sábado, 27 de julho de 2013

O "Anonymous" não me engana: é um fascista. Onde eles estiverem, eu estou fora

Na pregação desses fascistóides, sobra para os governos, mas não há nenhuma referência ao monopólio da mídia e ao papel dos grandes capitalistas. Reproduzem um monte de lugares comuns da classe média conservadora sem apresentar qualquer alternativa concreta. Eles próprios se dizem "o povo". Quem os escolheu? Essa máscara não serve apenas para esconder apenas o rosto dessa gente. Serve para revelar um viés totalitário, antidemocrático. Um apelo "às massas", sem mediação da política; uma justificativa a todos os meios para atingir os fins que eles consideram justos. Resumindo, onde eles estiverem, eu não estarei.

Folha manipula mais uma vez


quinta-feira, 25 de julho de 2013

Jornada da Juventude arrecadou R$ 20 milhões em patrocínio

Com a expectativa de atrair 1,5 milhão de pessoas, o evento católico chamou a atenção de grandes marcas

Logo em uma loja do McDonald's
Logo em uma loja do McDonald's: a empresa é o restaurante oficial da jornadaSão Paulo - 

A Jornada Mundial da Juventude, que trouxe nesta segunda-feira o papa Francisco ao Brasil, arrecadou R$ 20 milhões em patrocínios e eventos, segundo comunicado oficial.
Com a expectativa de atrair  1,5 milhão de pessoas, a ação católica chamou a atenção de grandesmarcas. Até o momento, os patrocinadores são Bradesco, Itaú, Santander, Ferrero, Estácio, Nestlé, McDonald's e as agências Tam Viagens e Havas.
Segundo a organização, os patrocinadores participam de diferentes maneiras com investimentos em dinheiro, prestação de serviços e uso de seus produtos ligados à jornada.
Já os eventos usados para levantar fundos incluíram ações diversas como feijoada, rifas, coletas e vendas de produtos em geral.

CustosA estimativa é que o custo da jornada seja de R$320 a R$350 milhões. “O custo total da organização ainda está sendo definido e é variável em função do número final de participantes e inscritos”, informa o comunicado.

Os peregrinos, cujas contribuições variam de R$ 106 a R$ 600, arcam com 70% desse custo. Segundo comunicado, “doações espontâneas, produtos licenciados que geram royalties para o evento, patrocínios e parcerias” são outras formas de arrecadação.
A estimativa é de que mais de 20 mil empregos diretos sejam gerados com a realização do evento e que haja um impacto econômico de mais de meio bilhão de reais no Brasil.
Na Espanha, último país a receber a Jornada Mundial da Juventude, o impacto econômico foi de aproximadamente 920 milhões de reais e foram gerados 8 mil postos de trabalho, segundo informações dos organizadores
De: Exame

Nosotros, com Eydie Gorme & Trio Los Panchos

quarta-feira, 24 de julho de 2013

BARBOSA SE RECUSA A EXPLICAR OPERAÇÃO MIAMI

terça-feira, 23 de julho de 2013

Porque Cosmos e Carl Sagan mudarão sua vida

Cosmos estará de volta à televisão, desta vez com Neil deGrasse Tyson. Ela tem a oportunidade de inspirar mais uma geração com a admiração à ciência e valores céticos e humanistas.

Cosmos com Neil
Cosmos voltará à TV. Neil deGrasse Tyson estará apresentando a volta de uma das séries mais aclamadas e de maior sucesso da história da divulgação científica. Isso me deixou, e deixou várias pessoas, totalmente atônitas, e não é pra pouco.
Isso é simplesmente fantástico! Ouvimos a voz de Sagan, no começo: “O Cosmos é tudo o que é, ou sempre foi, ou sempre será. Nossa contemplação do Cosmos nos comove. Sabemos que estamos diante do maior dos mistérios”, da sua maneira sóbria, calma e apaixonante. Então vem deGrasse: é hora de irmos de novo! E aquele arrepio sobe.
Assim como a série original, essa parece usar a mais ousada tecnologia de efeitos especiais. Não se enganem: Ann Dryuan continua no roteiro, e isso é uma garantia que a qualidade continuará. Todos sabemos que Sagan não apenas divulgava a ciência, mas sim o humanismo, a tolerância e a comunhão com a natureza.


