sábado, 14 de junho de 2014
Jean Wyllys: vergonha alheia pelas vaias e insultos da elite paulista a Dilma
- Jean Wyllys
- Sim, eu senti vergonha por conta da vaia e do insulto à presidenta Dilma no jogo de abertura da Copa do Mundo. Sim, a vergonha foi maior porque a gente que puxou a vaia se considera "fina, culta e educada" e vive chamando de "mal-educados, grosseiros e sem-modos" aqueles que não têm a sua cor, a sua renda nem seus privilégios (inclusive o de poder adquirir o caríssimo ingresso para estar naquela arquibancada). Sim, mal-educada, grosseira e sem-modo é mesmo aquela gente, que, pouco acostumada com a civilidade, não tem senso de oportunidade nem sabe fazer oposição política sem resvalar para a baixaria. Sim, os manifestantes que questionam, com razão, os custos da Copa e que têm motivos reais para perderem a cabeça em relação às políticas da presidenta (políticas que beneficiaram justamente os que estavam na arquibancada e na área VIP da arena) não caíram na baixaria do insulto pessoal à Dilma, emboras sejam comumente chamados de "vândalos" e "baderneiros" pelos que insultaram a presidenta enquanto tomavam sua cerveja gelada. Sim, eu faço oposição (à esquerda!) à presidenta Dilma, mas fazer oposição a ela não significa insultá-la de maneira covarde. Sim, eu faço oposição (à esquerda) à presidenta, mas fazer oposição não é cair em ataques pessoais, mas, sim, fazer crítica às políticas por ela implementadas. Sim, há um tanto de misoginia e machismo odiosos no insulto proferido pela platéia branca e rica contra Dilma. Sim, eu não gostaria que Luciana Genro ou Manuela D'Ávila ou Erika Kokay ou Mara Gabrilli fossem insultadas daquela forma por uma turba de machos corajosos só quando estão em turba. Sim, sendo eu, todos os dias, vítima de insultos semelhantes motivados por homofobia, posso inferir a dor que a presidenta sentiu ao ouvir o insulto em coro. Sim, a dignidade de Dilma (e sua dignidade existe apesar de suas atitudes políticas equivocadas e erros de gestão!) é a melhor resposta à indignidade daquela gente que a insultou. Sim, presidenta Dilma, você tem a minha solidariedade. Sim, coragem grande é poder dizer "sim"!Curtir
sexta-feira, 13 de junho de 2014
Os problemas do Brasil me incomodam, mas o viralatismo me incomoda ainda mais
Gringos "provam" que problemas não são "só no Brasil" e também reclamam
Do UOL, em São Paulo
Fabiana Uchinaka
Só no Brasil... o transporte atrasa, não há táxis, a fila não anda, o aeroporto é uma bagunça, o ônibus é lotado. Só no Brasil existe burocracia, injustiça e corrupção. Só no Brasil tem protesto e confusão.
Reprodução/Facebook
Reportagem da revista The Economist fala sobre os problemas do Brasil
Só que... não.
Desde que o país do futebol virou o palco desta Copa do Mundo, a expressão virou o bordão dos brasileiros para reclamar dos problemas mais sérios --ou esdrúxulos-- que temos por aqui e para manifestar grandes doses de "vergonha" pelo mundo estar vendo nossas mazelas. Mas os comentários dos internautas de outros países nas redes sociais têm mostrado que não é bem assim.
A revista britânica The Economist publicou na terça-feira (10) o texto "Traffic and tempers" (algo como "trânsito e humores") no Facebook, que traz um relato do imbróglio que é circular por São Paulo na véspera do Mundial e diz que "no momento em que você aterrissa no Brasil você começa a perder tempo". Dezenas de gringos rebateram o artigo com frases que podem deixar alguns internautas canarinhos chocados:
"Parece quando você visita o departamento da Receita da Filadélfia [nos EUA] para pagar uma conta", diz o americano Sam Sherman.
"Há filas diárias por táxis no aeroporto Schiphol, em Amsterdã... E não é Copa do Mundo", conta Tatyana Cade.
"Cena diária do trajeto em Tóquio, exatamente como esta imagem", alerta Ryo Yagishita.
"Parece a Argentina, nada mais refrescante que viajar como gado depois de um longo dia de trabalho", descreve Pao Radeljak. "Me lembra Buenos Aires", completa Paola Scarlett.
