sábado, 8 de setembro de 2012

Vejam só que fascinante!

Vida longa e próspera. Star Trek faz 46 anos

Jornada nas Estrelas "Star Trek", é uma das séries mais emblemáticas da TV. Olhando hoje, seus seus efeitos especiais e visuais são risíveis, mas o universo que eles abriram ainda é atual. O teletransporte é uma fantasia sedutora, mas provavelmente inatingível, já os telecomunicadores são uma realidade e nossos computadores têm muito mais recursos que os deles.

Porém,  o principal legado de Star Trek é sua visão positiva da ciência, seu humanismo (válido até para outras espécies), seu universalismo, além das questões éticas que eram colocadas em diversos episódios e nos filmes da década de 80.

A liderança do capitão Kirk, sua dedicação e seu despreendimento, combinados com seus dilemas pessoais e certa impulsividade são uma síntese do tipo heróico da modernidade.

Porém, como meus fiéis leitor@s já devem ter percebido, o meu preferido sempre foi o Sr. Spock e sua lógica implacável  diante dos mais profundos dilemas, medos e perigos.

Aos 46 anos, Star Trek continua sendo cultuada por milhões de pessoas em todo o mundo "Fascinante", como diria o Sr. Spock.





    



































 
 Com material retirado de Tele Cine Brasil

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Prefeito de Porto Alegre registra BO contra blogueiro após questionamentos sobre primeira-dama

Na mesma medida em que cresce a influência e a força da nova mídia alternativa, especialmente dos espaços de comunicação que têm surgido na internet, crescem também e se espalham pelo Brasil as tentativas de cercear a liberdade dos ativistas que usam a web para fazer jornalismo e política. Repetem-se processos judiciais movidos por empresas, políticos e até mesmo por jornalistas contra outros jornalistas e blogueiros. E, na maioria das vezes, não são processos movidos efetivamente em defesa da imagem do processante, mas sim utilizados como instrumento de pressão contra a liberdade de imprensa e de expressão, como forma de estrangulamento dos pequenos veículos e como tentativa de calar quem pensa e age de forma independente.
Nesta quinta-feira o prefeito de Porto Alegre e candidato à reeleição, José Fortunati (PDT), registrou um boletim de ocorrência contra o jornalista Marco Aurélio Weissheimer, do blog RS Urgente, talvez o mais importante blog político do Rio Grande do Sul. Postagem do blogueiro explica que a acusação é de “‘espalhar denúncias na rede social contra a primeira-dama Regina Becker’, segundo nota divulgada nesta quinta-feira pela coligação ‘Por Amor a Porto Alegre’. Conforme a mesma nota, Fortunati me acusa de ‘atacar sua esposa’, acusando-a de ser um ‘cargo de confiança fantasma na Assembleia Legislativa’.
Weissheimer esclareceu na mesma postagem: “A acusação é falsa e caluniosa, representando, além disso, uma tentativa de intimidação e de ameaça à liberdade de expressão. O texto em questão é um artigo de opinião de Paulo Muzell (‘Caça aos fantasmas’ de ZH: O que o jornal não disse), publicado no dia 17 de agosto de 2012, que não acusa a primeira dama Regina Becker de ser ‘cargo de confiança fantasma’, mas simplesmente questiona o suposto acúmulo de trabalhos desempenhadas pela primeira dama na Prefeitura”.
A leitura do artigo questionado por Fortunati deixa claro que a acusação realmente não procede. Se a totalidade do texto de Muzell dá a entender, sim, que a situação empregatícia da primeira-dama poderia ser ilegal – ou ao menos imoral –, não há ali “acusação de ser um cargo de confiança fantasma”. O que há, sim, é o relato factual das funções acumuladas por Regina, a dúvida sobre a possibilidade de acumular-se aquelas funções, e a crítica ao jornal Zero Hora, que fez extensas reportagens sobre irregularidades na contratação de Cargos de Confiança e não chegou a investigar a situação da primeira-dama, uma situação pelo menos questionável jornalisticamente.
Além disso, o RS Urgente buscou a versão dos envolvidos, como é relatado ao final do artigo de Muzell, possibilitando que explicações razoáveis sobre o caso fossem dadas e, quem sabe, derrubassem as dúvidas do articulista sobre a regularidade da contratação da primeira-dama no gabinete de um deputado do mesmo partido do prefeito.
A intenção de Fortunati é clara, um Boletim de Ocorrência registrado nesse contexto age unicamente para desencorajar novas denúncias e críticas a aspectos direta ou indiretamente relacionados à sua gestão. O ataque à liberdade de expressão e o desrespeito à liberdade de opinião precisam ser, pelo contrário, alvos de novas denúncias e de novas críticas. Denúncias e críticas que certamente não serão publicadas na velha mídia, no jornal Zero Hora, por exemplo. É um tipo de liberdade não interessa a esse setor da mídia. É a mídia realmente independente que deve fazer esse debate. É ela, em seu conjunto, quem está sendo atacada. A ação acerta no RS Urgente, mas mira em todos nós.

