quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Traficante mexicano afirma que tinha acordo com EUA para dedurar inimigos – e seguir traficando

  Por Bill Conroy, do Narconews, via Agência Pública
 
Vicente.Zambada.Arrested
Defesa do traficante mexicano Jesus Vicente Zambada Niebla acusa
promotores de tentar esconder provas alegando ameaça à seguranla nacional
Os advogados do narcotraficante Jesus Vicente Zambada Niebla, filho de um dos cabeças do poderoso Cartel de Sinaloa, alegam que a justiça americana está u tilizando ameaça à segurança nacional para esconder provas.
Zambada Niebla foi preso no México em março de 2009, extraditado para os EUA em fevereiro de 2010, e agora enfrenta acusações de tráfico de drogas na corte federal em Chicago, onde está detido na prisão Metropolitan Correctional Center.
Ele alega que o governo americano firmou um pacto com a liderança do Cartel de Sinaloa garantindo imunidade aos chefes em troca de informações contra outras organizações narcotraficantes.
No começo de novembro, os advogados de Zambada Niebla entraram com uma ação pedindo para não serem excluídos de conversas entre os promotores e o juiz do sobre provas qualificadas como material confidencial.
Os promotores querem que a defesa não tenha acesso a essas provas.
Os advogados acreditam que essas provas dizem respeito a uma testemunha-chave no caso. Trata-se do advogado mexicano Humberto Loya Castro, que teria servido de intermediário entre a liderança do Cartel de Sinaloa e agentes do governo americano.
O caso
Zambada Niebla é filho de Ismael “El Mayo” Zambada Garcia, um dos líderes do Cartel de Sinaloa – um grande importador de armas e exportador de drogas sediado no México. O grande chefão do cartel é Joaquin Guzman Loera, conhecido como “El Chapo”, que escapou “milagrosamente” de uma prisão de segurança máxima no México em 200,  dias antes da decisão que poderia extraditá-lo para os Estados Unidos.
Desde então, el Chapo construiu um dos mais poderosos cartéis de droga no México.
O governo americano nega ter oferecido qualquer acordo com garantia de imunidade a Zambada Niebla. Mas os promotores confirmaram que outro membro graduado do Cartel de Sinaloa, o advogado mexicano Loya Castro, cooperou como fonte do DEA por cerca de 10 anos, enquanto trabalhava para a organização.
Documentos legais do governo americano confirmam também que Loya Castro ajudou a construir uma relação direta de cooperação entre agentes do DEA e Zambada Niebla – antes de sua prisão em 2009.
Loya Castro é descrito nas apelações de Zambada como “um confidente íntimo de Joaquin Guzman Loera (Chapo)”.
Querendo manter o segredo
Em setembro, o governo americano apresentou uma ação evocando a Lei de Procedimentos de Informações Classificadas, cujo objetivo é manter longe do publico informações que colocariam em risco a segurança nacional.
A lei, decretada há 30 anos, funciona na prática como uma cortina de fumaça nos casos criminais de conteúdo sigiloso, encobrindo detalhes associados a operações clandestinas do FBI ou da CIA.
O ato requer que a inclusão de qualquer prova sigilosa em um caso seja avisada antes à corte para que esta determine se as provas serão admitidas.
Assim, afirmam os advogados de Zambada Niebla, os promotores estariam assegurando que a exclusão da defesa das discussões sobre evidências que supostamente poderiam ameaçar a segurança nacional. A defesa não teria chance de argumentar e não ficaria sabendo quais são as provas apresentadas para o juiz – mesmo aquelas com “intermédio” de Loya Castro.
O intermediário
A defesa acredita que há evidências consistentes do acordo entre o Cartel de Sinaloa e o governo americano – a maioria delas partindo da relação de Loya Castro com a polícia e os agentes de inteligência americanos.
Uma delas é a descrição de Fernando Gaxiola, advogado de defesa de Zambada Niebla, que manteve reuniões com Loya Castro no início do processo. Desde conta, por exemplo, o seguinte trecho:
“O senhor Loya Castro disse que agentes americanos afirmaram que em troca de informações sobre organizações de tráfico de drogas rivais, o governo americano concordou em extinguir o processo contra ele e a não interferir nas atividades relacionadas ao tráfico de drogas do Cartel de Sinaloa, nem processar (…) a liderança do cartel. Os agentes teriam dito que isso teria sido aprovado por altos oficiais e promotores federais”.
Castro teria, segundo a defesa, informado a Zambada Niebla sobre o acordo, que colaborou em prover as informações requeridas a Castro, que as repassaria aos agentes.
“Os agentes disseram a Loya Castro que deveriam ser notificados antes de qualquer encontro comel Chapo. Eles garantiram que não o seguiriam e não interfeririam nas reuniões para que ele se mantivesse calmo e obtivesse o máximo de informações possíveis. O Sr Loya Castro informou el Chapo que os agents sabiam dos encontros”, diz o testemunho no processo.
“O senhor Loya Castro disse ter entregue aos agents informações importantes provenientes de Chapo Mayo e Zambada Niebla, que levaram à prisão de grandes chefões das organizações rivais”
Mas os promotores afirmam que a versão de Loya Castro dos acontecimentos não bate com o quadro pintado pelos advogados de Zambada Niebla.
O caso judicial tem chamado a atenção pela ousadia da estratégia pela defesa. Afinal, o traficante mexicano está alegando ser protegido do governo americano para justificar uma ação criminal.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Ronaldinho Gaúcho faz mal ao ambiente