A minha geração (anos 90 em diante) não foi fisgada por Sagan. Lembro que o meu interesse pela astronomia surgiu de um dos maiores divulgadores dessa ciência: o céu noturno estrelado. Mesmo vindo de um região com um céu muito nebulado (amazônia), as luzes foscas que atravessam a atmosfera foram o suficiente para me apaixonar. Até hoje, apesar de sempre parecer o mesmo, sempre que olho pro céu, sinto-me numa meditação profunda.
O Universo, do History Channel, foi uma das primeiras séries sobre o tema que assisti, e foi ela que levantou meu interesse na astronomia, mas como um hobbie. Foi apenas quando assisti Cosmos, que vi que aquilo podia ser muito mais do que uma paixão de fim de semana, e sim uma escolha profissional.
Em tudo que tem o dedo de Sagan, suas palavras são doces e ásperas ao mesmo tempo. Ela aborda questões polêmicas de maneira não ofensiva. Seu compromisso era aliar a razão com a felicidade. Acreditava que o mundo poderia ser mudado e poderíamos rumar para um futuro onde a ciência teria o papel positivo que teve no século XX, valorizando a vida humana através da medicina, nos revelando um universo macroscópico e microscópico fascinante, e sem o papel negativo, como a construção de armas nucleares e conflitos ideológicos que aprisionaram o planeta, como na Guerra Fria.
A série Cosmos mostra a história de nossa espécie no planeta, desde o início em que éramos caçadores e coletores até uma civilização que precisa sair da infância e amadurecer. E era esse o enfoque. Uma mensagem quase espiritual para os rumos da humanidade. É esse o grande diferencial da série, diferentemente de outras que apenas jogam informações e não refletem sobre suas consequências no mundo. Um diferencial que esperamos que continue na nova série.
Tão importante quanto o ceticismo e a razão, a “espiritualidade” e o amor são aliadas de uma vida feliz e magnífica. Sagan foi um grande homem, que, sem dúvida nenhuma, viverá para sempre nos céus de nossas mentes, e terá esse grande tributo em 2014. Que muitas pessoas conheçam não só Carl Sagan e a série Cosmos, e sim toda a mensagem que ela significa.
De: Alimente o cérebro

CNBB faz manual contra aborto e adoção por gays

De: UOL
Rio - No kit distribuído aos jovens inscritos na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), além do Guia do Peregrino, foi incluído o Manual da Bioética, da Comissão Nacional da Pastoral Familiar, vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que expõe o ponto de vista da Igreja Católica em relação a vários temas controversos e reforça a posição contrária ao aborto e à adoção de crianças por casais do mesmo sexo.

O compêndio discute temas como concepção, pesquisa com embrião, reprodução assistida, diagnóstico pré-natal, doação de órgãos e eutanásia com argumentos científicos, além de religiosos. No item sobre aborto, alerta que “a expressão interrupção da gravidez mascara a realidade, ocultando a morte do principal interessado: a criança”. Desenhos das várias etapas da gestação ilustram o capítulo, que detalha os diferentes métodos de aborto.

Apesar da condenação, a publicação diz que, “depois de um aborto, a mulher deve ser amparada, pois pode estar numa grande solidão e ter um sentimento de culpa e precisará construir o seu futuro aceitando incluir aquele acontecimento”. O texto defende a preservação do feto também nos casos de estupro: “A mãe tem de ser muito bem acompanhada depois de tal traumatismo, mas matar a criança não anula o drama. É juntar um drama a outro".

No capítulo “A teoria do gênero”, o manual nega que a rejeição à adoção de uma criança por casais do mesmo sexo seja homofobia. “Não (representa homofobia), porque a questão é outra. Ter um filho não é um direito. O filho não é um bem de consumo (...) É preciso um homem e uma mulher para gerar um filho.” O manual, bastante didático, é uma “versão especial JMJ”, como diz a introdução assinada pelo arcebispo do Rio, d. Orani Tempesta, e pelo presidente da Fundação Jérôme Lejeune, Jean-Marie Le Mene. A instituição faz pesquisa e atendimento a pessoas com deficiências genéticas.
Luciana Nunes Leal

Amália Rodrigues, voz do amor e da revolução

Amália Rodrigues é uma das mais belas vozes da história humana. Essa cantora portuguesa foi incomparável no cantar o sentimento. É a grande expressão do Fado, patrimônio de Portugal e da humanidade.
Salve Amália, salve a música!
O vídeo mostra Amália cantando a música que embalou a Revolução dos Cravos, num tempo em que os artistas não tinham vergonha em assumirem posições políticas.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Amaury Ribeiro Jr. e Rodrigo Lopes informam: Globo tem bens bloqueados

