segunda-feira, 21 de maio de 2012

XUXA

Não gosto da Xuxa. Artisticamente ela é medíocre; sempre estimulou o consumismo infantil, apresentou um programa para crianças nada educativo, no qual as "ajudantes de palco" vestiam shorts minúsculo, com evidente apelo sexual. Porém, seu depoimento sobre abuso sexual na infância vale mais do que dezenas de campanhas publicitárias pagas.
Já foi dito que tratou-se de um golpe midiático para chamar a atenção, turbinar a audiência do "Fantástico" e a carreira da própria Xuxa. Pode ser e, quem dera todos os golpes midiáticos pudessem servir de alerta contra algo que acontece todos os dias, em todas as classes sociais, em todos os lugares do mundo.
A mediocridade artística da Xuxa não invalida a dor e a coragem de trazer a público uma situação traumatizante e o poder que essa declaração pode ter em milhões de famílias brasileiras. Alguns vaticinam "é mentira", " é hipocrisia". Desconhecem essas pessoas que ninguém está livre do abuso sexual. O fato de ela falar sobre o assunto apenas agora demonstra a força traumatizante de um abuso e, ao invés de desconsiderarmos suas afirmações em virtude de certos comportamentos dela, poderíamos pensar que certos comportamentos derivam precisamente dos abusos sofridos.
Outros comentam o famoso filme em que ela faria sexo com um menino de 8 anos. Na verdade, o menino tinha 12 anos e Xuxa tinha 16! Alguém já pensou sobre qual o papel do Sr. Walter Hugo Khoury (um diretor mediano metido a Ingmar Bergman) nisso tudo? Já pensaram que a tal cena envolvendo dois adolescentes faz parte de uma indústria da qual Xuxa e tantas outras pessoas são engrenagens e que pode ser entendida como parte de um processo de abuso emocional e mercantilização do erotismo?
Xuxa não precisa da minha defesa, mas li muita bobagem sendo escrita por gente que, embora esclarecida, se deixou tomar pelo preconceito e é incapaz de pensar que uma mulher branca e rica possa ter sido vítima de abuso sexual.
Repito, a entrevista de Xuxa pode ter sido mais útil para conscientizar sobre abuso sexual do que centenas de campanahs publcitárias. Ninguém está obrigado a gostar da "obra artística" da Xuxa (eu a considero deplorável), mas não podemos desconsiderar a importância de seu depoimento.
Por fim, desejo ilustrar o quanto as aparências enganam. O psicólogo Jorge Corsi,durante muitos anos, orientou milhares de ativistas contra a violênica intrafamiliar e o abuso sexual de crianças. vendeu muitos livros e ganhou muito dinheiro em conferências contra a violência e o abuso. Em 2008, Corsi foi identificado como líder de uma rede internacional de pedofilia. A obra de Corsi é memorável, seu exemplo é deplorável. No caso de Xuxa, ao contrário, sua obra é deplorável, seu exemplo deve ser lembrado.

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