quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Estudantes incendeiam Palácio do Governo de Guerrero, no México

De: El País

Os alunos de magistério, colegas dos 43 estudantes desaparecidos, invadem a sede estatal e ateiam fogo a um dos gabinetes centrais. Não houve feridos


O Palácio Municipal de Chilpancingo em chamas após o ataque. / Y. C. (AFP)

A vingança bate na porta do Estado mexicano de Guerrero. O desaparecimento e provável assassinato de 43 estudantes de magistério em Iguala desencadeou uma onda de fúria de colegas, os normalistas, cujas consequências poucos se arriscam a prever. O resultado aconteceu nesta tarde em um ataque frontal ao símbolo da autoridade do Estado: o Palácio do Governo, na cidade de Chilpancingo. Depois de um cerco de seis horas, o ataque, que terminou sem feridos mas com uma das salas de trabalho centrais incendiada e dezenas de janelas quebradas, confirma a escalada de violência que as autoridades temiam desde o início da crise.
Os contínuos chamados por calma lançados pelo governador, Ángel Aguirre, e suas declarações fora de hora de que os cadáveres encontrados nas valas comuns não correspondiam aos normalistas desaparecidos de nada adiantaram.A incapacidade do Governo de identificar rapidamente os corpos ou de dar uma resposta clara e inequívoca a um enigma que provoca o sofrimento dos pais e colegas dos estudantes há mais de duas semanas, levou a “panela de pressão” a estourar.
Chilpancingo, a capital do Estado de Guerreiro, foi testemunha dessa explosão. Ali, ao meio-dia, cerca de 500 normalistas, acompanhados de alguns padres, estenderam correntes em volta do Palácio do Governo e exigiram um encontro com o governador. Frustrado esse pedido, e depois de serem despejados do prédio com alguns incidentes, a violência se intensificou: os estudantes começaram a atirar pedras e foguetes, depois atearam fogo a carros e, no fim, invadiram algumas salas de trabalho, onde derramaram gasolina e depois puseram fogo. Um dos sete prédios do complexo oficial, correspondente à Secretaria do Governo (do Interior), foi destruído pelo incêndio. Quinhentos agentes da polícia antimotim acompanharam o ataque desde longe. Ao anoitecer, concluída a vingança, os estudantes foram embora em seus ônibus. Em seus movimentos, tiveram o apoio da Coordenadora Estadual de Trabalhadores da Educação de Guerrero e, após o ataque ao Palácio do Governo, atacaram a prefeitura de Chilpancingo. Os bombeiros apagaram o fogo poucas horas depois.
As autoridades temem a possibilidade de novos ataques. Os normalistas formam uma estrutura altamente organizada. De ideologia radical, durante décadas foram fonte de recrutas das guerrilhas do sul. A morte de seus companheiros em Iguala às mãos da polícia municipal e dos pistoleiros do cartel de Guerreiros Unidos, assim como o desaparecimento de outros 43, os mobilizaram como não acontecia havia anos. Nas últimas semanas, enquanto acompanhavam os pais das vítimas nas tarefas de busca, suas “ações” não passaram de montar barreiras em estradas e tomar postos de pedágio. Agora escalaram na escolha dos objetivos.
O alvo escolhido pelos normalistas, o Palácio do Governo, representa para eles a soma dos males que acometem o Estado de Guerrero. Os estudantes acusam o governador, se não de conivência com o narcotráfico, pelo menos de leniência no combate aos traficantes. O governador Aguirre, conhecido como o Cacique de la Costa Chica, representa como ninguém o modo como certos políticos se aferram a seus cargos. Durante 30 anos militou no PRI, onde, como senador, deputado federal e até governador interino, desfrutou das mordomias do poder. Mas a decisão do PRI de descartá-lo como candidato nas eleições de 2011 o levou a passar para o PRD (de esquerda), com todo seu cortejo. Um salto do qual ele saiu vencedor, demonstrando seu enorme conhecimento do terreno político local. Desde então, a deterioração acelerada vivida por Guerrero, o Estado mais violento do México, onde o narcotráfico impôs sua lei, erodiu sua figura profundamente. O massacre de Iguala levou essa degradação ao extremo.
Consciente de que está sentado sobre um barril de pólvora que qualquer palavra ou gesto pode fazer explodir, o próprio Aguirre se manteve em silêncio. Ele deixou a resposta oficial aos incidentes a cargo do secretário do Governo, Jesús Martínez Garnelo, que mostrou atitude conciliadora em relação aos normalistas, insistindo que a prioridade é localizar os desaparecidos.
Diante da possibilidade de que ocorram incidentes novos e maiores hoje, devido à chegada de milhares de normalistas de Michoacán, o Governo estadual distribuiu a tropa antimotim por toda a capital de Guerrero.

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