Gasto social do Governo Federal pulou de 4,3% para 11,24% em 15 anos

O Ipea divulgou nesta terça-feira, 04, a Nota Técnica Gasto Social Federal: uma análise da prioridade macroeconômica no período 1995-2010. O estudo mensura o volume de recursos aplicado pelo governo federal nas políticas sociais e compara o montante efetivamente gasto nessa área diante do total de recursos mobilizado pelo governo. O diretor de Estudos e Políticas Sociais (Disoc) do Ipea, Jorge Abrahão, apresentou os dados.
Segundo Abrahão, o indicador do Gasto Social Federal (GSF) mede o “esforço orçamentário do governo federal destinado à política social brasileira”. A pesquisa aborda o período que vai de 1995 até 2010.
Considerando as onze áreas do GSF — previdência social geral, benefícios a servidores públicos, saúde, assistência social, alimentação e nutrição, habitação e urbanismo, saneamento básico, trabalho e renda, educação desenvolvimento agrário e cultura —, nota-se que no período estudado, o gasto cresceu 4,3%, passando de 11,24% do PIB em 1995 para 15,54% em 2010.
“O que eleva o gasto social per capita não é somente a valorização do salário mínimo, mas o investimento do governo federal em educação, infraestrutura de habitação e saneamento, e em saúde pública”, afirmou Abrahão.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Manuela, a candidata que mais cai na pesquisa Methodus

Há modos e modos de se ler pesquisas eleitorais, o comum é que as candidaturas leiam do modo que mais lhes convém.
 O Instituto Methodus publicou mais uma pesquisa. Na primeira pesquisa do Instituto, realizada em maio, Manuela despontava com 41%. Chegou-se a atribuir o resultado a uma ligação entre proprietários do Instituto e a candidata pecedobista. A lógica é sempre a mesma: vincular a pesquisa a algum interesse oculto; considerar a pesquisa que favorece e desfazer da que prejudica; extrair do que a pesquisa não mostra, resultados que o que ela mostra não apresentam e assim por diante. Por isso não gosto de comentar pesquisa. 
Não discuto pesquisa por um motivo simples: parto do princípio de que as pesquisas dos institutos estabelecidos e com espaço no mercado são verdadeiras. Podem ser bem feitas ou mal feitas, mas são verdadeiras. Isso me rende muita contrariedade com meus amigos que consideram todas as pesquisas falsas, em princípio. Não tô aí pra discutir com meus poucos amigos por causa de pesqusia eleitoral. Aí, meus leitores e leitoras poderão perguntar: Por que estou publicando esta pesquisa e pus um título tão provocativo? Respondo: só pra sacanear.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

A cultura pop nas ilustrações de Vlad Rodriguez

 
O jovem artista Vlad Rodriguez surpreende pela qualidade de suas pinturas digitais.
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A ideia para este post surgiu assim que a Obvious postou no Facebook uma ilustração sobre o filme "Clube da Luta" e muitos internautas comentaram sobre a qualidade dos traços. Eu tinha me deparado há poucos dias com o trabalho do artista, e logo percebi que seria interessante apresentar mais criações do mesmo, tão boas quanto o elogiado desenho do personagem de Edward Norton.
Pois bem, vamos ao que interessa. O dono dessas ilustrações fantásticas é Vlad Rodriguez ou como é conhecido na web, Pixeldomestiko, um jovem artista formado pela National School of Fine Arts do Peru e que atualmente reside em Miami.
Seus trabalhos se concentram em temas da cultura pop e filmes contemporâneos e, como o próprio afirma, misturando modernas ilustrações com técnicas de belas artes. Sim, também concordo que ultimamente há um exagero de criações com a mesma temática em retratar figuras icônicas culturais. Mas confesso que o trabalho de Vlad é um destaque neste contexto.
Vlad é um verdadeiro mestre da pintura digital e através do software Photoshop, consegue criar composições vivas, expressivas e completamente autorais. Boa parte dos trabalhos, aliás, está à venda em seu site oficial. Vale a visita no Tumblr, Behance e site do artista.
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Leia mais em obvious

