domingo, 11 de novembro de 2012

As primeiras propagandas brasileiras

Xarope Rhum Creosotado, elixir Nutrogenol, loção Phenomeno... Conheça a história das primeiras propagandas brasileiras.
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Um dos primeiros anúncios impressos no Brasil, de 1808
A primeira propaganda do Brasil, segundo a definição do escritor Ricardo Ramos, aponta para a carta descrita pelo capitão-mor Pero Vaz de Caminha, na qual relatava ao rei de Portugal Dom Manuel as maravilhas e encantos da nova descoberta: "Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d’agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem (...)". Após essa ação publicitária sobre o exuberante produto, a Ilha de Santa Cruz, a publicidade no Brasil permaneceu ainda por 300 anos quase que exclusivamente de forma oral.
A publicidade tal qual a conhecemos atualmente surgiu no Brasil em meados de 1800. Foi somente a partir de 1807, com a transferência da corte portuguesa ao Brasil e, um ano depois, com a criação da Imprensa Régia, que surgiu de fato o primeiro jornal oficial do país: a Gazeta do Rio de Janeiro. (Em 1806, Hipólito da Costa já havia criado em Londres o primeiro jornal não-oficial brasileiro). Em 1860 começaram a aparecer os primeiros painéis de rua, bulas de remédio e panfletos de propaganda. Quinze anos depois, em 1875, surgiram as primeiras peças ilustradas em litogravura.
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Anúncio da cerveja Holstia Bier no Jornal O Estado de São Paulo, de 1894
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Anúncio da loja Mappin na Revista da Semana, de 1910
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Anúncio do Instituto de Tuberculosos no Jornal Correio do Povo, de 1900
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Anúncio do elixir Nutrogenol Granado na Revista Ilustração Paulista, de 1912
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Anúncio do xarope Divino, de 1917
Tendo a família e os grupos domésticos como unidades de produção do consumo, as propagandas no Brasil baseavam-se em temas como compra e venda de móveis - e até de carruagens e escravos. Já os fortificantes e elixires (considerados como os grandes anunciantes) dialogavam com as donas de casa, prometendo-lhes vigor e bem-estar. Alguns nomes daquela época hoje soam curiosos e até engraçados: Pós da Pérsia, Bálsamo Maravilhoso, Óleo de Fígado Bacalhau e o Rhum Creosotado. Poetas como Olavo Billac, Augusto dos Anjos, Ari Barroso, Casimiro de Abreu e Fernando Pessoa foram alguns dos escritores que participaram da criação dos textos publicitários durante aquele período.
A Eclética, primeira agência de publicidade do país, nasceu em 1913, em São Paulo. Surgiram, então, grandes anunciantes multinacionais, como a General Eletric, a Nestlé e a Ford. Apesar de possuírem um padrão mais elevado do que a maioria das companhias brasileiras, elas não representavam os costumes e tampouco os hábitos de consumo nacional.
Por conta de epidemias como a gripe espanhola, além do crescimento progressivo dos núcleos urbanos no Brasil, a partir de 1918 houve uma incidência de diversas doenças e problemas de saneamento em geral. A questão social começou a ser discutida e foi percebida a necessidade de uma revisão do papel do Estado. Por conta disto, na década de 1920 houve uma ampla abordagem na área da saúde e bem-estar; dentre eles, por exemplo, anúncios de sabonete mostravam com nitidez a preocupação não apenas com a higiene, mas também com a beleza e a estética.
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Charge alusiva à chegada da gripe espanhola no Jornal Gazeta do Povo, de 1918
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Anúncio dos produtos Tayuya, sabão Aristolino e xarope Grindelia, de 1924
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Anúncio da Pomada Onken no Jornal O Farol Paulistano, de 1922
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Anúncio do xarope Rhum Creosotado, de 1920
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Anúncio da Cafiaspirina na Revista A Vida Moderna, de 1924
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Anúncio do Lybiol na Revista A Vida Moderna, de 1924
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Anúncio do Guaraná Espumante na Revista A Garoa, de 1921
Em 1926 pode-se perceber a presença cada vez mais acentuada das empresas norte-americanas no Brasil. Entretanto, diversas questões de ordem política que ocorreram nos anos seguintes (a crise de 1929, o Golpe de 1930 e a Revolução Constitucionalista de 1932, que pretendia a derrubada do Governo de Getúlio Vargas) não somente abalaram a economia brasileira, como também paralisaram por um momento a propaganda impressa.
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Anúncio de touca onduladora FA-DA, de 1932
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Anúncio da Loção Phenomeno na Revista Anauê, de 1937
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Anúncio da empresa Light na Revista Anauê, de 1937
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Anúncio de Mitigal na Revista Anauê, de 1937
Com a consolidação do rádio como veículo de comunicação de massa a publicidade redescobriu-se: anúncios que até então eram somente impressos, agora ganhavam vida com a possibilidade do uso de sons, vozes e jingles. Esse foi o tempo da consolidação de alguns slogans, como: “É mais fácil um burro voar que a Esquina da Sorte Falhar” e “Com guarda-chuva Ferretti, pode chover canivete”.
Com uma visível profissionalização dos que faziam a propaganda se principiou a dizer “a propaganda é a alma do negócio”. Alguns anos mais tarde, em 1949, nasceram os convênios entre agências de propaganda e a Associação Brasileira de Agências de Propaganda (ABAP). Zeca Martins, autor de Propaganda é isso aí (Atlas, 2004) ratifica o progresso da publicidade brasileira: "(...) como terceiro salto histórico, temos o incansável e constante desenvolvimento dos meios de comunicação, particularmente dos eletrônicos, a partir do final da década de 50 (...) possibilitando o surgimento quase diário de novas técnicas e manifestações estéticas no mundo da Propaganda".
Em 1950, o Brasil recebeu sua primeira emissora de TV, a Rede Televisão Tupi de São Paulo. Mil pessoas foram convidadas por Assis Chateaubriand para assistir ao evento. Cerca de 200 aparelhos de TV foram espalhados nas casas de poucos escolhidos, não tardando a tornar-se item recorrente em quase todos os lares do país, principalmente em meados dos anos 1960, com a chegada da televisão em cores.
Ouça abaixo alguns jingles veiculados no rádio durante as décadas de 1930-40 e assista às primeiras propagandas da televisão brasileira.




annaanjosArtigo da autoria de Anna Anjos.
Anna Anjos é ilustradora e tem a cultura brasileira como principal referência em seu trabalho. Alimenta-se de brilhos cósmicos na centopéia das mil faces. Viaja pela vida sem passagem de volta .
Saiba como fazer parte da obvious.

Um comentário:

  1. Paz e bem!

    Manoel Bastos Tigre,
    o primeiro bibliotecário concursado do Brasil,
    também foi jornalista, poeta, compositor,
    teatrólogo, humorista, engenheiro
    e, no que interessa aqui, publicitário.
    É o autor do slogan:
    "Se é Bayer é bom";
    Em 1934 escreveu a letra,
    que foi musicada por Ary Barroso
    e interpretada por Orlando Silva
    de Choop na garrafa
    o primeiro jingle publicitário brazuca.

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