sábado, 7 de janeiro de 2012

MPC solicita inspeção em convênios da prefeitura com Instituto Ronaldinho

Ronaldinho e seu esporte preferido, além de fazer caridade com dinheiro público
Samir Oliveira, de Sul21

O Ministério Público (MP) de Contas solicitou esta semana que o Tribunal de Contas do Estado (TCE) abra uma inspeção especial para investigar os contratos da prefeitura de Porto Alegre com o Instituto Ronaldinho Gaúcho. O requerimento está no gabinete do presidente do TCE, conselheiro Cesar Miola, que decidirá o acolhimento ou não do pedido. O MP de Contas justifica a necessidade da auditoria em função do montante de repasses feito à ONG do ex-jogador do Grêmio e de possíveis irregularidades apontadas pela própria prefeitura e pela Câmara Municipal.
Ao todo, a prefeitura firmou dois convênios com o Instituto Ronaldinho Gaúcho. O Letras e Gols contou com repasse direto da Secretaria Municipal de Educação, na ordem de R$ 2,9 milhões. E o Jogos de Verão foi contratado junto ao Ministério da Justiça, que transferiu R$ 2,3 milhões para o Paço Municipal aplicar especificamente no instituto.
Após o rompimento dos contratos no final de 2010, a prefeitura realizou auditorias nos convênios e verificou que o Instituto Ronaldinho Gaúcho aplicou irregularmente R$ 858,2 mil, relativos aos dois contratos. Esse valor será apurado pelos técnicos do TCE, caso haja uma auditoria.
Além disso, se for aprovada, a inspeção do Tribunal de Contas poderá verificar também como ocorreram as prestações de contas do instituto à prefeitura e, inclusive, as contratações feitas pela organização. Uma das mais controversas é que a foi firmada junto ao Instituto Nacional América (INA), que recebeu mais de R$ 400 mil para executar o programa Jogos de Verão e não discriminou nas notas fiscais como foi gasto o dinheiro.
O tema chegou a motivar um pedido de instauração de CPI na Câmara Municipal, mas o vereador Mauro Pinheiro (PT), autor da requisição, não conseguiu as 12 assinaturas necessárias. O pedido conta com 11 subscrições e os depoimentos de envolvidos nos convênios vinham sendo tomados através da Comissão de Educação.
Em função das reportagens feitas sobre as denúncias de irregularidades, o INA está processando o Sul21 e a repórter Rachel Duarte.

As enchentes e a ‘falta de planejamento’- Raquel Rolnik

De: Sul 21
Verão no sudeste, tempo de chuvas. Sistematicamente, também, tempo de enchentes, casas desabando, pessoas desabrigadas e, às vezes, até mortes. Certamente, neste momento, se discutem soluções, se anunciam investimentos e novas regulações, se buscam culpados… Neste debate, a “falta de planejamento das cidades” sempre aparece como a grande responsável pelos desastres.
As “ocupações irregulares precárias, que não obedecem à lei” e a “falta de fiscalização” aparecem como sinônimos dessa tal “falta de planejamento”. Como se tivéssemos um sistema de ordenamento territorial ótimo, mas que é desobedecido pelas classes sociais mais pobres, que ficam construindo favelas e ocupando locais indevidos. Se seguirmos essa lógica, imediatamente, identificamos os dois culpados pelas tragédias: os “invasores” e os “políticos”, que não fiscalizam. Nada mais equivocado e simplista!
Em primeiro lugar, porque no Brasil simplesmente não existe, nem nunca existiu, um sistema de ordenamento territorial. O que existem são regras setoriais (meio ambiente, patrimônio, urbanismo) que não dialogam entre si e, muito menos, com os sistemas de financiamento do desenvolvimento urbano. Os planos diretores que, teoricamente, deveriam cuidar desta tarefa de ordenar o território, ou são mera expressão dos interesses econômicos dos setores envolvidos diretamente na produção da cidade, ou simplesmente não regulam nem definem os investimentos em cidade nenhuma do país. Além do mais, os planos diretores são municipais, sendo que muitas das nossas cidades são aglomerados ou regiões metropolitanas.
A expansão das cidades, ou seja, as novas áreas que vão sendo abertas para ocupação urbana, NUNCA foi planejada em nosso país. Os loteamentos foram sendo aprovados sempre no caso a caso, quando o proprietário da gleba decidia loteá-la. E nunca existiram programas ou recursos para que os municípios ou Estados produzissem ”cidade” antes de esta chegar.
O que existem são recursos para construir casas, escolas, praças de esporte, investir em água e esgoto, mas nunca “tudo junto ao mesmo tempo agora”. Finalmente, quem pensa que ocupações de áreas não aptas para urbanizar, como várzeas de rios e encostas, são “privilégio” dos pobres, está enganado. Em muitas cidades (vejam a várzea do Tietê, em São Paulo) este é um modelo disseminado…
No ano passado, logo após as chuvas que devastaram a região serrana do Rio de Janeiro, no início do ano, além de vários locais em Niterói e na cidade do Rio, em abril, a presidência da República encomendou aos ministérios uma Medida Provisória para tratar justamente do tema do ordenamento territorial. Em outubro, finalmente, o governo federal editou a Medida Provisória 547, determinando a formulação de um cadastro nacional de municípios onde ocorreram eventos deste tipo nos últimos 10 anos, tornando obrigatório para os municípios cadastrados a realização de mapas de risco, planos de contingência e utilização de carta geotécnica para aprovação de loteamentos.
A novidade mais interessante, entretanto, que vai além da questão do risco, é que TODOS os municípios serão obrigados a desenvolver um plano de expansão toda vez que ampliarem o seu perímetro urbano, criando uma nova zona urbana ou de expansão urbana. Nenhum loteamento poderá ser aprovado nesse novo perímetro enquanto não houver esse plano. Além de identificar as áreas de risco, esse plano precisa identificar também as áreas que devem ser protegidas do ponto de vista do patrimônio ambiental e cultural, definir todas as diretrizes e demarcar as áreas que serão utilizadas para a instalação de infraestrutura, sistema viário, equipamentos públicos etc. O plano precisa também prever zonas de habitação de interesse social nessas áreas.
A iniciativa é importante? Sim, é fundamental! Entretanto, se não incidir em questões que hoje sabotam a existência de um sistema de ordenamento territorial, esta vai virar mais uma regulação inútil, emaranhada com as demais… e aí, dá-lhe mais enchentes e desabamentos!
* Raquel Rolnik é arquiteta e urbanista, especializada em planejamento e gestão da terra urbana. Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e Relatora Especial da ONU para o Direito à Moradia Adequada.

