terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

As marchinhas mais significativas do carnaval brasileiro

As marchinhas de carnaval são até mais tradicionais que os sambas-enredo. Principalmente se considerarmos os sambas de agora, que se tornaram um amontoado de palavras cantadas depressa com um refrão feito pra levantar as pessoas das arquibancadas (e que nem sempre levantam).
Não sei se o "Fantástico", promoverá , de novo, o festival de marchinhas que nunca serão cantadas. Não só porque as marchinhas do tal concurso são fracas, mas porque, ao que parece, acabou a "era das marchinhas". Ainda hoje, as marchinhas cantadas em festas de carnaval são as marchinhas antigas. É possível que entre as inumeráveis marchinhas carnavalescas produzidas em cerca de 70 anos (1899-1970) tenha-se produzido tantas pérolas musicais que ficou impossível criar algo melhor. Assim, a opção é cantar as velhas marchinhas, já que elas funcionam bem.
As marchinhas versavam sobre os mais diversos temas (amor, política, notícias da época, costumes...) com uma leveza e um humor que tornavam a crítica social e de costumes  absorvível por todas as camadas sociais. Uma das características próprias das boas marchinhas é se prestarem a um sem-número de versões, nas quais se encaixam letras sobre os mais diversos temas. Algumas marchinhas, no espírito politicamente correto da contemporaneidade seriam fulminadas caso fossem compostas nos dias de hoje.
Seguem as marchinhas consideradas por este modesto blogueiro como as mais significativas. Se algum dos leitores desta postagem desejar, acrescente as de seu gosto.

OH ABRE ALAS - 1899 - Chiquinha Gonzaga
Considerada a primeira música composta especificamente para uma agremiação carnavalesca (a Rosas de Ouro) a marchinha destaca-se pela simplicidade e por ser cantada ainda hoje, passados mais de cem anos desde sua composição.




O TEU CABELO NÃO NEGA- 1931 - Lamartine Babo/Irmãos Valença
Hoje, veríamos essa marchinha como uma obra preconceituosa, à época, foi sucesso e, também um dos primeiros grandes casos de plágio da música brasileira. Vender e roubar músicas era prática comum por um longo período da nossa música, fazendo a glória de muitos e a miséria de outros



MAMÃE EU QUERO- 1936 - Jararaca e Vicente Paiva  
Jararaca integrava, com Ratinho, uma conhecida dupla caipira. Isso não impediu que compusesse uma marchinha carnavalesca que, possivelmente, seja a mais conhecida de todos os tempos.


AS PASTORINHAS - 1938 - Noel Rosa e João de Barro (Braguinha)
Noel e Braguinha merecem postagens à parte, pois estão entre os mais prolíficos e criativos compositores da música brasileira. A marchinha é lenta e até melancólica, muito no estilo de Noel Rosa.


A JARDINEIRA- 1938 - Benedito Lacerda e Humberto Porto
A marchinha começa com uma história triste (a morte da camélia) para depois estourar num extravasamento de alegria pela vida e pela beleza da jardineira, que é "muito mais bonita que a camélia que morreu".


ALÁ-LÁ-Ô- 1940 - Haroldo Lobo e Nássara,
Na minha singela opinião, uma obra prima das marchinhas. Mistura um monte de coisas (Egito, muçulmanismo e carnaval) é fácil de cantar e ainda se refere a algo comum no carnaval, o calor. É a marchinha perfeita.


CACHAÇA - 1946 - Marinósio Trigueiros Filho,Lúcio de Castro, He­­ber Lobato e Mirabeau Pinheiro.
Outro caso famoso de plágio, a marchinha é o hino dos bebuns de carnaval, além de, como é comum às marchinhas, prestar-se a inúmeras versões.


Outro hino dos bebuns de carnaval, a marchinha consagra a festa como período de excessos tolerados.


Composta por três irmãos, é lembrada em qualquer época, com um refrão inesquecível. Também faz parte do "ciclo etílico" das marchinas d ecarnaval.


CABELEIRA DO ZEZÉ - 1963 João Roberto Kelly e Roberto Faissal
Podendo ser considerado politicamente incorreto, a marcha do mesmo autor de "Maria Sapatão" é cantada em todos os carnavais.


NÓS, OS CARECAS -1942- Arlindo Marques Júnior  e Roberto Roberti
Uma lição de auto-estima. Vai pra lista porque é o consolo dos calvos.


MÁSCARA NEGRA - 1967 - Zé Keti e Pereira Matos
Outro caso de música que foi parar na justiça, Máscara Negra começa com uma história triste e conclui com o apelo à alegria do carnaval. O efeito no público é visível. É a desculpa perfeita para beijar alguém.


BANDEIRA BRANCA - 1970 - Max Nunes e Laércio Alves
O último sucesso de Dalva de Oliveira e última marchinha carnavalesca de sucesso. Música triste na melodia e na letra, é estranho que tenha virado sucesso no carnaval. Pode ser considerada a despedida das marchinhas carnavalescas.

Taí (Pra Você Gostar de Mim) - 1930 - Joubert de Carvalho
Foi a primeira marchinha gravada por Carmen Miranda. A idéia de Joubert é que a música fosse uma marcha canção, não tendo finalidade carnavalesca. Foi gravada pela Orchestra Victor, sob regência de Pixinguinha, na Victor em 27 de Janeiro de 1930.
Nos registros da gravação vem como Marcha Carnavalesca. Entre o encontro de Joubert e Carmen e a data da gravação, tudo aconteceu em menos de um mês.

Um comentário:

  1. Podia falar também de Taí (pra você gostar de mim), de Joubert de Carvalho, que foi o primeiro grande sucesso na voz de Carmen Miranda

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