sábado, 25 de agosto de 2012

Paraguaios lutam para preservar língua guarani



Primeira língua indígena a dividir com o espanhol o título de idioma oficial em um país da América Latina, o guarani chegou à internet, mas é cada vez menos falado pelas crianças nos lares paraguaios. Analistas dizem acreditar que o idioma pode desaparecer em "duas gerações".
Segundo o professor de linguística e de antropologia David Galeano, da Universidade de Assunção, o guarani era o idioma original dos países da América do Sul "antes da chegada dos conquistadores", nos séculos passados.
A língua chegou a ser utilizada em boa parte do centro-sul do Brasil, mas é no território paraguaio que resiste atualmente.
O professor Ramón Silva, que fez um doutorado na língua, diz que o país foi o primeiro a reconhecê-lo e incluí-lo em sua Constituição.
Alguns países chegam a reconhecer idiomas indígenas por meio de resoluções ou de forma circunscrita a determinadas regiões de seu território. Na Bolívia, por exemplo, a Constituição de 2009 estabelece como idiomas oficiais do Estado o castelhano e "todos os idiomas das nações e povos indígenas originários camponeses" - entre eles o guarani.
A sobrevivência do guarani no Paraguai foi abordada em um seminário internacional sobre o "bilinguismo" no país, realizado essa semana em Assunção. O evento foi organizado pelo governo local e pela Organização de Estados Ibero-americanos (OIE), e teve também a participação de americanos e europeus.
Os especialistas divergem sobre até quando a língua resistirá "em tempos de tecnologia e de globalização".
"O guarani sempre foi o idioma nas nossas casas. Agora as crianças aprendem, na escola, a ler e a escrever, mas não a falar guarani. Para sobreviver, a língua deve ser falada. Por isso, acho que a tendência é que ela acabe em duas gerações”, disse Ramón Silva à BBC Brasil.
A diretora de promoção de línguas da Secretaria Nacional de Cultura do Paraguai, Susy Delgado, discorda. "Se o guarani sobreviveu até aqui por que não sobreviveria em novos séculos?", afirmou.

Sobrevivência

Filho de pai brasileiro e mãe paraguaia, Ramón Silva, de 50 anos, é apresentador do programa de televisãoem guarani "Káy'uhape" (em espanhol "Tomando Mate").
No programa, que vai ao ar às 4h30 (hora local), quando a maioria dos paraguaios acordam, são apresentadas notícias nacionais e internacionais, além de entrevistas com autoridades locais em guarani.
Silva trabalha ainda na aplicação da lei que obriga escolas a incluírem a língua no currículo, já que hoje não são todas que o ensinam.
A lei prevê também que aeroportos locais passem a informar, a partir do ano que vem, sobre chegadas e partidas dos voos não só em espanhol, como ocorre hoje, mas também em guarani.
A lei foi aprovada no governo do ex-presidente Fernando Lugo com objetivo de manter vivo o idioma falado por cerca de 90% da população, segundo dados oficiais.

Futebol

Dicionário de guarani. | Foto: Márcia Carmo/BBCBrasil
Ramón Silva elaborou dicionário de guarani com termos militares, religiosos, médicos e jurídicos


No Paraguai, é comum ouvir de políticos e analistas econômicos a taxistas e jovens engraxates falando em guarani. Nos campos de futebol, dentro e fora do país, os jogadores também costumam se comunicar na "língua mãe", como é chamado o idioma.
"(Os jogadores falam guarani) Especialmente quando querem evitar que o adversário entenda o que estão dizendo", afirmou Delgado. Ela tem livros de poesias em guarani e em espanhol, mas reconhece que o filho de 27 anos conhece apenas algumas palavras do idioma "original".
Na região da fronteira com o Brasil, os paraguaios costumam falar guarani e português. Muitas vezes o espanhol não faz parte das conversas, inclusive de crianças – que às vezes não sabem a diferença entre português e espanhol.
"Na fronteira, os paraguaios falam principalmente portunhol (mistura do português e do espanhol), guarani e espanhol. Mas eles não são trilíngues. Eles mesclam os três idiomas e assim se entendem", afirmou Silva.
Galeano diz que na fronteira, impera o "guaratuguês" (mistura do guarani com português).