Reprodução/Facebook
"A mesma coisa aconteceu com os brasileiros quando eles viajaram de Heathrow para Gatwick. O engarrafamento caótico de Londres [que sediou a última Olimpíada] também é mundialmente famoso. Depois, pense no eletricista inocente que foi morto por policiais justiceiros no metrô de Londres, que disseram que ele era terrorista [caso Jean Charles de Menezes]. Não é uma vergonha para um país desenvolvido reclamar do Brasil quando também tem problemas em seu país? Pense nos manifestantes em Londres, e na destruição por quatro dias alguns anos atrás. Então vira vergonha duplar", afirmou Naithirithi Chellappa.
"Para todos os brasileiros que reclamam de seu país: vocês deveriam tentar viver na Europa por um minuto. Sim, nós temos tudo regulado, mas as coisas estão cada vez mais nazistas. E falar sobre corrupção? Você acha que não acontece aqui? Aqui é tão desenvolvido que você nem vê, está muito escondido e tudo é feito por políticos e outros criminosos [daqui] fora da Europa", analisa o holandês Roas Metten. "A polícia é uma piada, eles não pegam criminosos, eles dão multas o dia todo."
Metten completa: "Os abraços e beijos que recebo em um mês no Brasil, não ganharia em dez anos na Europa. Então talvez as coisas aqui sejam melhores reguladas pelas leis e sistemas, mas é um inferno culturalmente e nas relações."
O espanhol Álvaro Munhoz tenta fazer uma análise mais ampla: "Para falar a verdade, se o número de pessoas que chega ao mesmo tempo excede a capacidade, a situação poderia acontecer em qualquer lugar do mundo."
Enquanto o internauta Leandro Cintra aproveitou para contar que recentemente levou 40 minutos para conseguir um táxi... em Nova York (EUA). E mais meia hora para entrar em um ônibus... em Fort Lauderdale (EUA). Já Wenderson Neves lembrou que a fila na imigração de Londres é de pelo menos duas horas com policiais muito pouco cordiais.
A também britânica BBC perguntou em texto publicado na terça: "What is it like to live in a Favela?" (Como é viver numa favela?). E a internauta Adreane Bertumen prontamente respondeu: "Todo país, toda cidade tem a sua 'favela'. Gueto é gueto em todos os lugares. O Brasil não é o único".
Reprodução/Facebook
"Essas favelas não são nada comparadas às que temos em Nairóbi, no Quênia", diz Eric Murimi. "Venham ver Sodoma e Gomorra em Gana", convida Leroy Amankwa.
"Nos Estados Unidos, nós precisamos acordar e olhar ao redor. É difícil achar uma cidade que não tenha acampamentos de sem-teto por todo seu perímetro. Bem escondidos, mas estão cada vez maiores a cada ano. Não estamos em posição de jogar pedra em outros governo", ressalta Marie Lawson. "Nos EUA, temos guetos e estacionamentos de trailers", concorda Eric D Molino.
Tumblr ironiza "complexo de vira-lata"
Os problemas são gerais, mas talvez "só no Brasil" as pessoas se disponham a gastar tempo e paciência para criar uma página da internet só para isso. O pessoal do Tumblr "Só no Brazil" faz isso: pescar os desabafos nas redes sociais e provar que certas coisas não são privilégio nosso.
Se você ainda não se convenceu, confira alguns exemplos abaixo.
Xingamentos da elite branca a Dilma mostra que falta investimento em educação
O problemão que Lula criou para Dilma
Ao trazer a Copa do Mundo para o Brasil em 2007, num momento em que o país bombava e tudo dava certo, o ex-presidente Lula não calculou que sete anos depois as coisas poderiam estar diferentes.
Mais: não se ligou que Copas do Mundo não são para o povão, mas apenas para quem pode pagar caro por um ingresso nos novos estádios erguidos a peso de ouro para recebê-las.
Eis que a bomba explodiu no colo de sua sucessora, pouco familiarizada com a mal vista cartolagem do futebol.
Se Dilma Rousseff soube guardar profilática distância de Ricardo Teixeira e, agora, de José Maria Marin (ninguém o viu perto dela ontem) , nem por isso ela evitou a hostilidade da torcida endinheirada que esteve na Arena Corinthians.
