sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O ANALFABETO POLÍTICO

                                            Bertolt Brecht

O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nascem a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

As cotas no PT

Poucos leram as resoluções, mas o mundo inteiro já sabe que o PT estabeleceu cotas para a composição de suas instâncias. Homens e mulheres as comporão paritariamente (50% /50%); 20% dos integrantes deverão ter até 30 anos e 20% deverão ser afrodescendentes.De onde saíram esses percentuais é um enigma.
"Não vou dizer que foi ruim também não foi tão bom assim". O PT decidiu enfrentar um problema político através de questões organizativas. Criou uma espécie de federação baseada em determinada condição das pessoas e não no seu modo de ver o mundo. É um modo de tratar esses problema, não creio que seja o mais correto. Do ponto de vista político, coloco as coisas em termos simples: uma mulher que seja contra a descriminalização do aborto (e isso existe no PT e na sociedade), integrará a cota de mulheres, independente da visão política. Outros raciocínios mais complexos ou mais toscos poderão ser feitos. O que devemos refletir é sobre até que ponto determinadas condições (etnia, gênero, idade) condicionam o nosso modo de propor coisas ao mundo que nos envolve. Não existe na natureza humana uma relação direta entre as condições referidas e pensamento. Nossa relação com o mundo é mediada por conceitos que não nascem naturalmente no cérebro. Portanto é uma construção intelectual e cultural mais complexa, que não se resolve do ponto de vista matemático. A presença de mulheres, afrodescendentes e jovens nas direções partidárias é importante, mas não é o percentual que garante algo; é a reflexão política do conjunto do partido. Volto à questão inicial: uma política consistente para as questões da juventude, das mulheres e dos afrodescendentes é  melhor modo de garantir a ampliação de sua presença nas direções partidárias, não o inverso. É como se o PT dissesse: "já garantimos a presença de vocês, agora, elaborem a política".
Outra questão, porque esses segmentos foram considerados e não outros? Por exemplo: por que não contemplar uma obrigatoriedade mínima de sindicalistas, sem-terra, participantes dos movimentos populares...? Para ser coerente, é obrigatório dizer que, mesmo esse tipo de cnstrução federativa das direões partidárias seria equivocado. Porém, é revelador o tipo de divisão que o PT estabelece entre os seus militantes e quais ele pretende privilegiar.
Como sempre, posso estar muito errado e o PT dê um salto em sua construção política. Porém, ao que tudo indica, na próxima eleição dos órgãos dirigentes, os articuladores de chapa terão que montar uma planilha eletrônica para construir suas nominatas. A exclusão de pessoas permanecerá, mas será em outro nível.
Vai que funciona.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Ex-pastor da Igreja Universal acusado de desviar dízimos

