sábado, 2 de novembro de 2013

Boa notícia: Leandro Fortes na equipe de comunicação de Dilma-2014

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Leando Fortes é primeiro golaço de Dilma para 2014

Enquanto Veja e Serra brincam de fazer fofoca, Marina ajusta seu marketing ao do Itaú, e Campos passa o trator em cima do que resta de esquerda pró-Lula em seu partido, Dilma inicia seus preparativos para 2014 com a contratação de um dos maiores jornalistas do país: Leandro Fortes.
Sim, ele mesmo. Fortes será um dos coordenadores da comunicação da campanha da presidenta em 2014, segundo informação veiculada há pouco pelo Brasil 247.
Esse golaço provavelmente tem o dedo de Franklin Martins, outra figura cujo peso tem ganhado relevância junto ao staff político da presidenta, e que também já foi anunciado como integrante do núcleo de comunicação da campanha.
É uma notícia promissora, que traz enorme alívio à militância, porque promete uma campanha inteligente, focada mais no debate e na informação, e menos em marketing.
Sempre é bom lembrar que o marketing consegue fazer um candidato ganhar eleições. Mas a vitória política propriamente dita pertence à militância e ao staff político e jornalístico da campanha. Tem candidato que ganha eleição sem ganhar politicamente. Tem candidato que ganha politicamente mas perde a eleição. E tem quem ganhe nos dois: na eleição e na política.
Fortes é um lorde do jornalismo. Tem classe, talento e ideologia, qualidades que raramente se encontram reunidas numa só pessoa. Além de ser um entusiasta da blogosfera e do papel das redes sociais.
A direita não precisa se preocupar com equipe de comunicação, visto que a grande mídia em peso trabalha para ela. E nem vou falar que trabalha de graça, porque não é o caso. As perspectivas de retorno são gigantescas.
Um jornalista vai trabalhar numa campanha para ganhar um salário, além do prazer de participar do mais importante embate político de uma democracia.
Uma empresa de mídia se engaja em prol de um partido em troca de muito mais que isso.
Com dívidas tributárias remontando aos bilhões, a Globo sabe muito bem o que pode ganhar ou perder com as eleições de 2014. E os acontecimentos na Argentina a deixaram ainda mais nervosa.
*
Aproveito e publico abaixo o belíssimo texto de despedida de Leandro Fortes de seu emprego na Carta Capital.
Despedida doída
Eu devo a CartaCapital a oportunidade de ter voltado a amar o jornalismo. Espero ter retribuído à altura
por Leandro Fortes — publicado 01/11/2013 12:07, última modificação 01/11/2013 12:50
No site da Carta Capital