Se em Brasília, na abertura da Copa das Confederações, a presidenta foi vaiada, em São Paulo foi xingada mesmo, com palavrões típicos de quem tem dinheiro, mas não tem um mínimo de educação, civilidade ou espírito democrático.
Ninguém precisava aplaudi-la e até mesmo uma nova vaia seria do jogo.
Mas os xingamentos raivosos foram típicos de quem não sabe conviver com a divergência, mesmo em relação a uma governante legitimamente eleita pelo povo brasileiro.
A elite branca tão bem definida pelo insuspeito ex-governador paulista Cláudio Lembo, mostrou ao mundo que é intolerante e mal agradecida a quem lhe proporciona uma Copa do Mundo no padrão Fifa.
Que os próximos governantes aprendam a lição.
quinta-feira, 12 de junho de 2014
Roberta Sá canta com Antonio Zambujo celebrando Portugal
Em comemoração ao Dia de Portugal, Roberta Sá fará uma participação especial, ao lado de Mariana Aydar, no show do premiado cantor português Antonio Zambuj, nessa sexta feira em São Paulo. A parceria entre o intérprete português e Roberta é antiga e muito especial. Os dois já dividiram palco em 2008, cantando “Eu já não sei” na entrega de prêmios da Fundação Luso-Brasileira, e em 2010, em um dueto de “Novo Amor”, na linda Lisboa.
Mais um prova da relação de carinho da cantora Roberta Sá e Portugal! O show acontece nessa sexta-feira (13), às 21h, com entrada gratuita! Portanto, a recomendação é que o público chegue cedo e retire seu ingresso com 30min de antecedência. Saiba mais: Espetáculo em comemoração ao Dia de Portugal Única apresentação de António Zambujo, Mariana Aydar e Roberta Sá Data: 13 de junho (sexta-feira) Retirada dos ingressos: 20:30h / Início do espetáculo: 21:00h SALA SÃO PAULO Endereço: Praça Júlio Prestes, nº 16 – Luz – São Paulo/SP Telefones: (11) 3367-9500 ; (11) 3060-8397 http://www.antoniozambujo.com http://www.marianaaydar.com.br/site/http://www.osesp.art.br/
quarta-feira, 11 de junho de 2014
"Brasil: o paradoxo dos protestos" Artigo em inglês, muito interessante
Graffiti outside the Maracana stadium in Rio de Janeiro stating “Maracana is ours” (photo by Diego von Vacano). |
Brazil’s protest paradox
By Diego von Vacano and Thiago Silva
We continue our series on politics, political science and the World Cup (here are posts 1, 2, 3, 4, 5 and 6). Today Thiago Silva and Diego von Vacano (both Texas A&M) put the protests surrounding the World Cup into some context.
For over a year now, many
Brazilians have been protesting the country’s hosting of the 2014 World
Cup. This is understandable as Brazil entered a recession last year and
inequality remains widespread. However, viewed in a broader context, the
protests are paradoxical, because Brazil has enjoyed very significant
social and economic improvements since the country bid for the event in
2003. The principal reason for the protests has more to do with the fact
that this global event is a unique opportunity to air domestic policy
disagreements in a way that will receive wide media attention rather
than the expenditures on the World Cup itself.
As
one of the authors of this article arrived in Sao Paulo on June 5,
metro workers carried out a paralyzing strike. Sometimes these protests
have been violent and have often blamed the government for hosting the
2014 World Cup instead of focusing on social services. Yet, as we see in
Figure 1 below, the government has never spent as much on social
welfare as in the past decade.
One can see from Figure 1 that the two social program areas with the
highest levels of expenditure by the federal government in 2010 were
health and education ($30.3 billion and $20 billion respectively). The
total social program expenditures in 2010 in the four areas analyzed
reached $84.3 billion (the overall social program spending by the
Brazilian government in the same year was $280.9 billion).
At the same time, as we can see in Figure 2 below, the Brazilian
unemployment rate reached its lowest level last year according to the
analysis we carried out (for the period 1995-2014).
Moreover, poverty has been reduced very significantly since 2003 (the
year that Luis Inácio Lula da Silva of the Workers’ Party became
president). There is a downward trend in both general poverty and
extreme poverty rates in Brazil, with the lowest rates in the last year
considered in this study (15.96 and 5.3 percent respectively).
