sábado, 30 de junho de 2012

Ilustrações de Salvador Dalí para Alice no País das Maravilhas

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Ilustrações feitas por Salvador Dalí, em 1969, para uma versão de Alice no País das Maravilhas são digitalizadas.
Alice no País das Maravilhas é uma das mais famosas obras literárias do mundo. Escrita por Lewis Carrol e publicada em 4 de julho de 1865, a obra encanta leitores de todas as idades.
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Até hoje a obra de Carrol é publicada em várias versões pelo mundo, sem falar nas várias adaptações para o cinema e desenhos animados, existem até jogos de vídeo game com a personagem Alice.
Recheada de detalhes, um dos elementos que contribuíram para o sucesso da obra foram as ilustrações de John Tenniel.
O que pouca gente sabe é que existe uma edição especial de Alice no País das Maravilhas, ilustrada por Salvador Dalí.
Publicado por New York’s Maecenas Press-Random House em 1969, o livro foi distribuído como o livro do mês. Hoje é uma das obras mais procuradas pelos admiradores de Dalí.
A edição traz 12 gravuras, uma para cada capítulo do livro. E uma gravura original assinada.
Para nosso deleite essas ilustrações foram digitalizadas pela William Bennett Gallery.
Deleitem-se.

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Uma cópia do livro está a venda por $12,900 no Amazon. Se você se interessar veja no vídeo abaixo os detalhes da obra de arte que você levará pra casa.



Leia mais: obvious

Katie Holmes dá o fora em Tom cruise e sobe no meu conceito

Não gosto do Tom Cruise, nem da Katie Holmes. Ela é uma atriz medíocre e sem graça, ele ator medíocre, sem graça e adepto da tal cientologia. Num quadro desses, chamou minha atenção o motivo da atriz para o divórcio: não quer que a filha seja educada em casa, seguindo os princípios daquele bando de malucos e longe da convivência de outras crianças.
Ponto para a Katie Holmes. A tendência a educar em casa é grande nos EUA e tem adeptos no Brasil. Talvez por coincidência, os maiores defensores dessa prática são adeptos de pretensas religiões, seitas facciosas e obscurantistas, que acreditam em uma educação longe da vida real e baseada em uma moral doutrinária.
Continuo achando a Katie Holmes uma atriz medíocre e sem graça, mas, ao menos, está pensando em proteger a filha, cresceu no meu conceito.

Sem Tom Cruise: Katie Holmes quer cuidar sozinha da filha. Atriz protocolou pedido de guarda total de Suri, de 6 anos. 

O divórcio de Katie Holmes e Tom Cruise não deverá ser focado na divisão dos milhões que os dois atores faturam em Hollywood. A filha do casal, Suri, promete ser o grande alvo da briga judicial que iniciou ontem, quando Katie pediu guarda total da menina.
Segundo especulações da imprensa internacional, Katie teria pedido o divórcio para proteger a filha de ser educada de acordo com a Cientologia, religião seguida por Tom Cruise. Revistas dizem que Katie teria se assustado com a orientação do marido de educar a menina em casa, sem contato com outras crianças em escolas tradicionais.
Tom Cruise divulgou ontem um comunicado no qual dizia estar profundamente triste com a decisão de Katie de pedir o divórcio após uma união de cinco anos. Ele já foi casado com as atrizes Nicole Kidman e Mimi Rodgers.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Solução ‘de mercado’ para salvar floresta amazônica desperta polêmica