O Viomundo antecipa, com exclusividade, coluna que será publicada nas próximas horas pelo jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte:
Amaury Ribeiro JR e Rodrigo Lopes
A Globopar, empresa ligada à TV Globo, está com parte de suas contas bancárias e bens bloqueados, devido a um dívida ativa de R$ 178 milhões com o Tesouro Nacional. De acordo com documentos conseguidos pelo Hoje em Dia na Justiça Federal do Rio de Janeiro, a dívida inscrita no cadastro de inadimplentes federais foi originada por várias sonegações de impostos federais.
Por solicitação da Procuradoria da Fazenda Nacional do Rio de Janeiro, as contas bancárias da Infoglobo e a da empresa Globo LTDA também chegaram a ser bloqueadas. Mas os irmãos Marinho – Roberto Irineu, José Roberto e João Roberto – conseguiram autorização da Justiça para liberar o bens dessas duas últimas empresas no mês passado, na 26ª Vara da Justiça Federal do Rio de Janeiro.
Inadimplente
A dívida da Globopar, no entanto, já está inscrita no cadastro de inadimplentes do Tesouro Nacional, em fase de execução. Na semana passada, a Globo conseguiu adiar a entrega de seu patrimônio ao tesouro até que o processo transite em julgado.
O Hoje em Dia também teve acesso ao processo que apurou o sumiço do inquérito de sonegação da Organizações Globo na compra dos direitos da transmissão da Copa de 2002.
Receita Federal
Um documento enviado pela Receita à Justiça em 2010 comprova, ao contrário do que a emissora divulgou, que a dívida de R$ 600 milhões nunca foi paga. A papelada comprova ainda que o Ministério Público Federal ao ser avisado sobre operações de lavagem de dinheiro entre a Globo e a Fifa nas Ilhas Virgens Britânicas prevaricou muito.
Omissão
Ao invés de solicitar investigação à Polícia Federal, preferiu emitir um parecer que atesta não ter ocorrido nenhum ato ilícito nas transações nas Ilhas Virgens. Um inquérito criminal contra os irmãos Marinho chegou a ser instaurado, mas também sumiu das dependências da Receita Federal.
Não bastasse toda essa confusão, a Globopar continua sonegando. E como nunca. Nos últimos dois anos, a empresa foi notificada 776 vezes pela Receita Federal por sonegação fiscal.

Equipamentos
A maior parte dessas autuações envolve a apreensão de equipamentos, sem o recolhimento de impostos, no aeroporto do Galeão, no Rio De Janeiro. Para um bom entendedor a Globopar é uma empresa contumaz na prática do descaminho.
Verba publicitária
O ministério da Comunicação do governo Dilma Rousseff e os demais governantes desatentos liberaram verba para empresa inadimplente com a União, o que constitui-se ato de improbidade administrativa. A liberação pode ser comprovada no site do Ministério da Fazenda.

Diários de Che Guevara viram patrimônio mundial da Unesco


Parte dos manuscritos de Che Guevara, em foto de arquivo de 2008 (Foto: AP)
Parte dos manuscritos de Che Guevara, em foto de arquivo de 2008 (Foto: AP)
A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) decidiu incluir os manuscritos de Ernesto "Che" Guevara no Registro Memória do Registro Mundial, um projeto que reúne e protege quase 300 documentos e coleções de todos os cinco continentes.                   
Em cerimônia realizada em Havana, Cuba, na sexta-feira (19), com a presença da viúva, da filha e do filho de Che Guevara, a Unesco oficializou a inclusão dos diários de juventude e outros escritos originais do líder da Revolução Cubana.Entre os documentos está o diário que ele manteve nas montanhas da Bolívia, onde ele foi executado, em 1967, por militares bolivianos.As obras de Che Guevara estão entre as 54 novas inclusões do Projeto Memória do Registro Mundial neste ano. O projeto foi criado em 1997 e inclui registros como discos originais da música de Carlos Gardel até as listas de ouro dos exames imperiais da dinastia Qing chinesa.Agora que foram reconhecidos como patrimônio mundial, os diários serão protegidos e cuidados com a ajuda da Unesco.

