sábado, 29 de junho de 2013

Melhorar uso do solo é fundamental para aprimorar transportes, defende especialista

Vinícius Lisboa
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A melhoria do sistema de transportes no Rio e no Brasil requer investimentos, mas, além deles, pede também uma intervenção em outros fatores que influenciam a circulação nas grandes cidades, avaliou Raul de Bonis, professor de Engenharia de Transporte do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
"O setor de transportes influencia e é influenciado pelo meio. Se realizar investimento sem controlar o que existe além do transporte, o uso do solo, as condições para que as pessoas dependam menos do automóvel, a especulação imobiliária, a gente pode fazer investimentos que produzam efeitos contrários ao que se pretende", adverte Bonis sobre a iniciativa da presidenta Dilma Rousseff de criar um pacto nacional com governadores e prefeitos para aumentar os investimentos na mobilidade urbana.
Esse melhor aproveitamento do solo a que o especialista se refere poderia vir, por exemplo, de uma política de habitação que recupere bairros degradados, reduzindo a necessidade de se deslocar para as áreas centrais. "O que existe hoje é uma cidade que explodiu, uma região metropolitana que se espalhou, mas que tem quase 20 municípios se deslocando para o centro e não dá para imaginar que meia dúzia de corredores de ônibus vão resolver isso. Se mexer nos transportes sem mexer no resto, tende a se agravar [a situação]."
Os corredores expressos mencionados por Bonis são os BRTs, faixas exclusivas de ônibus articulados que já começaram a funcionar na capital e serão ampliadas até os Jogos Olímpicos de 2016. Ao abordar a especulação imobiliária, o professor questiona o adensamento de bairros que têm passado por um processo de verticalização, que leva mais pessoas a locais que não aumentam sua oferta de serviços como o transporte.
Também professor de engenharia de tráfego da Coppe, Paulo Cezar Ribeiro defende que a prioridade é a integração e o planejamento do transporte público. "É preciso reduzir a superposição de linhas de ônibus, colocando mais veículos para fazer as linhas novas. Na zona sul, no centro e na Avenida Brasil, por exemplo, há muitas linhas superpostas. Temos que racionalizar essas linhas".
Para nivelar a qualidade do serviço em toda a cidade, o pesquisador sugere um sistema de compensação em que as linhas mais lucrativas financiem as menos rentáveis, permitindo uma qualidade igual em toda a região metropolitana. "Com o sistema eletrônico de cobrança isso é muito mais fácil agora. Esse investimento interfere na articulação diária. A gestão é fundamental."
Ribeiro defende também a ampliação das barcas, com uma estação em São Gonçalo e maior qualidade na ligação entre o centro e a Ilha do Governador, na zona norte. Sobre os BRTs, o pesquisador pondera: "É uma solução boa para os níveis de demanda a que ele pode atender, mas será que a demanda a que ele está atendendo não seria melhor para um veículo leve sobre trilhos [VLT]? O metrô e o VLT atendem a demandas maiores que o BRT. É preciso considerar tudo isso e investir com planejamento, monitorando as concessionárias depois da obra."
Edição: Talita Cavalcante
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quinta-feira, 27 de junho de 2013

Percival Puggina no Pravda! Por essa eu não esperava.

Os dias de hoje estão mesmo interessantes. A confusão "esquerda" /"direita" é tal, que sobrou até para o mais assumido cronista da direita gaúcha, Percival Puggina, ocupar espaço no Pravda, continuador do tradicional jornal do Partido Bolchevique e costumeiro crítico, pela esquerda, dos governos Lula e Dilma.
Lênin leria os comentários de Percival Puggina?



 

 

A gafe da Voz do Brasil e a elegância de Rubens Bueno

A mídia adorou detonar a Voz do Brasil por ter errado ao anunciar a morte de Mandela. Recuperando a transmissão, o que se ouviu foi o locutor relatando a homenagem do Deputado Federal Rubens Bueno (PPS-PR) ao líder sul-africano, lamentando sua morte . Foi um erro da Voz, por não ter conferido a informação. Por outro lado, o padrão do programa é informar sobre os pronunciamentos feitos em plenário, considerando que são verdadeiras as palavras dos deputados. Observei, no twitter, que o erro deveria ser dividido por 2. Recebi, do deputado Rubens Bueno, uma mensagem responsabilizando-se pelo erro. Muito educado da parte do deputado, nesse item, bem melhor que seu correligionário Roberto Freire.