Alessandra Alves, publicado emViomundo

A ideia pretende inverter a lógica existente hoje na Amazônia e em outras regiões tropicais: floresta em pé vale mais que a derrubada. Mas, o que à primeira vista parece um mecanismo simples, chancelado pelas Nações Unidas, desperta polêmica. Conhecido como REDD, o projeto sofreu duras críticas durante debate na Cúpula dos Povos da Rio+20. A repórter Alessandra Alves estava lá, registrou o debate e levantou a questão com outros entrevistados:
Concebido em 2007, na 13ª Reunião das Partes da Convenção da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 13), o conceito REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação) prevê incentivos econômicos a projetos que reduzam ou impeçam desmatamento de florestas em países em desenvolvimento, controlando assim a emissão global de dióxido de carbono. A ideia é atribuir preço ao carbono acumulado no interior das árvores e comercializá-lo no mercado internacional de carbono, fazendo com que a preservação da floresta seja mais lucrativa que o desmate.
A ONU possui o programa UN-REDD, cujo intuito é auxiliar países em desenvolvimento a preparar e implementar estratégias do gênero.
No total, o organismo concedeu US$67,3 milhões para 16 países (entre eles Bolívia, República Democrática do Congo, Panamá e Sri Lanka) desenvolverem e implementarem estratégias REDD.  Segundo Indicadores de Desenvolvimento Sustentável 2010, publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a destruição da camada vegetal, a partir do desmatamento da Amazônia e de queimadas no cerrado brasileiro, é responsável por mais de 75% da emissão de dióxido de carbono do Brasil, o que coloca o país entre os dez maiores emissores mundiais de gases que contribuem com o efeito estufa e, portanto, com o aquecimento global.
Um caso recente, noticiado pela Agência Pública, trouxe a discussão sobre o mecanismo REDD para o foco do debate. A reportagem informa que a empresa irlandesa Celestial Green pagou R$ 120 milhões para adquirir os créditos de carbono de índios munducurus que vivem no Pará, em contrato válido pelos próximos trinta anos.
Diz o texto:
Totalmente desconhecida no Brasil, a Celestial Green, sediada em Dublin, se declara proprietária dos direitos aos créditos de carbono de 20 milhões de hectares na Amazônia brasileira – o que equivale aos territórios da Suíça e da Áustria somados. Juntos, os 17 projetos da empresa na região teriam potencial para gerar mais de 6 bilhões de toneladas de créditos de carbono, segundo a própria empresa. Os créditos por desmatamento evitado, ou REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal), não são “oficiais”, ou seja, não podem ser vendidos nos mercados regulamentados pelo protocolo de Kyoto.
Este protocolo só aceita, por exemplo, a venda de créditos por uma empresa de um país pobre que troque sua tecnologia por uma menos poluente; os créditos que ela deixará de emitir podem ser vendidos. No caso das florestas, não há um mecanismo oficial que permita isso. Por isso, os créditos de carbono referentes a florestas são negociados em um mercado voluntário, que não é regulado; empresas como a Landrover, o HSBC, a Google e a DuPont compram esses créditos para sinalizar que estão fazendo algo de bom pelo meio ambiente.
O mercado é muito menor do que aquele resultante de projetos previstos por Kyoto: em 2010, o valor negociado foi de cerca de 400 milhões de dólares contra 140 bilhões de dólares do mercado “oficial”. Na esteira da corrida pelo invisível – créditos do carbono que deixaria de ser emitido por desmatamento – a irlandesa Celestial Green se adiantou: realizou diversas negociações rápidas e à margem de qualquer órgão federal. A empresa promete avaliar o potencial de créditos de carbono depois; mas já garante sua posse sobre eles, por contrato, e o acesso às terras para avaliação.
Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, reproduzida no site do Instituto Humanitas Unisinos, registrou algumas reações:
“Os índios assinam contratos muitas vezes sem saber o que estão assinando. Ficam sem poder cortar uma árvore e acabam abrindo caminho para a biopirataria”, disse Márcio Meira, presidente da Funai, que começou a receber informações sobre esse tipo de negócio em 2011. “Vemos que uma boa ideia, de reconhecer o serviço ambiental que os índios prestam por preservar a floresta, pode virar uma pilantragem.”
“Temos de evitar que oportunidades para avançarmos na valorização da biodiversidade disfarcem ações de biopirataria”, reagiu a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. O contrato dos mundurucus diz que os pagamentos em dólares dão à empresa a “totalidade” dos direitos sobre os créditos de carbono e “todos os direitos de certificados ou benefícios que se venha a obter por meio da biodiversidade dessa área”.
Em debate da Cúpula dos Povos, durante a Rio + 20, o teólogo Leonardo Boff disse que o REDD é uma iniciativa que reproduz a mesma lógica atual de exploração da natureza: “Apenas cuida para que o desmatamento não seja total e se controle os gases de efeito estufa. Mas não se coloca em questão o modo de produção e a relação de uso (desrespeitosa) em relação à natureza”.
Boff também afirmou que é preciso desvincular as categorias “desenvolvimento” e “sustentabilidade”, já que a primeira representa o modo de produção capitalista. “O desenvolvimento que conhecemos é um processo linear, que deseja crescer infinitamente, o que acaba gerando exclusões e grandes desigualdades. Já sustentabilidade possui definição muito mais ampla, que engloba a coexistência das comunidades dos seres em todas as esferas da vida”.
Mas nem todos rejeitam de forma categórica a iniciativa, embora com ressalvas.
Ouvimos Betty Mindlin, antropóloga do Instituto de Estudos Avançados (IEA- USP) e economista. Ela acredita que “pagar para deixar a floresta em pé” pode ser um mecanismo válido ao fazer as comunidades tradicionais, como indígenas, quilombolas e ribeirinhas, atuarem como se fossem fiscais do Estado, o que seria um bom mecanismo contra o desmatamento. “Mas essas comunidades não podem ser uma reserva de mercado para empresas. Deve-se conhecer as suas respectivas lideranças e haver advogados que defendam os interesses dessas comunidades”.
Daniel Smolentzov, procurador do Estado de São Paulo e integrante da assessoria da Secretaria de Meio Ambiente, observa que o REDD não é regulamentado pelo Protocolo de Kyoto, do qual o Brasil é signatário: “O REDD é uma prática comercial muito recente e não há nada específico sobre isso na legislação brasileira”.
Já Ariovaldo Umbelino de Oliveira, professor de Geografia Agrária da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH – USP), diz que o mecanismo REDD esbarra no problema da titularidade das terras: “Há muita terra grilada no Brasil, principalmente na Amazônia, o que impede o REDD de avançar”.
Outra questão levantada pelo geógrafo se refere ao impacto do dinheiro pago através do REDD, quando aplicado em comunidades tradicionais. “A entrada do dinheiro em sociedades indígenas as desmonta, já que elas vivem valores culturais completamente diferentes dos nossos”. O professor conclui: “Se essas comunidades estão precisando de recursos, significa que o Estado brasileiro não vem cumprindo o seu papel”.
O boliviano Pablo Sólon, organizador da Conferência Mundial dos Povos Sobre Mudanças Climáticas e ex-embaixador da Bolívia na ONU, também esteve no debate da Cúpula dos Povos.
Fez duras críticas ao REDD, que definou como “um mecanismo perverso para incentivar o desmatamento”, uma espécie de “mercado especulativo” envolvendo a natureza.
Segundo Sólon, quem deixa a floresta intocada não terá o que vender: ”Pela lógica do REDD, convém desmatar a floresta e depois reduzir a devastação para receber dinheiro”.
Para ele,  a “economia verde” inaugura um capitalismo tridimensional, que incorpora o capital físico e humano à acumulação de riqueza. “Não só a madeira da árvore é negociada, como também a função que a árvore cumpre no meio ambiente. O REDD assegura direitos de propriedade sobre as funções ecossistêmicas, o que configuraria mercantilização e privatização de recursos naturais”.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