Por que Yoani procura Dilma?

Acompanho Yoani Sánchez e o debate que se trava entre os defensores do regime cubano e seus adversários sobre o caráter pessoal e as posiçõe políticas da blogueira. A notícia mais recente sobre as atividades de Yoani é seu apelo à Presidenta Dilma para que interceda junto ao governo cubano para que possa vir ao Brasil e retornar a Cuba sem sofrer represálias.
Olhando os comentários sobre a notícia já se percebem os alinhamentos e a troca de elogios entre os pró e ocntra Yoani. Alguns, acham que, sendo uma direitista fianciada pela CIA para falar mal de Cuba, Yoani não deve ser aceita no Brasil. Outros, cobram coerência de Dilma em relação à vinda da blogueira. A viagem seria para acompanhar o lançamento de um filme sobre liberdade imprensa em Cuba e em Honduras (alguns veículos já inventaram que é sobre liberdade de imprensa em Cuba e no BRASIL!)
A questão, do meu singelo ponto de vista, deve ser colocada de outra forma: o que Dilma tem a ver com a vinda de Yoani? Acho que ela tem o direito de vir ao Brasil e voltar à Cuba. Tem o direito de vir e falar o que bem entender. Quem for contra que proteste contra ela e pronto.
O que torna o caso mais complicado é que, diferente de outras pessoas em outros países, Yoani está proibida de sair de Cuba. Ainda assim, o que Dilma deve fazer? Pedir que Yoani seja liberada apenas para vir ao Brasil? Colocar a Presidenta na "saia justa" como estão dizendo alguns veículos só faz sentido para criar um conflito entre Dilma e um país amigo.
Não aceito que um governo impeça seus cidadãos de visitarem outros países exceto na condição de convidados. Não aceito que um governo proíba que seus cidadãos visitem um país determinado (como ocorre nos EUA em relação a Cuba). Se Yoani vier/viesse ao Brasil, eu não iria, mas haveria muita cobertura da mídia brasileira, que é inimiga de Cuba. Mas alguém já pensou em proibir que José Serra ou FHC viajassem ao exterior e falassem mal do Governo?
Esclareço de antemão que deploro a prisão de Guantánamo, a prisão política dos cinco cubanos nos EUA, a possibilidade de prisão por tempo indeterminado e a pena de morte praticada nos EUA (e em qualquer outro país). Ainda assim, se alguém ler esta postagem achar que sou um incorrigível centrista ou direitista...paciência

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Escritório de Direitos Humanos alarmado com o aumento de execuções na Arábia Saudita

Rupert Colville
Segundo dados, número de execuções triplicaram em 2011; ONU sublinha que tortura é método comum para extrair confissões.
Joyce de Pina, da Rádio ONU em Nova York.

O Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas expressou nesta sexta-feira estar alarmado com o aumento significativo de execuções na Arábia Saudita.
Segundo dados, a aplicação da pena de morte no país quase triplicou no ano passado.  Os números de 2010 apontavam para 27 casos, e em 2011 foram registradas 70 execuções.