De: CBN

domingo, 21 de julho de 2013

Na encruzilhada brasileira, a Reforma Tributária

 

Ladislau Dowbor sustenta: país exige mudanças, mas para fazê-las é preciso redistribuir riqueza. Herança da ditadura, impostos atuais são injustos e bloqueiam direitos 
Entrevista a Gilson Camargo, do Extra-Classe
Um certo clima de impasse marca a cena brasileira, depois da grande onda de manifestações em junho. Qual será o próximo lance? Mídia e conservadores, ávidos por capturar os protestos, constroem uma narrativa primária, porém relativamente eficaz. Tem dois eixos: “a culpa é do governo, incompetente; será preciso apertar os cintos”. Tal simplismo, presente em toda a cobertura midiática, é duplamente funcional. Volta o foco do descontentamento contra um projeto político que a maior parte das elites não aceita; e, em especial, evita que a luta por direitos, ainda difusa, evolua para o perigoso questionamento da desigualdade.
Mas e entre os que fomos às ruas para exigir cidades habitáveis, um país menos injusto e uma nova democracia? Quais os próximos passos, após a redução das tarifas de ônibus? Que propostas são capazes de sensibilizar novamente a multidão? Como criar uma alternativa ao discurso conservador? Na busca de respostas, vale considerar o que sugere Ladislau Dowbor, um economista com vasta experiência em temas como redistribuição de riquezas e formas colaborativas de produção. Ele quer recolocar na pauta nacional o tema da Reforma Tributária. Seu raciocínio é claro: não há mágicas, na vida pública; para conquistar direitos, é preciso enfrentar privilégios; só se abre espaço para o Comum impedindo que poucos se apropriem da riqueza produzida por todos.
Ladislau constrói esta trilha com base em informação relevante e capaz de mobilizar. Ele lembra que o país ainda vive sob o sistema tributário construído pela ditadura militar em 1966. Sua característica essencial é concentrar riquezas. Ele isenta de impostos as fortunas e as grandes empresas. Fecha os olhos à sonegação e ao ocultamento de dinheiro nos centros “off-shore”. Concentra a carga tributária sobre os salários e o consumo. Como resultado, priva o Estado brasileiro dos recursos necessários a expandir direitos sociais. 
O professor não se limita à crítica. Em entrevista concedida a Gilson Camargo, do valoroso jornal sindical Extra-Classe, ele elenca quatro caminhos para a Reforma Tributária. São facilmente compreensíveis e sensibilizadores. Os ricos devem pagar impostos. Os tributos precisam incidir principalmente sobre a renda (concentrando as contribuições sobre quem podem oferecê-las) e não sobre o consumo (porque neste caso, pobres pagam as mesmas alíquotas dos milionários). As atividades financeiras não podem ficar isentas. Além de arrecadar, a tributação deve, complementarmente, inibir atividades pouco desejáveis, como as que geram emissões de CO² ou produzem lixo desnecessário.
Para abraçar a Reforma Tributária, alerta Ladislau, é necessário superar um mito interesseiro. Mídia e elites alegam que “a carga tributária brasileira é altíssima” e tratam como inaceitável qualquer proposta que implique mais impostos. Vencer este tabu exige esforço. É preciso contestar dogmas com fatos. Vale muito associar tributação com justiça social e direitos. Impostos progressivos nas cidades podem, por exemplo, transformar o sistema de mobilidade urbana e ou assegurar tarifa zero. 
DSC_6139-tnO Brasil vive um momento raro. Centenas de milhares de pessoas, que foram às ruas, estão dispostas a examinar criticamente a sociedade em que vivem. Podem ir além dos discursos tolos — mas para tanto, é preciso abrir com elas diálogos estimulantes. Segue a entrevista em que Ladislau expõe, em detalhes, suas ideias. (A.M.) 
 