O Presidente da CBF e a morte de Herzog

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De acordo com jornalista, Marin colaborou para a prisão
de Vladimir Herzog (Imagem: Divulgação)

Juca Kfouri afirma que presidente da CBF foi “fartamente” responsável pela prisão de Vladimir Herzog



O jornalista Juca Kfouri publicou em seu blog do Uol, nesta terça-feira, 26, que o  presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, foi serviçal da ditadura e um dos responsáveis pela prisão de Vladimir Herzog - que foi morto pelos militares. 

Kfouri afirma que Marin é “fartamente” responsável pela prisão que resultou no assassinato de Herzog, em 1975. “Na época, Marin era deputado e em discursos elogiava o trabalho do torturador Sérgio Paranhos Fleury e colaborava com as denúncias sobre a existência de comunistas na TV Cultura, cujo jornalismo era dirigido por Herzog”, publicou.

Na opinião do jornalista, este é o motivo pelo qual Dilma Rouseff não recebe Marin, que trata assuntos relativos ao governo Federal em audiências com o vice-presidente da República, Michel Temer. Ele está no comando da CBF e do Comitê Organizador Local para a Copa do Mundo de 2014 (COL), desde março de 2012, após a renúncia de Ricardo Teixeira.



Prisão e morte de Vlado
Herzog foi torturado e morto nas dependências da Operação Bandeirantes (Oban), por agentes do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), durante o regime militar, e tornou-se símbolo na luta pela restauração da democracia no Brasil.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Um pouco de Justiça: Ustra condenado!

Ustra é condenado por tortura e morte de jornalista durante ditadura


Da Redação, Sul 21
Coletivo Muralha Rubro Negra / Divulgação
Foto: Coletivo Muralha Rubro Negra / Divulgação
O coronel da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra foi condenado nesta segunda-feira (25) pela tortura e morte do jornalista Luiz Eduardo da Rocha Merlino. A sentença foi dada pela juíza Claudia de Lima Menge, da 20ª Vara Cível do Foro Central de São Paulo, que condenou o militar a pagar uma indenização de R$ 50 mil às autoras da ação – Ângela Maria Mendes de Almeida e Regina Maria Merlino Dias de Almeida, mulher e irmã do jornalista, respectivamente.
Ustra era comandante do DOI-CODI de São Paulo em 1971, onde Luiz Eduardo estava quando foi torturado e assassinado. Militante do Partido Operário Comunista, ele estava na clandestinidade desde 1968 e foi levado para o centro da rua Tutóia no di 15 de julho de 1971, onde testemunhas apontam que ele foi torturado durante 24h seguidas de forma ininterrupta. A morte foi causada por gangrenas nas pernas ocasionadas pela tortura no pau de arara.
Na sentença, a juíza diz que o jornalista “passou a apresentar dores nas pernas, que, depois, se constatou ser sintoma de complicações circulatórias severas, que redundaram na morte dele, por falta de atendimento médico adequado e excesso nos atos praticados pelo réu (Ustra)”.

