sexta-feira, 16 de maio de 2014

“Fico triste ao ver artistas brasileiros, meus colegas, tão mal informados.Jorge Furtado

Imagino que, com suas agendas cheias, não tenham muito tempo para procurar diferentes fontes para a mesma informação, tempo para ouvir e ler outras versões dos acontecimentos, isso antes de falar sobre eles em entrevistas, amplificando equívocos com leituras rasas e impressionistas das manchetes de telejornais e revistas ou, pior, reproduzindo comentários de colunistas que escrevem suas manchetes em caixa alta, seguidas de ponto de exclamação.
Fico triste ao ler artistas dizendo que não dá mais para viver no Brasil, como se as coisas estivessem piorando, e muito, para a maioria. Dizer que não dá mais para viver no Brasil logo agora, agora que milhões de pessoas conquistaram alguns direitos mínimos, emprego, casa própria, luz elétrica, acesso às universidades e até, muitas vezes, a um prato de comida, não fica bem na boca de um artista, menos ainda de um artista popular, artista que este mesmo povo ama e admira. Em que as coisas estão piorando? E piorando para quem? Quem disse? Qual a fonte da sua informação?
Fico triste ao ouvir artistas que parecem sentir orgulho em dizer que odeiam política, que julgam as mudanças que aconteceram no Brasil nos últimos 12 anos insignificantes, ou ainda, ruins, acham que o país mudou sim, mas foi para pior. Artistas dizendo que pioramos tanto que não há mais jeito da coisa “voltar ao ‘normal ‘”, como se normal talvez fosse ter os pobres desempregados ou abrindo portas pelo salário mínimo de 60 dólares, pobres longe dos aeroportos, das lojas de automóvel e das universidades, se “normal” fosse a casa grande e a senzala, ou a ditadura militar. Quando o Brasil foi normal? Quando o Brasil foi melhor? E melhor para quem?
A mim, não enrolam. Desde que eu nasci (1959) o Brasil não foi melhor do que é que hoje. Há quem fale muito bem dos anos 50, antes da inflação explodir com a construção de Brasília, antes que o golpe civil-militar, adiado em 1954 pelo revólver de Getúlio, se desse em 1964 e nos mergulhasse na mais longa ditadura militar das américas. Pode ser, mas nos anos 50 a população era muito menor, muito mais rural e a pobreza era extrema em muitos lugares. Vivia-se bem na zona sul carioca e nos jardins paulistas, gaúchos e mineiros. No sertão, nas favelas, nos cortiços, vivia-se muito mal.
A desigualdade social brasileira continua um escândalo, a violência é um terror diário, 50 mil mortos a tiros por ano, somos campeões mundiais de assassinatos, sendo a maioria de meninos negros das periferias, nossos hospitais e escolas públicos são para lá de carentes, o Brasil nos dá motivos diários de vergonha e tristeza, quem não sabe? Mas, estamos piorando? Tem certeza? Quem lhe disse? Qual sua fonte? E piorando para quem?”
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Justiça Federal define que cultos afro-brasileiros, como a umbanda e candomblé, não são religião

Justiça Federal define que cultos afro-brasileiros, como a umbanda e candomblé, não são religião
Em: Gnoticias
A Justiça Federal no Rio de Janeiro emitiu uma sentença na qual considera que os “cultos afro-brasileiros não constituem religião” e que “manifestações religiosas não contêm traços necessários de uma religião”.
A definição aconteceu em resposta a uma ação do Ministério Público Federal (MPF) que pedia a retirada de vídeos de cultos evangélicos que foram considerados intolerantes e discriminatórios contra as práticas religiosas de matriz africana do YouTube.
O juiz responsável entendeu que, para uma crença ser considerada religião, é preciso seguir um texto base – como a Bíblia Sagrada, Torá, ou o Alcorão, por exemplo – e ter uma estrutura hierárquica, além de um deus a ser venerado.
A ação do MPF visava a retirada dos vídeos por considerar que o material continha apologia, incitação, disseminação de discursos de ódio, preconceito, intolerância e discriminação contra os praticantes de umbanda, candomblé e outras religiões afro-brasileiras. “Para se ter uma ideia dos conteúdos, em um dos vídeos, um pastor diz aos presentes que eles podem fechar os terreiros de macumba do bairro”, disse o procurador regional dos Direitos do Cidadão, Jaime Mitropoulos.
De acordo com o site Justiça em Foco, o MPF vai recorrer da decisão em primeira instância da Justiça Federal para continuar tentando remover os vídeos da plataforma de streaming do Google.
“A decisão causa perplexidade, pois ao invés de conceder a tutela jurisdicional pretendida, optou-se pela definição do que seria religião, negando os diversos diplomas internacionais que tratam da matéria (Pacto Internacional Sobre os Direitos Civis e Políticos, Pacto de São José da Costa Rica, etc.), a Constituição Federal, bem como a Lei 12.288/10. Além disso, o ato nega a história e os fatos sociais acerca da existência das religiões e das perseguições que elas sofreram ao longo da história, desconsiderando por completo a noção de que as religiões de matizes africanas estão ancoradas nos princípios da oralidade, temporalidade, senioridade, na ancestralidade, não necessitando de um texto básico para defini-las”, argumentou Mitropoulos.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Eduardo Campos abandona o posto em plena crise e vai passear em SP

