sábado, 9 de março de 2013

Chuvas alagam salas e molham documentos do Arquivo Nacional


Memória encharcada. Caixas com documentos do Arquivo Nacional
Foto: Divulgação
Memória encharcada. Caixas com documentos do Arquivo Nacional Divulgação

Funcionários dizem que papéis da Era Vargas teriam sido atingidos

Simone Candida 

RIO — O temporal que alagou ruas da cidade na noite da última terça-feira respingou sobre uma parte da memória brasileira. De acordo com funcionários do Arquivo Nacional, com as fortes chuvas da semana passada, a água escorreu como cachoeira pelo teto da instituição — que estaria sofrendo com vazamentos e infiltrações já desde o ano passado —, alagando salas e encharcando caixas e prateleiras com documentos públicos raros.
Entre os papéis que ficaram molhados, estavam originais do Tribunal de Segurança Nacional, relativos à Era Vargas, guardados em 50 caixas de papelão. O inventário de danos da equipe inclui, ainda, três caixas com papelada do Serviço de Informações do Ministério da Justiça, com registros da época da ditadura, e 14 caixas com documentação que relata negócios fechados por portugueses no período de dom João VI.
A tempestade também danificou computadores e causou o desabamento do teto de um dos refeitórios. A direção do Arquivo, que funciona num prédio histórico na Praça da República, admitiu que houve alagamentos, mas alegou que nenhum documento foi danificado. Informou ainda que já enviou um pedido de verba de R$ 1,6 milhão ao Ministério da Justiça, ao qual o Arquivo é subordinado, para obras emergenciais no prédio.
Pelo menos 136 caixas e pacotes foram encharcados
Pelas contas dos servidores do Arquivo Nacional, 136 caixas e pacotes foram atingidos pela chuva (alguns apenas com respingos, outros totalmente molhados). Nas salas do bloco A, um dos setores mais afetados, o alagamento obrigou as equipes a arrastarem centenas de caixas para os corredores. Alguns documentos foram esticados no chão para secagem. Segundo servidores, o problema dos alagamentos não é de agora, e cada vez que chove forte a direção da casa adota medidas paliativas.
— Nas chuvas de janeiro, as salas de trabalho e os depósitos dos blocos A, C e D amanheceram alagados. Diversos acervos ficaram encharcados. Naquela época, tiramos os documentos das salas e colocamos em outras, com menos infiltrações. Documentos da antiga Funabem, em mais de 10 mil caixas, foram atingidos e tiveram que ser armazenados num depósito. Na última quarta-feira, quando chegamos para trabalhar, vimos mais uma vez estragos. Passamos dois dias limpando e secando. Por sorte, documentos da Lei Áurea estão numa exposição numa sala que não alaga e ficaram intactos — disse um funcionário que não se identificou.
Prédio principal é tombado
O diretor Arquivo Nacional, Jaime Antunes da Silva, afirma que todas as medidas para garantir a manutenção do prédio e proteger o patrimônio público vêm sendo tomadas. E argumenta que a chuva de terça-feira teve um volume atípico. Segundo ele, as salas mais afetadas foram as localizadas no prédio principal, tombado pelo Iphan desde 1938, onde os trincos dos janelões antigos não resistiram ao vento. Além disso, explica o diretor, as calhas do prédio não deram vazão e transbordaram.
— Alguns trincos não suportaram e abriram. Com isso, a água entrou. Eu estava em Brasília e, logo que fui avisado, comuniquei ao Ministério da Justiça o problema. Nossas equipes fizeram um mutirão no dia seguinte para salvar tudo, e os técnicos garantiram que não houve nenhum dano irreversível a nenhum documento. Já preparamos um relatório, que será enviado ao ministério, informando sobre a necessidade de obras para aprofundar as calhas e reformar os telhados.
Com acervo de 55 quilômetros de pilhas só de papéis, o Arquivo Nacional tem a função de guardar, preservar, dar acesso e divulgar documentos públicos. A instituição tem sob seu poder material raro, como mapas dos séculos XVI ao XIX; documentação sobre a entrada de imigrantes e fotografias dos séculos XIX e XX, entre elas registros da família Ferrez.

Leia mais sobre esse assunto em O Globo, só estou divulgando o que eles escreveram. O Globo é o dono da notícia.

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