 Foto: Divulgação/Clube Militar
Entretanto, a versão apresentada à época pelo DOPS foi a de que Luiz Eduardo teria cometido suicídio enquanto era transportado ao Rio Grande do Sul – para reconhecer outros militantes de esquerda. Na ocasião, segundo os agentes da ditadura, o jornalista teria se jogado na frente de um carro em movimento. É isso que aparece no atestado oficial forjado pelo regime e assinado por técnicos do Instituto Médico Legal.
Após ouvir diversas testemunhas da acusação, inclusive o ex-ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, a juíza afirma que o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra chegou, inclusive, a participar das torturas contra o jornalista. “Os espancamentos de Luiz Eduardo se deram sob supervisão, comando e, por vezes, por ato direto do requerido, que, então, era comandante do DOI-CODI e da operação OBAN”, diz a magistrada na sentença.
Claudia de Lima Menge observa que as testemunhas da defesa “nada souberam informar especificamente acerca dos fatos, porque nada presenciaram”, acrescentando que “uma delas só o conheceu depois da aposentadoria”.
A juíza entende que o crime de Ustra não está prescrito pela Lei da Anistia por se tratar de uma ação cível. “O litígio em análise não sofre ingerência da anistia contemplada na Lei nº 6.683/79, de âmbito exclusivamente penal, como de resto reconheceu o Supremo Tribunal Federal (…)”, entende.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

O álbum de fotos de Maluf

De Folha de S. Paulo

Álbum de Maluf tem Covas, FHC, Lula e Pelé

Por Mônica Bergamo
A foto de Lula e do pré-candidato Fernando Haddad (PT-SP) com Paulo Maluf (PP-SP) vai disputar espaço no já recheado álbum do ex-prefeito de São Paulo. "Um homem de vida pública de dezenas de anos, como eu, tem foto com todo mundo", disse Maluf à coluna ao ser lembrado que já foi clicado até com o santo padre.
"O papa João Paulo 2°? Claro que tenho foto com o papa. Ele me recebeu em audiência especial em Roma. E eu o recebi quando visitou o Brasil, rezou missa [em 1980, ainda na ditadura militar]. Eu era governador de SP."
Maluf, que por muito tempo sonhou com a Presidência da República, foi recebido em palácio por quase todos os presidentes do país -e a quase todos deu o seu apoio. "Eu tenho foto até com o Getúlio Vargas, minha querida."
Maluf já subiu em palanques diversos. No segundo turno da eleição de governador de SP, em 1994, apoiou o tucano Mario Covas, com direito a foto e tudo (ver acima). Em 1998, recebeu o então presidente Fernando Henrique Cardoso na convenção do PPB que apoiou a reeleição. Faltava Lula.
Em sua galeria estão também Hebe Camargo, José Dirceu e Pelé.













Surpresa no Paraguai: é possível reverter o golpe


Há resistência social no país e isolamento internacional dos golpistas. Aos poucos, desvenda-se trama que levou à quebra da legalidade


