Fórmula de Ilan Goldfajn, ex-diretor do Banco Central no
governo de Fernando Henrique, além de desemprego inclui depressão do consumo
das famílias e ajuste para baixo nos aumentos de salários; tudo para conter a
inflação; "Talvez seja necessário, hoje, desaquecer por um tempo o consumo
e o mercado de trabalho", registra economista-chefe do Itaú Unibanco em
artigo no jornal O Estado de S. Paulo; capaz de ser promovido entre sua
turma...
De: Repassando Tudo
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Marco Damiani – Foi para isso que Ilan Goldfajn estudou
economia: "Não está claro se há consciência na sociedade de que para a
manter a inflação sob controle possa ser necessário temporariamente reduzir o
consumo e desaquecer o mercado de trabalho".
É assim que o ex-diretor do Banco Central no governo de
Fernando Henrique Cardoso e atual economista-chefe e sócio do banco Itaú
Unibanco, como se apresenta nesta terça-feira 5, no jornal O Estado de S.
Paulo, termina seu artigo na página 2 do matutino.
Antes deste fecho, Goldfjan acentua:
"O fator conjuntural é que a indústria, percebendo esse
processo estrutural de oferta menor e demanda maior de trabalho, tem retido os
trabalhadores, em vez de dispensá-los, na esperança de uma retomada mais
intensa da economia (esse fenômeno é chamado "poupança de trabalho"),
como alertei neste espaço há mais de um ano".
O trecho acima está no penúltimo parágrafo do artigo de
Goldfjan. Como se o verdadeiro, direto e sem rodeios incentivo à indústria a
desempregar não tivesse ficado claro, mais acima o economista insiste na
questão de fabricar desemprego:
"O problema é que a retomada dos investimentos, em
particular, tem ocorrido de forma lenta, enquanto o consumo e o mercado de
trabalho continuam robustos". É ele quem diz que o mercado de trabalho
"robusto" faz parte do problema. Mais à frente, Godfjan deixa ainda
mais clara sua posição:
"Apesar do baixo crescimento projetado, espera-se que a
taxa de desemprego continue baixa, mantendo o mercado de trabalho apertado e o
aumento dos salários reais. Boas notícias para um lado da economia, mas, por
outro, dificultam o combate à inflação".
O economista propõe, assim, e mais de uma vez, que o melhor
remédio para conter a inflação, neste momento, é mandar trabalhadores embora de
seus atuais empregos. Inclui-se ele no caso clássico daqueles que praticam uma
teoria econômica que, se não houvesse o povo, esse elemento que, para Goldfajn,
atrapalha, daria grande resultados.
Talvez em seu próximo artigo, o economista proponha mais
claramente acabar com o povo, já que no atual ele 'só' defende a miséria, a
fome e a desesperança, decorrências do desemprego.
Antes dos trechos já citados, o economista abre da seguinte
forma o sétimo parágrafo do artigo destacado no Estadão:
"Na atual conjuntura talvez seja necessário desaquecer
temporariamente tanto o consumo, adequando-o, no curto prazo, à oferta mais
restrita, quanto o mercado de trabalho, para permitir ajustar os aumentos de
salários ao crescimento da produtividade do trabalho".
Sem medo de errar, a pretexto de ensinar como se combate a
inflação, o economista que participou do governo tucano, é sócio e
economista-chefe do Itaú Unibanco ministra no Estadão, por escrito, uma aula
pronta e acabada de como se fabricar uma recessão, provocar desemprego sobre
milhões de brasileiros e deprimir o consumo que prejudicaria todo o parque
industrial nacional.
Um verdadeiro gênio de orelhas peludas e cumpridas. Capaz
de, pelos ensinamentos recitados, ser promovido na sua turma de patriotas.
Abaixo, a íntegra do artigo de Ilan Goldfajn no Estadão:
Combater a inflação, mexer no emprego
05 de março de 2013 | 2h 06
Ilan GoldFajn *
A inflação subiu no Brasil e com ela, as preocupações do
governo. O discurso recente tem enfatizado o compromisso no combate à inflação.
Melhor assim. É necessário transmitir a ideia de que há um guardião da inflação
para evitar aumentos contínuos de preços. Se subirem muito, caem as vendas,
perde-se mercado. É a âncora da economia. Mas não há almoço grátis, o combate à
inflação requer estar disposto a abrir mão de coisas valiosas. A sociedade está
preparada para (temporariamente) reduzir o consumo e desaquecer o mercado de
trabalho para reduzir a inflação?
Ninguém gosta de fazer essa opção. Às vezes nem é
necessário. A maioria dos países vizinhos na América Latina está crescendo
fortemente, com inflação em queda (o Peru cresce 6,3%, com inflação de 2,6%; o
Chile, 5,6%, com 1,5% de inflação; o México, 3,9%, com inflação de 3,6%, etc.).
É que uma vez que a inflação é combatida a estabilidade econômica e a melhora
na produtividade favorecem o crescimento forte com baixa inflação.