Much has been made in the protests about the supposedly high levels
of government spending on the World Cup at a time when there is a need
for social program expenditures. However, the actual amount spent by the
Brazilian government on the World Cup, especially on stadiums, is very
small relative to the total amount of social program costs. Figure 4
shows a breakdown of the World Cup investments by the government.
Total investments in the 2014 FIFA World Cup by the Brazilian
government amounts to $11.2 billion. According to official data, these
investments were provided by federal, state and municipal governments,
as well as private entities. Also, according to public official
information, the Brazilian federal government spent $1.76 billion
specifically on the construction of stadiums.
Now let’s look at social program expenditures in the same period.
Between 2010 (the year that the investments on the World Cup and for the
construction of stadia began) and the beginning of 2014, the Brazilian
federal government invested $363 billion in health and education (the
two social sectors that receive the greatest amount of investment by the
government).
So, comparing expenditures on the World Cup and investments by the
federal government on health and education, we can see that the former
represents only 3 percent of the total of the latter two expenditures
(the total of all forms social spending is $385.4 billion). Protestors
claim that the government is spending too much on stadiums while
neglecting health and education. Perhaps, but stadiums are only about
0.5 percent of the total amount invested in these two social sectors in
the past four years.
We must also recall that the federal investment in stadiums (as we
mentioned, $1.76 billion) was done via BNDES, the Brazilian Development
Bank and reflects only a small percentage of the total invested by the
bank in 2010, which was $260 billion. Additionally, revenue from the
2013 FIFA Confederations Cup amounted to $3.88 billion, according to a
study by the Institute of Economic Research Foundation (FIPE-USP).
Revenue expected from this World Cup are estimated at $12 billion
according to the same study.
The protestors’ ire is
understandable given inequality and poverty in Brazil. Perhaps any
spending on items such as soccer stadiums is too much in that context.
Yet, it may also be that the protests are less about these expenditures
per se than that they use the World Cup as an opportunity to draw
attention to problems that have little to do with soccer’s main
tournament.
Despite significant progress over the past decades, and according to a
United Nations report released in 2012, Brazil has one of the highest
levels of income inequality in the world. The country is considered the
fourth most unequal nation in Latin America in terms of income
distribution. This high inequality, as well as anger at corruption (both
of which predate the World Cup), ought to be the main targets of the
protests, not the global soccer event. Income disparities and graft are
probably the root reasons why protests are taking place.
The protestors are likely taking advantage of a high-visibility event
to attract media attention to Brazil’s perennial structural problems.
Another contributing factor may be Brazilians’ perception of FIFA as imposing and arrogant.
The core problems of a contracting economy and rising inflation, which
are not dependent on the World Cup, are the real source of the wrath of
those marching in the streets of cities like Rio and Sao Paulo.
Thiago Silva is a doctoral student in the political science
department at Texas A&M University and has a master’s degree in
political science from the University of Sao Paulo, Brazil. His research
interests include democratization processes, along with comparative
legislative and economic voting in developing democracies.
Diego von Vacano is associate professor of political science at
Texas A&M. He is a political theorist, also interested in Latin
American politics. He is currently doing research on the Brazil World
Cup 2014 and on immigrants in Sao Paulo. He is the author of “The Art of
Power and The Color of Citizenship.”
Note: A few minor corrections were made after publications.
“Perhaps, but stadiums are only about 0.4 percent of the total amount
invested…” was corrected to “Perhaps, but stadiums are only about 0.5
of the total amount invested…” This was also corrected in figure 5.
” with the lowest rates in the last year considered in this study
(5.96 and 5.3 percent respectively).” was corrected to “” with the
lowest rates in the last year considered in this study (15.96 and 5.3
percent respectively).”
“Between 2010 [...] the Brazilian federal government invested $374
billion in health and education (the two social sectors that receive the
greatest amount of investment by the government).”. The correct is: ”
[...] the Brazilian federal government invested $363 billion in health and education.
terça-feira, 10 de junho de 2014
João Gilberto: aniversário de um gênio
João Gilberto Prado Pereira de Oliveira, conhecido como João Gilberto, é um cantor, violonista e compositor brasileiro. Tido como o pioneiro criador da bossa nova, é considerado um gênio e uma lenda viva da música popular brasileira. Wikipédia
Após protestos, MTST e governo federal chegam a acordo
Daniel Mello - Repórter da Agência Brasil Edição: Luana Lourenço
Após várias rodadas de negociação, Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) chegou hoje (9) a um acordo com o governo federal. Em nota, o movimento disse que conseguiu que as três principais demandas que motivaram uma série de protestos nas últimas semanas fossem atendidas.
