terça-feira, 13 de janeiro de 2015

O falso amanhecer da economia mexicana

Se não houver mobilização popular a favor de mudanças econômicas, os custos do ajuste pesarão outra vez sobre os ombros do povo mexicano.

Ariel Noyola Rodríguez* - Contralínea/Carta Maior
Presidencia de la República Mexicana / Flickr
Em menos de seis meses, os meios de comunicação enterraram completamente o denominado “momento do México”. Faz alguns dias, em entrevista realizada pelo jornal El Universal, o presidente do Banco Central do México, Agustín Carstens, admitiu pela terceira vez consecutiva que os acontecimentos relacionados à falta de segurança e à violência (como o desaparecimento de 43 estudantes normalistas de Ayotzinapa) influenciam de maneira direta nas expectativas de empresários sobre a economia nacional; a certeza e a confiança, afirmou ele, são os elementos fundamentais na hora de tomar decisões, tanto do lado do investimento quanto do consumo.
 
E, enquanto no começo de 2014, o Ministério da Fazenda e do Crédito Público havia estimado um crescimento de 3.9%, posteriormente, diminuiu esse número para 2.7%, e depois reduziu novamente para uma média entre 2.1 e 2.6%, basicamente a metade da primeira estimativa. De janeiro até novembro, a pesquisa dos analistas do setor privado, aplicada pelo Banco do México baixou as estimativas do crescimento em 10 ocasiões consecutivas e já começa a realizar modificações em seus prognósticos para 2015.
 
Os “motores externos”, por sua vez, já não conseguem até o momento impulsionar a economia mexicana. A política monetária restritiva do Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos; os riscos crescentes de deflação na zona do euro; a queda inesperada da atividade econômica no Japão; o aumento da desaceleração no Continente Asiático e a drástica diminuição dos preços das matérias primas, especialmente as cotações do petróleo, foram extremamente prejudiciais para as economias denominadas “emergentes”. Junto disso, a alta da divisa norte-americana, graças a sua posição privilegiada de “reserva de valor” em momentos críticos para a economia mundial, continuará contribuindo de forma elementar no próximo ano na desvalorização das moedas da periferia capitalista.
 
No final de 2014, o peso mexicano havia perdido 10% de seu valor frente ao dólar para cotação em um mínimo de 14.457 pesos até o fechamento da presente coluna, seu nível mais baixo em mais de dois anos e meio. Surpreendentemente, em 8 de dezembro de 2014, o Banco Central do México e o Ministério da Fazenda e do Crédito Público emitiram um comunicado para detalhar o início de um plano imediato para deter a queda da moeda. “O Banco Central do México oferecerá diariamente 200 milhões de dólares a um tipo de câmbio mínimo equivalente ao tipo de câmbio FIX, determinado no dia útil imediatamente anterior, conforme as disposições do Banco do México, mais 1.5%”, indicou a Comissão de Câmbios. Com isso, o governo mexicano pretende prover de liquidez o mercado de câmbio e reduzir as turbulências do sistema financeiro. A medida se aplicou pela última vez em 30 de novembro de 2011, quando o Banco Central do México começou a injetar 400 milhões de dólares diariamente, a cada vez que o tipo de câmbio caísse 2% em relação ao dia útil anterior. A medida foi cancelada em 9 de abril de 2013.
 
A queda do preço do petróleo, por sua vez, constitui uma grave ameaça para os países com dependência energética pela via das importações e, mais ainda, para economias como a do México, cujas finanças públicas estão estreitamente vinculadas à renda do petróleo. Na primeira semana de dezembro de 2014, o preço do barril em sua modalidade Brent alcançou 66,77 dólares, quando vinculadas a mezcla mexicana (MME) foi cotada em 58 dólares: os níveis mais baixos desde outubro de 2009.
 
De acordo com as estimativas do banco de investimentos americano Morgan Stanley, os preços poderiam cair até um mínimo de 43 dólares. É preciso destacar que a queda das cotações obedece não unicamente à menor demanda das economias asiáticas (China e Índia) e às operações especulativas nos mercados de derivados de petróleo (Nova York, Londres e Dubai), mas fundamentalte, são o resultado de uma tendência deflacionária de enormes proporções e de fôlego que atravessa cada vez mais espaços da economia mundial.
 
No caso do México, as conseqüências de uma queda de mais de 40% do preço do barril já saltam à vista. Em primeiro lugar, os preços atuais do combustível estão muito abaixo de 83 dólares, a base tomada para o Plano Orçamentário 2015. Os programas de cobertura, assim como os fundos de capitalização são insuficientes para conter as violentas flutuações dos preços em médio prazo. Em segundo lugar, as perspectivas de alta rentabilidade dos empresários (nacionais e estrangeiros), como conseqüência das reformas constitucionais e secundárias em matéria energética, colocaram em uma situação grave e, com isso, os projetos de investimento que eventualmente emanaria da Ronda I poderiam ficar no esquecimento.  
 
Em suma, a campanha midiática em torno de um novo amanhecer da economia mexicana, impulsionada em um primeiro momento pelos conglomerados do capital transnacional, se mostrou uma farsa absoluta. A “disciplina fiscal” e o alto nível de “confiança macroeconômica” contrastam com a queda nas expectativas de crescimento, extrema volatilidade do tipo de cambio e o aumento exponencial da dívida pública há mais de dois anos do início da gestão de Enrique Peña Nieto. Se não houver uma mobilização popular organizada a favor de uma mudança de rumo em matéria econômica, os custos do ajuste pesarão outra vez sobre os ombros do povo do México.
 
*Colunista da revista Contralínea (México). Contato: noyolara@gmail.com.

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