DUDU DEIXA  PE EM CHAMAS !




Conversa Afiada reproduz texto de Fernando Brito, extraído do Tijolaço:

EDUARDO CAMPOS NÃO TEM NADA A VER COM O CAOS EM PERNAMBUCO?



Enquanto Eduardo Campos viajava de jatinho para São Paulo, a crise que ele deixou no colo de seu vice, João Lyra Neto, explodia nas ruas do Recife e de cidades da periferia e o do interior.

Afinal, faz apenas um mês que ele deixou, depois de quase oito anos, o Governo do Estado.

Então ficamos sabendo que a situação nas forças de segurança estaduais, sobretudo a PM, era explosiva a ponto de, mesmo com uma decisão judicial, abandonarem as ruas e criarem as condições para uma onda de saques e destruição?

Enquanto o Governo Federal mandava Exército e Força Nacional de Segurança para tentar conter a explosão de violência, não daria, pelo menos, para ele estar nas rádios e tevês locais, usando o seu propalado prestígio para acalmar a população e apelar à volta à normalidade?

Se não tinha legitimidade para fazer isso, também não tinha para soltar uma nota de autolouvação a sua administração, como fez, no meio da tarde, depois que a confusão explodiu.

Embora nada justifique que uma força armada entre em greve geral e abandone completamente a defesa da população, todos sabem que a crise da PM pernambucana é antiga e mal-resolvida.

Quando o capitão-deputado Tadeu Fernandes, do PSB de Eduardo Campos, liderou a greve dos PM da Bahia contra um governo petista, Campos não lhe fez uma palavra de censura.

Agora, quando a bomba explode no seu quintal, não dá para fingir que não é com ele.

E ainda fazer o escárnio de postar foto sorridente, no jatinho, covardemente apagada depois de seu facebook.

Marina Silva "fundamentalismo enrustido, hesitante, disfarçado em secularismo, direitos humanos e vocabulário da esquerda"

Deu no Estadão. «Na semana do Orgulho Gay, a pré-candidata do PV à Presidência, Marina Silva, declarou ter opinião “não favorável” ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. “O casamento é uma instituição entre pessoas de sexos diferentes, uma instituição que foi pensada há milhares de anos para essa finalidade”, afirmou em entrevista ao site UOL»
Sinhá Marina deveria fazer a gentileza de explicar as bases antropológicas de tão desparafusadas certezas. O casamento teria sido "pensado" como algo reservado para pares heterossexuais por quem exatamente? "Milhares de anos" remonta a quando? Quantos modelos de sociedade e tipos de relações de parentesco terá Marina resenhado antes de chegar a tão densa conclusão? Por que Lévy-Strauss, em Estruturas Elementares do Parentesco, chegou à conclusão de que noves fora o incesto há casamento e acasalamentos de tudo quanto é formato na sociedade humana? Será que o estúpido belga foi agora superado pela nossa sábia e catarina Marina?
Na verdade, Marina apoia toda a sua pujante certeza numa interpretação literal da Bíblia. A fonte da sua convicção é a mesma de Sarah Palin, Feliciano, Malafaia, Marisa Lobo ou de qualquer leitor elementar da Bíblia: o Antigo Testamento. A diferença entre Marina e este grupo acima é a honestidade. Destes, não dela. Ao menos os fundamentalistas cristãos brasileiros não hesitam em dizer que derivam da Bíblia todas as suas certezas. Marina, não. Sustenta um fundamentalismo enrustido, hesitante, disfarçado em secularismo, direitos humanos e vocabulário da esquerda. Não tenho problema com um pouco de hipocrisia social, meu mestre Kant até achava bom, mas me preocupa muito a hipótese de uma Vice-Presidente da República que apoia as suas convicções (e, depois, políticas públicas) na Bíblia em vez de se orientar pela Constituição e dos Direitos Fundamentais.
Gostaria muito, a este propósito, de fazer a Marina uma e apenas uma pergunta: há milhares de anos os homens vêm dominado as mulheres em todas as formas de sociedade havidas e existentes sobre a terra. Devemos derivar daí que as relações de gênero "foram pensadas há milhares de anos para esta finalidade"? Lutar pela possibilidade de mulheres e homens compartilharem o mundo de forma igualitária, então, nem pensar. Confere?