Mas no Brasil as opções estão mais difíceis. Recentemente
tem ocorrido o inverso dos nossos vizinhos: inflação em alta e crescimento
tímido. O Banco Central (BC), na última ata, chamou a atenção para as
"limitações pelo lado da oferta". O problema não é a falta de
consumo, que tem crescido de forma robusta. É necessário produzir a um custo
menor (mais produtividade) para crescer sem pressionar a inflação. Nesse caso,
estímulos ao consumo não resolvem e podem até exacerbar o problema, pois
distanciam a demanda do que pode ser ofertado sem inflação crescente.
Muitas vezes as soluções parecem caminhar na direção
correta, mas podem não resolver o problema. Por exemplo, a desoneração de
impostos na economia é um objetivo nobre a perseguir. Afinal, a alta e complexa
carga tributária da economia brasileira é um gargalo ao crescimento. No curto
prazo, os subsídios e o corte de impostos de fato podem reduzir os preços e
ajudar a combater a inflação. Contudo, ao longo do tempo, se as desonerações e
os menores preços estimularem ainda mais o consumo, sem correspondente aumento
da oferta, o problema inflacionário persistirá.
Apesar da redução da tarifa de energia elétrica, que teve
impacto relevante no índice de fevereiro, a inflação não tem cedido como
desejado. Neste início de ano a inflação continuou elevada: no acumulado em 12
meses deve oscilar entre 6,2% e 6,6% até o final do terceiro trimestre, quando
pode começar a recuar. A pressão dos alimentos tende a ser revertida, ao menos
parcialmente, e a queda do preço das commodities agrícolas no mercado
internacional pode ajudar. Porém observa-se uma maior disseminação no aumento
de preços. O mercado de trabalho aquecido tem gerado aumentos de salários que,
repassados aos preços, têm provocado resistência à queda da inflação.
Na atual conjuntura talvez seja necessário desaquecer
temporariamente tanto o consumo, adequando-o, no curto prazo, à oferta mais
restrita, quanto o mercado de trabalho, para permitir ajustar os aumentos de
salários ao crescimento da produtividade do trabalho. Nesse caso, as
desonerações apenas adiariam a necessidade desses ajustes para adiante.
Pode-se argumentar que a desaceleração do consumo e/ou do
mercado de trabalho não seja necessária. Bastaria controlar as expectativas no
curto prazo para evitar reajustes defensivos de preços, desonerar alguns preços
no curto prazo, ganhando tempo para que haja uma reação pelo lado da oferta:
mais produção baseada em mais investimentos. Os investimentos levariam, ao longo
do tempo, a aumentos de produtividade que permitiriam a adequação da economia
aos salários atuais (e ao forte mercado de trabalho).
O problema é que a retomada dos investimentos, em
particular, tem ocorrido de forma lenta, enquanto o consumo e o mercado de
trabalho continuam robustos. Em 2012 a economia cresceu 0,9% e o investimento
no mesmo ano teve queda de 4%. O consumo das famílias e os gastos do governo
continuaram crescendo firmes, 3,1% e 3,2%, respectivamente.
Projeta-se uma retomada modesta do ritmo de crescimento do
produto interno bruto (PIB), de 3% em 2013. Apesar do baixo crescimento
projetado, espera-se que a taxa de desemprego continue baixa, mantendo o
mercado de trabalho apertado e aumento dos salários reais. Boas notícias para
um lado da economia, mas, por outro, dificultam o combate à inflação.
Um parêntese aqui. A combinação de crescimento modesto do
PIB com mercado de trabalho aquecido tem deixado os analistas perplexos. Em
geral, o crescimento do emprego e o do PIB caminham juntos. Nesse caso, dois
fatores estruturais e um conjuntural criaram o aparente paradoxo. De um lado, o
padrão de crescimento demográfico é tal que o ritmo de entrada dos jovens no
mercado de trabalho é cada vez menor, limitando a oferta de trabalhadores
disponíveis para a economia. O que algumas décadas atrás era abundante hoje é
escasso. Por outro lado, a composição atual do crescimento do PIB no Brasil é
mais intensa em mão de obra, pois o setor de serviços cresce mais e contrata
mais gente.
O fator conjuntural é que a indústria, percebendo esse
processo estrutural de oferta menor e demanda maior de trabalho, tem retido os
trabalhadores, em vez de dispensá-los, na esperança de uma retomada mais
intensa da economia (esse fenômeno é chamado de "poupança de trabalho"),
como alertei neste espaço há mais de um ano. O resultado desse paradoxo é o que
observamos: mercado de trabalho forte e pressões inflacionárias, mesmo com PIB
fraco.
Pleno emprego, salários altos e consumo forte têm sido
valiosos para a economia brasileira. A inflação sob controle também é um valor.
Não está claro se há consciência na sociedade de que para manter a inflação sob
controle possa ser necessário temporariamente reduzir o consumo e desaquecer o
mercado de trabalho.
* Ilan GoldFajn é economista-chefe e sócio do Itaú-Unibanco.
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