De: Espaço Vital

A Igreja Universal do Reino de Deus foi condenada pela Justiça do Trabalho a indenizar em R$ 70 mil um ex-pastor acusado, sem provas, de subtrair o dízimo oferecido pelos fieis durante os cultos. A 7ª Turma do TST negou provimento da agravo de instrumento da igreja, que pretendia trazer o caso ao exame do TST com o objetivo de rever a condenação.
Na inicial da reclamação trabalhista ajuizada contra a Universal, o pastor alegou que foi contratado em 1º de setembro de 1992 como operador de áudio. Demitido no dia 30 do mesmo mês, passou, no mesmo dia, a exercer a função de pastor evangélico, até 2005 quando foi acusado da subtração.
Na ação, pediu verbas rescisórias, vínculo de emprego e danos morais, pela situação vexatória a que tinha sido submetido.
O pastor descreveu que, além da atividade junto aos fiéis, era também responsável “pela arrecadação e contabilização dos dízimos arrecadados na igreja em que atuava, sempre observando as metas de arrecadação estabelecidas”. Afirmou que era também encarregado da arrecadação e transporte dos dízimos recolhidos em toda região de Campinas (SP) até o departamento financeiro da igreja, em São Paulo (SP).
Em sua narrativa, afirmou que a igreja, desconfiada de que ele estivesse desviando dinheiro dos dízimos, teria “plantado” diversas notas marcadas durante o culto. No dia seguinte, teria sido convocado para uma reunião com um dos bispos da igreja. Naquela ocasião, na presença da sua esposa, foi acusado pelo bispo de desviar dinheiro das oferendas em seu proveito e de ter adquirido, com a verba desviada, uma fazenda para seu pai.
O bispo então disse que poderia provar o que estava afirmando e determinou que alguns seguranças armados o acompanhassem até Campinas para que fosse feita a contagem nos sacos das oferendas, a fim de verificar o desaparecimento de alguma nota marcada. Após a contagem, porém, constataram não haver a ausência de nenhuma das notas marcadas.
Diante dessa constatação, ainda de acordo com o relato do pastor na inicial do processo, o bispo teria mandado os seguranças até o imóvel onde o pastor morava, alugado pela igreja, com o propósito de "localizar algum dinheiro escondido”. A revista no apartamento teria ocorrido de “forma violenta, quebrando móveis e jogando todos os pertences do reclamante e de sua família ao chão”. Nada foi encontrado.
Mesmo assim, o bispo teria determinado a expulsão do pastor e de sua família do apartamento. Os seguranças então jogaram todas as suas roupas na calçada em frente ao edifício, fato presenciado, segundo ele, “por vizinhos, pelo porteiro e por diversas outras pessoas que pelo local passavam”, além, do seu filho de oito anos. Naquela noite, ele teve de dormir num hotel, mesmo sem ter dinheiro para tal, e, nas noites seguintes, hospedou-se na casa de um fiel que lhe prestou assistência.
A igreja, ainda segundo a inicial, teria divulgado em reunião com os pastores da região, auxiliares de pastores e obreiros da igreja, que ele “havia furtado dinheiro proveniente dos dízimos” e ordenado a todos os pastores que divulgassem aos fieis tal informação. Narra o pastor que, por conta dessa notícia, “literalmente da noite para o dia, passou a ser odiado pelos fieis e pelos demais pastores, como se ladrão e aproveitador fosse”, sendo poucos aqueles que se dispuseram a ouvir a sua versão dos fatos.
A 12ª Vara do Trabalho de Campinas (SP), após ouvir as testemunhas e examinar o processo, rejeitou o pedido de vínculo empregatício, porém fixou a reparação por danos morais em R$ 70 mil, por ficar constatado que os fatos realmente tinham ocorrido e teriam afetado a autoestima, a honra e a imagem do pastor. O Regional, ao analisar o recurso ordinário da Universal, considerou o valor arbitrado suficiente para punir eficazmente a igreja, levando em conta sua capacidade econômica. A igreja ainda interpôs recurso de revista, que teve seu seguimento negado. Recorreu então ao TST, por meio agravo de instrumento.
Ao analisar o recurso, o relator, ministro Ives Gandra da Silva Martins Filho, observou que o TRT-12 ao analisar as provas, concluiu que o valor da condenação era razoável e capaz de ressarcir o dano causado ao pastor. Salientou que a prova colhida deixava claro o dano causado ao autor da ação. O ministro observou ainda que o artigo 944 do Código Civil não foi violado, como alegado no recurso.
Para ele, o referido artigo é “é genérico e lacônico”, pois dispõe apenas que “a indenização mede-se pela extensão do dano” deixando ao livre arbítrio do julgador a utilização dentro dos princípios da razoabilidade a fixação do valor indenizatório.
O advogado Fábio Izique Chebabi atuou em defesa do ex-pastor. (AIRR nº  168300-34.2007.5.15.0131).

Zero e um - Vladimir Safatle

Há tempos, as pesquisas em inteligência artificial procuram criar um computador que tenha a complexidade de um cérebro humano.
Bem, certos setores do debate nacional de ideias conseguiram o inverso: criar cérebros que parecem mimetizar as restrições de um computador. Pois eles são como hardwares que suportam apenas um pensamento binário, onde tudo é organizado a partir de "zero" e "um".
De fato, o Brasil tem de conviver atualmente com debates onde o mundo parece se dividir em dois. Não há nuances, inversões ou possibilidades de autocrítica.
Jean-Paul Sartre costumava dizer que o verdadeiro pensamento pensa contra si mesmo.
Este é, por sinal, um bom ponto de partida para se orientar em discussões: nunca levar a sério alguém incapaz de pensar contra si mesmo, incapaz de problematizar suas próprias certezas devido à redução dos argumentos opostos a reles caricatura.
Afinal, se estamos no reino do pensamento binário, então só posso estar absolutamente certo e o outro, ridiculamente errado. Daí porque a única coisa a fazer é apresentar o outro sob os traços do sarcasmo e da redução irônica. Mostrar que, por trás de seus pretensos argumentos, há apenas desvio moral e sede de poder.
Isso quando a desqualificação não passa pela simples tentativa de infantilizá-lo. Alguns chamam isso de "debate". Eu não chegaria a tanto.
Infelizmente, tal pensamento binário tem cadeira cativa nas discussões políticas.
Se você critica as brutais desigualdades das sociedades capitalistas, insiste no esvaziamento da vida democrática sob os mantos da democracia parlamentar, então está sorrateiramente à procura de reconstruir a União Soviética ou de exportar o modelo da Coreia do Norte para o mundo.
Se você critica os descaminhos da Revolução Cubana ou a incapacidade da esquerda em aumentar a densidade da participação popular nas decisões governamentais, criando, em seu lugar, uma nova burocracia de extração sindical, então você ingenuamente alimenta o flanco da direita.
Esse binarismo só pode se sustentar por meio da crença de que nenhum acontecimento ocorrerá. Tudo o que virá no futuro é a simples repetição do passado. Não há contingência que possa me ensinar algo. Só há acontecimento quando este reforça minhas certezas.
O resto é "fogo-fátuo" e conspiração. É possível encontrar modelos desse raciocínio à esquerda e à direita. No entanto não precisamos de nenhum deles.
Precisamos de um pensamento com a coragem de admitir acontecimentos que nos desorientam. Pois - e este é um dos elementos mais impressionantes da vida - quando fechamos os olhos para tais acontecimentos, eles, de fato, desaparecem.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Bullying atinge crianças que já são vítimas de violência

