domingo, 27 de maio de 2012

Após trabalho escravo, Gregory é hostilizada no Facebook

Gregory escravo
Bianca Pyl/Repórter Brasil
Jovem cuida do filho recém nascido enquanto trabalha. O carrinho fica ao lado da máquina de costura em fornecedora da Gregory, denunciada por trabalho escravo

Internautas dizem que não querem roupas da loja “nem de graça”
Isabela Azevedo, do R7, em Brasília

Depois que 23 trabalhadores bolivianos em condição análoga à de escravo foram resgatados durante fiscalização em quatro oficinas de costura da Gregory, internautas têm postado mensagens no Facebook repudiando a marca.
Foi encontrada, por exemplo, uma jovem que mantinha o filho recém-nascido no colo amamentando enquanto costurava um vestido de renda. Além disso, os armários permaneciam trancados para que os funcionários não pudessem comer sem autorização.
Esses funcionários afirmaram que precisavam do consentimento do patrão para deixar o local de trabalho — o que nem sempre era permitido. Eles trabalhavam das 7h às 22h.
A Gregory foi autuada no último dia 15. Diante das constatações, a internauta Tati Nogueira não poupou a marca na perfil da Gregory no Facebook.
— Loja com suspeita de trabalho escravo não quero nem de graça!
A usuária do Facebook Aline Aguiar também se juntou ao coro.
— Decepção. Gregory produz lindas peças à custa da liberdade e da dignidade de trabalhadores. Isso é crime e quem consome produtos da marca está sendo conivente.

Outro lado
A Gregory postou uma mensagem na rede social para se justificar aos internautas e argumenta que foram as fornecedoras que praticavam o trabalho escravo e não a marca.
A nota informa que "a Gregory nunca teve qualquer tipo de relação com as oficinas mencionadas, não remete tecido para beneficiamento e não utiliza intermediários ou tomadores de mão de obra de qualquer espécie. A Gregory realiza operações puramente comerciais, comprando peças prontas e acabadas, produzidas exclusivamente por seus fornecedores. A empresa é contra qualquer tipo de trabalho em condições consideradas análogas à escravidão".

Trabalho escravo nas cidades
A atenção dos fiscais ao trabalho escravo em ambiente urbano tem crescido nos últimos quatro anos. Antes disso, a ação do Ministério do Trabalho estava mais focada nas áreas rurais, de acordo com o chefe da Divisão de Fiscalização para a Erradicação do Trabalho Escravo do ministério, Alexandre Lyra.
— No meio rural, a fiscalização ao trabalho escravo se desenvolve desde 1995. Já no meio urbano ela tem acontecido nos últimos anos. Não sei se, no meio urbano, o trabalho escravo tem crescido ou se a gente tem se estruturado melhor para enfrentar.
Desde 1995, mais de 42 mil trabalhadores foram libertados, segundo o Ministério do Trabalho. Ainda não há dados precisos sobre a libertação de empregados em situação análoga à de escravo em áreas urbanas. Mas, sabe-se que a construção civil é quem mais emprega pessoas nessas condições, seguida da indústria têxtil. No ano passado, o trabalho escravo em zona urbana foi muito divulgado a partir da autuação da empresa Zara. A grife de roupas espanhola mantinha fábrica com 16 trabalhadores em condição análoga à de escravo em uma fábrica na Zona Leste de São Paulo.

PEC do Trabalho Escravo
Uma das inovações da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) sobre o Trabalho Escravo, aprovada na última terça-feira (22) na Câmara dos Deputados, é a previsão de punição elevada para empregadores de trabalhadores escravos também em zonas urbanas. Segundo o texto aprovado, os empresários que empregam força de trabalho escrava, tanto em meio urbano como rural, podem ter as terras ou bens desapropriados. O deputado Valdir Colatto (PMDB-SC), membro da bancada ruralista, criticou a proposta.
— Temos que acabar com essa história de que o trabalho escravo prejudica a imagem do Brasil. Isso é uma desculpa para o governo pegar os bens dos produtores de graça.
Apesar da resistência da bancada ruralista, a proposta foi aprovada com folga. Foram 360 votos a favor, 29 contra e 25 abstenções.
O texto ainda precisa ser analisado pelos senadores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por sua opinião