Homicídios e Violações

As condenações à morte na Arábia Saudita estão relacionadas com casos de homicídio, violação sexual, drogas, blasfêmia, adultério ou bruxaria, No último caso, as mulheres são as principais condenadas, e a decapitação é a forma mais comum para aplicar a pena.
O porta-voz da agência da ONU, Rupert Colville, afirmou que ao contrário da tendência internacional, em que os países se afastam de forma progressiva da aplicação deste tipo de pena, na Arábia Saudita, a situação é a inversa.

Parâmetros

Colville afirma ainda que os procedimentos legais nos tribunais sauditas não se alinham com os parâmetros internacionais e aparentemente, o uso da tortura é um meio comum para a obtenção de confissões que levam à posterior condenação.
O Escritório de Direitos Humanos apelou às autoridades sauditas para  proteger os direitos dos que são condenados à morte e que reduza, de forma progessiva, a aplicação da pena de morte e o número de ofensas ou crimes em que a pena é aplicável.

Repressor da ditadura integra conselho de Associação dos Delegados do RS


Site da Asdep
Foto: Reprodução/ Asdep
Quem navegar pelo site da Associação dos Delegados de Polícia do Rio Grande do Sul (Asdep) pode se surpreender ao consultar os integrantes da diretoria da entidade e constatar que o 20º lugar do conselho deliberativo pertence a uma figura lendária da ditadura militar brasileira (1964-1985): Pedro Carlos Seelig. O nome do delegado é sinônimo de repressão no Estado e foi o braço mais duro do regime dos generais em terras gaúchas. Integrante do temido Departamento de Ordem Política e Social (Dops, onde hoje se localiza o Palácio da Polícia, em Porto Alegre), Pedro Seelig já teve muitos nomes. Uns o chamavam de Fleury dos pampas, em referência ao famoso comandante dos esquadrões da morte em São Paulo. O jornalista Luiz Cláudio Cunha o apelidou, em seu livro O Sequestro dos Uruguaios, de Carcará, a ave predadora ue “pega, mata e come”, eternizada pela música de Maria Bethânia. Não se tem notícias de que Pedro Seelig tenha forte atuação corporativa entre os delegados, mas a simples figuração de seu nome da diretoria da Asdep demonstra que ele não está tão quieto quanto se pensava.
De: Sul21

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Fundação Roberto Marinho é investigada por rombo de até R$ 13,8 milhões no Ministério do Turismo

 
Uma solicitação de informações ao TCU (Tribunal de Contas da União) mostra que o Ministério Público Federal está investigando as relações da Fundação Roberto Marinho com os desvios de dinheiro público no Ministério Turismo, desbaratados na Operação Voucher da Polícia Federal.

https://contas.tcu.gov.br/juris/AcompanharProcesso?p1=32398&p2=2011&p3=5

A operação Voucher, em agosto de 2011, prendeu diversos funcionários do ministério do Turismo, acusados de participarem de um esquema de fraudes envolvendo ONG's.
Este blog mostrou na época que uma das maiores ONG's que receberam dinheiro do Ministério do Turismo foi a Fundação Roberto Marinho, a ONG ligada às Organizações Globo. E ficamos incomodados com o cinismo da falta de transparência da ONG na prestação de contas públicas sobre R$ 17 milhões extraídos dos cofres públicos.
O noticiário da TV Globo (e da chamada grande imprensa) sobre a "faxina" no Ministério do Turismo, varreu para debaixo do tapete o nome da Fundação dos donos da Globo.
Relatório do TCU indica superfaturamento de R$ 13,86 milhões pela ONG da Globo junto ao Ministério do Turismo.
Um relatório TCU constatou que o contrato tinha como meta treinar 80 mil profissionais ligados ao turismo. Porém, até a data analisada, apenas cerca de 19.751 pessoas eram alunos de verdade (mesmo assim nada diz sobre quais completaram de fato o curso).
O número de alunos ativos corresponde a apenas 25% da meta.
E aponta para um possível superfaturamento de 75% embolsado indevidamente pela ONG da Globo.
Em valores financeiros, esse superfaturamento corresponde a um rombo de R$ 13,86 milhões nos cofres públicos, já que o custo por aluno era de R$ 176,65.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Do mínimo ao “carnê da fome” dos juízes


Segundo o IBGE, em 2010 viviam com até um salário mínimo per capita os habitantes de 32,2 milhões de domicílios brasileiros. Na época do Censo, o salário mínimo valia R$ 510. Em 21 de dezembro, os jornais noticiaram que o habitante de favelas brasileiras (eram 11.4 milhões em 2010, segundo o IBGE) tinha rendimento médio de R$ 510, inferior ao salário mínimo em vigor naquela data (R$ 545).
Ao analisar os vencimentos recebidos por sua consultoria entre 2009 e 2011, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, disse em dezembro que o resultado líquido equivalia na média a R$ 50 mil mensais, remuneração, segundo Pimentel, relativamente modesta para um executivo.
Em entrevista ao Estado de S. Paulo (30/12), o presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Henrique Nélson Calandra, disse:
“Recebemos [atrasados] não de uma vez só, mas uma pequena fração todo mês, a gente chama carnê da fome. São 87 prestações para pagar diferenças de salários. Valor pequeno, mil e poucos reais cada parcela.”
Pimentel foi prefeito e é ministro. Calandra é juiz. Em que país eles vivem? Por que os jornais publicam declarações dessa natureza sem fazer qualquer reparo?