Proteção

Um guia de turismo que costuma fazer a viagem entre Assunção e a igreja franciscana de San Buenaventura de Yaguarón, a 48 quilômetros da capital paraguaia, explica aos turistas estrangeiros que a história "trágica" do país acabou "protegendo o guarani da globalização".
"A desgraça da história do Paraguai foi positiva para a sobrevivência do guarani", explica Ramón Silva. De acordo com ele, no período da colonização os espanhóis iam embora e as mulheres que permaneciam falavam guarani com as crianças.
"Na Guerra Grande (Guerra do Paraguai) e na Guerra do Chaco, os homens foram à luta e as mulheres ficaram sozinhas ou com as crianças. O guarani foi sendo passado, em casa, de geração para geração", diz Susy Delgado.
Ela reconheceu que o "isolamento" político do país, ao longo da história, ajudou nesta sobrevivência. "Agora tem gente aqui no país que planeja fazer até teclado de computador em guarani."

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Pussy Riot v. Vladimir Putin: uma luta religiosa?

publicado em recortes por
Maria Aliokhina, 24 anos, Nadezhda Tolokonnikova, 22, e Iekaterina Samutsevich, 29, foram presas depois de terem ocupado a Catedral de Cristo Salvador, em Moscovo, e cantado uma "oração punk".
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As três jovens russas que cantaram uma música anti-Putin numa catedral ortodoxa – a letra suplica à Virgem Maria que afaste Putin do poder – começaram a ser julgadas no dia 30 do mês passado.
Antes da sua detenção, Tolokonnikova era uma estudante de Filosofia, Alekhina estudou jornalismo e escrita criativa e estava envolvida em organizações religiosas de caridade e causas ambientais. Samutsevich, a mais velha dos três, tem uma licenciatura em programação de computadores. Estas jovens são membros de um grupo maior - também apelidado de Pussy Riot - com um programa dito "radical" patrocinado por ideias de esquerda que variam amplamente desde o anti-autoritarismo ao feminismo. As suas ações envolvem flash mobs em locais públicos e concertos com músicas em protesto.
Em janeiro deste ano, o grupo invadiu a Praça Vermelha, um local usado durante a Rússia czarista para anunciar decretos do governo, e executou uma canção intitulada “Putin Chickens Out”. Todos os oito ativistas foram presos por protestos ilegais mas acabaram por ser libertos. O grupo cita figuras como Michel Foucault e Julia Kristeva entre as suas muitas fontes de inspiração, assim como a banda americana de punk-rock Bikini Kill e o movimento “riot grrrl”, dos anos 90. Tolokonnikova e Alekhina são mães de crianças pequenas, com quem não estão desde a sua prisão.
As Pussy Riot, que aparecem sempre mascaradas (a intenção é a de sugerir que qualquer pessoa pode ser uma Pussy Riot), juntaram-se no final de setembro de 2011, logo após o presidente Vladimir Putin anunciar que pretendia candidatar-se a um terceiro mandato. Impulsionadas pelas teorias feministas escolheram um nome destinado a levantar as sobrancelhas e combater noções preconcebidas sobre mulheres e política.
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A Igreja Ortodoxa, acusando-as de blasfémia, pediu que fossem severamente condenadas, pelo que poderão, caso sejam culpadas, passar (imagine-se!) até sete anos na prisão (ainda que a acusação do Ministério Público peça só três). Não é difícil perceber a motivação política (e a mensagem altamente repressiva) subjacente a este julgamento. A banda foi acusada de vandalismo, desordem pública e de "actos de ódio religioso" na catedral mas também na Praça Vermelha onde deram um concerto não autorizado que fez parte de uma manifestação anti-Putin. Na manifestação, à medida que cantavam, as mulheres foram retirando a roupa, acabando em lingerie. A acusação destas mulheres é mais do que um acto de injustiça e de crueldade absurdas, é um sinal de que o Estado russo continua a censurar e reprimir os cidadãos que vê como muito avant-garde. Putin tem dito muitas vezes que a modernização é o objetivo do seu regime, mas a sua política vai descaradamente deslizando em direção a algo flagrantemente anti-moderno (e anti-ocidental) e mesmo medieval.
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Além disso, este caso ilustra uma fusão – muito pouco desejada num regime dito democrático – entre política e religião, traduzida na crescente dependência (vá, “lealdade mútua”) de Putin da Igreja Ortodoxa Russa. As semelhanças entre o líder político e o patriarca da Igreja Ortodoxa Russa são assustadoramente semelhantes: cada um deles preside a um "reino" fortemente centralizado e extremamente hierarquizado e ambos são intolerantes face a desafios à sua autoridade. A Igreja Ortodoxa Russa é, em geral, profundamente conservadora, com fortes traços xenófobos e declaradamente anti-ocidental. Nos últimos anos, o clero de topo foi segurando as rédeas às suas opiniões de modo a não comprometer o Estado e a sua retórica de modernização. Mas, como o próprio governo começou a reprimir os ativistas anti-governo deixará de haver necessidade de quaisquer rédeas ao conservadorismo social. Bem, os perigos do fundamentalismo religioso são bem conhecidos…
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Mais de 200 figuras russas da cultura e das artes assinaram uma carta manifestando a sua indignação com esta paródia da justiça e mais de 41 mil soldados russos subscreveram a dita carta. Em São Petersburgo, Petr Pavlensky, artista russo, coseu a boca em protesto contra a prisão das ativistas e segurou um cartaz dizendo que "a atuação das Pussy Riot foi uma repetição da ação de Jesus Cristo (Metódio 21:12-13)." A passagem deste cartaz é uma famosa cena em que Jesus expulsa os comerciantes e mercadores da igreja. Madonna recentemente passou em digressão pela Rússia e aproveitou para defender a libertação das Pussy Riot. Claro que uma organização ligada à Igreja Ortodoxa já veio pedir às autoridades para cancelarem os dois concertos da cantora na Rússia, acusando Madonna de interferir com os assuntos internos do país e de tentar influenciar os tribunais. Outros artistas internacionais - como Jarvis Coker, dos Pulp, Alex Kapranos, dos Franz Ferdinand, Johnny Marr, dos Smiths e a cantora folk Corinne Bailey Rae - já se manifestaram contra as acusações "grotescas" feitas a este grupo.
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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