segunda-feira, 12 de maio de 2014

A corajosa mãe que enfrentou os nazistas ucranianos

Em: Voltaire.net
Durante una ceremonia solemne dedicada al Día de la Victoria sobre el nazismo, el gobernador de una región ucraniana pisoteó la memoria de los veteranos de la Segunda Guerra Mundial proclamando que Hitler trató de liberar a Ucrania de la esclavitud soviética. Estos son los fascistas y neonazis que gozan del respaldo de la Unión Europea y Estados Unidos. La sociedad civil ucraniana (y europea) comienza a protestar por la imbecilidad y ceguera de sus dirigentes que apoyan a estos extremistas únicamente por razones geopolíticas contra Rusia.
«Hoy recordamos cómo las personas lucharon contra los agresores que trataban de apoderarse de nuestra tierra y esclavizar al pueblo, amparándose en los lemas de la liberación de las tierras presuntamente ocupadas por Hitler», proclamó Yuri Odarchenko, gobernador de la región de Jersón, apelando a sus conocimientos de historia y a «muchos programas de televisión sobre el tema».
«Pero Hitler presentó en primer lugar las consignas de liberar a los pueblos del yugo comunista y de liberar a los pueblos del tirano Stalin», dijo Odarchenko ante los veteranos de la Gran Guerra Patria congregados para recordar a los 27 millones de soviéticos caídos en la lucha contra la Alemania nazi.
Pese a que sus palabras desataron la indignación de la multitud, que empezó a abuchearlo y a gritar «¡Vergüenza!», el político prosiguió con su versión de los hechos hasta que una joven madre con un niño en brazos se acercó a él, le arrancó el micrófono de las manos y lo arrojó al suelo.


domingo, 11 de maio de 2014

COLIGAY: ORGULHO E PRECONCEITO

08/05/2014 por  

Coligay

Pioneira ao levar a sexualidade para o meio do futebol, a Coligay é uma página do Grêmio que poucos conhecem bem. Uma história que deveria ser motivo de orgulho, mas que segue envolta em preconceito.

