terça-feira, 17 de agosto de 2010

Giap Vive!

Giap em foto de Ricardo Stuckert
Por Sergio Santeiro, de Niterói  

A China aborda a riqueza mineral e ambiental do Vietnã com a mesma avidez e desprezo que os EUA sempre dedicaram aos mais fracos. Contra isso, o general Giap volta a erguer sua voz.
A um ano de completar seu centenário, Vo Nguyen Giap, o general que comandou a vitória do Vietnã sobre os invasores franceses em 1954, e depois sobre os americanos, em 1975, vê-se agora às voltas com nada menos que os chineses.
Quem nos traz a notícia publicada no jornal La Repubblica, por Raimondo Bultrini, em 19/7/2010, é Silvio Tendler que, em seu magistral filme Utopia e Barbárie, tinha já recolhido o depoimento do velho general sobre a atualidade vietnamita, como em todo o mundo exposta à escalada da sociedade de consumo de massa. Sua notável resposta, o rosto iluminado, é de que agora vivemos em paz.
Certamente nós, que apenas vivemos a pequena guerra de todos os dias, não temos como aquilatar quão significativo viver em paz representa para um povo milenar sujeito a um século de guerra contra a dominação estrangeira, e mesmo para nós, como para eles a paz é tudo.
E, no entanto, lá como aqui, as novas formas da dominação insinuam-se travestidas na velha fantasia do progresso, não importa a que preço. Pois não é que ergue-se de novo como necessária sua voz contra a política do governo vietnamita, que submete a proteção das montanhas e rios de sua terra aos interesses econômicos em aliança com a China, a segunda maior potência do mundo, em vias de tornar-se a primeira, assim que os Estados Unidos sucumbirem ao desastre de si mesmos.
O governo autorizou a exploração da bauxita, de que se extrai o alumínio, em conjunto com empresas chinesas, o que não o fazem em território chinês fechadas 100 minas por medo das graves sequelas ambientais.
Disse o general: “É meu parecer que nós não devemos explorar a bauxita, sua extração irá causar consequências graves ao ambiente, à sociedade e à defesa nacional”. A despeito do que, o governo firmou um contrato com a gigante chinesa do alumínio Chinalco, para sua plena implantação até 2012, considerada a bauxita de que o Vietnã é o terceiro produtor mundial como uma de suas principais riquezas econômicas.
Lá administrarão em joint ventures os canteiros das minas na província nórdica de Cao Bang, uma encantadora cascata de montanhas e colinas cultivadas, justamente na fronteira com a China. Cao Bang faz parte também da memória histórica do país, teatro de algumas das mais extraordinárias vitórias do jovem Giap contra os franceses e, ainda antes, refúgio e quartel general de Ho Chi Minh, às vésperas da revolução antijaponesa de 1945.
Acrescenta o jornalista: é uma pena que as águas de rios importantes como o Ba e o Serepok sejam contaminadas pelos agentes químicos e tóxicos derivados da exploração em uma região habitada pelo maior número de etnias indígenas não vietnamitas, tradicionalmente deixadas para trás pelo desenvolvimento, que já coloca o Vietnã entre as economias mais fortes da Ásia, com 5,3% de crescimento anual.
Quer a China tratar o Vietnã como fazem conosco os Estados Unidos. É, sem dúvida, um feito extraordinário alimentar e manter a coesão de um bilhão e meio de seus habitantes. Mas precisava fazê-lo à custa de seu mais frágil vizinho? Não por acaso a vanguarda da esquerda no mundo e também entre nós incorporou como importante frente de luta a questão ambiental. Não há como sobreviver em paz em terra devastada, não mais pela guerra, mas pelo tal progresso a qualquer preço. Afinal, o preço somos nós ou os eventuais, em os havendo, sobreviventes.
Fonte: ViaPolítica
Leia o artigo original de Raimondo Bultrini, em La Reppublica

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