Chile elimina expressão 'ditadura militar' de livros escolares

Próximo passo: canonização
O governo do Chile eliminou a expressão "ditadura militar" dos textos escolares para se referir à gestão de Augusto Pinochet (1973-1990), substituindo o termo por "regime militar", como confirmou o novo ministro de Educação, Harald Beyer. As informações são da agência Ansa
"Geralmente é mais usada a expressão regime militar", justificou Beyer, assegurando que o novo conceito está de acordo com o resto do mundo onde "as expressões são mais gerais".
A mudança, adotada em uma sessão extraordinária do Conselho Nacional de Educação, estipula que as crianças do primeiro ao sexto ano aprendam que no Chile houve um "regime militar" entre 1973 e 1990.
O ministro assegurou que, pessoalmente, ele reconhece "que foi um regime ditatorial" mas que existe "um procedimento e que muitos educadores participaram" da decisão.
De acordo com o jornal digital chileno El Dínamo, a proposta prevê a comparação de "diferentes visões sobre a quebra da democracia no Chile, o regime militar e o processo de recuperação da democracia no final do século XX, considerando os distintos atores, experiências e pontos de vista", além do "consenso atual a respeito do valor da democracia".
De: Terra

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Hoje na História: 1521 - Martinho Lutero é excomungado da Igreja Católica

Seus escritos percorriam toda a Europa e contestavam o dogmatismo de Roma

O Papa Leão X chegou a classificar Lutero como um "alemão bêbado que escrevera as teses", e afirmou que quando estivesse sóbrio mudaria de opinião. Em 1518, ele pediu ao professor de teologia Silvestro Mazzolini que investigasse o assunto. O “protestante” foi então denunciado por se opor de maneira implícita à autoridade do Sumo Pontífice. Declarou Lutero um herege e escreveu uma refutação acadêmica. Nela, mantinha a autoridade papal sobre a Igreja e condenava as teorias de Lutero como um desvio, uma apostasia. Foi a réplica de Lutero que deu início à controvérsia.
Lutero participou da convenção dos agostinianos em Heidelberg, onde apresentou uma tese sobre a escravidão do homem ao pecado e à graça divina. No decurso da controvérsia sobre as indulgências, o debate se elevou ao ponto de suscitar a dúvida do poder absoluto e da autoridade do Papa. O argumento era de que as doutrinas de "tesouraria da Igreja" e "tesouraria dos merecimentos" serviam para reforçar a doutrina e a venda das indulgências. O papa ordenou que Lutero viajasse para Roma, coisa que, por razões políticas, nunca ocorreu.
O papa tentou alcançar uma solução pacífica para o conflito e contou com o auxílio de Frederico o Sábio, um protetor de Lutero. Uma conferência com o representante papal Karl von Miltitz em Altenburg, em janeiro de 1519, levou Lutero a optar pelo silêncio.
Lutero negava o direito divino do solidéu papal e da autoridade de possuir as chaves do Céu que, segundo ele, haviam sido outorgadas apenas ao próprio Apóstolo Pedro. Não parecia haver esperanças de entendimento. Os escritos de Lutero, graças à recente invenção da imprensa, circulavam amplamente, alcançando França, Inglaterra e Itália. Estudantes dirigiam-se a Wittenberg apenas para escutar Lutero.
As controvérsias geradas por seus textos levaram Lutero a desenvolver suas doutrinas mais a fundo. O Sermão sobre o Sacramento Abençoado do Verdadeiro e Santo Corpo de Cristo, e suas Irmandades, ampliou o significado da eucaristia para incluir também o perdão dos pecados e o fortalecimento da fé naqueles que a recebem.
O conceito luterano de igreja foi desenvolvido no sermão Sobre o Papado de Roma, uma resposta ao ataque do franciscano Augustin von Alveld, em Leipzig, em junho de 1520. O seu Sermão das Boas Obras, publicado na primavera de 1520, era contrário à doutrina católica das “boas obras” e dos atos como meio de perdão. As obras do crente são verdadeiramente boas se ordenadas por Deus.
Os debates de Leipzig, em 1519, fizeram com que Lutero travasse contato com humanistas como Melanchthon, Reuchlin e Erasmo de Roterdã. O nobre Franz von Sickingen e Silvestre de Schauenburg queriam manter Lutero sob sua proteção em seus castelos, pois não julgavam seguro permanecer em uma Saxônia sob proscrição papal.
Em agosto de 1520, Lutero escreveu À Nobreza Cristã da Nação Alemã em que recomendava ao laicato, como um sacerdote espiritual, que fizesse a reforma requisitada por Deus e abandonada pelo Papa e seu clero. Pela primeira vez Lutero referiu-se ao Papa como o Anticristo.
A 15 de junho de 1520, o Papa advertiu Lutero com a bula Exsurge Domine, que o ameaçava com a excomunhão caso não repudiasse 41 pontos de sua doutrina.
Em outubro de 1520, Lutero enviou ao Papa seu escrito A Liberdade de um Cristão, em que diz: "Eu não me submeto a leis ao interpretar a palavra de Deus.