Por Antônio Felipe Purcino*
Fotos por Yamini Benites
Um dos principais tabus no meio do futebol é a questão da sexualidade. Nas redes sociais, termos como “viado” e “bicha” são utilizados de forma pejorativa entre os torcedores para se referir aos adversários. O jogador Richarlyson é apontado como homossexual por onde passa. No ano passado, um selinho do atacante Emerson Sheik, do Corinthians, em um amigo, gerou uma revolta intensa de parte dos torcedores do clube. Enquanto na Europa há uma inclinação maior à abertura – em janeiro, o ex-meio-campista da seleção alemã, Thomas Hitzlsperger, assumiu sua homossexualidade –, no Brasil há um silêncio quase absoluto sobre o tema. Mas o que poucos sabem é que, na década de 1970, uma torcida do Rio Grande do Sul ousou colocar a sexualidade de forma transgressora nas arquibancadas.
Domingo, 10 de abril de 1977. No Estádio Olímpico, em Porto Alegre, o Grêmio venceu o Santa Cruz por 2 a 1, em mais uma rodada do Campeonato Gaúcho. Poderia ser uma partida como qualquer outra. Entretanto, algo diferente surgiu naquele dia. E não estava dentro de campo. Vinha das arquibancadas do ainda inconcluso estádio. Um grupo de torcedores chamava a atenção. Não era uma torcida comum. Algo histórico estava nascendo: a torcida Coligay.
Antes de falarmos da Coligay, é preciso recuperar a história de Volmar Santos. Nascido em 1948, na cidade de Passo Fundo, Santos vivia em Porto Alegre em 1977. Era gerente da Boate Coliseu, referência no cenário gay, localizada na Avenida João Pessoa. Gremista “desde sempre”, ele estava incomodado com as torcidas da época. “As torcidas eram muito frias, não incentivavam como deveriam”. Em uma noite na Coliseu, decidiu criar um grupo próprio para torcer. O nome escolhido foi Coligay, remetendo à boate e a seus frequentadores.
A torcida começou com cerca de 40 pessoas. A estreia foi contra o Santa Cruz, já contando com a faixa e as características que tornariam a Coligay tão marcante: a animação dos integrantes, as danças, os cantos e figurinos incentivando o Grêmio o tempo todo. “Tínhamos a melhor charanga, comandada pelo Neri Caveira, da Imperadores do Samba”. A cada partida do clube, a Coligay estava presente “Não perdíamos um jogo. Fomos para o interior, Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo”, conta Volmar. O número de torcedores só crescia, chegando a mais de cem. E não precisava ser gay para fazer parte. O único requisito era ser gremista.
A novidade nas arquibancadas tricolores logo chamou a atenção de todos. Até a mídia do centro do país esteve em Porto Alegre para conferir o grupo, que foi tema de matéria na revista Placar. “Não tinha noção de que a torcida teria uma proporção tão grande”, diz Volmar. Inclusive, a Coligay foi convidada à partida que decidiria o Campeonato Paulista de 1977, entre Corinthians e Ponte Preta, apoiando o time da capital. O convite partiu do presidente do clube paulistano, Vicente Matheus. Dezenas de torcedores foram a São Paulo, onde acompanharam a vitória de 1×0 do Corinthians, pondo fim a um jejum de quase 23 anos sem títulos do clube.
Do lado do Internacional, alguns torcedores aproveitavam a torcida para tentar incomodar gremistas. Já outros desejavam fazer parte da Coligay. “Alguns queriam se entrosar, mas não permiti. Sugeri que criassem a Intergay ou a Inter-Flowers”, afirma Volmar, em referência à Boate Flowers, outro famoso reduto gay da capital gaúcha.
Apesar de surgir em meio a um contexto de ditadura militar, período no qual não se discutia a sexualidade, o criador da torcida garante que o grupo nunca sofreu nada grave nem foi impedido de estar nos jogos. “Nunca fomos agredidos. Sofremos algumas ameaças, mas nada aconteceu”. De parte da direção do clube, havia respeito. “Hélio Dourado [presidente do Grêmio na época] é uma pessoa fora de série. Ele sempre me recebeu e nos tratou bem”, diz Volmar. Já entre os jogadores, alguns não gostavam, outros apoiavam – como Tarciso, ex-ponteiro-direito e atualmente vereador em Porto Alegre: “Setenta por cento [dos jogadores] não gostava. Eu era muito querido pela Coligay. Fazia gol e ia lá vibrar com eles”. Volmar credita o êxito à presença de “pessoas de bem” na torcida. Tudo era feito “com muita responsabilidade”.
O sucesso da Coligay na época incentivou o surgimento de outras torcidas compostas por homossexuais no país. No Rio de Janeiro, torcedores de Flamengo e Botafogo tentaram criar a FlaGay e a FoGay. Tentativas semelhantes ocorreram entre apoiadores do Cruzeiro e Sport. Somente a Coligay resistiu, até 1983. Volmar teve que deixar Porto Alegre para voltar a Passo Fundo a fim de cuidar de sua mãe. Sem seu idealizador, a Coligay não conseguiu mais se estruturar. Após seis anos, a torcida deixava de existir. Volmar ainda reside em Passo Fundo, onde assina uma coluna social no jornal O Nacional.
Desde então, a Coligay se tornou um assunto pouco discutido, sendo hoje lembrado, na maioria das vezes, em piadas feitas por colorados contra gremistas. Para mudar esse quadro e resgatar a história da torcida, será lançado pela Editora Libretos um livro contando essa história: Coligay – Tricolores e de todas as cores, do jornalista Léo Gerchmann. Ao longo de cinco meses, Léo conversou com ex-integrantes da torcida, jogadores, dirigentes e outras fontes para trazer à luz uma história da qual pouco se fala atualmente. “O livro é sobre a Coligay, mas é também sobre diversidade. E a Coligay é uma página muito bonita da história do Grêmio”, diz Léo.