A aprovação do Código Tributário Nacional, em 1966, foi a última alteração no sistema de arrecadação de impostos do país. Quase meio século depois, quais são os re flexos dessa reforma?
Ladislau Dowbor – O código de 1966 é aprovado como parte de um conjunto de medidas que consolida a concentração de renda no país. Trata- -se da mesma lógica do arrocho salarial promovido com o golpe de 1964. Durante os anos 1950, expandem-se no Brasil as empresas multinacionais, com particular importância do automóvel. No país pobre da época havia a opção de reformas de base, com aumento do salário mínimo e reforma agrária, o que expandiria o mercado interno popular. E havia a opção inversa, de concentração maior ainda da renda. A primeira opção geraria mais mercado de bens populares, ou bens-salário. A segunda geraria maior mercado de luxo, expandindo a classe média e o consumo do tipo apartamento/carro/ eletrodomésticos. Esta última foi a opção imposta, e a lógica da reforma tributária foi de desonerar as classes abastadas para que pudessem comprar os produtos so fisticados produzidos pelas multinacionais. Com isso, os instrumentos distributivos da tributação, como uma elevada alíquota de Imposto de Renda, bem como impostos sobre a fortuna, sobre herança e sobre a terra foram ignorados em proveito de tributos indiretos embutidos no preço dos bens que compramos. De finiu-se assim a principal característica do sistema tributário nacional, que permanece até hoje, que é dos pobres pagarem proporcionalmente mais impostos do que os ricos, e de se abandonar a visão redistributiva dos impostos, que foi, por exemplo, o fator principal do sucesso do modelo de desenvolvimento europeu.
Por que é difícil promover nova reforma tributária? Que interesses estão em jogo e qual a relação dessa agenda com o sistema político-partidário?
A dificuldade maior reside no modelo de financiamento das campanhas políticas. Uma das heranças mais pesadas da era FHC foi a autorização, a partir de 1997, do financiamento corporativo das campanhas. Isso elevou fortemente os custos de uma eleição. Em texto recente, Alceu Castilho (jornalista, autor do livro Partido da Terra, Ed. Contexto, que revela o percentual do território brasileiro que está nas mãos de políticos) a firma que existe uma bancada da Friboi no Congresso, com 41 deputados federais eleitos e sete senadores. Dos 41 deputados financiados pela empresa, só um, o gaúcho Vieira da Cunha, votou contra as mudanças no Código Florestal. O próprio relator do Código, Paulo Piau, recebeu R$ 1,25 milhão de agropecuárias, de um total de doações para a sua campanha, que foi de R$ 2,3 milhões. A conclusão a que Castilho chega é que a Friboi não patrocinou essas campanhas para que eles votassem contra os interesses da empresa, que evidentemente é a favor das mudanças no Código Florestal, pois a plantação de soja empurra os rebanhos de gado para o Norte, para a Amazônia, o que interessa à empresa. Ou seja, com o financiamento corporativo, temos uma bancada ruralista, da grande mídia, das montadoras, dos grandes bancos, das empreiteiras, e temos de ficar à procura de uma bancada do cidadão. Esta deformação maior do próprio núcleo de aprovação das leis torna difícil, na atual composição do Congresso, e enquanto não se instituir o financiamento público e controlado das eleições, fazer qualquer modificação tributária que seja do interesse da população em geral.
Quais diretrizes devem orientar uma reforma tributária voltada para os interesses da sociedade e para os princípios da justiça tributária?
As diretrizes de uma reforma decente são bastante claras. O objetivo geral é de se assegurar que o dinheiro público seja utilizado de maneira produtiva, estimulando as atividades que promovem o desenvolvimento equilibrado, e taxando as que são mais prejudiciais. Nesse sentido busca- se desonerar as atividades que geram emprego, por exemplo, e a folha de pagamento em geral. Mas também se trata de taxar as atividades especulativas financeiras. O melhor imposto que havia no Brasil, a CPMF, taxava essencialmente as movimentações financeiras dos grandes intermediários, era simples de cobrar e favorecia o financiamento da saúde pública, tendo, portanto um impacto redistributivo. Outro princípio é de se assegurar um peso maior aos impostos diretos progressivos, como o IR com alíquota parecida com as dos EUA e Europa, reduzindo- se o peso relativo dos impostos indiretos (sobre bens de consumo), que oneram proporcionalmente mais os pobres. Um terceiro princípio está ligado à tributação sobre a riqueza familiar acumulada como, por exemplo, o imposto sobre a fortuna na França, que é pago pelos muito ricos e permite financiar o RMI, renda mínima dos mais pobres. Um quarto princípio consiste em tributar as chamadas externalidades negativas. Uma empresa que emite dióxido de carbono está gerando impactos climáticos, poluindo o meio ambiente e gerando doenças, mas não paga pelas emissões. Na Austrália, por exemplo, as maiores empresas pagam uma taxa fixa por cada tonelada de dióxido de carbono que emitem, o que as estimula a instalar filtros e a pesquisar formas mais limpas de produção.