Pesquisa feita pela UFSCar aponta que probabilidade é 8,5 vezes maior
Estudo foi feito com 239 alunos, entre meninos e meninas, de 11 a 15 anos de três escolas de São Carlos
ELIDA OLIVEIRA DE RIBEIRÃO PRETO
 
Uma pesquisa da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) apontou que crianças vítimas de violência em casa têm até 8,5 vezes mais chances de sofrerem e praticarem bullying na escola.
De acordo com a pesquisa, o índice se agrava entre meninos agredidos pelos pais.
A violência severa de pais contra filhos aumenta a chance de o menino ser vítima e autor de bullying, ao mesmo tempo, em 8,5 vezes. Os casos de violência moderada aumentaram em sete vezes a probabilidade de o menino se envolver em bullying.
O dado indica que a probabilidade de a violência em casa se transformar em bullying na escola aumenta na medida em que a agressão se torna mais grave e se for praticada pela figura paterna contra os filhos. No caso das meninas, os índices não foram significativos.
A pesquisa foi feita entre 239 alunos de 11 a 15 anos, meninos e meninas, de três escolas municipais.
O estudo foi elaborada por Lúcia Cavalcanti de Albuberque Williams, coordenadora do Laprev ( Laboratório de Análise e Prevenção da Violência) da UFSCar, e apresentado na discussão de um projeto de lei. "Os pais se preocupam com o bullying nas escolas, mas não se dão conta de que a violência em casa pode contribuir para isso."