De: Opera Mundi

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Obama legaliza detenção militar por tempo indeterminado

Foto de protest photos 1.Este sábado, o presidente norte-americano Barack Obama assinou uma lei que permite que os EUA detenham, sem direito a acusação ou a julgamento, qualquer pessoa em qualquer parte do mundo por tempo indeterminado. Esta lei define ainda novas sanções para o Irão e para os países que optem por negociar com o Irão.
O documento afirma que uma pessoa pode ser detida mediante “a lei de guerra sem julgamento até que as hostilidades terminem”, sendo que, neste caso, as hostilidades são interpretadas como a “guerra contra o terrorismo” que parece não ter fim à vista para os EUA.
O texto legal refere-se mesmo ao mundo como uma “zona de batalha”, sendo que qualquer pessoa pode ser detida em qualquer parte do mundo porque se encontra no campo de batalha da guerra contra o terrorismo.
A Casa Branca teria ameaçado vetar o documento, contudo, algumas alterações ao texto original que impediram a perda de alguns poderes abrangentes do gabinete do presidente e a manutenção de um regime especial para os cidadãos norte americanos foram suficiente para que Obama desse o seu aval à implementação desta lei que prevê um orçamento militar de cerca de 500 mil milhões de euros.
As criticas de Obama relativamente aos procedimentos adotados no diploma, não foram, curiosamente, sobre o ataque às liberdades e direitos civis, mas sim no que respeita à interferência na capacidade do executivo para continuar a guerra global contra o terror.
Novas sanções contra o Irão
A legislação também impõe novas sanções contra o banco central do Irão e contra o seu setor financeiro.
São, inclusive, previstas também sanções para as empresas e bancos estrangeiros que optem por fazer negócio com Teerão, ficando as mesmas impedidas de fazer negócios com os EUA.
De: Esquerda.net

Show de Latino em Copacabana termina em choro


Show de Latino em Copacabana termina em choro
Foto: KAREN CANUTO/AGÊNCIA ESTADO
Cantor foi obrigado a se retirar do palco para DJ francês se apresentar
 
247 - Latino não começou 2012 com sorte. O cantor, que estava eufórico com a gravação do seu próximo DVD durante o Réveillon de Copacabana, no Rio de Janeiro, teve uma grande decepção. Ainda faltavam quatro músicas quando ele foi obrigado a se retirar do palco, informa o jornal Extra.
O motivo? O DJ francês David Guetta não admitiu tocar depois da hora marcada e foi prontamente atendido por Antônio Pedro Figueira de Mello, Secretário de Turismo do Rio e presidente da Riotur, que mandou desligar a aparelhagem de som do cantor brasileiro.
Perplexo, Latino explicava que faltava cantar algumas músicas, que era a gravação do seu DVD, mas de nada adiantou. O palco já estava sendo desmontado para a entrada do DJ. Sem opção, o cantor foi chorar no camarim. "É uma vergonha o que fizeram comigo. Não fui respeitado. Um gringo chega aqui e todos fazem o que ele quer. Essa noite era a realização do meu sonho”, desabafou o cantor, que recebeu cachê de R$ 330 mil para cantar na virada de ano.

A lista dos acusados de tortura

Tortura - Botero

Dos papéis de Luiz Carlos Prestes consta um relatório do Comitê de Solidariedade aos Revolucionários do Brasil, de 1976. O documento traz uma lista de 233 torturadores feita por presos políticos em 1975

Alice Melo e Vivi Fernandes de Lima - Revista de História

  • O acervo pessoal de Luiz Carlos Prestes, que será doado por sua viúva, Maria Prestes, ao Arquivo Nacional, traz entre  cartas trocadas com os filhos e a esposa, fotografias e documentos que mostram diferentes momentos da história política do Brasil. Entre eles, o “Relatório da IV Reunião Anual do Comitê de Solidariedade aos Revolucionários do Brasil”, datado de fevereiro de 1976.
     
    Neste período Prestes vivia exilado na União Soviética e, como o documento não revela quem são os membros deste Comitê, não se pode afirmar que o líder comunista tenha participado da elaboração do relatório. De qualquer forma, é curioso encontrá-lo entre seus papéis pessoais.
     