100 anos de Nelson Rodrigues

 
Nelson Falcão Rodrigues nasceu no Recife, em 23 de agosto de 1912, o quinto filho de uma família de catorze. Quando tinha três anos, seu pai, Mário Rodrigues, foi tentar a sorte no Rio de Janeiro, capital da República. O combinado era que tão logo encontrasse trabalho, chamava a família para ir a seu encontro. Maria Esther, sua esposa, não agüentou esperar. Em 1916, empenhou as jóias e mandou um telegrama para o marido, já avisando do embarque naquele mesmo dia. Nelson conta, nas "Memórias" publicadas no "Correio da Manhã", que se não fosse a atitude da mãe, o pai jamais teria permanecido no Rio.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

GIlmar Mendes vai ganhar programa de TV!!!

O ministro apresentador
Aos 56 anos, o ministro Gilmar Mendes, do STF, abraçará uma nova carreira paralela: será apresentador de televisão.

Ele terá um programa na TV Senado, em que dará informações sobre a história e os bastidores da Assembleia Constituinte, que elaborou a Carta de 1988. A atração foi idealizada pelo Instituto Brasiliense de Direito Público, faculdade de que Gilmar é sócio. O contrato ainda não foi assinado, mas está decidido que o programa estreará neste ano.

Dilma entre as três mais poderosas

Qual delas é a Dilma?

Ex-prefeito Cesar Maia e ator Victor Fasano são condenados por improbidade

 
O ex-prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia, o ator Victor Fasano, a ex-presidente da Fundação Riozoo, Anita Carolina Levy Barra, o ex-secretário de Meio Ambiente do Rio Ayrton Xerez e o Criadouro de Aves Tropicus terão que devolver aos cofres públicos um total de R$ 520 mil. Eles foram condenados por ato de improbidade administrativa. A sentença foi proferida pela juíza Maria Paula Gouvea Galhardo, da 4ª Vara da Fazenda Pública da capital.

Os réus terão ainda que pagar multas que somadas chegam a R$ 300 mil, além de estarem proibidos de contratar com o Poder Público e de receberem benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual sejam sócios, pelo prazo de cinco anos.

Maia e Xerez tiveram também seus diretos políticos suspensos pelo mesmo período.