Nas primeiras horas de domingo, o presidente eleito pelos paraguaios, Fernando Lugo, abandonou a postura de resignação que mantinha desde sexta-feira, quando deposto, e tomou uma atitude que pode mudar o futuro imediato do país. Lugo dirigiu-se à rua Alberdi, no centro de Assunção, onde centenas de manifestantes haviam ocupado a TV Pública, em protesto contra ameaças de censura. Dirigiu-se a eles e à imprensa internacional sem meias palavras: “Sem dúvidas, foi um golpe. Um golpe parlamentar contra a cidadania e a democracia, e isso precisa ser denunciado aos quatro ventos”.
Precedida de intensa movimentação social e diplomática, a fala desfez a aparência de “normalidade” com que contavam os golpistas e seus apoiadores locais e externos – Estados Unidos e Vaticano, em especial. Está gerando uma reação em cadeia de resistências sociais e diplomáticas cujos lances mais recentes são a exclusão do “presidente” golpista do Mercosul e da Unasul (domingo à tarde) e a formação de um governo paralelo liderado por Lugo (esta manhã, em Assunção). Caso se mantenha, este processo pode reverter o golpe de Estado e colocar em novo patamar o que alguns chamam de “nova independência” sul-americana. Os fatos decisivos estão se produzindo neste início de semana: aos poucos, torna-se possível desvendá-los e romper a cortina de silêncio que os jornais comerciais brasileiros insistem em manter sobre o episódio.
A resistência avança explorando o calcanhar-de-aquiles dos golpistas: “como careciam de causas racionais que justificassem uma medida tão extrema, optaram por praticá-la com máxima pressa, explica, no jornal paraguaio Última Hora o analista político Alfredo Boccia. Ele prossegue: “O libelo acusatório causa vergonha alheia, de tão ridículo: não cuidaram das mínimas formalidades legais e atropelaram o respeito aos prazos de defesa”.
Lugo estava no Brasil, participando da Rio+20, quando a Câmara dos Deputados abriu, na quinta-feira, o “processo” que levaria a sua “cassação”. Washington Uranga, colunista do Página 12 argentino, conta: os opositores aproveitaram-se da ausência para concretizar finalmente uma ameaça que fizeram “em 23 ocasiões anteriores, pelos mais diversos motivos”. E mais: “a maioria destas manobras foi facilitada pelo próprio vice-presidente Federico Franco. (…) Sabendo que contava com os votos próprios [do Partido Liberal] mais os do Partido Colorado, em várias ocasiões o vice foi até a sede do governo para ameaçar Lugo e tentar extorqui-lo com a ameaça de juízo político, apenas para obter benefícios econômicos para si mesmo…”
Vinte e quatro horas depois, o Legislativo, que sempre bloqueou todas as iniciativas apresentadas por Lugo (da reforma agrária à nomeação de embaixadores), decretava seu impeachment por ampla maioria (39 x 4). A flagrante ilegalidade da aventura foi destacada pelo chanceler argentino Héctor Timerman, em entrevista ao Página 12: “Praticaram uma execução sumária. Darem duas horas de defesa a um presidente democraticamente eleito – um tempo menor que o se concede a quem recorre de uma multa por avançar um sinal vermelho”.
Mas quem dava respaldo aos aventureiros? “É muito provável que o pequeno Paraguai se dispusesse a confrontar as regras do Mercosul e da Unasul, entrando em conflito com seus dois vizinhos, se não contasse com o estímulo e proteção do governo norteamericano”, sugere o economista Flávio Lyra, num texto que Outras Palavras publica hoje. Na mesma entrevista ao Página 12, um relato do chanceler argentino confirma esta impressão. Timerman estava em Assunção nas horas que antecederam o golpe. Havia voado para lá com uma delegação de colegas da Unasul, alarmados pela perspectiva de deposição do presidente eleito. Reporta, em detalhes, as insistentes tentativas de diálogo dirigidas pelos diplomatas à oposição paraguaia – e a soberba com que foram rechaçadas. Eis um dos trechos: “Às 11h45 [de sexta-feira], faltavam 15 minutos para o começo do julgamento. Disse-lhes: ‘Senhores, virão épocas muito duras para o Paraguai, porque nós teremos de aplicar a cláusula democrática’. Não pareceu comovê-los em nada”.
No final da tarde de sexta, Lugo estava deposto. Quase sincronicamente, em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado para a América Latina, Darla Jordan, emitia nota que se calava diante do ataque à democracia, mas pedia “calma e responsabilidade” aos paraguaios… Ao contrário do que se informou no sábado, porém, a Casa Branca ainda não reconheceu oficialmente o novo “governo” paraguaio. Já o Vaticano e os bispos – que exercem forte influência, num país católico e conservador – foram menos sutis. Na quinta-feira, uma comitiva episcopal tentou, sem sucesso, convencer Lugo a renunciar. No domingo, o núncio apostólico Eliseo Ariotti, representante oficial do Papa no Paraguai, afirmou, a respeito da deposição do presidente: “alegra-me muito que o povo simples e todas as autoridades tenham pensado no bem do país”. Como se o grotesco da declaração fosse pouco, anunciou que celebraria uma missa na catedral “pela paz”. Na cerimônia, ofereceu pessoalmente a comunhão ao golpista (foto).
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A primeira atitude de Lugo, após a deposição, foi conformar-se. Débil no Parlamento desde o início de seu governo, o presidente também viveu, ao longo do mandato, uma série de desencontros com os movimentos sociais. Houve erros de parte a parte, consideram Emir Sader  (em Carta Maior) e Santiago O’Donnel (em Página 12): o presidente não cumpriu a maior parte de seu programa; os movimentos não compreenderam que, sem apoiá-lo, ele não teria força para executar as reformas propostas.
Por paradoxo, talvez o golpe tenha produzido uma aproximação necessária. A partir da noite de sábado, a TV Pública, criada por Lugo em 2011, converteu-se num centro da resistência popular. Centenas de manifestantes acorreram à rua Alberdi, assim que surgiram sinais de que o governo ilegítimo pretendia censurá-la. O Página 12 narra: naquela mesma noite, grupos de jovens construíram duas barricadas nas ruas de acesso. O cineasta Marcelo Martinessi, diretor nomeado pelo presidente eleito, alegrou-se: “as pessoas estão tomando este projeto como seu”. Um microfone foi estendido aos manifestantes: a resistência já tinha um canal para ir ao ar.
Na manhã de domingo, Lugo compareceria ao local, para sua fala emblemática. Horas depois, os ativistas já eram milhares. Foram eles que rapidamente restabeleceram, à tarde, o fornecimento de energia e recolocaram a emissora no ar, depois de um corte executado pela agência nacional de eletricidade.
Os fatos vêm se acelerando desde então. Formou-se  uma Frente pela Defesa da Democracia no Paraguai. Mais tarde, ainda no domingo, Lugo deu novo passo e anunciou a formação de um governo paralelo, composto por seus ministros e com primeira reunião marcada para esta manhã. A edição desta manhã de Pagina 12 estampa uma entrevista  em que confirma “já começamos a resistência pacífica. (…) Já surgem manifestações de cidadãs e cidadãos. (…) O repúdio [ao golpe] crescerá”. O jornal confirma: estão programadas para hoje manifestações diante dos edifícios públicos e interrupção do trânsito em avenidas estradas.
Ao contrário do que ocorreu em tantos precedentes históricos, os governos da América do Sul parecem dispostos a reagir ao golpe. O envio de uma delegação de chanceleres a Assunção pode ser mais que um gesto simbólico. Ainda no sábado, convocou-se uma reunião de emergência do Mercosul, em Córdoba (Argentina), a partir da próxima quinta-feira. No domingo, anunciou-se que Fernando Lugo – e não o governo instituído por golpe – será recebido como representante do Paraguai. Num primeiro sinal de vacilação, Federico Franco, o presidente instituído pelo golpe, anunciou que pediria ao homem que depôs para “atenuar as tensões desencadeadas na América Latina”. Foi, evidentemente, rechaçado por Lugo.
Desde sexta-feira, os países da América do Sul estão retirando seus embaixadores de Assunção, em protesto contra o golpe de Estado. Há dois anos, na resistência ao golpe de Estado praticado em Honduras, o Brasil jogou papel destacado. Desta vez, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, parece ter assumido este papel. Foi ela quem tomou a iniciativa, ainda na sexta-feira, de retirar seu embaixador de Assunção, “até o restabelecimento da ordem democrática”. Nos dias seguintes, o gesto seria seguido por Bolívia, Brasil, Equador, Uruguai e Venezuela. Nas últimas horas, aderiram ao movimento Colômbia e México, o que parece indicar uma tendência isolamento dos Estados Unidos. A própria Organização dos Estados Americanos, em outras épocas dominada por Washington está agora questionando a legitimidade da deposição de Lugo.