Os colegas de curso de Manuela


A campanha da candidata pcdobista esclareceu em NOTA aspectos importantes de seu currículo. Manuélia participou de um simpósio em Harvard, "que deu origem a um grupo de estudos que se reúne, semestralmente", formado por "Ana Amélia Lemos, Claudia Costin e Vicente Falcone". Falcone é citado, aliás como "mestre da gestão pública." Na verdade, Falcone é um mestre em Estado Mínimo, contratado por Aécio e Yeda; Cláudia Costin é uma gerencialista dos quatro costados, foi ministra de FHC, secretária de Cultura de Alckimin e, agora, secretária de Educação de Eduardo Paes; Ana Amélia, bem, essa a gente já sabe quem é.
Ainda bem que me disseram quem são os colegas de curso da Manuélia. Já posso decidir com mais conhecimento de causa.
O Olívio está com o Villa, não é?

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A Prisão de Lupicínio - José Ribamar Bessa Freire

 

A Comissão da Verdade não sabe, mas depois do golpe militar de 1964, o compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914-1974) foi preso e permaneceu vários meses trancafiado, primeiro no Quartel da PE, no centro de Porto Alegre e, depois, no presídio da Ilha da Pintada, apesar de nunca ter tido qualquer atividade política. Lá, foi humilhado, espancado e torturado, teve a unha arrancada para não tocar mais violão e contraiu uma tuberculose agravada pelo vento frio do rio Jacuí.
Quem me confidenciou isso foi um dos filhos de Lupicínio, Lôndero Gustavo Dávila Rodrigues, também músico, 67 anos, que hoje trabalha como motorista na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). O fato é pouco conhecido, pois Lupicínio não gostava de tocar no assunto. Preferiu silenciá-lo. Morria de vergonha. "E a vergonha é a herança maior que meu pai me deixou", cantava ele em "Vingança", um grande sucesso dois anos antes de sua morte.
- Pra quem tem dinheiro ou diploma, a prisão política pode até ser uma medalha, tem algo de heroico. Mas para as pessoas humildes, como ele, que não se metia em política, a prisão é sempre uma humilhação, algo que deve ser escondido, esquecido - conta o filho de Lupicínio, a quem conheci recentemente, quando ele, dirigindo o carro da Universidade, veio me buscar para participar de uma banca de mestrado lá em Seropédica.
A viagem de ida-e-volta durou mais de cinco horas. Nos primeiros cinco minutos, eu já havia lhe contado que era amazonense, do bairro de Aparecida e, quando deu brecha, mostrei-lhe fotos da minha neta. Nos cinco minutos seguintes, ele já tinha me falado de Lupicínio, seu pai, de dona Emilia, sua mãe, de sua infância em Rio Pardo (RS) e de suas andanças como músico por 29 países. Quando nos despedimos, já éramos amigos de infância.
Nervos de aço
Lôndero tem memória extraordinária e admirável dom de narrar. Suas histórias, que jorraram aos borbotões, podem ocupar várias crônicas dominicais. Ele próprio é um personagem, suas andanças dariam um livro. Mas o que ele viveu com seu pai, boêmio e mulherengo, dá outro livro. Não sei nem por onde começar. Talvez por onde já comecei: a prisão do pai, que teria provocado uma reação até mesmo em "pessoas de nervos de aço, sem sangue nas veias e sem coração".
- Nós, da família, sofremos muito com a injustiça da prisão. Sabíamos que Lupicínio não se metia em política - contou seu filho, informando ainda que antes da prisão, o pai havia feito uma versão musical - quanta ironia! - para aquela letra da "oração do paraquedista" encontrada com um militar francês morto em 1943 no norte da África. Lôndero recita:
- Dai-me Senhor meu Deus o que vos resta /Aquilo que ninguém vos pede / Dai-me tudo o que os outros não querem / a luta e a tormenta / Dai-me, porém, a força, a coragem e a fé.
Lupicínio precisou mesmo de muita coragem e fé para amargar a prisão, onde em vez de tainha na taquara ou peixe assado no espeto de bambu, comeu foi o pão que o diabo amassou. Tudo isso por causa de uma ligação pessoal dele com Getúlio Vargas, relação que acabou sendo herdada, posteriormente, por Jango e Brizola.
Segundo Lôndero, Lupicínio, que já era um compositor consagrado em 1950, fez um jingle para a volta de Getúlio Vargas, com aquela marchinha de carnaval de Haroldo Lobo, que foi também gravada por Francisco Alves: "Bota o retrato do velho outra vez / Bota no mesmo lugar / o sorriso do velhinho / faz a gente trabalhar". 
Pede deferimento
Vargas já gostava das músicas de Lupicínio antes de ele ser sucesso nacional. Por isso, decidiu bancar a entrada do compositor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Lupicínio, que havia cursado só até o 3º primário, foi nomeado bedel da Faculdade de Direito, onde trabalhou também como porteiro. 
Um belo dia - conta Lôndero - Lupicínio caiu na farra, virou a noite e saiu direto dos bares para a Universidade. O reitor deu um flagrante nele, quando o encontrou bêbado na portaria. Deu-lhe um esporro, publicamente, humilhando-o na frente de alunos, professores e colegas. No dia seguinte, Lupicínio entrou com um requerimento com letra de samba, que seu filho sabe de cor:
- Magnífico Reitor, que a tua sabedoria e soberba não venha a ser um motivo de humilhação para o teu próximo. Guarda domínio sobre ti e nunca te deixes cair em arrogância. Se preferires a paz definitivamente, sorri ao destino que te fere. Mas nunca firas ninguém. Nestes termos, pede deferimento. Assinado: Lupicínio Rodrigues, porteiro.
Não sabemos se o reitor deferiu o requerimento e a partir de então passou a sorrir ao destino sem ferir ninguém. O certo é que Lupicínio deixou o emprego na Universidade e foi cantar em outra freguesia, em bares, restaurantes e churrascarias, onde aliava trabalho com boemia.
Foi ele, Lupicínio, quem compôs o hino tricolor do Grêmio, do qual era um fanático torcedor, ganhando com isso um retrato no salão nobre do clube. Depois do suicídio de Vargas, em 1954, Lupicínio, já consagrado nacionalmente, continuou mantendo relações amistosas com Jango e Brizola, que também admiravam sua música. Por conta disso, foi preso e torturado, segundo seu filho.
Autor de grandes sucessos como "Felicidade foi se embora", "Vingança", "Esses moços", "Nervos de aço", "Caixa de Ódio", "Se acaso você chegasse", "Remorso" e dezenas de outros, Lupicínio compôs "Calúnia", cuja letra pode muito bem ter outra leitura, quando sabemos de sua prisão e a forma como foi feita:
- Você me acusa / Mas não prova o que diz / Você me acusa / De um mal que eu não fiz/ A calúnia é um crime / que Deus não perdoa / Você vai sofrer / aqui neste mundo.
A letra de "Calúnia", gravada por Linda Batista em 1958, termina com Lupicínio rogando: "Eu não quero vingança / A vingança é pecado / Só a Justiça Divina / Pode seu crime julgar". Mas se prevalecer a letra de "Vingança", cantada também por Linda Batista e depois por Jamelão, os torturadores da ditadura não terão paz e serão punidos pela Justiça: "Você há de rolar como as pedras que rolam na estrada, sem ter nunca um cantinho de seu pra poder descansar".