    O documento é dividido em seis capítulos, entre eles estão “Mais desaparecidos”, “Novamente a farsa dos suicídios”, “O braço clandestino da repressão” e “Identificação dos torturadores”, que traz uma lista de 233 militares e policiais acusados de cometer tortura durante a ditadura militar. Esta lista foi elaborada em 1975, por 35 presos políticos que cumpriam pena no Presídio da Justiça Militar Federal. Na ocasião, o documento foi enviado ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Caio Mário da Silva Pereira, mas só foi noticiado pela primeira vez em junho de 1978, no semanário alternativo “Em Tempo”. Segundo o periódico, “na época em que foi escrito, o documento não teve grandes repercussões, apenas alguns jornais resumiram a descrição dos métodos de tortura”. O Major de Infantaria do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra é o primeiro da lista de torturadores, segundo o relatório. A Revista de História tentou ouvi-lo, mas segundo sua esposa, Joseita Ustra, ele foi orientado pelo advogado a não dar entrevista. “Tudo que ele tinha pra dizer está no livro dele”, diz ela, referindo-se à publicação “A verdade sufocada: a história que a esquerda não quer que o Brasil conheça” (Editora Ser, 2010).
     
    A repercussão da lista em 1978
     
    A Revista de Históriaconversou com um jornalista que integrava a equipe do “Em Tempo”.  Segundo a fonte – que prefere não ser identificada – a redação tinha um documento datilografado por presos políticos. Era uma “xerox” muito ruim do texto, reproduzido em uma página A4. Buscando obter mais informações sobre o documento, os jornalistas chegaram ao livro “Presos políticos brasileiros: acerca da repressão fascista no Brasil” (Edições Maria Da Fonte, 1976, Portugal). Depois desta lista, o “Em Tempo” publicou mais duas relações de militares acusados de cometerem tortura.
     
    Na época, a tiragem do semanário era de 20 mil exemplares, rapidamente esgotada nas bancas, batendo o recorde do jornal. A publicação fechou o tempo para o jornal, que sofreu naquela semana dois atentados. A sucursal de Curitiba foi invadida e pichada. Na parede, os vândalos deixaram a marca em spray “Os 233”. O outro atentado aconteceu na sucursal de Belo Horizonte: colocaram ácido nas máquinas de escrever. Na capital mineira, a repercussão foi maior porque os militantes de esquerda saíram em protesto a favor do jornal. O próprio “Em Tempo” publicou esses dois casos, com fotos.
     
    Os autores da lista
     
    As assinaturas dos 35 que assumem a autoria também foram publicadas no “Em Tempo”. Hamilton Pereira da Silva é um deles.  O poeta – conhecido pelo pseudônimo Pedro Tierra e hoje Secretário de Cultura do Distrito Federal – fez questão de conversar com a Revista de História sobre o assunto, afirmando que a lista não foi fechada em conjunto. Os nomes e funções dos torturadores do documento teriam sido informados pelas vítimas da violência militar em momentos distintos de suas vidas durante o cárcere.
     
    “Essas informações saíam dos presídios por meio de advogados ou familiares. A esquerda brasileira, neste período, não era unida, era formada por vários grupos isolados, que não tinham muito contato entre si por causa da repressão”, conta Tierra. “Quando a lista foi publicada no ‘Em Tempo’, eu já estava em liberdade. Sei que colaborei com dois nomes: o major, hoje reformado, Carlos Alberto Brilhante Ustra, e o capitão Sérgio dos Santos Lima – que torturava os presos enquanto ouvia música clássica”.
     
    Hamilton lembra ainda que, após a publicação da lista no periódico, a direita reagiu violentamente realizando ataques a bomba em bancas de jornal e até uma bomba na OAB, além de ameaças à sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
     
    Em 1985, já em tempos de abertura política, a equipe do projeto Brasil: Nunca mais divulgou uma lista de 444 nomes ou codinomes de acusados por presos políticos de serem torturadores. Organizado pela Arquidiocese de São Paulo, o trabalho se baseou em uma pesquisa feita em mais de 600 processos dos arquivos do Superior Tribunal Militar de 1964 a 1979. Os documentos estão digitalizados e disponíveis no site do Grupo Tortura Nunca Mais.
     
    Entre os autores da lista de acusados de tortura feita em 1975, além de Hamilton Pereira da Silva, estão outros ex-presos políticos que também assumem cargos públicos, como José Genoino Neto, ex-presidente do PT e assessor do Ministério da Defesa, e Paulo Vanucchi, ex-ministro dos Direitos Humanos e criador da comissão da verdade. Os outros autores da lista são: Alberto Henrique Becker, Altino Souza Dantas Júnior, André Ota, Antonio André Camargo Guerra, Antonio Neto Barbosa, Antonio Pinheiro Salles, Artur Machado Scavone, Ariston Oliveira Lucena, Aton Fon Filho, Carlos Victor Alves Delamonica, Celso Antunes Horta, César Augusto Teles, Diógenes Sobrosa, Elio Cabral de Souza, Fabio Oascar Marenco dos Santos, Francisco Carlos de Andrade, Francisco Gomes da Silva, Gilberto Berloque, Gilney Amorim Viana,Gregório Mendonça, Jair Borin, Jesus Paredes Soto, José Carlos Giannini, Luiz Vergatti, Manoel Cyrillo de Oliveira Netto, Manoel Porfírio de Souza, Nei Jansen Ferreira Jr., Osvaldo Rocha, Ozeas Duarte de Oliveira, Paulo Radke, Pedro Rocha Filho, Reinaldo Moreno Filho e Roberto Ribeiro Martins.

