Quando um banco toma a sua casa devido a
dívidas absurdas que você acumulou, o faz de uma maneira toda formal e
condescendente, sem helicópteros blindados sobrevoando a região ou raios
antigravidade – o que seria muito mais legal.
No entanto, isso é fichinha para o que essas instituições podem
realmente fazer. Os bancos são a coisa mais próxima que temos de uma
organização vilã do mundo real. Esquadrões da morte e financiamento de
terrorismo são apenas algumas das peripécias já cometidas por esses
conglomerados maquiavélicos. Confira:
5. O banco australiano Nugan Hand, que financiava o tráfico e ameaçava matar sua família
Na teoria, o banco australiano Nugan Hand era um estabelecimento de alta
classe. Fundado em 1973 por um advogado e um ex-integrante das Forças
Armadas Especiais dos Estados Unidos com apenas mil dólares (cerca de R$
2 mil) em dinheiro, o negócio rapidamente se expandiu, atendendo às
necessidades de militares estadunidenses de alta patente, incluindo dois
generais, um almirante e um ex- diretor da CIA.
Deixar suas economias no Nugan Hand, em outras palavras, era como
depositar seu salário na Sala de Justiça, se lá eles oferecessem uma
tentadora taxa de juros de 16% sobre os depósitos e se o lugar sempre
cheirasse a baunilha e odorizadores de ar.
16% de juros?!?!, pensou você. Caramba, como eles podem pagar isso? O
que eles estão fazendo com o seu dinheiro para serem capazes de
retornar uma taxa tão elevada de juros? Eles devem financiar o tráfico
de drogas com o dinheiro do seu salário.
Isso é exatamente o que eles faziam. Essa taxa de juros absurdamente
competitiva era, em grande parte, financiada pelo negócio altamente
lucrativo de heroína que o banco mantinha. Mike Hand, o ex-integrante
das Forças Armadas Especiais, ajudou a lançar o Nugan Hand para dar
cobertura aos seus 25 milhões de dólares (55 milhões de reais, sem levar
em conta a inflação do período) que ele recebeu de traficantes de
drogas, contrabandistas de armas e (possivelmente) da CIA. A agência
pode ter usado os serviços do banco para financiar operações secretas na
Ásia Oriental.
Durante seus sete anos de negócio, Nugan Hand roubou pelo menos 50
milhões de dólares (110 milhões de reais, novamente sem contar quando
esse dinheiro valorizou desde a década de 1970) de seus investidores. E
não era como se você pudesse obter suas economias de volta apenas indo
no banco e alegando ao caixa que você não concordava como a taxa de
manutenção da conta, ou com seu limite do cartão de crédito.
Os donos do lugar ameaçavam esquartejar as esposas dos pobres
funcionários e enviar os membros por correio em uma caixa se eles
desobedecessem as ordens.
A coisa toda entrou em colapso em 1980, com o suicídio do cofundador
Francis Nugan, mas se você está esperando que essa história tenha
terminado com alguma justiça rápida e impiedosa, lamentamos: com exceção
de Nugan (que, sejamos francos, se autoimpôs a pena de morte),
praticamente todos os envolvidos saíram ilesos.
Hand foi visto pela última vez embarcando em um avião com uma barba
falsa – e todos os demais altos funcionários se recusaram a depor, que é
algo aparentemente permitido se você é rico o suficiente. E, sim, isso
também acontece em países desenvolvidos como a Austrália. Pelo jeito,
rico é rico em qualquer lugar do mundo.
Quanto aos clientes do banco, eles perderam todo o dinheiro que
haviam depositado. Mas, honestamente, se você decide investir em um
banco chamado Nugan Hand…
4. O “banqueiro de Deus”, que financiou o terrorismo e uma guerra civil
Fundado no século 19 com o apoio do Vaticano, o Banco Ambrosiano tinha
como missão fornecer uma alternativa aos bancos seculares, porque todos
nós sabemos que a única pessoa em quem você pode confiar mais do que um
banqueiro é um funcionário de alto escalão da Igreja Católica.
Um século de depósitos sacros mais tarde, eles se tornaram o segundo
maior banco privado da Itália. Na realidade, se tratava de mais do que
um banco; eles eram uma instituição sagrada. Na década de 1970, o CEO
Roberto Calvi era conhecido como “o banqueiro de Deus”. Certamente, com
um título desse, nada poderia dar terrível e ironicamente errado.
Exceto que Calvi usava parte do seu tempo no comando do Banco
Ambrosiano para a lavagem de dinheiro vindo do tráfico de drogas com a
máfia – além de subornar políticos italianos e norte-americanos e vender
armas para ambos os lados da Guerra Civil da Nicarágua.