Na última quarta-feira (4), o movimento reuniu cerca de 12 mil pessoas em uma passeata que terminou em frente a Arena Corinthians, estádio que receberá a abertura da Copa do Mundo na próxima quinta-feira (12). A Secretaria-Geral da Presidência também divulgou um comunicado anunciando os termos da pacto.
O acordo prevê a construção de moradias populares no terreno onde atualmente está a ocupação Copa do Povo. Para viabilizar o empreendimento, na zona leste da capital paulista, o MTST informou que deverão ser usados recursos do Programa Minha Casa, Minha Vida, com subsídio complementar do governo estadual e da prefeitura de São Paulo.
O governo federal se comprometeu ainda a propor a ampliação do limite do Minha Casa, Minha Vida voltado para entidades. Atualmente, o limite por organização é de mil unidades habitacionais. A partir da nova etapa, “com as devidas prestações de contas e a comprovação de bom desempenho”, as entidades poderão receber até 4 mil unidades. “Além disso, a situação de coabitação e ônus excessivo do aluguel poderão ser adotados pelas prefeituras na definição das demandas do Minha Casa, Minha Vida”, destaca a nota da Secretaria-Geral.
Na avaliação do movimento, as mudanças no programa “fortalecem a gestão direta dos empreendimentos e a qualidade e melhor localização das moradias”.
Ficou acertado também que o Ministério das Cidades, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, o Ministério da Justiça e a Secretaria-Geral vão acompanhar conflitos urbanos. “Esta atuação será preventiva e nos casos em que se possa, nos termos da lei, propor alternativas que estimulem o entendimento e a resolução pacífica de conflitos”.
Para o MTST, o acordo é uma vitória conseguida a partir da mobilização nas ruas. “Entendemos que esta grande vitória foi resultado da mobilização forte e intensa do movimento nos últimos meses, de nossa aposta no poder popular. Além disso, as conquistas alcançadas não trarão benefício somente para as milhares de famílias organizadas pelo MTST, mas também para as milhões que sofrem com o problema da moradia no Brasil”, ressalta o comunicado do movimento.
Apesar do acordo, o MTST diz que continuará mobilizado para conseguir respostas as suas demandas. Um dos objetivos do movimento é conseguir a aprovação do plano diretor da cidade de São Paulo com a inclusão de novas áreas destinadas à moradia popular. A construção das unidades habitacionais prometidas para a área da Copa do Povo, inclusive, depende da mudança da destinação do terreno.
domingo, 8 de junho de 2014
As aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá
Olho para os países onde morei nos últimos 4 anos e vejo que o RS não está nem um passo atrás em termos de democracia e participação. Pelo contrário.
Bruna Santos (*)
O famigerado complexo de vira-latas brasileiro, diagnosticado por Nelson Rodrigues, tem sido recorrentemente citado ao longo das últimas semanas. Ele reflete a insegurança e descontentamento daqueles que repetem “só no Brasil mesmo” toda vez que se deparam com algum problema. A percepção do brasileiro sobre a situação atual do país piorou significativamente desde que os protestos tomaram as ruas em junho do ano passado. A mensagem era clara: o brasileiro quer eficiência, integridade política e, acima de tudo, quer ser ouvido. A iminência da Copa do Mundo nos jogou no meio de uma nuvem de insegurança coletiva em relação à percepção alheia sobre o Brasil, nesse caso, a percepção de nada menos do que o restante do mundo. A fim de dar um empurrãozinho na disposição de alguns brasileiros a ver o copo meio cheio, proponho uma reflexão breve sobre democracia e participação.
Na última quinta-feira, “só no Brasil mesmo”, foi realizada a maior consulta pública da história da internet no país. A Votação de Prioridades realizada pelo Gabinete Digital do Estado do Rio Grande do Sul encerrou as consultas com 255.751 votantes em três dias. Com este resultado, o Rio Grande do Sul realizou a maior consulta pública da história da Internet no país e o maior processo de orçamento participativo digital do mundo. Tudo isso foi monitorado de perto por pesquisadores do Banco Mundial que estavam no estado para conduzir uma série de experimentos relacionados à participação cidadã.