    A seguir, a reprodução de parte do “Relatório do Comitê de Solidariedade aos Revolucionários do Brasil”, com as páginas que trazem os 233 nomes dos acusados de praticarem tortura direta ou indiretamente.




Dados para uma futura biografia de Serra


Lembro quando vi Serra pela primeira vez. Sempre sisudo junto à portinhola da cozinha em que a simpática Dona Raimunda fazia passar seu café logo depois do almoço no segundo andar da faculdade de economia, portava-se como personalidade a espera de um pedido de autógrafo.
Usava uma invariável jaqueta marrom com detalhes em couro e os poucos cabelos puxados a brilhantina. A expressão de permanente descontentamento a quem tudo parecia desagradar, vez ou outra se desfazia em reação receptiva a eventuais festejos de bajuladores que já naquele tempo acompanhavam-no.
Visto à distância não transparecia estar agradecido pelo emprego que João Sayad e Montoro Filho arrumaram-lhe na FIPE quando desembarcou com uma mão atrás e outra na frente vindo do exílio auto-imposto no Chile. Aparecia pouco na Universidade e naqueles inícios dos anos 80 de empregos escassos víamos com certa estranheza o modo fácil como ganhava seu dinheiro.
Deu um curso sobre economia da América latina a que poucos se interessaram, exceto os marxistas ligados ao partidão (partido comunista brasileiro) e alguns poucos ingênuos que se encantavam com as críticas que o professor fazia publicar na revista de economia política contra as medidas cambiais adotadas à época pelos ministros Reis Velloso e Delfim Neto.
Houve alguma surpresa quando o anódino Serra surgiu como secretário do planejamento do governo Montoro. Foi trazido pelas mãos de Montoro Filho, que não podendo ser ele mesmo secretário devido à condição de descendente direto do governador, que já tinha dois outros filhos no gabinete, decidiu conferir um ar de esquerda ao governo do pai enquanto ele mesmo permaneceria nos bastidores.
No governo, o primeiro ato de Serra foi avocar a si a nomeação de todos os diretores financeiros de estatais paulistas, todas: do Banespa à Comgás. Nessas circunstâncias foi que chocou os ovos que viram a conferir-lhe força tremenda, primeiro dentro do PMDB e depois dentro do novo partido cuja fundação seria um dos responsáveis devido à ruptura irreconciliável com Quércia.
Confinado à Secretaria da Administração e contemplado com não mais que duas diretorias regionais do Banespa, uma na capital e outra no interior, Quércia manteve-se crítico a Serra até a aliança em 2010 que pensou lhe renderia uma cadeira no senado.
Com as chaves dos cofres das estatais nas mãos e a responsabilidade de alimentar o caixa que financiaria a primeira campanha presidencial pela via direta – a de Montoro, conforme acordo firmado com Tancredo Neves que depois de eleito pelo colégio eleitoral com apoio do governador paulista apoiá-lo-ia nas primeiras eleições diretas no país – ficou fácil para Serra tornar-se czar da economia no estado e, depois de malogrado o plano urdido entre mineiros e paulistas com a morte inesperada de Tancredo, sagrar-se deputado constituinte por São Paulo.
Nas movimentações destinadas a articular sua candidatura, Serra atropelou um punhado de amigos que, desconhecendo o caráter daquele haviam conduzido a uma posição de força no governo, preparavam suas candidaturas há mais tempo. Dentre eles o ex-secretário das finanças de Covas na Prefeitura Denisard Alves e o próprio Montoro Filho.
Depois de traído, Montoro Filho, a quem Serra tudo devia de sua carreira política, foi solenemente esquecido pelo amigo em todos os postos que este ocupou. Inclusive o de governador. Montorinho, como era conhecido, só voltou a posições de mando no governo do estado pelas mãos de Covas em gratidão ao fato de seu pai tê-lo nomeado prefeito de São Paulo 10 anos antes.
Engana-se por essa razão o PSDB em tomar a defesa de Serra no episódio dos recursos ilícitos trazidos por ele e sua família desde paraísos fiscais, como notícia o livro Privataria Tucana.  Primeiro porque o dinheiro internalizado não foi proveniente apenas das privatizações realizadas durante o governo FHC, mas também de sua passagem pela secretaria do planejamento de São Paulo quando era peemedebista e não tucano.
Ademais, Serra nunca deu nada ao PSDB senão que dele se alimentou o tempo inteiro. Como hospedeiro de um corpo que haverá de abandonar depois que mais nada puder oferecer.