Em outubro de 2005, eu havia desistido do jornalismo.
A fúria com que a mídia havia se debruçado sobre o escândalo do “mensalão” havia, na época, iniciado uma onda de vandalismo editorial que transformara o trabalho das redações de Brasília em gincanas de uma só tarefa: derrubar o governo Lula.
Transformados em soldados de uma estrutura paralisante de pensamento único, os repórteres de Brasília passaram a gravitar em volta desse objetivo traçado pelo baronato da mídia sem maiores preocupações críticas. De repente, a ordem era adaptar todas as teses progressistas e de esquerda vinculadas ao governo do PT ao esgoto do “maior escândalo de corrupção da história do Brasil” e, a partir de então, iniciar a caçada a Lula e seu mandato presidencial. Fracassaram, mas não pararam de se multiplicar.
Assim, meia dúzia de famílias que monopolizava (e ainda monopoliza) o negócio da comunicação no País se uniu, como em 1964, para derrubar um presidente eleito pelo voto popular por meio do mesmíssimo discurso udenista de combate à corrupção agregado, a partir de uma adaptação tosca e deliberadamente manipulada, a conceitos difusos de liberdade de imprensa e liberdade de expressão – uma armadilha retórica que perdura até hoje, cujo o objetivo continua sendo o mesmo, o de não discutir seriamente nem uma coisa nem outra.
Eu havia largado empregos promissores da chamada “grande imprensa” para me dedicar a dar aulas de jornalismo em uma faculdade de Brasília. Pretendia, como acabei fazendo pouco tempo depois, criar um fórum próprio de discussão e formação em jornalismo desvinculado da crescente ideologização de direita, conservadora e medíocre da mídia nacional. Assim nasceu a Escola Livre de Jornalismo, uma arena de ideias, seminários, palestras e oficinas para estudantes e jovens jornalistas em busca de contrapontos ao mau cheiro da mídia tradicional. Dediquei-me, ainda, a escrever livros e fazer palestras Brasil afora.
A CartaCapital entrou na minha vida, em 2005, pelas mãos da mesma pessoa que me fez vir para Brasília, em 1990, Cynara Menezes – minha amiga e contemporânea dos tempos da UFBA, minha irmã querida, jornalista brilhante, desde sempre.
Eu não sabia, mas ao ser indicado por Cynara para assumir o cargo de correspondente da Carta em Brasília, eu teria a chance de viver a mais importante, relevante e satisfatória experiência da minha carreira de jornalista desde que, numa tarde de maio de 1986, eu botei os pés na redação da Tribuna da Bahia, como estagiário não-remunerado, em um velho prédio coberto de fuligem do bairro da Sete Portas, nas entranhas da velha Salvador.
A experiência na Carta traz o traço marcante da convivência com o idealizador e a alma da revista, Mino Carta, de longe o mais importante e referencial jornalista ainda em atividade no Brasil. Eu, que já havia trabalhador para as famílias Mesquita, Sirotsky, Marinho e Nascimento Brito, não sabia o que era ter como patrão um jornalista de verdade. Fosse apenas isso, ter a oportunidade de trabalhar e conviver com um profissional da qualidade – e com a sabedoria – de Mino, a experiência na CartaCapital já teria sido um presente. Mas foi mais do que isso.
Nesses oito anos de CartaCapital, moldei meu espírito de repórter no combate permanente às injustiças sociais, ao moralismo seletivo e ao mau jornalismo vendido à sociedade como suprassumo do pensamento liberal, mas que é somente subproduto risível de certa escola de reportagem a serviço do que há de pior e mais reacionário no pensamento das autodenominadas elites nacionais.
Desde a minha trincheira, na capital federal, parti para percorrer o País a fim de ouvir quem nunca tinha sido ouvido e dar voz a quem nunca pode falar.
Fui, com muito orgulho, o repórter dos invisíveis.
Agora, de partida para outras plagas profissionais, gostaria de compartilhar com todos vocês, queridos amigos, colegas e leitores, esse meu sentimento contraditório, tão típico dos que se despendem sem a certeza de que querem mesmo ir embora.
Eu devo a CartaCapital a oportunidade de ter voltado a amar o jornalismo, com todas as dificuldades e sacrifícios que esse ofício tão especial nos coloca no caminho, todo dia.
Hoje, no meu último dia de trabalho na Carta, olho para trás e espero, sinceramente, ter retribuído à altura.
Por: Miguel do Rosário

MALAN DEVE SER PROCESSADO POR COLAPSO DE EIKE

C* 'De bêbado tem dono, sim', diz monografia sobre estupro de mulheres embriagadas

Título do trabalho de aluna de Direito causa susto, mas é bem recebido em universidade de São Bernardo do Campo
 universitária Thays Gonçalves durante apresentação sobre seu trabalho de estupro de vulnerável em caso de embriaguez femina Acervo pessoal
        

LAURO NETO- RIO - A universitária Thays Gonçalves, de 19 anos, apresentou uma monografia no IV Congresso Jurídico-Científico da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, em São Paulo, com um título um tanto quanto inusitado: “Cu de bêbado tem dono sim”. A intenção era causar um choque inicial para chamar atenção sobre o tema, descrito no subtítulo “estupro de vulnerável em caso de embriaguez feminina”. Aluna do 6º período, Thays alcançou seu objetivo ao apresentar o trabalho nesta quinta-feira (31) durante a XIII Semana Jurídica da instituição.
A primeira reação foi de susto, mas depois, quando falei do tema e do crime, as pessoas entenderam por quê. A apresentação foi bem tranquila, fui muito bem recebida pela sala. O título fez exatamente o que eu queria: chamar atenção para o tema. No final, todos aplaudiram e vieram me parabenizar pessoalmente - comemora Thays.
No trabalho, a universitária se baseou no artigo 217-A do Código Penal: ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos. O parágrafo primeiro descreve que “incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência”. Para ilustrar o tema, Thays se baseou em estudos de casos:
- Teve um caso de Pinheiro Preto (SC), em que uma moça foi chamada por conhecidos para beber e fumar num ginásio esportivo. Após se recusar a beijar um dos caras, a menina continuou bebendo, até ficar embriagada. Ela foi estuprada pelo rapaz, se lembra de tudo, mas não conseguia se mexer ou pedir para parar. É agonizante. Pretendo prolongar o tema para minha monografia do final do curso, na qual quero entrevistar moças que sofreram esse tipo de estupro e se procuraram ajuda ou não. Muitas mulheres sentem vergonha de pedir auxílio quando sofrem.
A estudante conta que não sofreu resistência dos professores quanto ao polêmico título para um trabalho acadêmico, apesar de reconhecer que “no curso de Direito são poucos os que entendem a necessidade de desmitificar do juridiquês e deixar mais acessível a linguagem”. Ainda assim, ela diz que sua orientadora de iniciação científica, Gisele Salgado, e o professor de Direito Penal, disciplina na qual apresentou o trabalho, aprovaram o tema e o título.
- A Gisele amou o título! Até quer uma camiseta com ele - conta Thays.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