O grupo foi denunciado em duas ações propostas pelo Ministério Público estadual que apontava irregularidades no convênio firmado entre a Prefeitura do Rio, a Fundação Riozoo e o Criadouro de Aves Tropicus, Associação Cultural, Científica e Educacional, presidido pelo ator Fasano.

O convênio, celebrado em 5 de abril de 2005, pelo prazo de 12 meses, tinha por objetivo o incremento da reprodução em cativeiro de aves nativas ameaçadas de extinção, com previsão de repasse de verbas públicas ao criadouro no montante total de R$ 260 mil.

Segundo o MP, o convênio foi firmado quando Victor Fasano ocupava o cargo de secretário especial de Promoção e Defesa dos Animais. A Procuradoria do Município chegou a opinar contra a assinatura, mas o procurador-geral deu o sinal verde e, por conta disso, o então secretário de Meio Ambiente Ayrton Xerez autorizou a lavratura do termo. O contrato acabou sendo renovado por mais um ano.

A sentença assinala que os réus não juntaram ao processo nenhuma prova capaz de demonstrar o atendimento à finalidade do convênio, ou que efetivamente tenha dele revertido qualquer contraprestação em favor da municipalidade ou da Fundação Riozoo.

A magistrada anulou o convênio e a sua prorrogação. (Procs. nºs 0033592-23.2006.8.19.0001 / 0154890-11.2008.8.19.0001).

O futebol-mercadoria. Adeus às bandeiras?

BWA quer tirar as faixas, para tornar bem visível… a publicidade

Em novo capítulo da mercantilização do esporte, concessionária que administrará estádios da Copa quer proibir torcedores de exibir seus símbolos

