Hippychick, empresa que terceirizou
produção para oficina onde cinco bolivianos foram libertados, tinha selo
de responsabilidade social da indústria têxtil
Por Igor Ojeda, em Repórter Brasil
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| Página da Hippychick com selo da Abvtex, que foi retirado após a denúncia. Imagem: Reprodução |
A Hippychick Moda Infantil, confecção de
roupas infantis que, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE),
terceirizava sua produção para uma oficina de costura flagrada
explorando trabalho escravo, tinha desde outubro de 2012 o selo da
Associação Brasileira do Vestuário Têxtil (ABVTEX) de responsabilidade
social. Após a libertação de cinco trabalhadores bolivianos, a entidade
representante da indústria do setor cancelou a certificação e o selo foi
retirado da página da confecção na internet.
“A ABVTEX informa que, a partir das denúncias, a empresa [Hippychick]
teve suspensa a Certificação de Fornecedores. A certificação foi obtida
em outubro de 2012, após auditoria realizada pela Associação Brasileira
de Normas Técnicas. A confecção não é fornecedora das redes signatárias
e à época da auditoria não havia registro de subcontratados no seu
processo produtivo”, afirmou à Repórter Brasil a ABVTEX, por meio de sua assessoria de imprensa.
De acordo com a entidade, todas as empresas que tenham o selo passam
por uma auditoria de manutenção da certificação após um ano. No caso da
Hippychick, a suspensão, portanto, teria ocorrido antes do
prazo. Segundo o site da ABVTEX, o programa, criado no início de 2011,
“tem o objetivo de mapear a cadeia de fornecedoras e, caso seja
necessário, capacitá-los em boas práticas de responsabilidade social”.
Lojas Americanas
O Ministério do Trabalho e Emprego e o Ministério Público do Trabalho, que também participou da operação de libertação dos trabalhadores, investigam a responsabilidade das Lojas Americanas na exploração do trabalho escravo. Segundo o MPT, a suspeita é de que as peças produzidas pela oficina terceirizada eram revendidas exclusivamente nas Lojas Americanas com a marca “Basic+ Kids”, o que pode fazer que a rede varejista seja considerada responsável pela situação a que os trabalhadores estavam submetidos.
O Ministério do Trabalho e Emprego e o Ministério Público do Trabalho, que também participou da operação de libertação dos trabalhadores, investigam a responsabilidade das Lojas Americanas na exploração do trabalho escravo. Segundo o MPT, a suspeita é de que as peças produzidas pela oficina terceirizada eram revendidas exclusivamente nas Lojas Americanas com a marca “Basic+ Kids”, o que pode fazer que a rede varejista seja considerada responsável pela situação a que os trabalhadores estavam submetidos.
“O Ministério Público do Trabalho busca sempre a responsabilização
daqueles que estão à frente do empreendimento, os reais beneficiários do
processo produtivo. Não é interessante identificar apenas os
intermediários, mas todo o segmento da cadeia produtiva”, afirmou, em
comunicado divulgado pelo MPT, o procurador-geral do Trabalho, Luís
Camargo. Em nota, as Lojas Americanas disseram que repudiam qualquer
tipo de trabalho realizado em condições degradantes e que estão apurando
o ocorrido. A empresa informou, ainda, que cancelou as relações
comerciais com a fornecedora.
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Condições degradantes
O flagrante aconteceu em 22 de janeiro em uma oficina de costura de
Americana (SP) que fornecia peças de roupas infantis à Hippychick, com
sede na vizinha Santa Bárbara d’Oeste. A pequena oficina, que recebia R$
2,80 por cada peça produzida para a Hippychick, havia sido montada de
forma clandestina nos fundos do quintal de uma área residencial da
periferia de Americana. O proprietário mantinha parentes trabalhando sob
condições notadamente insalubres. O calor era intenso, por causa das
telhas de amianto, o pé direito baixo e as laterais fechadas – o que
impedia a circulação de ar. As pilhas de tecido espalhadas pelo espaço,
além de dificultarem a circulação dos trabalhadores, aumentavam o risco
de incêndio, por estarem próximas a “gambiarras” elétricas – o local não
possuía extintores e saídas de emergência.Nenhum funcionário tinha registro em carteira e a jornada de trabalho era de 12 horas diárias. No momento em que a fiscalização foi realizada, foram encontradas quatro crianças – sendo uma delas recém-nascida – dividindo o espaço com os pais. As duas casas em que os trabalhadores moravam estavam com a estrutura comprometida e apresentavam precárias condições de higiene. |
A Hippychick afirmou, também em nota, que contratou os serviços da
oficina de forma “pontual”, por causa do aumento da demanda de produção
em dezembro do ano passado. De acordo com a empresa, a maioria das peças
é confeccionada por empregados próprios e a terceirização foi feita
para a confecção de 680 itens. Ainda segundo a nota, a nova diretoria da
Hippychick, que assumiu a direção em setembro de 2012, não teve acesso
ao interior da oficina nem a seus funcionários e “não mantém nem
patrocina nenhum tipo de trabalho de forma ilegal”.
Em 2011, no entanto, a Polícia Federal já havia identificado a
situação irregular de seis bolivianos na mesma oficina. Em 2012, o MPT
de Campinas iniciou um procedimento contra a Hippychick, que a havia
contratado para produzir peças revendidas às Lojas Americanas. A relação
entre contratante e contratada foi cortada, mas posteriormente
retomada.

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