NInjas, Black Blocs, midiativismo e o cultivo da intolerância

Contra o cultivo do ódio


Por Sylvia Debossan Moretzsohn em Observatório da Imprensa

Nos minutos finais de sua entrevista a Alberto Dines no Observatório na TV exibido em 22/10 (ver aqui), Fernando Gabeira compara a boa literatura ao bom jornalismo, que nos põem diante das contradições e complexidades do mundo, e critica o enfoque militante que “tende a cortar a realidade entre aquela que ele aceita e aquela que ele não aceita, entre o bem e o mal”. Conclui dizendo que “o militante no jornalismo joga com uma força muito grande contra ele, que é a dificuldade de ele ver o que não gosta, e a tolerância diante daquilo que ele gosta”.
De saída é preciso sublinhar que esse “bom jornalismo” é artigo raro no cenário atual da nossa mídia, que está longe de oferecer esse quadro rico e complexo da realidade para que o público possa ter o máximo de elementos possíveis para fazer seus julgamentos. Pelo contrário, a mídia frequentemente padece dos mesmos males dessa militância, às vezes disfarçada, às vezes explícita. Mas quem quer se opor a ela não pode simplesmente trocar os sinais, para não cair no mesmo vício que denuncia.
Antes que se mal entenda, não estou com isso querendo dizer que o jornal ou o jornalista devam se esconder atrás de uma suposta imparcialidade: como já pude argumentar aqui (ver “A militância e as responsabilidades do jornalismo“), uma coisa é assumir de que lado se está, outra é ignorar o papel de mediador que todo jornalista precisa exercer. É uma questão ética fundamental, que não pode ser ignorada sob nenhuma hipótese.
A defesa das “múltiplas parcialidades”, por exemplo, que ganhou força com o protagonismo da Mídia Ninja nas Jornadas de Junho, parte da constatação de que a mídia é parcial, e por isso distorce, oculta, engana e até mesmo mente. Então estaríamos autorizados a fazer exatamente o mesmo em sentido contrário, embora o façamos, como sempre, em nome da verdade. Restaria ao público escolher entre uma incomensurável variedade de mentiras, enquanto o compromisso básico do jornalismo é com o esclarecimento. Neste caso, sempre se estará diante de uma disputa de diferentes interpretações de um mesmo fato: mas o respeito aos fatos é essencial.
Os tempos turbulentos que estamos vivendo têm facilitado a cegueira em relação ao contraditório, precisamente no sentido apontado por Gabeira, o que é fatal para a apreensão da realidade e, consequentemente, para a ação política daí decorrente. E se privilegio aqui a crítica aos midiativistas é não apenas porque a grande imprensa já é alvo sistemático de crítica neste espaço, mas porque aposto na importância do contradiscurso para a democratização da comunicação. Daí a relevância das iniciativas à margem do mercado dominante e a necessidade de consolidação de experiências alternativas. Daí, também, o meu espanto com as atitudes que têm prevalecido nesse campo autodenominado “independente” na cobertura das manifestações atuais.
A caçada aos jornalistas
Na terça-feira (22/10), participei do segundo debate da série “Redes, Ruas, Mídias: Revolta e Reação”, voltada para a discussão dos múltiplos aspectos dessas manifestações. Foi no dia seguinte ao do leilão do campo de Libra, na Barra da Tijuca, onde mais uma vez jornalistas foram hostilizados pela polícia e por manifestantes mascarados. Um dos membros da mesa apresentou trechos da página do Black Bloc RJ daquele dia, que incentivava a caçada aos jornalistas: “Alguém avisa ao pessoal que tá lá na Barra que tem um repórter da Globo disfarçado de ninja falando um monte...”. Logo viriam os comentários:
>> “Já acharam, é uma menina baixinha morena, cabelo liso, rabo de cavalo, rápida, calça jeans e camiseta preta, segura a câmera com as 2 mãos e fala ao telefone com fone ou bluetooth”.
>> “Arranca essa filha da puta daí!”
>> “Pau nela sem pena!”
>> “Enfiem a mão nessa vadia!”
>> “Um filma e o outro fala no ao vivo. São dois”.
>> “Dá porrada nela!”
>> “Corta o cabelo dela, raspa a sobrancelha delaaaaa”.
>> “Taca fogo neles...”
>> “Se for gostosa, deixa ela pelada”.
E assim por diante. Raros foram os comentários em sentido contrário, seja contestando a censura, seja simplesmente criticando a violência física mas apoiando o impedimento ao trabalho, como este:
>> “Apenas tirem-na de cena. Confisquem a bateria do equipamento dela e devolvam o aparelho”.
Como se recorda, nesse dia um carro de reportagem foi virado e só não foi incendiado porque os bombeiros chegaram a tempo, e uma repórter, depois de hostilizada por um soldado, foi violentamente agredida por manifestantes, conforme relato publicado neste Observatório (ver “Somos todos Aline Pacheco“).