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Tarciso: “Eu era muito querido pela Coligay.

             Fazia gol e ia lá vibrar com eles”


Se na década de 1970 a torcida era vista de forma respeitosa por parte dos torcedores e também pelo próprio Grêmio, hoje ela faz parte de uma história que poucos têm coragem de relembrar. E que traz à tona o debate sobre a inserção da sexualidade no futebol.
Para Bernardo Amorim, coordenador jurídico da ONG Somos, que discute questões de sexualidade, é preciso que alguém abrace tal causa. “Seja clube, federação ou jogador, alguém tem que fazer algo para que o assunto chegue à torcida”, diz. Ele cita como exemplos a declaração do goleiro Lindegaard, do Manchester United, que declarou que “o futebol precisa de um herói gay”, além da torcida do St. Pauli, da Alemanha, que faz bandeiras contra a homofobia e todas as formas de discriminação.
Amorim considera que o Grêmio deveria reservar um espaço para falar da Coligay. “O reconhecimento é importante, pelo contexto histórico e pela coragem. Não se pode apagar isso”. Ele afirma ainda que a discussão no Rio Grande do Sul somente daria certo se fosse feita tanto pelo Grêmio como pelo Inter. “As coisas aqui não funcionam por um lado só. O ideal seria uma ação conjunta. Ninguém teria como acusar o outro”. A reportagem entrou em contato com o clube para saber qual o posicionamento oficial em relação à Coligay, mas não recebeu resposta até o fechamento.
E se a Coligay ressurgisse hoje, poderia dar certo? Volmar acredita que sim. “Com certeza, se for sério, com responsabilidade e com alguém sério na liderança”. Ele acrescenta que, se morasse em Porto Alegre, “ajudaria a Coligay a se estruturar de novo”. Amorim opina que uma nova Coligay geraria briga entre as torcidas. “Mas se um coletivo de pessoas se junta para ver o jogo, daria mídia e o clube não poderia mandar tirar. A proibição seria pior do que permitir”.
Entre todos, permanece o sentimento de que a Coligay deveria ser reconhecida como merece. Uma torcida pioneira, transgressora, que enfrentou o conservadorismo e deixou sua marca na história. Afinal, acima de suas cores, sexualidades e ideologias, todos são torcedores do Grêmio.

*Essa matéria foi vencedora do Concurso de Reportagem realizado pelo Diretório Acadêmico da Comunicação – UFRGS, no final de 2013. Uma das premiações foi a publicação junto ao Jornal Tabaré.

