domingo, 5 de agosto de 2012

Oswaldo Cruz, ciência e política na vida de um grande brasileiro

Oswaldo Cruz
Neste 5 de agosto, completam-se 140 anos do nascimento de Oswaldo Cruz. A atuação deste grande brasileiro expressa, até hoje, dilemas fundamentais na gestão pública. Oswaldo Cruz era um homem de ciência. Foi trazido à esfera política por iniciativa de um projeto autoritário e higienista dos primeiros anos da República. Sendo um cientista, os debates e condicionantes políticos não o sensibilizavam. Seu desejo era aplicar seu conhecimento e as descobertas da medicina em favor da população. Sua obstinação científica, aliada ao elitismo dos políticos que lhe davam suporte e à demagogia de seus opositores, deu origem a uma das mais significativas revoltas urbanas do Brasil, a chamada "Revolta da Vacina".
A campanha de vacinação em charge da época
Hoje, ninguém questiona a figura de Oswaldo Cruz. Porém, os dilemas presente na sua atuação permanecem. Vou a eles: 1) Até mesmo um governo conservador pode introduzir políticas públicas relevantes e duradouras; 2) A tensão entre política e ciência em questões de saúde pública, precisa ser mediada não só pelo bom senso, mas pela participação das pessoas e pelo enfrentamento sério dos problemas, sem preconceitos; 3) Um grande cientista pode ser um mau gestor público, pois tratam-se de esferas diferentes de ação que exigem competências diferenciadas; 4) Grandes iniciativas nem sempre são corretamente dimensionadas no momento em que acontecem, precisam de tempo para serem entendidas; 5) O povo, na sua revolta, nem sempre está certo, o que não significa que não deva ser respeitado, mas o apelo ao senso comum costuma ser péssimo conselheiro.
Na atualidade, o debate sobre a política de drogas (para ficar só nesse tema) parece estar vivendo uma situação semelhante. O julgamento de uma proposta de tratamento à questão feita com base no censo comum, preconceitos, sem embasamento científico e especulando com a demagogia tão cara aos nossos políticos é um desserviço ao Brasil.
De qualquer modo, é exigir demais aos agentes públicos do país que aprendam algo com a "Revolta da Vacina", afinal ela aconteceu há pouco mais de cem anos.
Ser brasileiro exige paciência.

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