Na plateia, um dos estudantes perguntou às duas representantes de um recém-criado coletivo de mídia alternativa o que elas achavam das agressões. Explicou que não gostaria de estar numa situação daquelas, cobrindo uma manifestação, e ter o carro de reportagem destruído.
“O carro não é seu”, respondeu serenamente uma das moças.
(Pausa para a perplexidade: então estamos autorizados a destruir tudo o que não seja “nosso”?).
O rapaz logo se recompôs e argumentou: “Mas é meu instrumento de trabalho”. E ela: “Mas nós não queremos que você trabalhe”.
A igualdade seletiva
Esse breve diálogo é muito revelador do atual estado de coisas: em nome da contestação ao sistema, e à mídia hegemônica em particular, esses grupos se consideram no direito de definir quem pode ou não trabalhar, e se apropriam do espaço público utilizando a mesma tática das milícias que tanto dizem condenar.
Bem a propósito, as midiativistas se disseram ao lado dos trabalhadores e dos movimentos sociais. Jornalistas não são trabalhadores? Talvez não: são inimigos porque, segundo essa lógica rasteira, reproduzem o ideário das empresas para as quais trabalham. Assim, trabalhador é quem nós dizemos que é; por isso, podemos dizer quem está ou não autorizado a exercer seu ofício. Em suma, podemos dizer quem merece ou não ser livre, de modo que – como em tantos outros momentos da história da humanidade – nos achamos no direito de instituir a censura em nome da liberdade (ver aqui).
Já ao final do debate, uma das jovens declarou que sentia muito mais a morte dos moradores da Maré – numa chacina ocorrida em fins de junho naquele conjunto de favelas do Rio, no auge dos protestos – do que a agressão a jornalistas, esquecendo, talvez, uma palavra de ordem recorrente nas manifestações – “a polícia que reprime na avenida é a mesma que mata na favela” – e sem perceber que essa distinção é incompatível com o respeito aos direitos humanos. A não ser que desejemos reproduzir, com o sinal trocado, a conhecida ironia da igualdade seletiva, segundo a qual uns são mais iguais que outros.
Não é difícil vislumbrar para onde nos conduzirão essas “alternativas”.
Entre a convicção e a responsabilidade
Mas não se trata, pura e simplesmente, de rechaçar esse comportamento cego ao contraditório e tolerante com a violência “de esquerda”. Esse estado de coisas impõe uma discussão mais profunda sobre ética, que remete à conhecida distinção weberiana entre as éticas de convicção e de responsabilidade.
O debate acima referido fornece exemplos típicos de ética de convicção: fazemos o que achamos correto, sem nos importarmos com a consequência dos nossos atos. Ocorre que, tanto na vida cotidiana quanto na vida política, o cálculo das consequências é imprescindível. De fato, o que se passa na vida prática é uma articulação entre as duas éticas: é preciso ter princípios universais norteadores de nossa conduta, que entretanto não poderá ignorar as circunstâncias. Do contrário, poderemos provocar resultados desastrosos em nome das melhores intenções, como no famoso exemplo do pacifista que se recusa a lutar e assim facilita a ação de quem pretende exterminá-lo.
O primeiro grande problema está no estabelecimento dos limites para a flexibilização dos princípios: até que ponto podemos ceder? Se o pacifista relativiza suas convicções e aceita lutar, até que ponto estará apenas se defendendo e a partir de que ponto começará a reproduzir as práticas que ele próprio condena?
O outro problema é que, numa luta de enfrentamento contra o sistema, quem determina a nossa conduta tende a ser o inimigo, de modo que somos obrigados a fazer o que não desejamos.
O exercício da dúvida
Esses questionamentos, entretanto, não parecem fazer parte das preocupações dos coletivos de mídia alternativa. A grande maioria se declara contrária às agressões a jornalistas. Ao mesmo tempo, defende a ação dos Black Blocs, supostamente apenas reativa à violência policial e voltada aos chamados “símbolos do capital”. É um discurso que não resiste às evidências, não só pela reiterada depredação de bens públicos mas pelo recorrente ataque a repórteres. Complacente, portanto, com a força bruta que elimina a hipótese de diálogo.
Os militantes vêm citando à exaustão o famoso poema de Brecht sobre as margens que comprimem o rio aparentemente violento, perfeita metáfora para desvendar a violência estrutural da sociedade. Poderiam recordar outro poema, que exalta a dúvida como a maior das certezas do mundo. “Penso, logo hesito”, na feliz paráfrase de Eduardo Gianetti à máxima cartesiana. Exercitar a dúvida, questionar convicções, avaliar responsabilidades, para evitar o cultivo do ódio que nos conduz à barbárie.
***