Comparação e competição
Como quem olha o pão com manteiga que tem na frente e compara com o carré de cordeiro na foto do Instagram do vizinho, o brasileiro complexado olha para fora e se deprime. (Não cabe a mim explicar o porquê). Ele se deprime porque pensa que em Miami a vida é mais fácil; que em Nova Iorque tem emprego pra todo lado e que em Pequim tudo funciona, pois o governo é eficiente.
Aos que pensam assim, fica o meu depoimento. Há algum tempo vivo entre Brasil, China e Estados Unidos. Ser expatriada foi uma opção de vida. Não saí do Brasil por que o país não funciona. Saí por inquietação intelectual.
Manhattan connection às avessas - com parada na Praça da Paz Celestial
Olho para os países onde morei nos últimos 4 anos e vejo que o Rio Grande do Sul não está nem um passo atrás em termos de democracia e participação. Pelo contrário.
Nos EUA, desde a década de 1990 tem-se tentado reinventar o governo. David Osborne foi o idealizador dessa reforma na administração Bill Clinton. Nos últimos 8 anos, Nova Iorque também passou por uma transformação intensa na forma de pensar a intersecção entre políticas públicas e tecnologia. Liderada pelo prefeito Bloomberg, a iniciativa de usar a tecnologia da informação a serviço dos cidadãos foi feita de maneira colaborativa. A prefeitura abriu seus dados e criou canais de participação para que a população inovasse criando soluções criativas para os problemas urbanos. Eu considero a experiência nova-iorquina admirável e replicável. No entanto, a cidade ainda carece de iniciativas de participação popular eficazes. Acredite, tendo Porto Alegre como exemplo, a esquina do mundo lançou apenas em 2012 seu modelo de orçamento participativo - 23 anos depois da implantação do OP em POA pelo então prefeito Olívio Dutra.
Depois da grande maçã, olhemos para a outra esquina do mundo: Pequim. Na China, se você não é filiado ao Partido Comunista Chinês (PCC), as suas chances de ser ouvido e de participar das decisões políticas do país são reduzidas a nada. O chinês de classe média hoje tem acesso às grandes marcas internacionais, carros de luxo e etc, mas ainda está encerrado em um modelo não participativo de governo. Lá vive-se era da informação, da velocidade, da internet e das redes sociais, mas ninguém pode usar o Google, a internet é censurada e os cidadãos leem com descredibilidade o que é dito na mídia local.
No mesmo 4 de junho que, no Rio Grande do Sul, comemorávamos o sucesso da participação popular na votação das prioridades, na China, o governo repetia, pela 25º vez, seu esforço anual para apagar da história os vestígios do massacre de estudantes que pediam democracia na praça de Tianamen.
Oportunidades
A era da informação, da internet, das redes sociais e dos dados abertos nos oferece a oportunidade única de reformular nossas instituições políticas. O Rio Grande do Sul tem sido pioneiro nisso. Uma revolução na forma de fazer política é necessária. A desigualdade entre ricos e pobres é um abismo que os líderes mundiais passaram décadas tentando fechar. Mas, na realidade, a maioria dos cidadãos permanece insatisfeito com uma desigualdade diferente: a que existe entre os poderosos e os impotentes.
Mais uma vez, o Gabinete Digital deu poder à voz dos gaúchos. Elevou o volume dos que ainda falam baixo ou não são ouvidos. Eu tenho orgulho disso e não vejo espaço para inseguranças e complexos, mas sim para avaliação crítica e construtiva. Melhoria, sugestões, participação e inovação. Que assim seja e que nossa voz nunca se cale. Os ouvidos dos poderosos estão abertos. Aproveitem!
(*) Bruna Santos é mestranda em Administracao Pública na Universidade de Columbia, pesquisadora no projeto Public Management Innovation entre os Columbia Global Centers do Rio de Janeiro, Pequim e Mumbai e sócia-fundadora da empresa Ethos Intelligence, dedicada ao monitoramento e avaliação de projetos de impacto social. Contato: bsd2118@columbia.edu ::: b.santos.ri@gmail.com ::: LinkedIn.
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