sábado, 31 de julho de 2010

A Companhia - submundo da cia

A literatura de espiões sempre foi considerada subliteratura pois, além do clássico jeito de reviravoltas, com postulados seguidos a regras e resolvidos muitas vezes de maneira absurda, também sempre foi campeã de vendas, o que faz com que os críticos literários torçam o nariz. Neste cenário, John Le Carré talvez seja ainda o maior nome mas outros escritores trilham o caminho com brilhantismo.
Um deles é o norte-americano Robert Littell. Seu livro A Companhia, lançado no Brasil pela editora Record, faz juz. Em mais de setecentas páginas, o autor descreve o submundo da Agência Central de Inteligência do governo dos Estados Unidos, a famosa CIA. Desde a sua fundação aos mais recentes eventos que levaram a formação histórica do terrorismo islâmico fundamentalista, Littell cria uma saga de gerações no trabalho da espionagem.
Tudo começa com a Guerra Fria, evidentemente o grande foco do livro, já que a CIA foi fomentada justamente para combater o comunismo. No cenário de Berlim, Feiticeiro, uma lenda entre os espiões norte-americanos cuida de uma caso de exfiltração de um soviético. Porém, as coisas saem do controle e tudo dá errado. Cismado, o Feiticeiro resolve descobrir o que aconteceu, numa trama de traição que levará ao topo da cadeia de comando da agência. Paralelamente, outros personagens desenvolvem seus papéis que desembocam na desastrada ação de levante na Hungria e na suposta invasão da Baía dos Porcos, em Cuba.


Personagens vem e vão com o passar do tempo, que atinge seus contornos finais com a invasão soviética ao Afeganistão e mais tarde no golpe militar que tentou depor Gorbachev do comando da União Soviética. Neste ambiente, ele cria todas as reviravoltas típicas de um livro de espionagem. Conspirações para todos os lados, morte, descoberta de segredos inomináveis, tudo está ali, em linguagem fluída de best-seller.
O grande mérito do livro de Littell está justamente em sua visão objetiva das ações da fábrica de picles (como se refere à CIA). Em nenhum momento ele se excede na exaltação do sistema norte-americano, muito pelo contrário, com olhar agudo aponta justamente este fanatismo como causa de várias ações desastradas, principalmente no trato com os muhajedin do Afeganistão ou com os dissidentes do comunismo. Por se tratar de uma obra de um escritor norte-americano, lançado pós-11 de Setembro, não deixa de ser um resultado intrigante, ver várias críticas à maneira de ser do serviço de inteligência mais poderoso do mundo, responsável por diversos golpes de estado, como no Irã da década de cinquenta ou nos países latino-americanos na década de sessenta e setenta.
A Companhia, de Robert Littell, mesmo que possa ser enquadrada em uma literatura sem grandes pretensões estéticas é um interessante retrato de uma era onde o mundo estava há apenas um botão de distância de sua total aniquilação.
Do blog obvious

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