Sylvia Debossan Moretzsohn é jornalista, professora da Universidade Federal Fluminense, autora de Repórter no volante. O papel dos motoristas de jornal na produção da notícia (Editora Três Estrelas, 2013) e Pensando contra os fatos. Jornalismo e cotidiano: do senso comum ao senso crítico (Editora Revan, 2007)

Marisa retira de loja virtual camiseta que estampa a palavra "estupradores"

Peça era encontrada até hoje no catálogo infanto-juvenil da Marisa por R$ 25,99
Por Luiza Belloni Veronesi  



SÃO PAULO - A loja on-line da Marisa retirou do catálogo infanto-juvenil, nesta terça-feira (29), uma camiseta que estampava a frase “Great rapers tonight”, que significa, em tradução livre, “Grandes estupradores esta noite”.
A camiseta, vendida por R$ 25,99 no e-commerce da varejista, causou polêmica nas redes sociais, como Facebook e Twitter. Provavelmente, dizem os usuários das redes sociais, a gafe foi do estilista da peça, que deve ter esquecido de colocar um “P” a mais na palavra “rapers”, que mudaria de “estupradores”, em inglês, para “rappers”.
Provavelmente, dizem os usuários das redes sociais, a gafe foi do estilista da peça (Reprodução)
Provavelmente, dizem os usuários das redes sociais, a gafe foi do estilista da peça (Reprodução)
Procurada pelo InfoMoney, a Marisa confirmou que foi um erro de grafia e informou que irá retirar imediatamente todas as peças das lojas da marca. Em nota, ela ainda pediu aos clientes que já adquiriram a peça se dirigirem a qualquer uma das lojas com a camiseta, independente do seu estado, para devolução do valor ou troca por outro produto.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Zé Dirceu é contra as biografias não autorizadas? Não, ele é a favor

Entre tapas e beijos


(Artigo publicado na Folha de S.Paulo em 30.10.2013)
Fiquei estarrecido -e sei que não deveria- com a agressividade da resposta de grande parte da mídia e mesmo de alguns biógrafos às propostas apresentadas por artistas do Procure Saber no debate sobre as biografias sem autorização.
Embora me espante com o ataque, sou contra a bandeira levantada pelo grupo porque acredito que o direito à liberdade de expressão e o veto a qualquer forma de censura de natureza política, ideológica ou artística, como diz claramente o artigo 220 da Constituição, é um bem maior que se sobrepõe à interpretação de proteção à privacidade do cidadão comum estabelecida pela reforma do Código Civil, em 2001.
Sabemos que artistas e políticos, ao assumirem tais papeis de destaque em sociedades democráticas, abdicam de seu direito à privacidade absoluta.
A crítica à causa do Procure Saber deve, portanto, ficar restrita à saudável esfera do debate das ideias. O que se viu nos últimos dias foi uma reação de intolerância e, como se dizia antigamente, de muita patrulha ideológica, na imprensa e nas redes sociais.
Exemplo maior é a reportagem de capa da revista “Veja” sobre o tema na semana passada.
Fui vítima -isso mesmo, vítima- de uma das piores biografias recentemente publicadas. Mas nada me anima a ser favorável à atual proibição inscrita no nosso Código Civil que exige autorização do retratado e da família.
A “biografia” escrita sobre mim é um bom exemplo para o debate em questão. Não foi autorizada, porém o mais grave não é o fato de ter sido produzida à revelia, mas sim o de oferecer aos leitores um livro repleto de erros -graves e em dezenas-, inverdades, impropriedades e com trechos de pura ficção.
Do primeiro ao último capítulo, lê-se uma história que não condiz com a verdade. Jornalistas e críticos a debateram, alguns enaltecendo, outros criticando.
Em nenhum momento cogitei proibir sua publicação porque acredito e aposto na liberdade de expressão em regime democrático. Por ela lutei toda a minha vida e ainda luto. Acredito no debate de ideias e no contraditório. Acredito na lei e na justiça. Por ela luto e lutarei sempre.
Mas é preciso garantir tanto a liberdade de expressão quanto a reparação em caso de ofensa. Deve-se garantir plena isonomia entre o direito de publicar biografias e o direito de resposta e proteção à honra -o que em boa hora a Câmara dos Deputados parece fazer no debate do projeto do deputado do meu partido Newton Lima (SP) que libera biografias sem autorização.
No Brasil, a Justiça não é nada cega em se tratando de mídia e é raro se observar a garantia ao direito de resposta. O receio do Judiciário de colocar uma empresa de comunicação no banco dos réus se torna ainda mais latente em tempos de exibição pela TV dos julgamentos da suprema corte. Os processos de reparação não andam e raramente um jornal ou uma revista é condenado, assegurando o direito de resposta a quem teve sua honra ameaçada em reportagens tendenciosas.
Mais uma vez cito o meu próprio caso, na invasão de meu apartamento residencial em um hotel de Brasília por um jornalista de “Veja”. Ele não foi acusado formalmente, apesar de réu confesso, sob o argumento de que a camareira impediu que o crime se consumasse. Imagine se fosse o contrário: eu tentando invadir o apartamento de um jornalista?
No caso das biografias não autorizadas, é preciso deixar a patrulha ideológica de lado e privilegiar o debate com o objetivo de assegurar o pleno cumprimento do Estado democrático de Direito.
O veto às biografias é, antes da defesa da privacidade do biografado, uma censura velada à liberdade de expressão, conquista que a sociedade brasileira alcançou depois de anos de regime militar.
Esse é o debate que deve ser feito. É preciso entender que a crítica feroz ao Procure Saber se traduz, na prática, como o medo atávico de nossa mídia a qualquer proposta que signifique regulação, sob o argumento falso de que seria censura e controle da informação. Dessa forma, ela fica livre para atacar a honra alheira, sem direito de resposta e proteção da imagem, como manda a Constituição de 1988, no mesmo nível de proteção da liberdade de imprensa e de informação.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A lógica inatacável do aumento do IPTU em São Paulo

Foco certo nos mais pobres
Paulo Nogueira, Diário do Centro do Mundo

Num país em que rico não paga imposto, é com satisfação que vejo a questão do novo IPTU em São Paulo.
Há uma lógica perfeita nos aumentos: ele é menor nas regiões mais pobres e maior nas regiões mais afluentes.
Em algumas áreas, na verdade, o que houve foi uma redução. No Parque do Carmo, por exemplo, o IPTU ficou 12% menor.
Isso se chama redistribuição de renda, e é algo de que São Paulo precisa com urgência e em doses torrenciais.
Louve-se a coragem do prefeito Haddad, uma vez que a periferia não tem voz na mídia, e a turma das áreas mais nobres já está batendo nele com seu habitual egoísmo e completa falta de solidariedade.
Há um simbolismo na tabela de aumentos que merece aplausos.
Não é o primeiro episódio de escolha acertada de Haddad. Na questão da mobilidade urbana, ele já optou pelos ônibus e não, como sempre aconteceu em São Paulo, pelos carros.
Um ex-prefeito de Bogotá disse que um ônibus que passa em boa velocidade enquanto um carro está no engarrafamento significa democracia.
Haddad parece seguir a mesma lógica ao aumentar as faixas exclusivas de ônibus. Em breve, de tanto ver passar ônibus enquanto seu carro não anda, muitos paulistanos mudarão de ideia sobre a melhor forma de se locomover em São Paulo.
Há ainda uma longa caminhada até sabermos se Haddad será ou não um bom prefeito. (Sabemos, com certeza, que prefeitos como Serra e Kassab foram uma tragédia paulistana, com sua miopia, falta de visão e foco em quem já é mimado demais.)
Mas Haddad parece saber para onde quer ir, como ficou claro no caso do IPTU e da mobilidade urbana.
Na grande frase romana, vento nenhum ajuda quem não sabe para onde ir. Haddad parece saber.

E esta é uma excelente notícia para os paulistanos.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Ex-presidente Lula recebe medalha na Câmara e defende reforma política

Ex-presidente Lula recebe Medalha da Suprema Distinção (Reprodução Agência Brasil)
Ex-presidente Lula recebe Medalha da Suprema Distinção
A Medalha da Suprema Distinção é concedida a quem presta relevantes serviços públicos à sociedade brasileira


O ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta terça-feira (29/10), na Câmara dos Deputados, a Medalha da Suprema Distinção, concedida a quem presta relevantes serviços públicos à sociedade brasileira. 

Lula, que mais cedo havia participado de sessão solene no Senado, em homenagem aos 25 da Constituição, e recebeu a Medalha Ulysses Guimarães, exaltou a relevância do Parlamento e defendeu uma reforma política. De acordo com o ex-presidente, o Congresso Nacional “não tem porque temer esse desafio”.

“É de aprofundar a democracia que estamos falando. Isso significa requalificar os partidos, reduzir a influência do poder econômico nas eleições e ampliar as formas de participação da sociedade no processo legislativo. É uma agenda que exige a coragem de romper com a acomodação, com velhos vícios, com o receio de mudar. A reforma política, necessária para o país e para restaurar a vitalidade do próprio Congresso, enfrenta resistências e certamente vai contrariar interesses”, disse.

Lula ressaltou ainda a contribuição do Parlamento nos debates sobre questões relevantes para o Brasil, entre eles a do novo marco regulatório do pré-sal e a aprovação de programas sociais. Para o ex-presidente, as críticas banais e generalistas em relação aos políticos deveriam dar lugar ao reconhecimento sobre a importância dessa participação.

“Nem sempre tivemos o sucesso desejado na aprovação de propostas legislativas, mas sempre mantivemos o diálogo em termos elevados. Se o Brasil está hoje entre as maiores economias do mundo, em uma situação de pleno emprego, com mobilidade social, sem precedentes, essas conquistas não seriam possíveis sem a participação da Câmara dos Deputados”, disse.

Após o discurso, Lula passou pelo gabinete da liderança do PT na Câmara, onde deputados petistas o esperavam com um bolo em comemoração ao seu aniversário. O movimento intenso de pessoas que tentavam se aproximar do ex-presidente misturadas aos jornalistas que o aguardavam na saída gerou tumulto e tensão. O policial legislativo Fernando Araújo agrediu com um soco o repórter fotográfico Ed Ferreira, do jornal O Estado de S. Paulo, que revidou batendo com a câmera fotográfica na cabeça do policial.

Fernando Araújo foi levado para o serviço médico com um ferimento e Ed Ferreira prestou depoimento na Polícia Legislativa. As imagens das câmeras de segurança e dos cinegrafistas que estavam próximos à cena serão analisadas e as responsabilidades de ambos no caso serão apuradas.

Cláudio Moura e Castro e a prostituição de nordestinas, paga pelo Estado, para melhorar capital humano

  O título é provocativo, mas vejam se a proposta do "especialista de plantão" da educação da grande mídia não é exatamente isso.

Entidades repudiam declaração de articulista da Veja

 Após diversas críticas nas redes sociais à declaração do "educador" e articulista da Veja, Claudio de Moura Castro, sugerindo que "caboclinhas de Pernambuco e do Ceará" se casem com engenheiros para aumentar nosso capital humano, diversas entidades ligadas à temática da educação fizeram uma carta aberta ao Senado pedindo sua imediata retratação. Confira a íntegra do texto divulgado pelas instituições:


"As entidades e movimentos da sociedade civil que participam dos debates para construção do novo Plano Nacional de Educação (PNE), desde a 1ª Conae (Conferência Nacional de Educação, 2010), manifestam seu repúdio e exigem retratação pública à proposição desrespeitosa apresentada pelo Sr. Claudio de Moura Castro, em audiência pública realizada no dia 22 de outubro de 2013, na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal.

Na ocasião, buscando reforçar seu argumento de que o PNE é inconsistente devido à participação da sociedade civil, o referido expositor sugeriu, em tom de deboche, que sua proposta ao plano seria oferecer um bônus para "as caboclinhas de Pernambuco e do Ceará se conseguirem casar com os engenheiros estrangeiros, porque aí eles ficam e aumenta a nossa oferta de engenheiros (sic)".

Preconceituosa, a proposição é inadmissivelmente machista e discriminatória. Constitui-se em uma ofensa às mulheres e à educação brasileira, inclusive sugerindo a subjugação das mesmas por estrangeiros. Além disso, manifesta um preconceito regional e racial inaceitável, especialmente em uma sociedade democrática. Entendemos que a diversidade de opiniões não pode significar, de forma alguma, o desrespeito a qualquer pessoa ou grupo social.

Compreendemos ainda que tal manifestação representa um desrespeito ao próprio Senado Federal, como Casa Legislativa que deve ser dedicada ao profícuo debate democrático, pautado pela ética e pelo compromisso político, orientado pelos princípios da Constituição Federal de 1988 e de convenções internacionais sobre Direitos Humanos. A elaboração do PNE, demandado pelo Art. 214 da Carta Magna, não deve ceder à galhofa, muito menos quando preconceituosa.

Por esta razão, os signatários desta Carta esperam contar com o compromisso dos e das parlamentares em contestar esse tipo de manifestação ofensiva aos brasileiros e às brasileiras. Nesse sentido, esperamos as devidas escusas do Sr. Claudio de Moura Castro, que com seus comentários discriminatórios desrespeitou profundamente nossa democracia e a sociedade".

Veja o vídeo em que ele faz a declaração:



Movimentos e entidades signatárias (por ordem alfabética):


ABdC (Associação Brasileira de Currículo)



Ação Educativa - Assessoria, Pesquisa e Informação

ActionAid Brasil


Aliança pela Infância


Anfope (Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação)


Anpae/DF (Associação Nacional de Política e Administração da Educação - Distrito Federal)


Anped (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação)


Assopaes (Associação de Pais de Alunos do Espírito Santo)


Auçuba Comunicação Educação


Campanha Nacional pelo Direito à Educação


CCLF-PE (Centro de Cultura Luiz Freire - Pernambuco)


Cedeca-CE (Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará)


Cedes (Centro de Estudos Educação e Sociedade)


Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária)


CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação)


Contee (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino)


Escola de Gente - Comunicação e Inclusão


Fineduca (Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação)


Flacso Brasil (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais)


Fojupe (Fórum das Juventudes de Pernambuco)


FOMEJA (Fórum Mineiro de Educação de Jovens e Adultos)


Fóruns de Educação de Jovens e Adultos do Brasil


Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente


Geledés - Instituto da Mulher Negra


Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos)


Instituto Avisa Lá


IPF (Instituto Paulo Freire)


Mieib (Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil)


Mova Brasil (Movimentos de Alfabetização de Jovens e Adultos do Brasil)


Movimento Mulheres em Luta do Ceará


MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)


Omep/Brasil/RS - Novo Hamburgo (Organização Mundial Para Educação Pré-Escolar)


RedEstrado (Rede Latino-americana de Estudos Sobre Trabalho Docente)


Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos


Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação)


Unipop (Instituto Universidade Popular)