quinta-feira, 15 de maio de 2014

Marina Silva "fundamentalismo enrustido, hesitante, disfarçado em secularismo, direitos humanos e vocabulário da esquerda"

Deu no Estadão. «Na semana do Orgulho Gay, a pré-candidata do PV à Presidência, Marina Silva, declarou ter opinião “não favorável” ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. “O casamento é uma instituição entre pessoas de sexos diferentes, uma instituição que foi pensada há milhares de anos para essa finalidade”, afirmou em entrevista ao site UOL»
Sinhá Marina deveria fazer a gentileza de explicar as bases antropológicas de tão desparafusadas certezas. O casamento teria sido "pensado" como algo reservado para pares heterossexuais por quem exatamente? "Milhares de anos" remonta a quando? Quantos modelos de sociedade e tipos de relações de parentesco terá Marina resenhado antes de chegar a tão densa conclusão? Por que Lévy-Strauss, em Estruturas Elementares do Parentesco, chegou à conclusão de que noves fora o incesto há casamento e acasalamentos de tudo quanto é formato na sociedade humana? Será que o estúpido belga foi agora superado pela nossa sábia e catarina Marina?
Na verdade, Marina apoia toda a sua pujante certeza numa interpretação literal da Bíblia. A fonte da sua convicção é a mesma de Sarah Palin, Feliciano, Malafaia, Marisa Lobo ou de qualquer leitor elementar da Bíblia: o Antigo Testamento. A diferença entre Marina e este grupo acima é a honestidade. Destes, não dela. Ao menos os fundamentalistas cristãos brasileiros não hesitam em dizer que derivam da Bíblia todas as suas certezas. Marina, não. Sustenta um fundamentalismo enrustido, hesitante, disfarçado em secularismo, direitos humanos e vocabulário da esquerda. Não tenho problema com um pouco de hipocrisia social, meu mestre Kant até achava bom, mas me preocupa muito a hipótese de uma Vice-Presidente da República que apoia as suas convicções (e, depois, políticas públicas) na Bíblia em vez de se orientar pela Constituição e dos Direitos Fundamentais.
Gostaria muito, a este propósito, de fazer a Marina uma e apenas uma pergunta: há milhares de anos os homens vêm dominado as mulheres em todas as formas de sociedade havidas e existentes sobre a terra. Devemos derivar daí que as relações de gênero "foram pensadas há milhares de anos para esta finalidade"? Lutar pela possibilidade de mulheres e homens compartilharem o mundo de forma igualitária, então, nem pensar. Confere?

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