Liminar obriga Ronaldinho Gaúcho a reparar danos ambientais
A ação, que teve o pedido de liminar concedido pela Justiça, exige a remoção de um trapiche, uma plataforma de pesca e um atracadouro na superfície do .... Foto: Tárlis Schneider/Agência Freelancer/Especial para Terra
A ação, que teve o pedido de liminar concedido pela Justiça, exige a remoção de um trapiche, uma plataforma de pesca e um atracadouro na superfície do lago Guaíba  Foto: Tárlis Schneider/Agência Freelancer/Especial para Terra

O Ministério Público (MP) do Rio Grande do Sul entrou com uma ação na Justiça contra o jogador do Flamengo Ronaldinho Gaúcho, o irmão dele, Roberto de Assis Moreira, e a empreiteira Reno Construções e Incorporações Ltda, por danos ao meio ambiente causados a partir de 2009 na propriedade do jogador, localizada na estrada da Ponta Grossa, zona sul da capital gaúcha. A ação, que teve o pedido de liminar concedido pela Justiça, exige a remoção de um trapiche, uma plataforma de pesca e um atracadouro na superfície do lago Guaíba.
O MP quer também a demolição da canalização do arroio Guabiroba com muros e pedras, a retirada da pavimentação e impermeabilização das margens e das pontes edificadas sobre o seu curso, que foram construídos na Unidade de Conservação da Reserva Biológica do Lami José Lutzemberger. O prazo é de 30 dias a contar da intimação, sob pena de pagamento de multa no valor de R$ 10 mil por dia de descumprimento.
Conforme a ação, todas construções foram feitas sem licença do órgão ambiental municipal. Além disso, Ronaldinho, o irmão e a empreiteira ignoraram notificações da Secretaria Municipal do Meio Ambiente para interromper as obras e, inclusive, impediram técnicos de entrarem no imóvel para realizar vistoria por duas vezes.
De acordo com a ação, Ronaldinho e Assis fizeram uso privado de uma área pública de um lago navegável do Estado. A ação civil pede que seja elaborado um projeto técnico por profissionais habilitados para a recomposição da área onde espécies nativas foram derrubadas, além da restauração da morfologia do terreno encontrada antes da impermeabilização da superfície do Arroio Guabiroba.
De: Terra

Arquitetura criativa (ou bizarra)

 
Site reúne o que há de mais criativo (e algumas vezes, estranho) no mundo da arquitetura
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The Crooked House (Sopot, Polônia)
A arquitetura é um dos maiores feitos "físicos" da humanidade. Prova é a Muralha da China, a maior construção do mundo que pode ser vista até mesmo do espaço. O que nos chama mais atenção ainda é quando as construções fogem, digamos, um pouco do padrão. Temos a inerente curiosidade pelo "diferente", e uma casa ou edifício com essa característica, com alguns metros de dimensão, certamente não passa despercebido. Conheça o site Strange Buildings, que apresenta uma coleção de arquitetura nem um pouco convencional.


