Serra e Daniel Dantas. Mas também há informações comprometedoras sobre petistas (Ruy Falcão e Antonio Palocci) e sobre vários jornalistas.
A quadrilha de privatas tucanos movimentou cerca de 2,5 bilhões de dólares, há propinas comprovadas de 20 milhões de dólares, dinheiro que não cabe em malas ou cuecas. O livro revela também o indiciamento de Verônica Serra por quebra de sigilo de 60 milhões de brasileiros e traz provas documentais de sua sociedade com Verônica Dantas, irmã de Daniel Dantas, do Banco Oportunity.
Agora, imagine você o que a grande imprensa brasileira – que gasta dúzias de manchetes numa tapioca de 8 reais ou em calúnias proferidas por criminosos conhecidos - diria se um livro fartamente documentado afirmasse que Lula, Dilma ou qualquer petista mora numa pensão de propriedade de um de seus filhos, mansão esta comprada com dinheiro lavado nas offshores dos paraísos fiscais. Pois José Serra mora numa casa que é de propriedade de sua filha, Verônica, sócia de Verônica Dantas em empresas com sede nas Ilhas Virgens britânicas, um conhecido paraíso fiscal.
O livro de Amaury também lança um constrangedor holofote sobre a grande imprensa brasileira, cúmplice, ao menos por omissão, da roubalheira que tornou o país mais pobre e alguns ricos ainda mais ricos.
O ensurdecedor silêncio dos grandes jornais sobre “A privataria tucana” é um daqueles momentos que nos faz sentir vergonha pelo outro. Afinal, cadê o moralista que estava aqui?

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