Como explicar, para não iniciados, por que o país precisa da reforma?
De forma geral, transita pelo governo um terço do PIB do país, hoje 34% da totalidade da produção de bens e serviços. Essa carga tributária é moderada e há uma correlação rigorosa entre o tamanho do imposto e o nível de desenvolvimento: quanto mais pobre o país, menor a carga tributária, piores são os serviços públicos, o que por sua vez trava o desenvolvimento. Sai mais barato para a população ter um sistema público de transporte de massa do que ter de tirar diariamente o carro da garagem e enfrentar os engarrafamentos. Nos Estados Unidos, gasta-se US$ 7,3 mil por pessoa por ano com saúde, dominantemente com gastos privados, e resultados pífios, enquanto no Canadá vizinho, onde se gasta cerca de US$ 3,2 mil com sistema público, os resultados são incomparavelmente melhores. Assim, produzir meias e bonecas Barbie é muito mais produtivo com um sistema empresarial privado, mas saúde, educação, cultura, segurança e outros serviços essenciais para a nossa qualidade de vida funcionam melhor e tornam-se mais baratos para todos quando são assegurados com sistemas públicos, como é o caso na Inglaterra, na França e em outros países que avançaram na qualidade de vida. O mais produtivo é gerar um esforço de informação para a população. Os grupos mais ricos, que não querem mexer no imposto, colocam por toda parte os “impostômetros”, mas não vemos em nenhum lugar um “lucrômetro”. Temos pela frente um grande esforço didático, no sentido de se mostrar que não se trata do tamanho do imposto, mas sim de quem paga, sobre que atividades, e com que uso final dos recursos.
É viável alterar o sistema tributário sem promover reformas em outros setores?
Uma condição necessária para a reforma tributária é a difusão de informação honesta sobre como funciona o sistema atual, e porque ele favorece os mais ricos e frequentemente os menos produtivos. O objetivo é o que se chama normalmente de qualidade do imposto. Com a mídia que temos, hoje controlada por um oligopólio de quatro grupos, a informação é sistematicamente deformada. Por exemplo, quando foi abolida a CPMF, a revista Veja apresentou uma capa de um leão com boné de Papai Noel dizendo que o fisco estava devolvendo R$ 80 bilhões à população. Evidentemente, não se tratava de devolução nenhuma e sim da desoneração dos grandes bancos, que deixariam de pagar o imposto que incidia essencialmente sobre transações financeiras.
A lavagem de dinheiro é uma variável a ser combatida antes da reforma tributária?
Sim. Outro eixo de iniciativas paralelas à reforma tributária tem a ver com o controle dos recursos ilegais. Com a crise financeira mundial gerou-se um conjunto de atividades de busca de reforma institucional do sistema de intermediação, em particular dos grandes bancos. Os primeiros resultados mostram que o estoque de dinheiro ilegal, fruto de evasão fiscal, lavagem de dinheiro de drogas, de comércio ilegal de armas e de diversas formas de corrupção, é da ordem de US$ 21 trilhões a US$ 32 trilhões de dólares, equivalente a algo entre um terço e metade do PIB mundial, sob controle e gestão dominante de bancos americanos e britânicos, além dos tradicionais Suíça e Luxemburgo. Os dados levantados na pesquisa do Tax Justice Network mostram que se trata, no caso do Brasil, de um provável volume de US$ 520 bilhões, ou seja, cerca de 25% do PIB brasileiro.
Qual o custo para a sociedade e como combater essa subeconomia criada pelo sistema bancário para se proteger?
Essa ilegalidade e fraudes por parte dos grandes bancos internacionais, que em nome de preservar a privacidade dos seus clientes asseguram fluxos seguros e secretos de dinheiro ilegal, penalizam os pagadores honestos, em particular os assalariados cujos rendimentos são declarados pelos empregadores, e desoneram as grandes fortunas, e em particular os intermediários financeiros. Um elemento muito positivo nesse quadro de gradual construção de um marco regulatório e de busca de soluções mais adequadas é a aprovação em maio de 2012 da Lei da Transparência, que obriga todas as entidades públicas a produzir as informações sobre todas as suas atividades. É um primeiro passo importantíssimo, que deve melhorar muito a redução do sistema de corrupção, mas falta evidentemente evoluir para sistemas transparentes no setor privado, em particular na linha da “disclosure” hoje demandada por diversos governos, para que a população, ou pelo menos os bancos centrais, saibam qual é o grau de desequilíbrio financeiro que os grandes bancos estão gerando.