No final das contas, o Banco Ambrosiano ficou grande demais para suas
próprias mentiras e as coisas começaram a desmoronar. Uma investigação
feita em 1982 revelou que o banco não poderia ser o responsável por
cerca de 1,3 bilhões de dólares (2,86 bilhões de reais) em depósitos.
Tenha em mente que, enquanto os bancos de hoje usam essa quantidade de
dinheiro em champanhe para o café da manhã ou em papel higiênico de
folhas de ouro, 1,3 bilhões de dólares em 1982 era basicamente todo o
dinheiro que circulava no mundo.
Até mesmo a máfia se assustou com todo o fuzuê que o banco santo
estava fazendo. Eles começaram a cortar laços, bem como as gargantas dos
envolvidos: um banqueiro de alto escalão foi encontrado morto na
Córsega, na França, pouco antes de o secretário de Calvi cometer
suicídio. O próprio Roberto Calvi foi encontrado pendurado na Blackfriar
Bridge, em Londres, ainda no ano de 1982 – uma morte dada como suicídio
(contrariando o senso comum) até que um novo exame em 2003 descobriu
que as evidência apontavam, definitivamente, para um assassinato.
Se alguma parte dessa história maluca soa familiar para você,
provavelmente é porque trechos do filme “O Poderoso Chefão: Parte III”
foram baseadas no escândalo. É isso mesmo: terrorismo, mortes, peculato,
guerra, a máfia e o “Poderoso Chefão: Parte III”. Verdadeiramente, o
Banco Ambrosiano é responsável por algumas das piores tragédias
conhecidas pelo homem.
3. BCCI, o banco internacional que tinha até equipe de execução própria
O Banco de Crédito e Comércio Internacional foi criado em 1972 e logo se
tornou uma das maiores instituições financeiras privadas do mundo, com
depósitos de mais de 20 bilhões de dólares (44 bilhões de reais) e
clientes como o governo dos Emirados Árabes Unidos. No seu auge, o banco
possuía 400 agências em 72 países ao redor do mundo. Porém, como
qualquer pessoa que já brincou de subir em árvores quando era pequeno
pode constatar, não é porque alguma coisa possui um monte de galhos que
você pode confiar nela.
Os bancos são como vômito: eles são muito fáceis de cuidar quando
estão contidos em apenas um lugar específico, mas uma vez que se
espalham por uma vasta área, todo mundo finge que não está vendo a
bagunça em vez de arriscar ter que limpá-la.
O fato de que o BCCI não era responsabilidade de ninguém deu ao banco
liberdade para embarcar em uma farra enorme de crimes que faria
qualquer jogador de Grand Theft Auto orgulhoso: lavagem de dinheiro para
o ditador panamenho Manuel Noriega, intermediação ilegal de vendas de
armas nucleares, venda de tecnologia ultrassecreta americana para o
Iraque, além do desenvolvimento de um dos maiores esquemas de Ponzi da
história. O banco ainda fazia a parte financeira do trabalho sujo de
praticamente todos os principais grupos terroristas do mundo.
Eles chegaram ao ponto de montar sua própria equipe de execução
chamada The Black Network (A Rede Negra) para cuidar de todos os
esquemas de extorsão, sequestro e assassinato – que aparentemente são
funções tão essenciais para um banco quanto rastrear a origem do
dinheiro depositado na instituição. Quando órgãos reguladores suspeitos
dos Estados Unidos se recusaram a lhes conceder uma licença, BCCI apenas
deu de ombros e passou a usar uma porção de empresas de fachada e
empréstimos fraudulentos para burlar a lei, e voltar às suas práticas do
mal.
A gigantesca rede de influência do BCCI manteve o banco
consistentemente à frente da lei. Foi necessário que 62 países
realizassem sete investigações simultâneas para, finalmente,
desmascará-los – e 13 anos para que se descobrisse onde estava o
dinheiro. Até agora, ninguém entende perfeitamente todos os esquemas nos
quais o BCCI estava envolvido. Porém, ficaríamos chocados se as
peripécias do banco não envolvessem algum tipo de raio antigravidade e
uma base lunar.
2. O banco Castel & Trust, que roubou as economias do dono da Playboy, dos hotéis Hyatt e da banda Creedence Clearwater
Castel Bank & Trust era a classe e legitimidade em forma de
instituição financeira. O banco não só atraía clientes-celebridades de
alto perfil – como a banda Creedence Clearwater Revival, o fundador da
revista Playboy, Hugh Hefner, e a cadeia de hotéis Hyatt –, como tinha
como sede principal as Bahamas. Tem como ficar mais riqueza do que isso?
No início de 1970, alguém na espécie de Receita Federal dos Estados
Unidos (o Internal Revenue Service, ou IRS) percebeu que a rede Hyatt
não pagava mais impostos desde que havia aberto sua conta no Castel
Bank. Isto é geralmente desaprovado em uma sociedade civilizada, por
isso o IRS contratou um investigador particular grisalho chamado Norman
Casper para averiguar os fatos (se aprendemos alguma lição com este
artigo, é que a contabilidade é muito mais emocionante do que todos nós
temos sido levados a acreditar).
Ao longo dos meses seguintes, Casper distraiu seus alvos com mulheres
bonitas, enquanto ele fotografava os seus arquivos secretos e reunia
inteligência. No final das contas, Casper descobriu que, além de o banco
ter agido constantemente como um paraíso fiscal ilegal para clientes
como o ex-presidente estadunidense Richard Nixon, a instituição também
estava lavando dinheiro para a máfia.
Então, do nada, a CIA interveio e interrompeu a investigação.
Acontece que a “inocente e super ética” CIA havia utilizado o Castel
Bank & Trust para canalizar dinheiro para grupos anti-Fidel Castro
(ou qualquer outra pessoa com ódio grande o suficiente pelos
comunistas). Por fim, ninguém nunca foi processado, mas o banco entrou
em colapso e todos os seus clientes perderam seus depósitos, incluindo a
banda Creedence Clearwater Revival.
1. O Hong Kong e Shanghai Banking Corporation e sua impunidade crônica
O Hong Kong e Shanghai Banking Corporation foi fundado no século 19 para
dar conta dos lucros britânicos do comércio do ópio. E, tendo em vista
que a China tinha vários milhões de viciados em ópio e os britânicos
respondiam a todas as tentativas de banir a droga assassinando qualquer
um que olhasse entranho para eles, os lucros eram consideravelmente
altos. Mas, veja bem, isso é tudo história antiga, certo? Não é como se
você tivesse um pequeno cartão em sua carteira agora que diz HSBC nele…
Ó, espere.
Se você já conversou com alguém do serviço de clientes do banco sobre
a “taxa anual” deles, não deve ser nenhuma surpresa descobrir que o
HSBC se fundou em séculos de assassinatos por lucro. Em 2012,
investigadores revelaram que a instituição havia ajudado a financiar o
terrorismo internacional e o tráfico de drogas no México durante
décadas.
Tampouco foi algo ocasional. Esta é a extensão da familiaridade do
HSBC com os cartéis: em um dado momento, o banco considerou ampliar as
janelas de seus caixas porque os blocos de dinheiro que o banco recebia
eram grandes demais para passar através dos buracos normais (problemas
de Primeiro Mundo…). Por isso, o Cartel Sinaloa, responsável por dezenas
de milhares de assassinatos apenas na década passada, fez um favor aos
seus velhos amigos e começou a usar caixas de dinheiro personalizadas,
planejadas especificamente para caber nas janelas dos caixas do HSBC.
Muita consideração por parte deles, né?
Então, se um dos maiores bancos do mundo atualmente é tão
descaradamente corrupto, por que ninguém nunca prendeu os envolvidos nos
crimes? A resposta é simples: eles já foram presos. Muitas e muitas
vezes. Mas são ricos demais para dar a mínima.
Quando o HSBC foi pego pela terceira vez, as autoridades ficaram mais
rigorosas e aplicaram uma multa impiedosa de 1,9 bilhão de dólares
(4,18 bilhões de reais). Impressionante, não?
Não. Este é o lucro de cerca de cinco semanas para o HSBC.
Mais uma vez, ninguém foi preso pela lavagem de dinheiro descarada.
Eles não ficaram de castigo, nem mesmo foram mandados para o seu quarto
sem jantar – eles só tiveram a mesada suspensa por um mês. Isso não
ensinaria uma criança mimada a não roubar, muito menos serviria de lição
para uma grande instituição financeira aprender que apoiar assassinos
em massa não é rentável.
Quando perguntado por que essas pessoas podem andar em total
liberdade pelos Estados Unidos e sem nenhuma repercussão, um dos
assistentes de procurador-geral dos EUA explicou: “Se decidíssemos
apresentar acusações criminais, o HSBC quase certamente perderia sua
licença bancária nos EUA, o futuro da instituição estaria ameaçado e
todo o sistema bancário seria desestabilizado”.
É isso aí: vindo diretamente da boca do próprio governo dos EUA, os
bancos podem fazer o que quiserem porque eles têm o nosso dinheiro. Se
você está pensando em cancelar seu cartão HSBC devido a essas
revelações, bem, temos certeza de que eles vão chorar até secar a água
do corpo por causa disso. E talvez decidam arranjar algumas janelas
maiores para que caixas extra-grandes de lencinho de papel possam passar
por elas.