domingo, 2 de setembro de 2012

Manuélia, a pós-moderna

Quis o destino que a maior expressão da pós-modernidade na política do Rio Grande do Sul (quiçá do Brasil) seja oriunda do PC do B.  O maior problema é que a pós-mdernidade restrita ao cinema, por exemplo, pode ser brilhante (como Tarantino), porém, aplicada à política, a pós-modernidade é o desastre da razão, sucumbindo à irracionalidade.
Manuélia tem praticamente todos os ingredientes da pós-modernidade: dispersão, retórica, imanência, combinação de significantes... enfim. Quem quiser entender a pós-modernidade observe a deputada e terá um exemplo. Talvez venha daí a sua força. Ela está em sintonia com tempos de dispersão, desconstruções, individualismos e outros quetais, que alimentam  a desrazão do mundo de hoje. Manuélia representa o oposto do que significa o PC do B. É admirável que seu meio milhão de votos e a perspectiva de eleição à Prefeitura de Porto Alegre tenham seduzido seus dirigentes e entregue a direção partidária ao domínio de sua personalidade. Ninguém duvida: Manuélia manda no partido. Isso a dispensa de aceitar a diretriz partidária de solidariedade à Coréia do Norte; de referir-se à política como um ato coletivo, para centrar-se na capacidade diferenciada de um "eu" poderoso e capaz de tudo (o super-homem de Nietsche na versão feminina); de suas promessas eleitorais serem justificadas pela realidade.
A gestão Fortunati é ruim, a isso, Manuélia contrapõe uma nova titude e a tecnologia como formas de superar os problemas. O culto ao personalismo e à técnica dispensam a política, pois a solução está nas mãos de alguém capaz de resolver os problemas da população.
A sedução dessa fórmula sobre a população de Porto Alegre é preocupante. Ao contrário do que muitos pensam, é nas classes populares que Manuélia tem mais incidência. Mais ou menos como as seitas pentecostais que seduzem milhares de pessoas com suas promessas e seus rituais elaborados,  hostis ao bom senso, mas cativantes para multidões.
A minha amiga Margarete Moraes chamou a atenção para algo sgnificativo do modo de ver as coisas representado pela candidatura pcdobista: as flores da Manuélia. Espalhar flores pela cidade, constituiu-se numa jogada de marketing intleigente, expondo um símbolo que já pensávamos superado pela trajetória feminista. A delicadeza e a beleza da flor como símbolos do feminino na política. E o pior é que isso parece estar pegando. Manuélia se comunica com a sociedade através de símbolos tão complexos que me escapam, mas que escondem a natureza racional e cruel da política para pintar um quadro irreal onde a vontade pode tudo e a realidade será do modo como nós a desejarmos.
Se alguém perguntar porque eu comento sobre a Manuélia e não sobre o Fortunati respondo: eleitoralmente Fortunati é o adversário comum, mas os exageros de Fortunati já tem um nome - demagogia, os exageros de Manuélia ainda não sei como chamar.
O destino caprichoso pode fazer com que, no futuro, eu vote na pcdobista; que não seja agora.
O que me preocupa não é a vitória de Manuélia, mas a vitória da desrazão que ela representa.

"Nossos sonhos não cabem no capitalismo”, Fernando Meirelles

Para Fernando Meirelles, reconstrução da política exige superar lógicas que associam felicidade e sucesso a consumo e acumulação sem fim
Entrevista a Inês Castilho

 
Avançou de modo notável, nos últimos anos, a sensação de que o peso do poder econômico está desfigurando a democracia, a ponto de levá-la ao colapso. Um número crescente de pensadores, ativistas, cidadãos comuns dá-se conta de fenômenos como a mercantilização das eleições e a institucionalização do tráfico de influência. Envolvidos em disputas eleitorais cada vez mais caras, partidos e governantes comprometem-se profundamente com os interesses de grupos empresariais que nutrem suas campanhas políticas.
O dinheiro oferecido pelos financiadores é visto como um investimento e cobrado ao longo de cada dia de mandato. Com tal intensidade que muitos já não creem que seja possível adotar políticas contrárias aos interesses do poder econômico associado à política; e que mesmo decisões simples e de bom senso elementar – como a reconstrução de uma malha ferroviária no Brasil, ou a instalação de redes de ciclovias eficazes nas cidades – não saem do papel. Mas, se o diagnóstico é conhecido, as alternativas rareiam. Como excluir da política o Poder Corruptor?
O cineasta Fernando Meirelles formulou uma hipótese provocadora, em entrevista que concedeu à jornalista Inês Castilho, condutora da série de diálogos sobre Política Cidadã, produzida pelo Instituto de Pesquisas Ideafix, por solicitação do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS). Suas respostas sugerem que uma nova política e um novo sistema econômico virão juntos. Ou seja, o que vivemos é o desgaste geral de nossas formas de socialização – um conjunto de relações que envolve produção de bens e serviços, formas de decisão coletiva, hierarquias concretas e simbólicas. Para superá-las será necessário levar muito adiante certas transformações culturais que já estão se dando.
Meirelles destaca a tensão entre política institucional (restrita aos “gabinetes e restaurantes”) e o intenso desejo de participação da sociedade (“sou muito mais convocado, como cidadão, que cinco anos atrás”). Ele lembra que não se trata apenas de discurso: atitudes transformadoras estão se multiplicando em todo o mundo. No entanto, esbarram em obstáculos estruturais: “a lógica do dinheiro é produzir sempre mais” e a dos políticos “esgota-se em mandatos de quatro anos”. Nenhum poder importa-se com as “perspectivas de longo prazo”, necessárias para preservar a vida.
Caberá à própria sociedade, conclui Meirelles, estabelecer uma ruptura. Não se trata da velha fórmula de tomada do poder de Estado – mas da “dificílima e demorada transformação das nossas vidas”. Só a empreenderemos, no entanto, se soubermos que se trata de construir um novo sistema: “a lógica do capitalismo (…) poderia fazer algum sentido (…) num mundo que não é mais o nosso”. A superação desta lógica implicará, entre outros passos, “valorizar bens não-materiais: educação, esporte, cultura, ciência – atividades humanas que não consomem o planeta e preenchem mais a alma que a busca desesperada pela reposição de bens”.
A entrevista completa de Fernando Meirelles, que abre nossa série, vem a seguir. Na próxima semana, a seção recebe o economista Ricardo Abramovay. (A.M.)
 