O futebol brasileiro foi fortemente pressionado, nos últimos anos, para “reorganizar-se”. Partia-se de um argumento razoável: a “farra dos cartolas”, à fragilíssima estrutura, os negócios suspeitos e a obscuridade do mundo do futebol. Mas este discurso foi apropriado por setores cujos objetivos não eram nem democracia, nem transparência, nem organização.
A campanha consistiu em dar ao futebol Brasileiro um toque mais europeizado, chamado por muitos como “moderno”: clubes-empresas que seriam os vetores de um grande negócio, atletas popstars, venda de naming rights: a identificação de campeonatos e principalmente das novas arenas – já reformadas e organizadas como shopping-centers – com as marcas dos patrocinadores.
Esses “ideais” cruzavam-se com interesses privados. O ímpeto de organizar o futebol brasileiro e torná-lo mais “ético” não passaria por sua transformação em um negócio. Pelo contrário, o que se vê hoje no Brasil é que a medida em que se privatizam todas as peças das imensas engrenagens do futebol, mais suspeito e comprometido esse esporte vem se tornando. Com graves efeitos negativos, principalmente para os torcedores.
Estádio público, propriedade privada.
O caso BWA ilustra muito bem essa realidade. A empresa de propriedade de Bruno Balsimelli é hoje a maior “concessionária” do futebol brasileiro. O grupo já tem investimentos nas mais diversas áreas do futebol e vem inovando, a cada ano, em seu cardápio, sempre apresentando suas “propostas” como único caminho viável para uma modernização saudável.
A BWA começou sua aventura oferecendo serviços de confecção e comercialização de ingressos para jogos, aplicando um modelo próximo aos de grandes espetáculos musicais. Hoje, já tem contratos para assumir o controle da entrada de torcedores nos estádios, do planejamento de vendas de ingressos (melhor dizendo, especulação sobre ao valor dos “espetáculos”) e porcentagem em passe de jogadores. Aproveitando a Copa do Mundo de 2014, investiu pesado e já obteve concessão para gerir a maior parte dos estádios públicos brasileiros.
Por um lado, a BWA aproveitou-se da chamada “falta de profissionalismo” de determinados clubes, ganhando o direito de arrancar uma fatia da renda dos jogos e da venda de espaços publicitários. Para obter a gestão dos estádios públicos (que assumirá apenas após a conclusão das obras das novas arenas para a Copa), a empresa recebe aval das antigas “superintendências”, que administravam os imensos estádios do país.
Foi dessa forma que a BWA tornou-se uma das grandes donas do futebol nacional. Ainda que seu nome estivesse envolvido em casos bem obscuros.
Profissionalismo sem lei
Em 2009, foi desbarato, em estádios cujas catracas eram administradas pela BWA, um esquema de ingressos falsos. A empresa não tinha conhecimento da irregularidade. Segundo noticiaram (poucos…) meios da imprensa esportiva nacional, no entanto, ela estaria acobertando e se beneficiando em acordos com cambistas, além de cobrar altas taxas de serviço aos clubes. Tudo isso, sem qualquer melhora na agilidade e comodidade da venda de ingressos – as grande justificativas dos seus contratantes e dos defensores dessa modalidade de negócio.
Como toda grande empresa no Brasil, a BWA passou por cima desse problema com muita bajulação. Emplacou, no meio de todo o alvoroço, uma matéria na revista Istoé Dinheiro, que exaltava sua “criatividade empreendedora”. Era outro caso de jornalismo publicitário, no mercado editorial “de negócios” brasileiro.
Mas a BWA não mostrou seu poder de influência apenas na formação de opinião e na capacidade de sair ilesa de grandes escândalos. Com o controle total de tudo que se passa dentro dos estádios, a empresa tem mobilizado as forças de segurança para controlar ao máximo os movimentos dos torcedores.
Com o controle da Arena Independência, estádio do tradicional América-MG, a BWA tem usado e abusado das mais diversas formas de restrição e controle, para potencializar seus lucros no estádio. Recentemente, proibiu a entrada e exposição das clássicas faixas e bandeirões nos estádios. A justificativa, nas palavras do presidente do consórcio que gere o estádio: Já vendemos espaço para propaganda e precisamos explorar isso. Se o torcedor usar faixas, tampa a publicidade. Por isso, proibimos o uso de bandeiras e faixas no anel intermediário e no superior”.
A medida é parte das grandes polêmicas que envolvem o estádio. Torcedores reclamam de “pontos cegos”. São locais de onde não é possível sequer visualizar todo o campo de jogo – e onde são instaladas, ainda assim, cadeiras, numa agressiva afronta aos direitos do público.
Curiosamente, esse problema tem se repetido nas mais diversas “arenas modernas”. Há uma explicação clara: com a individualização dos assentos e a obrigação de oferecimento de cadeiras, os administradores dos estádios buscam aproveitar ao máximo o espaço físico, com o menor custo.
O fim do “torcedor”
Os torcedores mineiros sofrem hoje um processo denunciado há muito, quando os torcedores europeus em condições de frenquentar os estádios queixavam-se de como um novo modelo pasteurizado e higienizado de arena estava tirando “toda a diversão”.
Não bastasse a celeuma inicial com os bandeirões, tempos depois a BWA queixou-se de que alguns torcedores tinham “incomoda postura de assistir aos jogos em pé”, e a mania de chegar “em cima da hora” dos jogos. Com isso, a empresa buscou justificar o problema das filas e dos pontos cegos no estádio.
O mais curioso, no entanto, é perceber como esse ideal de “modernização” tem força mesmo num país acostumado com imensos estádios abarrotados de integrantes das classes populares. Diante da polêmica da Arena Independência, o Ministério Público pronunciou-se, afirmando que caberia à concessionária fazer… uma “campanha de conscientização” para mudar essa tal “postura do torcedor”.
Não bastasse a BWA ter a carta-branca e se reivindicar “dona” do estádio, agora cumpriria o papel de ser dona do próprio “torcedor”? Na lógica do futebol-negócio, sim. Foi por isso que a empresa desenvolveu – mais uma das suas grandes sacadas – a catraca com câmera para identificação visual.
Perspectivas futuras para o futebol brasileiro
O exemplo da BWA pode se repetir, nos próximos anos. Na medida em que as arenas criadas, reformadas ou remodeladas para Copa do Mundo estiverem prontas, a BWA, que obteve a concessão da maioria, tentará submeter centenas de milhares de torcedores a processos parecidos de controle e restrição. Pela lógica de “modernização” que está sendo imposta, a proposta é bem simples: entra quem pode “consumir”.
É um dos resultados de algo paradoxal: as arenas terão seu planejamento de lucratividade e gestão executados por uma empresa privada, ainda que tenham sido construídas com verba pública. E para que se mantenham lucrativas (“viáveis”… ) o Estado será acionado novamente outras vezes, entrando com os recursos, enquanto as empresas concessionárias se limitarão a buscar novos espetáculos. É provável que esta lógica leve os clubes que já possuem seus próprio estádios a utilizar essa nova, cara e antidemocrática estrutura.

