Vinícius
Lisboa
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A melhoria do sistema de transportes no Rio e no Brasil
requer investimentos, mas, além deles, pede também uma intervenção em outros
fatores que influenciam a circulação nas grandes cidades, avaliou Raul de Bonis,
professor de Engenharia de Transporte do Instituto Alberto Luiz Coimbra de
Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ).
"O setor de transportes influencia e é influenciado pelo meio. Se realizar
investimento sem controlar o que existe além do transporte, o uso do solo, as
condições para que as pessoas dependam menos do automóvel, a especulação
imobiliária, a gente pode fazer investimentos que produzam efeitos contrários ao
que se pretende", adverte Bonis sobre a iniciativa da presidenta Dilma Rousseff
de criar um pacto nacional com governadores e prefeitos para aumentar os
investimentos na mobilidade urbana.
Esse melhor aproveitamento do solo a que o especialista se refere poderia
vir, por exemplo, de uma política de habitação que recupere bairros degradados,
reduzindo a necessidade de se deslocar para as áreas centrais. "O que existe
hoje é uma cidade que explodiu, uma região metropolitana que se espalhou, mas
que tem quase 20 municípios se deslocando para o centro e não dá para imaginar
que meia dúzia de corredores de ônibus vão resolver isso. Se mexer nos
transportes sem mexer no resto, tende a se agravar [a situação]."
Os corredores expressos mencionados por Bonis são os BRTs, faixas exclusivas
de ônibus articulados que já começaram a funcionar na capital e serão ampliadas
até os Jogos Olímpicos de 2016. Ao abordar a especulação imobiliária, o
professor questiona o adensamento de bairros que têm passado por um processo de
verticalização, que leva mais pessoas a locais que não aumentam sua oferta de
serviços como o transporte.
Também
professor de engenharia de tráfego da Coppe, Paulo Cezar Ribeiro defende que a
prioridade é a integração e o planejamento do transporte público. "É preciso
reduzir a superposição de linhas de ônibus, colocando mais veículos para fazer
as linhas novas. Na zona sul, no centro e na Avenida Brasil, por exemplo, há
muitas linhas superpostas. Temos que racionalizar essas linhas".
Para nivelar a qualidade do serviço em toda a cidade, o pesquisador sugere um
sistema de compensação em que as linhas mais lucrativas financiem as menos
rentáveis, permitindo uma qualidade igual em toda a região metropolitana. "Com o
sistema eletrônico de cobrança isso é muito mais fácil agora. Esse investimento
interfere na articulação diária. A gestão é fundamental."
Ribeiro defende também a ampliação das barcas, com uma estação em São Gonçalo
e maior qualidade na ligação entre o centro e a Ilha do Governador, na zona
norte. Sobre os BRTs, o pesquisador pondera: "É uma solução boa para os níveis
de demanda a que ele pode atender, mas será que a demanda a que ele está
atendendo não seria melhor para um veículo leve sobre trilhos [VLT]? O metrô e o
VLT atendem a demandas maiores que o BRT. É preciso considerar tudo isso e
investir com planejamento, monitorando as concessionárias depois da obra."
Edição: Talita Cavalcante
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