domingo, 4 de setembro de 2011

Ciência do mal

Dr. Silvana, arquétipo da ciência maligna
Para testar a eficácia preventiva da recém-lançada penicilina, os Estados Unidos infectaram 1.300 guatemaltecos na década de 40Sérgio Augusto - O Estado de S.Paulo
A história não é nova, dela já se sabia desde outubro do ano passado, mas aos olhos, aos ouvidos, e sobretudo ao estômago da multidão só chegou na segunda-feira, quando uma comissão especial de bioeticistas nomeada pelo presidente Barack Obama confirmou e deu detalhes sobre um estarrecedor experimento médico-científico na Guatemala, secretamente patrocinado por uma agência do Departamento de Saúde dos EUA, na segunda metade da década de 1940.
Entre 1946 e 1948, cerca de 1.300 guatemaltecos foram infectados com doenças venéreas para testar a eficácia da recém-lançada penicilina na prevenção de moléstias sexualmente transmissíveis. Inocularam gonorreia e sífilis através do globo ocular e da base do crânio de prostitutas e as estimularam ao coito com detentos, doentes mentais e soldados. Órfãos também foram usados nos testes, assim como mulheres epiléticas e sifilíticas. Apenas 700 dos infectados receberam algum tratamento e 83 morreram.
Não foi apenas complotando para derrubar presidentes democraticamente eleitos e sustentando ditadores militares que os EUA infernizaram a Guatemala no século passado. Por acaso era um democrata, Juan José Arévalo, quem governava a Guatemala no período em que o dr. John Charles Cutler e seus pupilos lá implantaram um laboratório digno do Doutor Moreau de H.G. Wells, mas é provável que Arévalo tenha sido engambelado pelas autoridades locais comprometidas com as pesquisas. O atual (e também legítimo) presidente guatemalteco, Álvaro Colom, só foi tomar conhecimento delas ao receber um pedido formal de desculpas da Casa Branca.
Para quem não leu o romance de Wells, The Island of Doctor Moreau, publicado em 1896, nem viu qualquer de suas três versões para o cinema, um parêntese: Moreau era um vivisseccionista vitoriano que em sua ilha fazia as mais bizarras e cruéis experiências com animais e seres humanos. Sempre "em prol da ciência", como soem alegar os cientistas loucos da ficção e do mundo real, do dr. Frankenstein ao dr. Josef Mengele.
Mengele, o monstro nazista, coordenou os mais horripilantes experimentos genéticos e de resistência física no campo de concentração de Auschwitz, que o tornaram a maior referência da depravação científica de todos os tempos. O sanitarista John Cutler não ganhou o apelido de "dr. Mengele americano" numa rifa. Quando morreu, em 2003, obituaristas que ignoravam suas sigilosas atividades na Guatemala o cumularam de elogios, trataram-no como um heroico pioneiro na luta contra doenças sexualmente transmissíveis, como um benfeitor da humanidade. Quase um ano atrás, a historiadora Susan Reverby, da Universidade de Wellesley, desautorizou a canonização. Ao pesquisar o papelório do doutor, chegou aos arcanos da biopilantragem na Guatemala e a expôs à execração pública.
Descobriu-se também que Cutler fizera pesquisas similares com detentos de uma penitenciária de Indiana, em 1943, e envolvera-se, nos anos 60, no escandaloso caso Tuskegee. Implantado em 1932 com o objetivo de observar as reações de centenas de negros sifilíticos de Tuskegee (Alabama) a determinados fármacos, esse projeto foi levado adiante durante 40 anos e deixou um saldo de 70 mortos. O YouTube tem imagens do caso, tema de um documentário, The Deadly Deception, produzido em 1993.
No ranking das atrocidades cometidas em nome da ciência e da saúde, no século passado, o dr. Cutler não faz, portanto, má figura. A medalha de ouro ainda pertence, consensualmente, ao doktor Mengele. Mas é grande a concorrência. Em todos os quadrantes.
Cientistas norte-coreanos se especializaram no estudo das reações terminais de cobaias humanas à ingestão de repolhos envenenados e a sufocamento por gás. O sofrimento das vítimas, que culminava com uns 20 minutos de vômitos convulsivos e sanguinolentos, era estoicamente monitorado através de um espelho. E, já que estamos na Ásia, não custa lembrar a figura do microbiólogo Shiro Ishii, que na segunda guerra sino-japonesa (1937-1945) montou para o Exército Imperial do Japão uma unidade de pesquisas químicas e biológicas ainda mais cruéis que as do dr. Cutler na Guatemala.
Quinze minutos era o tempo médio da agonia final dos prisioneiros dos gulags soviéticos submetidos aos testes de envenenamento pelo gás C-2, controlados pelo bioquímico Grigori Mairanovski e supervisionados pelo superespião stalinista Pavel Sudoplatov. Objetivo da pesquisa: descobrir um veneno letal que não pudesse ser detectado post mortem.
Abortos, partos prematuros, defeitos físicos em crianças e câncer tireoidiano foram as consequências mais comuns dos testes nucleares no Atol de Bikini, em março de 1954, nos habitantes das Ilhas Marshall, premeditadamente expostos aos seus efeitos radioativos como parte do Projeto 4.1.
Entre 1971 e 1989, quase mil lésbicas e soldados homossexuais sul-africanos foram forçados a uma guinada sexual, sob o comando do dr. Aubrey Levin, o Mengele do apartheid. Os que não eram "curados" com drogas, doutrinação psiquiátrica e eletrochoques eram submetidos a tratamento hormonal ou a castração química. Levin, também conhecido como Dr. Shock, mandou-se para o Canadá e hoje dá aula no Departamento de Psiquiatria da Universidade de Calgary.
Quem nunca ouviu falar no Projeto MK-Ultra? Era o codinome de um programa de controle da mente da CIA, implantado no auge da Guerra Fria. As cobaias (candidatos a espião, soldados, médicos, prostitutas, doentes mentais, etc.) eram dopadas, sem o saber, com LSD e drogas correlatas e seus cérebros manipulados por um seleto grupo de cientistas, ao estilo The Manchurian Candidate, numa clara violação do Código de Nuremberg, firmado no fim da guerra para evitar a mengelização da ciência. Em 1972, o então diretor da CIA, Richard Helms, mandou destruir os arquivos do projeto, impossibilitando sua investigação.