* Irlan Simões é estudante Comunicação Social e escreve para a coluna Futebol Além da Mercadoria.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Toddynho com detergente custa R$ 420 mil à Pepsi

Toddynho com detergente custa R$ 420 mil à Pepsi
Foto: Divulgação

Acordo foi firmado com o Ministério Público do Rio Grande do Sul, onde 39 pessoas sofreram queimaduras após ingerir o produto

247 – O caso Toddynho, ocorrido em setembro do ano passado, quando 39 pessoas sofreram queimaduras após ingerir o produto, foi encerrado com um acordo entre PepsiCo., dona da marca, e o Ministério Público do Rio de Grande do Sul. A empresa se comprometeu a pagar R$ 420 mil como multa, para compensar os danos.
À época, a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul chegou a suspender a venda do produto no estado, mas a empresa argumentou que a falha foi pontual – o produto foi comercializado com detergentes químicos em sua composição. A ação fica suspensa desde que a PepsiCo pague R$ 390 mil de indenização ao Fundo da Infância e Juventude do Estado e outros R$ 30 mil a uma fundação de educação.
O acordo, no entanto, não encerra ações individuais que consumidores possam mover contra a companhia.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Ipea aponta mudanças na dinâmica do crescimento

Presidenta do Instituto, Vanessa Petrelli Corrêa, deu palestra no Congresso Internacional de Desenvolvimento, no RJ 

John Kennedy Costa, em IPEA

A mudança na dinâmica do crescimento no Brasil foi o tema da conferência proferida pela presidenta do Ipea, Vanessa Petrelli Corrêa, no primeiro Congresso Internacional de Desenvolvimento, promovido pelo Centro Celso Furtado, de 15 a 17 de agosto. A palestra da presidenta estava inserida no tema geral do evento, A crise e os desafios para um novo ciclo de desenvolvimento, e ocorreu na quinta-feira, 16. Grandes nomes foram convidados, como Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), Tania Bacelar, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Bresser-Pereira, da Fundação Getúlio Vargas, Carlos Pinkusfeld, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Luiz Gonzaga Belluzzo, da Universidade de Campinas (Unicamp). A palestra de encerramento, na sexta, 17, ficou a cargo de Maria da Conceição Tavares.
Com auditório cheio, Vanessa falou sobre a experiência brasileira de crescimento inclusivo no período 2004-2011, que se deveu à combinação de três fatores. O primeiro foi o cenário internacional favorável. O segundo foi a dinâmica redistributiva interna, por meio de aumentos do salário mínimo, das transferências públicas de renda e do crédito às famílias. Por fim, foi fundamental o papel do Estado na coordenação e no financiamento dos investimentos privados, complementados por investimentos públicos. “Inicialmente, o crescimento foi puxado pelo setor externo, mas após 2006, ele foi puxado pelo mercado interno, uma especificidade brasileira”, informou ela.
De acordo com os dados recentes, o crescimento médio real da economia brasileira entre 2004 e 2011 foi de 4,3% ao ano, quase o dobro, portanto, da média observada nas duas décadas imediatamente anteriores — e pouco menos de dois terços da média observada entre 1947 (o primeiro ano para o qual existem dados oficiais) e 1980.
Segundo Vanessa, o crescimento puxou a arrecadação, o que gerou aumento da carga tributária e possibilitou mais transferências de assistência e previdência às famílias, além do aumento do salário mínimo. Tudo isso mudou a dinâmica interna da economia brasileira. Afinal, a arrecadação tributária após 2004 passou a crescer não pela criação de novos tributos ou aumento de alíquotas, mas devido ao aumento do emprego, da formalização do mercado de trabalho, da lucratividade das empresas e do crescimento da economia em geral. “Em uma próxima pesquisa que devemos divulgar em breve, o Panorama das Finanças Públicas, vamos informar o aumento da carga tributária por setor”, revelou a presidenta do
Ipea.
A arrecadação tributária maior tornou possível utilizar isenções tributárias como instrumento de políticas de desenvolvimento produtivo e permitiu a ampliação dos gastos sociais e dos investimentos públicos sem aumentar o endividamento público. Para a presidenta do Instituto, o crescimento inclusivo envolve políticas sociais universais, disponibilidade de crédito para as famílias e para as empresas, crescimento da renda e do consumo, e investimentos privados, coordenados pelo Estado e complementados por investimentos públicos. “Mesmo com a piora do ambiente externo, o governo tem condições de reverter o quadro”, disse Vanessa, que acredita no avanço do modelo brasileiro de crescimento inclusivo, apesar dos vários desafios.


