segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A direita saindo do Armário. Quem vai encarar? por Wilson Gomes


Como venho anotando por aqui, há meses, há uma nova direita na roda de capoeira do debate público. E tão animadinha e confiante que passa boa parte do tempo chamando a esquerda ao pé do berimbau. Pois é bem isso que faz, por exemplo, este Manifesto, do qual transcrevo abaixo uns segmentos.

"Ninguém precisa da esquerda para fazer uma sociedade ser menos terrível, basta que os políticos sejam menos corruptos (os da esquerda quase sempre foram e são), que técnicos competentes cuidem da gestão pública e que a economia seja deixada em paz, porque nós somos a economia, cada vez que saímos de casa para gerar nosso sustento.

Ela, a esquerda, constrói para si a imagem de 'humanista', de superioridade moral, e de que quem discorda dela o faz porque é mau. Ela está em pânico porque estava acostumada a dominar o debate público tido como 'inteligente' e agora está sendo obrigada a conviver com gente tão preparada quanto ela (ou mais), que leu tanto quanto ela, que escreve tanto quanto ela, que conhece os seus cacoetes intelectuais, e sua história assassina e autoritária. (...)

Mas a esquerda não detém mais o monopólio do pensamento público no Brasil. Não temos mais medo dela." (Luiz Felipe PONDÉ, na Folha de hoje).

Se você é de esquerda e sentiu fogo na venta com a provocação, pense duas vezes no que vai dizer, porque certamente há algumas verdades nos trechos acima. Sim, já houve um tempo em que ser um intelectual de esquerda (aliás, houve um tempo em que "intelectual" era um adjetivo reservado à esquerda) era bem trabalhoso: precisava-se argumentar, explicar pressupostos, fazer distinções, considerar objeções, estudar muito. O ambiente social estava longe de ser amigável e nem os valores nem os princípios de esquerda eram evidentes. A redemocratização brasileira, depois da ditadura militar promovida por um mutirão liderado pela direita fascista, significou o apagão intelectual da direita: ninguém queria assumir o legado de sangue e fracasso da ditadura, ninguém queria se apresentar como herdeiro do falido fascismo à brasileira e mesmo a direita republicana teria que explicar demais para dizer que direita e fascismo não são necessariamente a mesma coisa, isso se achasse alguém disposto a ouvi-la. A direita enrustiu e a esquerda se espalhou no novo ambiente democrático, sem predadores ou concorrentes. Hoje a esquerda (ou as esquerdas, melhor dizendo) tornou-se um bicho gordo e lento, sem reflexo, vivendo da condescendência ambiental, da autocomplacência gerada pelas igrejinhas, dogmática, intelectualmente preguiçosa e intolerante à menor contrariedade. 

Demorou trinta anos para que a direita saísse do armário e juntasse número o suficiente para chamar a atenção na arena intelectual. Por enquanto, só estão ciscando e batendo as asas em esforços de autoafirmação. Mas eu só vejo a esquerda atacando os sujeitos, não os argumentos, o que é um péssimo sinal - quem grita e ofende é porque não tem razão. E aí, vão encarar?

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