O senhor tem reafirmado que o país precisa sair da atual estrutura tributária regressiva – que, ao invés de captar dos mais ricos para repassar aos mais pobres na forma de serviços e assim dinamizar o conjunto da economia, cobra mais imposto dos assalariados – e adotar um sistema distributivo. O que isso significa?
A deformação do nosso sistema torna-se aparente ao compararmos os impactos do imposto sobre o coeficiente Gini, que mede a desigualdade de renda. O resultado final é a fragilidade financeira do Estado e a dificuldade de exercer uma política redistributiva. O contraste com os países desenvolvidos é evidente. Enquanto na União Europeia, depois dos impostos, o coeficiente Gini melhora em 32,6%, na média da América Latina melhora em apenas 3,8%, o que com o nível de desigualdade existente, é particularmente grave. A mesma deformação se apresenta, com algumas variações, para os diversos países da região. Acrescente-se que o sistema financeiro comercial não cumpre as suas funções de fomento. A financeirização das atividades econômicas levou à generalização das atividades especulativas e do rentismo, com particular gravidade no caso do Brasil. Com a fragilidade das finanças públicas, o desvio do uso das poupanças privadas pelo sistema bancário comercial, e a passividade dos bancos centrais na regulação do sistema de intermediação financeira – a herança do princípio da “autonomia do Banco Central” – orientar os recursos em função das necessidades do desenvolvimento torna- -se um dos principais eixos de enfrentamento.
Como reverter a relação entre a tributação regressiva e a desigualdade social, que é uma característica de grande parte das economias latino-americanas?
Após a aprovação de cláusulas mais democráticas nas leis dos países latino-americanos, a exemplo da reação pendular aos desmandos das ditaduras militares, o embate mais forte está se dando em torno da inevitável reforma tributária. Ter políticas tributárias regressivas na região mais desigual do planeta é particularmente absurdo e explica, inclusive, a persistência da própria desigualdade. Na América Latina, o imposto direto (em particular o imposto de renda que melhor permite progressividade segundo a riqueza e a renda) é da ordem de 5,6%, quando representa 15,3% nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Não é surpreendente que a pobreza dos países coincida com a baixa participação dos impostos diretos: é resultado do poder dos mais ricos de impedir a tributação que poderia visa-los. É de se notar também a fragilidade da carga da seguridade social nos países mais pobres, ainda que constantemente denunciada como excessiva na mídia conservadora. O resumo da questão é simples: os privilegiados querem guardar os seus privilégios, ainda que a sua manutenção trave o desenvolvimento do conjunto. A tributação, no entanto, é essencial à continuidade das políticas sociais.
A reforma tributária implica mudança na distribuição de renda e no modelo de desenvolvimento do país, em renúncia fiscal e impactos na Previdência. Como equacionar isso?
O Brasil instituiu desde 2003 uma política de sistemática redistribuição de renda. É um gigantesco avanço, com cerca de 40 milhões de pessoas tiradas da miséria, dinamização do consumo na base da sociedade, o que por sua vez reativou a economia e gerou mais de 15 milhões de empregos formais, criando uma dinâmica qualificada de círculo virtuoso. No entanto, com cerca de 15% dos recursos do Estado sendo diretamente redistribuídos para a sociedade sob forma de previdência, bolsa-família e outros mecanismos, a carga tributária líquida disponível para o Estado situa-se em torno de 21% do PIB, o que é relativamente limitado para um conjunto de atividades, em particular de fornecimento de serviços sociais públicos e de investimento em infraestruturas. É importante notar que uma tributação mais sólida das atividades de especulação financeira obrigaria os capitais parados em atividades rentistas a buscar aplicações produtivas na economia, o que tenderia a estimular mais as atividades. Voltamos sempre ao mesmo princípio básico, de se tributar melhor os mais ricos, os rentistas financeiros que ganham sem produzir, os recursos acumulados em paraísos fiscais, para orientar esses recursos para reforçar as políticas redistributivas.
Entrevista publicado originalmente na revista Extra Classe