Qual sua percepção sobre a participação política do brasileiro?
A política no Brasil ainda é feita muito nos gabinetes e restaurantes, tem um quê de futebol, o interesse pelo jogo de poder entre os partidos vem antes do debate das ideias. Isso é muito frustrante para quem tenta acompanhar nossos homens públicos. A boa notícia é que, com o crescimento das redes sociais, a participação popular também tende a crescer e o processo político, a ficar mais transparente. A mobilização popular pela Ficha Limpa e contra o Código Florestal demonstraram que a população começa a ter mais peso nas decisões do país.
Que temas você acha que mobilizam a sociedade brasileira, hoje?
A falta de transparência dos partidos e do governo vem mobilizando a sociedade, já não é tão fácil ser corrupto, hoje. A preocupação com questões ambientais também mostra ser um forte tema para a moblização social. Isso já havia sido sentido com a expressiva votação que teve a Marina Silva na última eleição à presidência e foi reforçado agora, no processo de votação e veto parcial do Código Florestal, que contou com abaixo-assinado de 2 milhões de pessoas. Isso entre outras manifestações, incluindo a criação de sites especializados, transmissão ao vivo do congresso etc.
Que formas o cidadão comum tem de atuar politicamente?
Passei anos sem receber nenhum abaixo-assinado, agora semanalmente sou chamado a me posicionar sobre os mais diferentes temas, internos e externos. Sinto-me hoje muito mais convocado, como cidadão, do que cinco anos atrás, e estimula saber que muitos desses movimentos populares estão dando resultado. Está aí a primevera no norte da África que não nos deixa mentir.
Você vê alguma particularidade quanto ao jovem?
Os jovens talvez tenham menos interesse em política do que quem lê jornal e tem o hábito de se manter informado, mas estão cada vez mais plugados, graças às redes sociais. A era dos Sarneys, dos coronéis que trabalham em segredo, está acabando.
Você acha que a política institucional dá conta da democracia?
Sinto que os partidos não representam a vontade da população, não trabalham para o Estado nem para o bem do país – trabalham prioritariamente para se manter no poder. Não saberia inventar outro sistema, mas percebo que este não dá conta da complexidade do mundo de hoje. O ex-presidente Lula declarou recentemente em um programa de TV que aceitaria se candidatar novamente à presidência, para que o PSDB não ocupasse o lugar. Essa declaração infeliz resume a questão: o poder político é um jogo que se vence ou se perde, e é isso que mobiliza seus participantes – o país vem depois, quando vem. Outro aspecto que tem me chamado a atenção é que, por estarmos todos muito mais ligados, praticamente não há mais poder local. Um prefeito que não trabalhe com os outros prefeitos da região não consegue fazer seu trabalho direito. Países que não integrem órgãos internacionais nos quais se debatam os interesses comuns ficam de mãos atadas.
Os anos 60 marcaram época, politicamente. O que mudou de lá pra cá?
Nos anos 60 o mundo estava dividido entre esquerda e direita, estava-se do lado de cá ou do lado de lá. Quando você polariza, o jogo fica mais acessível e mais apaixonante, vira um Fla-Flu. Depois tivemos o período em que a nossa sociedade foi convidada a se calar, e então o mundo ficou muito mais complexo. Hoje a esquerda é apoiada, por exemplo, pelo José Sarney e pelo Aldo Rebelo – este, um comunista que vota com os ruralistas. Tudo é mais confuso, mais impenetrável. O pensamento e as fórmulas de governança dos anos 60 não cabem mais no mundo de hoje.
Você percebe uma mudança de valores, dos anos 60 pra cá?
Um grande valor hoje, praticamente inexistente 40 anos atrás, é em relação às questões ambientais. Há 40 anos o planeta era inesgotável, ainda estava sendo conquistado. Hoje temos a percepção de que vivemos num planeta onde os recursos são finitos e, pior, estão se esgotando rapidamente. A grande descoberta em termos de valor é entendermos a necessidade de pararmos de pensar como nações e passarmos a pensar como planeta. A ideia de soberania nacional vai aos poucos sendo revista, ou relativizada. A interdependência global é um dado inquestionável. Se queimarmos a Amazônia, não choverá no Sul e vai haver seca no centro do Brasil, o carbono liberado vai acelerar o aquecimento do planeta, geleiras irão derreter, rios que dependem delas deixarão de ser formados, populações ficarão sem suas fontes de alimentos. Tudo está ligado. Não tínhamos essa noção 40 anos atrás. Hoje sabemos que o degelo da Groenlândia vai afetar imensamente a vida de enorme população na Ásia que vive à beira-mar. Essas questões bateram à nossa porta e já estão nos atropelando. Apenas cegos, cínicos ou oportunistas se recusam a enxergar.
Um parêntese: a despeito disso tudo, existem 69 povos isolados indígenas no Brasil.
Sim, pequenas aldeias devidamente localizadas e demarcadas com GPS. Esses índios podem não estar nos vendo, mas sabemos exatamente onde eles estão, quantos são, e fotos deles estão disponíveis para qualquer um no Google Earth. Não tenho dúvidas de que, se um dia suas terras nos interessarem para a construção de barragens hidrelétricas, por exemplo, em pouco tempo estará justificada a invasão. Este roteiro não é novo, ainda se repete depois de 500 anos de história.
Quanto ao exercício da cidadania, você percebe mudanças?
Está na moda falar em cidadania, ser responsável pelo coletivo, mas estamos longe de uma noção verdadeira de que nossos atos afetam a vida do próximo e precisam ser repensados. Em alguns lugares onde tenho trabalhado sinto que a noção de se viver numa comunidade está bem mais incorporada do que aqui. Tenho um caso recente. Estava em Toronto e fui almoçar na casa de um produtor amigo. Ele serviu salada e depois tinha uma lentilha, pois sabe que sou vegetariano. Quando foi trocar meu prato, falei: “Não precisa, pode deixar”. Ele respondeu de bate-pronto: “Não tem problema porque eu espero a máquina encher, não vou gastar mais água lavando mais este prato”. Eu havia pensado em ficar com o prato para aproveitar o molhinho de azeite, mas a noção de que seus atos podem repercutir na vida dos outros, de que a água é um bem coletivo, está tão impregnada que ele nem entendeu minha intenção. No Brasil ainda estamos longe desta noção de cidadania. Mas está melhorando.
Alguma articulação ou movimento social, no Brasil e fora dele, chamou sua atenção nos últimos tempos?
Sim, os movimentos ambientalistas que questionam o nosso modelo de desenvolvimento, o business as usual. O impressionante é que os jornais comemoram o crescimento do consumo ou da economia como se isso ainda fosse saudável. Há movimentos mostrando que precisamos urgentemente fazer uma curva na história e buscar outros modelos de desenvolvimento. Os movimentos que lidam com estas questões são os mais importantes, hoje. Infelizmente nossos homens públicos trabalham com a perspectiva de futuro de três ou quatro anos, que é o quanto duram seus mandatos. Difícil construir um mundo sem perspectiva de longo ou longuíssimo prazo. Estamos ameaçados justamente por essa lógica.
E como fica a questão do consumo diante disso? O seu, o meu, o nosso?
Temos que mudar nosso padrão de consumo, rapidamente. Esta mudança precisaria ser como uma mobilização de guerra, na qual todos entendessem que precisam abrir mão de alguma coisa para poder prosseguir. Tenho feito mudanças nesse sentido na minha vida, mas talvez só quando os efeitos da carência de recursos baterem à nossa porta é que mudaremos de fato nossas vidas. A lógica do dinheiro como motor da sociedade é tão perversa quanto difícil de ser alterada. Sabemos, por exemplo, que há falta de alimento no mundo, e sabemos também que 40% do alimento produzido é desperdiçado no processo de produção, transporte, comercialização e preparação para o consumo. Contudo, quando olhamos para esta questão, a maneira de atacá-la é sempre o aumento da produção, e não o uso racional do que já existe. Para quem produz, transporta ou comercializa alimentos, o desperdício é boa notícia, pois significa maior demanda, mais renda. A racionalização do uso dos recursos é a nova economia de que o mundo precisa.
Li recentemente um editorial do Estadão [jornal O Estado de S.Paulo] no qual o Washington Novaes [jornalista e ambientalista] comentava o gosto dos governos pelas grandes obras. Dava exemplos de como pequenas medidas poderiam ser mais eficazes, mais racionais, falava de outra maneira de pensar a administração pública e a organização da sociedade. Um dos exemplos era a notícia de que a Caixa Econômica Federal, a partir de agora, não vai mais financiar moradias em lugares onde não houver água e esgoto disponíveis. É uma loucura pensar que até ontem o Estado financiava moradias que usavam os rios como esgoto. O texto falava sobre desperdício e trazia dados interessantes: no Brasil desperdiçamos 40% da água usada, e o estado de São Paulo vai fazer uma reformulação para desperdiçarmos 24%. No Japão desperdiçam-se 3%. Seguindo a mesma lógica, o pensamento dominante quando se fala em água é a construção de novas barragens, novos reservatórios, tratar mais água. Pensa-se sempre em novas obras, e no entanto há muita brecha para a racionalização. Temos que chegar ao ponto em que 100% do que é produzido possa ser reciclado, mas isso demanda uma mudança cultural inimaginável.
Essa mudança é compatível com o capitalismo?
Não, a lógica do capitalismo é expandir, crescer. Isso poderia fazer algum sentido num mundo inesgotável e infinito, mas já sabemos que não é mais o nosso. Um novo modelo de desenvolvimento implica uma dificílima e demorada transformação nas nossas vidas. Ela virá com mais ou menos dor. A questão que os capitalistas colocam é: se vamos consumir menos, para onde vai o trabalho e a atividade humana? Uma resposta é que o trabalho pode migrar da área de produção de bens de consumo para áreas como educação, cultura, serviços. A aspiração das populações, hoje, é por bens de consumo, roupas, automóveis. A mudança cultural necessária é passarmos a valorizar bens não materiais. Educação, esporte, música, ciência são atividades humanas que não consomem tanto o planeta e preenchem mais a alma do que a busca desesperada pela reposição de bens, que é uma das principais razões pelas quais se trabalha e se vive, hoje.
Ao longo da história, vários movimentos sociais lutaram pela liberdade. Você acha que a liberdade ainda é uma questão?
Claro que é. A plena liberdade política é desfrutada por apenas uma parcela da população mundial. Mas, mais do que a liberdade de influir nas decisões que afetam a própria vida, a pobreza é o maior limitador da liberdade humana. Sem justiça social não há liberdade, e a injustiça social ainda é dominante no planeta. Em todos os países encontraremos diferenças entre ricos e pobres, maiores ou menores, mas não há lugar onde a diferença seja tão grande quanto no planeta Terra como um todo. A diferença entre países com altas taxas de consumo e países sem margem para desfrutar de alguma autonomia é mais brutal do que qualquer diferença interna entre os que têm e os que não têm. Um país que consome sozinho 25% dos recursos do mundo inexoravelmente estará tolhendo a liberdade de outros.
Que outros direitos e valores há a serem conquistados, hoje?
Creio que a noção de que somos parte de uma mesma humanidade e de que dependemos um do outro, que afetamos a vida do outro, precisa ser mais bem compreendida. Mais do que nunca, estamos todos conectados. A dona Kátia Abreu [senadora pelo PSD-TO, líder da bancada ruralista do congresso] ainda não entendeu que a expansão das fronteiras agrícolas na Amazônia, que ela defende, vai gerar seca e derrubar a produção de soja de sua fazenda em Campos Lindos, no Tocantins.