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Ninguém é capaz de dizer, a esta altura, qual será o desfecho dos acontecimentos. Mas é evidente que uma sequência tão impressionante de fatos novos, cheia de surpresas, num país vizinho ao Brasil, seria um tema jornalístico de relevância máxima. A mídia brasileira, porém, trata-o de forma modorrenta e burocrática. Na maior parte das publicações, o Paraguai esteve nas manchetes apenas quando Lugo foi afastado. Ao contrário da imprensa argentina, nenhuma publicação ousou usar a palavra golpe.
No momento em que este texto é concluído, a manchete  da Folha de S.Paulo, em sua edição online, destaca as declarações do “chanceler” (do governo golpista paraguaio, que se queixa de ter sido afastado “sem defesa” da reunião do Mercosul… Por sugestiva coincidência,O Globo e Estado de S.Paulo, embora menos discretos, ocultam a série de reviravoltas em Assunção para destacar o mesmo personagem… Já o UOL, também do grupo Folha, enviou por algum motivo o repórter Guilherme Balza à capital paraguaia – mas tem relegado a segundo plano as ótimas matérias produzidas por ele (como este vídeo)…
O rápido surgimento de um movimento de resistência no Paraguai – e em especial o fato emblemático de ele ter por centro a TV Pública – revelam: talvez, também no Paraguai, a sociedade já seja capaz de superar as velhas formas de controle da informação e seus laços com os antigos donos do poder…