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Forest Spiral – Hundertwasser Building (Darmstadt, Alemanha)

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The Torre Galatea Figueras (Espanha)
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The Basket Building (Ohio, Estados Unidos)
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Kansas City Public Library (Missouri, Estados Unidos)
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Wonderworks (Pigeon Forge, TN, Estados Unidos)
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Dancing Building (Praga, República Tcheca)
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Ripley’s Building (Niagara Falls, Ontario, Canadá)
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Great Mosque of Djenné (Djenne, Mali)
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Agbar Tower (Barcelona, Espanha)

Leia mais em obvious

domingo, 22 de janeiro de 2012

A falibilidade da ciência, por Umberto Eco

Tirado de Luis Nassif


Um artigo recente no jornal italiano “Corriere della Sera” discutia a natureza da investigação científica. O escritor Angelo Panebianco argumentou que a ciência é por definição antidogmática porque ela atua por tentativa e erro e está baseada no princípio da falibilidade, que sustenta que o conhecimento humano nunca é absoluto e está num fluxo constante. A ciência só se torna dogmática, diz Panebianco, no contexto de certas simplificações jornalísticas que transformam o que era meramente uma hipótese prudente em “verdades” estabelecidas.
Mas a ciência também se arrisca a ser dogmática quando não consegue questionar o paradigma aceito por uma determinada cultura ou época. Quer as ideias estejam baseadas nas de Darwin, de Einstein ou Copérnico, todos os cientistas seguem um paradigma para eliminar teorias que saem de sua órbita – como a crença de que o Sol gira em torno da Terra.
Como podemos conciliar a necessidade de paradigmas da comunidade científica com o fato de que a verdadeira inovação só acontece quando alguém consegue lançar dúvidas sobre as ideias dominantes do momento? Será que a ciência não se comporta de forma dogmática quando se entrincheira atrás dos muros de um determinado paradigma para defender seu poder e rotula como heréticos todos aqueles que desafiam sua autoridade?
A questão é importante. Será que os paradigmas sempre devem ser defendidos ou desafiados? Uma cultura (entendida como sistema de costumes e crenças herdados e compartilhados por um determinado grupo) não é meramente uma acumulação de dados; é também o resultado da filtragem desses dados. Qualquer cultura é capaz de descartar o que não considera útil ou necessário – a história da civilização é construída sobre informações que foram enterradas e esquecidas.
Em seu conto “Funes el Memorioso” de 1942, Jorge Luis Borges conta a história de um homem que se lembra de tudo: cada folha de uma árvore, cada rajada de vento, cada sabor, cada sentença, cada palavra. Mas por esse mesmo motivo Funes é um completo idiota, um homem imobilizado por sua incapacidade de selecionar e descartar. Nós dependemos de nosso subconsciente para esquecer. Se temos um problema, sempre podemos ir a um psicanalista para recuperar quais memórias nós descartamos por engano. Felizmente, todo o resto foi eliminado. Nossa alma é o produto da continuidade dessa memória seletiva. Se todos nós tivéssemos almas como a de Funes, seríamos desalmados.
Uma cultura opera de forma semelhante. Seus paradigmas, que são constituídos pelas coisas que nós preservamos e por nossos tabus em relação ao que descartamos, resultam de compartilhar essas enciclopédias pessoais. É sobre o pano de fundo dessa enciclopédia coletiva que travamos nossos debates. Para que uma discussão seja compreendida por todos, precisamos começar a partir dos paradigmas existentes, mesmo que apenas para mostrar que eles não são mais válidos. Sem a rejeição do paradigma ptolomaico então dominante, o argumento de Copérnico de que a Terra girava em torno do Sol teria sido incompreensível.
Hoje a internet é como Funes. Como uma totalidade de conteúdo, não filtrado nem organizado, ela oferece a qualquer um a capacidade de criar sua própria enciclopédia ou sistema de crenças. Num contexto como este, uma pessoa pode simultaneamente acreditar que a água é composta de hidrogênio e oxigênio e que o Sol gira em torno da Terra. Teoricamente, é concebível que um dia possamos viver num mundo no qual existam 7 bilhões de paradigmas diferentes, e a sociedade seria então reduzida ao diálogo fraturado de 7 bilhões de pessoas todas falando uma língua diferente.
Felizmente, essa noção é meramente hipotética, mas o argumento em si só é possível precisamente porque a comunidade científica se baseia nas ideias comuns compartilhadas, sabendo que para derrubar um paradigma é preciso primeiro que exista um paradigma a ser derrubado. A defesa desses paradigmas pode levar ao dogmatismo, mas o desenvolvimento do novo conhecimento é baseado exatamente nessa contradição. Para evitar conclusões apressadas, eu concordo com o cientista citado no artigo de Panebianco: “Eu não sei. É um fenômeno complexo; terei que estudá-lo.”
Tradutor: Eloise De Vylder