Obra do Santander é flagrada com trabalho escravo

Banco, no entanto, não foi responsabilizado. Esse foi o terceiro caso de infrações trabalhistas na mesma construção, localizada em Campinas (SP)
Por Stefano Wrobleski, em Repórter Brasil
Vinte e sete trabalhadores foram resgatados em condições análogas às de escravo nas obras de um data center do banco Santander em Campinas, no interior de São Paulo. O flagrante aconteceu em março, mas o relatório da fiscalização só foi finalizado esta semana. O documento do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) reúne as medidas tomadas contra a construtora Machado & Machado, uma das empresas contratadas pelo banco que empregava as vítimas.

Trabalhadores foram resgatados da obra do data center do Santander (Foto: Fernanda Forato)
Trabalhadores foram resgatados da obra do data center do Santander (Foto: Fernanda Forato)
A fiscalização encontrou os funcionários da Machado & Machado em condições degradantes de trabalho, o que caracterizou a escravidão. Dentre as infrações, os empregados eram submetidos a jornadas extensivas, com a realização diária de até oito horas extras acima das oito permitidas pela legislação, além de longos períodos sem descanso semanal. Um dos resgatados chegou a trabalhar por trinta dias sem folga.
 
De acordo com Nei Messias Vieira, procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT) que acompanhou a operação, os salários eram atrasados com frequência e só eram pagos depois que a construtora recebia do Santander, o que ocorria até o quinto dia útil de cada mês. “Isso é comum na construção civil. A subcontratação é tão excessiva que chega a empresas de porte tão pequeno que, por isso, não têm capital de giro”, disse. Segundo Djalma Pirillo, advogado da Machado & Machado, esse foi o primeiro contrato da empresa de “valor expressivo e de longa duração”. “A maioria das obras é de curta duração, com serviços iniciados no começo do dia e concluídos no final da tarde”, declarou.
De acordo com o auditor fiscal do trabalho João Batista Amâncio, que participou da operação, o canteiro de obras do data center tinha uma área de mais de um milhão de metros quadrados, com diversos prédios em construção, e contava com mais de 700 trabalhadores contratados por “dezenas” de empresas: “Para se ter uma ideia, só uma das empresas contratadas pelo Santander havia subcontratado outras dez empresas”.
Outra infração da Machado & Machado, que atingiu ao menos dez pessoas, foi a retenção de carteiras de trabalho por mais de 48 horas, tempo máximo permitido por lei para anotações pelo empregador. Em alguns casos, os empregados já haviam sido demitidos há mais de uma semana e só tiveram seus documentos devolvidos quando a fiscalização chegou ao local.
 
 
Lixo em alojamento de obra do data center do Santander, em Campinas (SP). Foto: MPT
Alojamento estava em péssimo estado de higiene (Foto: MPT)
Alojamento degradante
Entre os resgatados, doze trabalhadores eram de outros estados e dormiam em alojamento que estava em estado precário de manutenção, o que agravou as condições degradantes de trabalho. Segundo a fiscalização, o local não possuía água filtrada e estava em péssimo estado de conservação e higiene, com todos os cômodos, incluindo a cozinha, sendo usados como quartos. Além disso, era constante a presença de porcos e cabras no alojamento, que entravam para se alimentar dos restos de comida. Segundo o procurador, o MPT já havia recebido denúncias sobre irregularidades em alojamentos de outras empresas da obra, mas a fiscalização foi concentrada na Machado & Machado “porque as denúncias mais recentes apontavam para ela”. Ainda de acordo com Nei, queixas contra as demais construtoras não puderam ser apuradas pela falta de auditores fiscais e procuradores do trabalho que afeta a região.
Logo depois da fiscalização, a Machado & Machado assinou um Termo de Ajuste de Conduta com o MPT se comprometendo a cumprir a legislação trabalhista e pagou todas as verbas rescisórias, que chegaram a R$ 73 mil. Quanto aos autos de infração requeridos pelo MTE, o advogado da empresa alega que “a maioria das acusações não tem procedimento” e está questionando-as na Justiça.
De acordo com o auditor fiscal, o Santander não foi responsabilizado pelos trabalhadores em condições análogas às de escravo porque “não havia nenhuma infração que justificasse [a responsabilização] do ponto de vista legal, ainda que a contratação seja moralmente condenável”. Em nota, o banco afirma que “não tolera o desrespeito às boas e necessárias práticas corporativas pelas quais todas as organizações estão obrigadas a zelar”. “Para garantir o cumprimento das normas legais, o banco contratou uma empresa especializada em segurança do trabalho, intensificou as vistorias aos alojamentos utilizados pelas fornecedoras e aumentou a frequência dos treinamentos e palestras de esclarecimento e orientação quanto à segurança e ao cumprimento de normas”, declarou. A obra foi concluída em maio.
Essa foi a terceira vez que irregularidades trabalhistas foram flagradas pelos auditores fiscais. Da última, em fevereiro de 2012, o engenheiro responsável pela obra chegou a ser preso por desrespeitar sistematicamente as interdições feitas pelo MTE.