Negras e pobres são mais vulneráveis ao aborto com risco

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
 
Brasília – Uma série de pesquisas realizadas no Brasil mostra que as desigualdades social e racial típicas do país desde a época colonial marcam também a prática do aborto. “As características mais comuns das mulheres que fazem o primeiro aborto é a idade até 19 anos, a cor negra e com filhos", descreve em artigo científico inédito a antropóloga Débora Diniz, da Universidade de Brasília (UnB) e do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis), e o sociólogo Marcelo Medeiros, também da UnB e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O texto, relativo a uma etapa da Pesquisa Nacional de Aborto (PNA), será publicado em julho na Revista Ciência e Saúde Coletiva, da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Pública (Abrasco). A edição traz um dossiê sobre o aborto no Brasil, produzido com pesquisas feitas para o Ministério da Saúde e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Diniz e Medeiros coordenaram, entre agosto de 2010 e fevereiro de 2011, levantamento com 122 mulheres entre 19 e 39 anos residentes em Belém, Brasília, Porto Alegre, no Rio de Janeiro e em Salvador.
Segundo os autores, a diferenciação sociorracial é percebida até no acompanhamento durante o procedimento médico. “As mulheres negras relatam menos a presença dos companheiros do que as mulheres brancas”, registram os pesquisadores. “Dez mulheres informaram ter abortado sozinhas e sem auxílio, quase todas eram negras, com baixa escolaridade [ensino fundamental] e quatro delas mais jovens que 21 anos”.
Os dados confirmam resultados encontrados pelos dois pesquisadores em 2010, quando verificaram, por meio de pesquisa de urna (método em que a entrevistada não se identifica no questionário que preenche e deposita em caixa vedada), que “o aborto é comum entre mulheres de todas as classes sociais, cuja prevalência aumenta com a idade, com o fato de ser da zona urbana, ter mais de um filho e não ser da raça branca”.
Conforme a pesquisa de 2010, 22% das mulheres brasileiras de 35 a 39 anos, residentes em áreas urbanas, já fizeram aborto. No levantamento, o aborto se mostrou mais frequente entre mulheres com menor nível de escolaridade, independentemente da filiação religiosa. “Esses dados demonstram que o aborto é prática disseminada, apesar da sua ilegalidade, constituindo-se questão para a saúde pública”, comenta Wilza Vieira Villela, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que pesquisou o aborto induzido entre as mulheres com HIV/aids.
Da mesma forma, o artigo de Rebeca de Souza e Silva, do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp, confirma a tese de que a desigualdade social afeta o acesso à prevenção da gravidez e também a qualidade do aborto. De acordo com seu estudo comparativo entre mulheres casadas e solteiras residentes na cidade de São Paulo, “as solteiras recorrem proporcionalmente mais ao aborto provocado (…). Contudo, as mais pobres, com menor escolaridade e maior dificuldade de acesso às benesses do mundo moderno, continuarão pagando alto preço – que pode ser a própria vida – pela opção de provocar um aborto”.
Souza e Silva defende a legalização do aborto, por entender que o problema “só será resolvido se o acesso aos serviços de qualidade for equitativo” e que “a ilegalidade traz consequências negativas para a saúde das mulheres, pouco coíbe essa prática e perpetua a desigualdade social, uma vez que os riscos impostos pela tal ilegalidade são vividos, sobretudo, pelas mulheres menos escolarizadas, geralmente as mais pobres, e pelas que não têm acesso aos recursos médicos para o aborto seguro”.
Para Estela Aquino, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (Ufba), “as restrições legais não coíbem a prática [do aborto] no país, mas reforçam desigualdades sociais, já que as mulheres mais pobres fazem o aborto de modo inseguro, gerando hospitalizações desnecessárias e representando riscos à saúde”.
No Brasil, o aborto voluntário é ilegal e tipificado como crime no Código Penal. O aborto é autorizado em caso de estupro e de risco de morte da mulher. Neste semestre, o Supremo Tribunal Federal confirmou  jurisprudência praticada em vários tribunais que já permitiram a interrupção da gravidez de fetos anencéfalos (malformação no tubo neural, no cérebro).
Edição: Juliana Andrade e Graça Adjuto

domingo, 24 de junho de 2012

Elis Regina & Adoniran Barbosa - "Iracema", "Um samba no Bexiga" e "Sau...

Santana e Maná · Corazon Espinado (Video Oficial)

Mercosul suspende Paraguai da próxima cúpula do bloco

BUENOS AIRES, 24 Jun (Reuters) - O bloco comercial Mercosul suspendeu neste domingo a participação do Paraguai na próxima cúpula regional que o grupo realizará na semana que vem, informou neste domingo a chancelaria argentina.
Em comunicado, a chancelaria argentina informou que os países-membros do Mercosul e os Estados associados expressaram "sua mais enérgica condenação à ruptura da ordem democrática na República do Paraguai, por não ter sido respeitado o devido processo".
Por isso, decidiram "suspender o Paraguai de forma imediata e, por este ato, do direito de participar da Reunião do Conselho do Mercado Comum e da cúpula de presidentes do Mercosul".
Os encontros serão realizados na cidade argentina de Mendoza, entre os dias 25 e 29 de junho.
Na sexta-feira o Congresso paraguaio aprovou o impeachment do então presidente do país, Fernando Lugo, e deu posse a seu vice, o liberal Federico Franco.
O processo foi aberto na quinta-feira e concluído no dia seguinte.
(Reportagem de Magdalena Morales)

Neonazis por trás do "Massacre de Munique"/1972 - Flávio Aguiar

O complicado assunto neonazi na Alemanha

De: Correio do Brasil

Enquanto os eurolíderes se debatem com a banca financeira, por ela comprimidos agora na Espanha, novo (?) elo fraco na cadeia, enquanto a Itália está na sala de espera da UTI, o complicado assunto neo nazi voltou a mostrar o nariz – e a cara inteira – na Alemanha.
Por Flávio Aguiar*