Evento: Psicanálise, Política e Memória em tempos Sombrios


domingo, 19 de agosto de 2012

Os trotskystas e Cuba

 Não simpatizo com o trotskysmo, nem idolatro Cuba. Porém, em nome da reflexão crítica achei por bem publicar este artigo. Pode ser útil a todos os que debatem os caminhos para a transformaçaõ social. Já manifestei opinião sobre as reformas em Cuba. Ao que me parece, trata-se de uma questão de sobrevivência.

Cuba e as consequências da volta ao capitalismo


Escrito por Gabriel Casoni, de Santos (SP)[1]

Os debates sobre Cuba suscitam polêmicas apaixonadas. Não poderia ser diferente. A primeira revolução socialista vitoriosa na América latina comoveu gerações e alcançou conquistas colossais. Mas também ganhou inimigos poderosos. O imperialismo a atacou com fúria e ódio.
As relações sociais, contudo, não cessaram com a revolução. Em sintonia com o processo internacional de restauração em todos antigos Estados operários, o capitalismo retornou à Ilha. Assim como na ex-URSS e na China, a restauração não veio através da intervenção estrangeira, mas sim por meio da casta burocrática localizada no aparato estatal. Em Cuba, entretanto, houve uma especificidade: o capitalismo voltou pelas mãos dos mesmos homens que lideraram a revolução de 1959. Esse fato semeia confusões e falsas esperanças na esquerda em todo mundo.
A despeito de quaisquer ilusões na direção castrista, o capitalismo prospera em Cuba. As empresas estrangeiras dominam os setores chaves da economia e avançam sobre novos ramos. Não existem mais o monopólio estatal do comércio exterior nem o planejamento central da economia. A demissão em massa de funcionários públicos se articula com o aumento vertiginoso dos “trabalhadores por conta própria”, das pequenas empresas e cooperativas. O pleno emprego, a qualidade em saúde e educação públicas, enfim, as conquistas sociais da revolução, vão sendo desmontadas uma a uma, num processo permanente e doloroso.
Mesmo entre a burguesia, não há mais dúvida sobre a restauração capitalista. A polêmica, quando existe, reside nos rumos do processo em curso. As multinacionais espanholas, canadenses e brasileiras comemoram a abertura econômica e exigem o fim do embargo econômico. Do outro lado, os gusanos instalados em Miami, com apoio dos EUA, querem a retomada de suas antigas propriedades. Por isso, apenas, mantém o bloqueio comercial.
centrais e a dinâmica da economia de Cuba, bem como sua nova localização na divisão internacional do trabalho. Na análise das condições econômicas, ficará sublinhado o papel dos investimentos externos e o intenso desenvolvimento das pequenas empresas na Ilha. Ao longo do texto, abordaremos também o papel do governo cubano como agente da restauração capitalista. Para tanto, demonstraremos as principais medidas levadas a cabo nos últimos anos, sobretudo no último congresso do Partido Comunista. Por fim, chegaremos aos cenários políticos abertos e às possibilidades contidas na luta de classes.
Economia instável e ajuste neoliberal



Quando o Papa Bento XVI desembarcou em Cuba para uma visita de três dias, o jornal Miami Herald, um dos porta-vozes dos gusanos e que não abriga nenhuma simpatia pelo governo cubano, afirmou que o pontífice iria encontrar uma Cuba “bem diferente” e que Raul Castro "aprovou a maior expansão da atividade econômica privada que já ocorreu sob o regime". O tom era eufórico, não era para menos: o papa foi “abençoar” a restauração.
O mais curioso, entretanto, é que diante de fatos incontestáveis, a esmagadora maioria da esquerda mundial ainda considere Cuba um país “socialista” ou um estado “operário”. A verdade é muitas vezes desagradável, porém incontornável. O Estado cubano defende e promove as relações de propriedade capitalistas. Toda a realidade o demonstra.