Wallerstein: o sentido histórico da revolta zapatista

POR 
IMMANUEL WALLERSTEIN

140406-Zapatistas
Tratada com ironia, mesmo entre certa esquerda, insurreição de 1994 abriu caminho para retomada da ação anticapitalista, quando sistema julgava-se imbatível
Por Immanuel Wallerestein | Tradução: Gabriela Leite
Em 1º de janeiro de 2014, o Exército Zapatista de Liberação Nacional (EZLN) celebrou o vigésimo aniversário de sua insurreição em Chiapas. Este ano, eles estão se envolvendo em uma auto-avaliação. Em abril, na página web do EZLN, o Enlace Zapatista, o Subcomandante Insurgente Moisés publicou um editorial sobre a “guerra contra o esquecimento”. Ele diz que em meros dezenove anos, a luta do EZLN “toreou” o sistema que oprime os povos indígenas há 520 anos.
Quais foram as realiçações do EZLN? Em que sentido, pode-se dizer que ele teve sucesso? O EZLN tem sido tratado com ironia não apenas pena direita mundial, mas também por certos grupos  da esquerda, que o acusam de ser muito irrelevante para a luta mundial contra o imperialismo e o neoliberalismo. O que eles alcançaram, perguntam os críticos? Sua trajetória teria sido mais que um show de relações públicas?
Este tipo de crítica não compreende nada sobre a insurreição. O primeiro feito dos zapatistas tem sido sobreviver contra um exército mexicano que tem se esforçado, há vinte anos, por destruí-los. A ameaça foi evitada não por proeza militar do EZLN (seu poder  não pode ser comparado à do exército mexicano), mas por sua força política — tanto internamente, entre os povos indígenas de Chiapas, quanto externamente, no resto do mundo. É essa força que limitou os danos do exército a não mais que perseguições (algumas com assassinatos) nas margens das comunidades anôminas zapatistas.
Qual foi a múltipla mensagem do EZLN, ao governo mexicano e ao mundo, em 1º de janeiro de 1994, quando começou o levante? Primeiro, estavam reivindicando a dignidade dos povos indígenas oprimidos, ao renovar a exigência de exercer o governo de suas próprias comunidades, por meio das próprias populações, coletiva e democraticamente. Em segundo lugar, estavam dizendo que não têm nenhum interesse em chegar ao poder de Estado no México, o que seria, em sua visão, simplesmente trocar um conjunto de opressores por outro. Ao invés disso, demandavam que o governo mexicano reconhecesse formal e sinceramente sua autonomia.
Em terceiro lugar, o EZLN escolheu a data porque marcava a entrada em vigor do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, em inglês). Ao escolher esta data, estavam afirmando sua rejeição ao papel imperialista dos Estados Unidos, no México e em todo o mundo. Quarto: afirmavam que, ao invés de focarem sua ação especificamente em Chiapas, apoiavam as lutas de todos os povos e classes oprimidas ao redor do mundo. Enfatizaram isso ao convocar mais tarde, em Chiapas, o que eles chamaram de reuniões intergaláticas; e ao se recusarem a excluir participantes que eram rejeitados por outros convidados. E em quinto lugar, solicitaram compartilhar estas visões com outros oprimidos no México através do Congresso Nacional Indígena.
O levante do EZLN foi o início de uma contra-ofensiva da esquerda mundial contra o avanço,  relativamente breve, da direita mundial, entre 1970 e 1994. A combinação do impacto político e econômico do Consenso de Washington e o aparente triunfo, com o colapso da União Soviética, permitiram à direita sonhar com a dominação permanente do sistema mundial. O que os zapatistas fizeram foi lembrá-los (e o mundo de esquerda) que há, sim, uma alternativa — a de um mundo relativamente democrático e relativamente igualitário.
Em 1º de janeiro de 1994, o EZLN abriu caminho para os protestos bem sucedidos que ocorreriam Seattle, em 1999; e em diversas outras cidades, na sequência — assim como para a fundação do Fórum Social Mundial (FSM) em Porto Alegre, em 2001. A luta contínua do FSM e do que agora tem sido chamado de movimento por Justiça Global, foi possível por causa do EZLN.
É claro que, como o Subcomandante Insurgente Moisés nos recorda, “não pode haver descanso; é preciso trabalhar duro”. Suponho que esta seja a mensagem definitiva do EZLN. Não pode haver descanso para qualquer um de nós que acredite que “outro mundo é possível”.

Brasil atinge menor nível de desigualdade social desde 1960

País teve forte avanço durante 2011, mas ainda assim permanece entre as 12 nações mais desiguais do mundo

Mariana Durão, da Agência Estado

RIO - O Brasil atingiu em 2012 o menor nível de desigualdade desde 1960, apesar da crise na Europa, De acordo com a pesquisa "De volta ao País do Futuro" do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (CPS/FGV), o índice de Gini - que varia de 0 a 1, sendo menos desigual mais próximo de zero -, caiu 2,1% de janeiro de 2011 a janeiro de 2012, chegando a 0,5190.

A FGV mostra que a renda familiar per capita média do brasileiro cresceu 2,7% nos 12 meses encerrados em janeiro. É o mesmo crescimento registrado de 2002 a 2008, período considerado uma era de ouro mundial, e superior ao 0% de 2009, em função da crise financeira daquele ano.A projeção da FGV é que a desigualdade continue se reduzindo ano País, levando o índice a 0,51407 em 2014. "A má notícia é que ainda somos muito desiguais e estamos entre os 12 países mais desiguais do mundo. Mas a queda de 2001 para cá é espetacular e deve continuar", afirmou Marcelo Neri, coordenador da pesquisa.

A pobreza no País também caiu entre janeiro do ano passado e janeiro deste ano: -7,9%, ritmo três vezes mais rápido do que da meta do milênio da ONU. Isso depois de uma redução de 11,7% na pobreza de maio de 2010 a maio de 2011, quando o Brasil crescia mais.
Segundo Neri, a redução da desigualdade foi fundamental para este resultado na pobreza. Ele cita que na última década a renda dos 50% mais pobres do Brasil cresceu 68%, enquanto a dos 10% mais ricos cresceu apenas 10%.