A revista Der Spiegel (versão em inglês) trouxe à luz copioso noticiário, a partir de um dossiê de duas mil páginas das duas agências do Serviço Secreto Federal Alemão (Bundesamt für Verfassungsschutz e Bundesnachrichtendienst), sobre ser inteiramente falsa a difundida e, na verdade, nunca contraditada versão de que grupos de esquerda, como a RAF (Rote Armee Fraktion, também conhecida indevidamente como “Grupo Baader-Meinhof”), teriam ajudado os membros da facção palestina Setembro Negro que assaltaram o prédio 31 da Vila Olímpica em Munique, onde se hospedava a delegação israelense, durante os Jogos Olímpicos de 1972.
No assalto, os oito assaltantes mataram dois dos israelenses (um atleta e um treinador) e sequestraram outros nove, no dia 5 de setembro. Queriam troca-los por 234 prisioneiros palestinos e também por alguns prisioneiros da RAF, fato que, entre outros, levaram à “conclusão” de que essa organização alemã os tinha ajudado.
No dia 6, ao tentarem embarcar num avião que os levaria para fora do país, num aeroporto militar, foram interceptados por uma operação anti-terrorista das Forças Armadas alemãs, o que redundou numa catástrofe. Os assaltantes mataram todos os reféns (embora haja a suspeita de que alguns deles possam ter morrido no fogo cruzado). Dos oito terroristas, cinco morreram na hora e três foram presos. Mais tarde esses três foram libertados através do sequestro de um avião da Lufthansa. Mas dois deles morreram em operações posteriores do Mossad, que eliminou quase todos os suspeitos de participação ou planejamento no ataque de Munique. O terceiro assaltante vive até hoje na clandestinidade, enquanto o idealizador do sequestro, Abu Daoud, morreu em 2010 de causas naturais.
O dossiê comprova que Abu Daoud tinha uma estreita ligação com Willi Pohl, hoje beirando os 70 anos, que conseguira-lhe pelo menos carros para a operação, além de levá-lo a viajar por toda a Alemanha. Há a possibilidade de que Pohl tenha conseguido também armas, embora ele, numa entrevista à própria Der Spiegel, o negue. Em todo caso, colocou Daoud em contato com Wolfgang Abramovski, reconhecido falsificador de documentos que, levado para as cercanias de Beirute, provavelmente forneceu passaportes para o grupo.
Ocorre que Pohl e Abramovski não eram membros de nenhum grupo terrorista ou não de esquerda, mas sim de uma célula neonazista, e foram denunciados à polícia ainda antes dos acontecimentos de Munique, inclusive sobre a ligação com Daoud, por um ex-colega de militância e pelo ex-patrão do primeiro, de quem ele tomara algum dinheiro.
Depois do conhecido “Massacre de Munique”, Abramovski e Pohl foram presos, em outubro daquele ano, de posse de considerável arsena de armamentos, panfletos e cartas ameaçadoras ao juiz que dirigia o processo contra os três sobreviventes da tragédia, parte de um primeiro plano para libertá-los, que evidentemente não foi adiante. Desde então o Serviço Secreto alemão já sabia que a conexão alemã do Setembro Negro era neonazi, e não esquerdista, como comprovam mensagens trocadas pelas agências envolvidas, que nunca vieram a público – até esta semana.
É claro que restam milhares de luzes e perguntas acesas e ainda sem respostas sobre esse caso e esse dossiê. Algumas delas:
1) Se agisse de modo mais consistente, investigando a fundo as denúncias que recebera, o Serviço Secreto alemão poderia ter evitado o sequestro?
2) Essa é mais uma operação neonazi na história alemã pós-Segunda Guerra que “passa batida”, num primeiro momento, por essas agências e que a opinião pública fica com a versão de que seriam outros os implicados. Qual o significado disso?
3) Grupos de esquerda – a RAF em particular – foram acusadas de forma disseminada de participação na tragédia. Nada se fez durante quatro décadas para desmentir essa acusação. Por quê? (É verdade que declarações bombásticas de mebros da RAF, inclusive de Ulrike Meinhof, ajudaram a forjar essa impressão, mas tudo, hoje está comprovado, era blefe, não realidade).
4) Surpreendentemente, quando julgados em 1974, Pohl e Abramovski receberam penas extremamente leves, somente por “posse ilegal de armas”. Por que? O que isso significa?
Para arrematar: segundo a revista, Pohl hoje nada tem a ver com terrorismos ou com quaisquer atividades neonazis. É autor (de sucesso) de histórias policiais, inclusive como roteiros de TV, com outro nome, é claro. De Abramovski não se tem notícia.
* Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim