terça-feira, 1 de outubro de 2013

Polícia Civil faz buscas para investigar militantes do Bloco de Lutas em Porto Alegre


Ramiro Furquim/Sul21
Assentamento urbano Utopia e Luta foi um dos locais onde a Polícia Civil atuou nesta terça-feira | Ramiro Furquim/Sul21
Iuri Müller, Sul 21
Ao menos quatro locais foram vistoriados ao longo desta terça-feira (1°) pela equipe da Polícia Civil que investiga os atos de “depredações e saques” dos protestos de junho em Porto Alegre. Durante a manhã e parte da tarde, duas residências particulares, um centro cultural que serve como moradia e um assentamento urbano foram alvo de mandados de busca e apreensão. Militantes de algumas das organizações políticas que compõem o Bloco de Lutas pelo Transporte Público foram chamados para prestar depoimento nos próximos dias.
As ações começaram ainda no início da manhã quando, por volta das 8h40min, uma equipe da Polícia Civil adentrou o Moinho Negro, centro cultural que também serve como moradia na Azenha — segundo os militantes que dormiam no local, a polícia arrombou a porta ao chegar. “Os policiais falaram que tinham mandado (de busca e apreensão) e separaram materiais para levar, folhetos de propaganda anarquista, panfletos políticos e cartazes”, afirmou um dos moradores do local, que foi chamado a prestar depoimento ainda nesta semana.
Pouco depois, o cenário da operação policial foi a residência do militante do coletivo “Juntos!” e da juventude do PSOL, Lucas Maróstica. Lucas afirmou, por meio do seu perfil no Facebook, que a força policial invadiu o seu apartamento em Porto Alegre e levou o seu computador. O militante, que não estava em casa neste momento, deve conceder entrevista coletiva na manhã da próxima quarta-feira (2) para explicar o ocorrido ao lado de representantes do seu partido.
Também durante a manhã, o militante da juventude do PSTU, Matheus Gomes, relatou episódio semelhante. Matheus conta que os agentes apreenderam cadernos, panfletos, adesivos com referência a lutas políticas, como a causa palestina, além do seu computador. “A justificativa da polícia é a de encontrar pessoas ligadas às depredações nos protestos em geral, mas está muito claro que é uma perseguição política ao Bloco de Lutas e aos movimentos sociais. Nem na época da (ex-governadora) Yeda Crusius isso acontecia”, defendeu.
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Espaço Moinho Negro, situado na Azenha, teve a porta arrombada por policias nesta manhã, segundo relato de moradores | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Por volta das três horas da tarde, o assentamento Utopia e Luta, situado na Avenida Borges de Medeiros, teve um dos seus quartos revistados pela equipe da Polícia Civil que é liderada pelo delegado Marco Antônio Duarte de Souza. Os agentes buscavam dois moradores que não se encontravam no quarto e que, da mesma maneira, também serão chamados para prestar depoimento nos próximos dias. Pouco depois, a Secretaria de Segurança Pública do governo do Rio Grande do Sul convocou uma entrevista coletiva para comentar a operação de hoje com a imprensa.
“Esta polícia não será polícia política”, afirma Ranolfo Vieira Jr.
Na sede da secretaria, os delegados Ranolfo Vieira Jr., chefe da Polícia Civil, e Marco Duarte de Souza, responsável pela investigação dos atos de depredação nas manifestações, comentaram a operação de hoje. Segundo Ranolfo, “as ações desta terça-feira se originaram no final de junho, quando o Tribunal de Justiça foi quebrado pela segunda vez nos protestos”. Desde então, a polícia gaúcha busca identificar os responsáveis pelas “ações violentas que têm ocorrido nos protestos”.
Marco confirmou que até sete mandados foram postos em prática no dia de hoje e que, ao longo do tempo, a investigação encontrou “provas robustas” contra as pessoas que estariam envolvidas. O delegado negou que a polícia tenha apreendido material de divulgação e conteúdo político — quanto aos lugares escolhidos para cumprir os mandados, disse que são locais que podem servir “para que os autores dos atos se reunissem antes das manifestações”.
O secretário de Segurança Pública, Airton Michels, afirmou na sua colocação que “a Justiça legitimou a operação policial”, já que chancelou a emissão dos mandados que permitiram as buscas. Ranolfo, por sua vez, negou qualquer motivação política na operação: “quem diz que a polícia é política, tem que dizer o mesmo da Justiça e também do Ministério Público”, disse.
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Para o secretário Airton Michels, “existe um grupo violento
que se infiltra nas manifestações” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Após as manifestações da cúpula da Segurança Pública, o governador Tarso Genro (PT) se manifestou através de um vídeo. Tarso afirmou que pretende se reunir com os presidentes de PSOL e PSTU para esclarecer a situação. “A finalidade desta atitude do governo é deixar claro que não compactuamos com qualquer tipo de perseguição política ou mesmo de resposta política a agressões que o governo tenha sofrido a partir de determinados atos criminosos, que, na nossa opinião, não são realizados por militantes políticos”, afirmou.
O governador, no entanto, garantiu que “o delegado que fez o inquérito agiu dentro do Estado de direito, segundo todas as normas processuais e inquisitoriais que regulam este assunto”.

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