*Luiz Cezar é Economista, Linguista, Mestre em Cultura, Mestre em Tecnologia (todos pela USP) e Master em Gestão Econômica de Projetos pela GV

domingo, 1 de janeiro de 2012

Umberto Eco: "O excesso de informação provoca amnésia"

PROFESSOR O pensador e romancista italiano Umberto Eco completa 80 anos nesta semana. Ele está escrevendo sua autobiografia intelectual (Foto: Eric Fougere/VIP Images/Corbis)
(Foto: Eric Fougere/VIP Images/Corbis)

O escritor italiano diz que a internet é perigosa para o ignorante e útil para o sábio porque ela não filtra o conhecimento e congestiona a memória do usuário

LUÍS ANTÔNIO GIRON, DE MILÃO, para Época
O escritor e semiólogo Umberto Eco vive com sua mulher em um apartamento duplo no segundo e terceiro andar de um prédio antigo, de frente para o palácio Sforzesco, o mais vistoso ponto turístico de Milão. É como se Alice Munro morasse defronte à Canadian Tower em Toronto, Hakuri Murakami instalasse sua casa no sopé do monte Fuji, ou então Paulo Coelho mantivesse uma mansão na Urca, à sombra do Pão de Açúcar. "Acordo todo dia com a Renascença", diz Eco, referindo-se à enorme fortificação do século XV. O castelo deve também abrir os portões pela manhã com uma sensação parecida, pois diante dele vive o intelectual e o romancista mais famoso da Itália.
Um dos andares da residência de Eco é dedicado ao escritório e à biblioteca. São quatro salas repletas de livros, divididas por temas e por autores em ordem alfabética. A sala em que trabalha abriga aquilo que ele chama de "ala das ciências banidas", como ocultismo, sociedades secretas, mesmerismo, esoterismo, magia e bruxaria. Ali, em um cômodo pequeno, estão as fontes principais dos romances de sucesso de Eco: O nome da rosa (1980), O pêndulo de Foucault (1988), A ilha do dia anterior (1994), Baudolino (2000), A misteriosa chama da rainha Loana (2004) e O cemitério de Praga. Publicado em 2010 e lançado com sucesso no Brasil em 2011, o livro provocou polêmica por tratar de forma humorística de um assunto sério: o surgimento do antissemitismo na Europa. Por motivos diversos, protestaram a igreja católica e o rabino de Roma: aquela porque Eco satirizava os jesuítas ("são maçons de saia", diz o personagem principal, o odioso tabelião Simone Simonini), este porque as teorias conspiratórias forjadas no século XIX - como o Protocolo dos sábios do Sião - poderiam gerar uma onda de ódio aos judeus. Desde o início da carreira, em 1962, como autor do ensaio estético Obra aberta, Eco gosta de provocar esse tipo de reação. Mesmo aos 80 anos, que completa em 5 de janeiro, parece não perder o gosto pelo barulho. De muito bom humor, ele conversou com Época durante duas horas sobre a idade, o gênero que inventou - o suspense erudito -, a decadência europeia e seu assunto mais constante nos últimos anos: a morte do livro. É de pasmar, mas o maior inimigo da leitura pelo computador está revendo suas posições - e até gostando de ler livros... pelo iPad que comprou durante sua última turnê americana.

ÉPOCA - Como o senhor se sente, completando 80 anos?
Umberto Eco -
 Bem mais velho! (Risos.) Vamos nos tornando importantes com a idade, mas não me sinto importante nem velho. Não posso reclamar de rotina. Minha vida é agitada. Ainda mantenho uma cátedra no Departamento de Semiótica e Comunicação da Universidade de Bolonha e continuo orientando doutorandos e pós-doutorandos. Dou muita palestra pelo mundo afora. E tenho feito turnês de lançamento de O cemitério de Praga. Acabo de voltar de uma megaexcursão pelos Estados Unidos. Ela quase me custou o braço. Estou com tendinite de tanto dar autógrafos em livros. 
ÉPOCA - O senhor tem sido um dos mais ferrenhos defensores do livro em papel. Sua tese é de que o livro não vai acabar. Mesmo assim, estamos assistindo à popularização dos leitores digitais e tablets. O livro em papel ainda tem sentido? Sou colecionador de livros. Defendi a sobrevivência do livro ao lado de Jean-Claude Carrière no volume Não contem com o fim do livro. Fizemos isso por motivos estéticos e gnoseológicos (relativo ao conhecimento). O livro ainda é o meio ideal para aprender. Não precisa de eletricidade, e você pode riscar à vontade. Achávamos impossível ler textos no monitor do computador. Mas isso faz dois anos. Em minha viagem pelos Estados Unidos, precisava carregar 20 livros comigo, e meu braço não me ajudava. Por isso, resolvi comprar um iPad. Foi útil na questão do transporte dos volumes. Comecei a ler no aparelho e não achei tão mau. Aliás, achei ótimo. E passei a ler no iPad, você acredita? Pois é. Mesmo assim, acho que os tablets e e-books servem como auxiliares de leitura. São mais para entretenimento que para estudo. Gosto de riscar, anotar e interferir nas páginas de um livro. Isso ainda não é possível fazer num tablet.