sábado, 28 de agosto de 2010

O MODELO QUE ESCOLHEMOS

Marcos Rolim
Jornalista

A maior parte dos candidatos proporcionais fala na TV durante 15 segundos, quando muito. O tempo é insuficiente para que apresentem ideias, mas é mais do que o necessário para o bizarro e o melancólico. O resultado patético prejudica os poucos bons candidatos e contribui para a desmoralização da política. O que estamos assistindo, entretanto, é o resultado de uma escolha em favor de um tipo de eleição onde se pede aos cidadãos e cidadãs que escolham pessoas e não partidos. Um modelo que, assinale-se, é cada vez menos encontrado em países com democracia desenvolvida. Na maioria das nações democráticas – e mesmo em vários países latino-americanos – vota-se em listas partidárias fechadas. Quais as diferenças? Todas.
Se o voto para o parlamento é individual, então os partidos procuram candidatos que sejam “populares”. Comunicadores de rádio e TV, pastores, ex-jogadores, “celebridades” de programas como Big Brother e outros são, por isso, muito assediados pelos partidos. Pouco importa que estas figuras sejam, muitas vezes, nulidades conhecidas. São conhecidas e é isso o que importa. Como é fundamental ampliar a votação na legenda, os partidos apresentam tantos candidatos quantos forem permitidos. De novo, não importa a qualidade dos pretendentes. Milhares de campanhas custam uma verdadeira fortuna. O financiamento é obtido junto a empresários, mas o custo será repartido entre todos nós. Ou alguém é ingênuo o suficiente para imaginar que a conta não será repassada? Mas o financiamento privado, vinculará os eleitos aos interesses dos financiadores. Assim, todos nós pagamos a conta, mas o eleito trabalhará na defesa dos interesses dos doadores. Neste modelo, os principais concorrentes de cada candidato estão em seu próprio partido, não nos demais, o que começa a inviabilizar a própria ideia de partido. Chamado a votar em pessoas, os eleitores são dispensados de pensar politicamente e os próprios partidos se transformam mais facilmente em condomínios de interesses cujo ponto comum é a disposição de alcançar o poder.

O voto individual para o parlamento promove o clientelismo com os eleitores. Promessas de emprego, bolsas de estudo, remédios, ternos de camiseta, contas de água e luz pagas, tudo passa a integrar o mercado eleitoral de onde emerge tristemente o futuro parlamento que, por isso, é cada vez pior que o anterior. No sistema de voto individual para o parlamento, quanto mais desonesto for um candidato, quando mais demagogo e mais especializado no tráfico de influências, maiores serão suas chances de financiamento e suas perspectivas eleitorais.
Por isso, a zombaria e o desdém diante dos “Tiriricas” que nos chegam pela TV não resolvem e tendem a encobrir nossas responsabilidades diante do modelo político. O que estamos assistindo é o resultado da nossa própria incapacidade de reformar a política brasileira; o resultado da superficialidade da crítica política no Brasil; a soma de todos os Mervais, Diogos Mainardis e Casoys; a consequência da falta de um debate público qualificado e da reprodução dos chavões com os quais nos contentamos. Os candidatos que vemos na TV são, de alguma maneira, a nossa imagem política, sem retoques ou edição.

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