quarta-feira, 26 de junho de 2013

Anistia Internacional apresenta guia de boas práticas para o policiamento de manifestações públicas



Anistia Internacional produziu, em 2012, um guia de boas práticas para o policiamento de manifestações públicas, com orientações para as polícias sobre a melhor forma de conduzir este policiamento de acordo com a legislação internacional. Baseado em princípios estabelecidos pela ONU, este guia de boas práticas traz recomendações às autoridades sobre como a polícia deve agir para assegurar o direito a manifestações pacíficas e evitar incidentes violentos.
Tendo em vista o atual momento vivido pelo Brasil, com manifestações se espalhando por várias cidades brasileiras, a Anistia Internacional apresenta ao país este guia de boas práticas para o policiamento de manifestações públicas na expectativa de contribuir para que o direito à manifestação pacífica seja assegurado, sem violência por parte da polícia e dos manifestantes. 
O guia também faz referência ao uso de armas de baixa letalidade e defende a definição de orientações rigorosas, por parte das autoridades, para o uso desses recursos. O guia de boas práticas foi criado originalmente como uma recomendação às autoridades europeias para lidar com os protestos que eclodiram em vários países do hemisfério norte por conta da crise econômica. 
Boas práticas para o policiamento de manifestações públicas
As recomendações aqui listadas são baseadas no Código de Conduta da ONU para policiais e nos Princípios Básicos da ONU para o uso da força e armas de fogo pela polícia. 
Em caso de manifestações públicas, a polícia deve:
Facilitar manifestações públicas pacíficas
• É direito legítimo de todas as pessoas se manifestarem publicamente. Reuniões públicas não podem ser consideradas como um “inimigo”. As autoridades devem passar uma mensagem clara para as polícias de que seu papel é facilitar, e não restringir, a manifestação. Todos os policiais designados para acompanhar as manifestações públicas devem compreender claramente que este é seu papel.
• No policiamento de manifestações ilegais, mas pacíficas, os policiais devem evitar o uso da força. Se isso for inevitável, para garantir sua segurança e a segurança de outros, deve-se usar o mínimo de força necessária, de acordo com os princípios básicos estabelecidos pela ONU.
Proteger manifestações pacíficas, inclusive contra indivíduos violentos e grupos menores
• Pequenas violações da lei, como colar cartazes, desarrumar espaços e pequenos danos à propriedade, causadas pela presença de um grande grupo de pessoas podem levar à investigação e eventual responsabilização individual. No entanto, em virtude da importância do direito à liberdade de manifestação, elas não devem levar à decisão de dispersar uma manifestação. 
• A decisão de dispersar uma manifestação deve ser tomada com base nos princípios de necessidade e proporcionalidade, apenas quando não há outra maneira de se proteger a ordem pública de uma onda de violência iminente.
• Nos casos em que uma pequena minoria tenta transformar uma manifestação pacífica em violenta, os policiais devem proteger os manifestantes pacíficos e não usar os atos violentos de alguns poucos como um pretexto para restringir ou impedir o exercício do direito da maioria se manifestar.
Reduzir situações de tensão e violência
• A comunicação com os organizadores do movimento antes e durante a manifestação deve buscar uma compreensão mútua e prevenir a violência. Nos casos em que episódios de violência são muito prováveis, a comunicação se torna ainda mais importante para reduzir a tensão e evitar confrontos desnecessários.
• Policiais e manifestantes devem procurar juntos formas de prevenir a violência ou contê-la assim que for iniciada.
• Quando a decisão (legal) de dispersar a multidão é tomada, essa ordem deve ser claramente comunicada e explicada, para que se obtenha – na medida do possível - o entendimento e consentimento dos manifestantes. Deve-se dar tempo suficiente para as pessoas se dispersarem.
Usar a força policial apenas para fins legítimos
• A força não deve ser usada para punir o não cumprimento (presumido ou alegado) de uma ordem ou simplesmente pela participação em uma manifestação.
• Prisões e detenções devem ser feitas de acordo com os procedimentos previstos em lei, e não devem ser usadas como mecanismo para evitar a participação em uma manifestação ou como punição pela participação.
Minimizar os danos, preservar e respeitar a vida e proteger aqueles não envolvidos. Usar a força somente na medida necessária e apenas quando métodos não violentos falharam ou não poderão atingir o objetivo legítimo
• Armas de fogo não devem nunca ser usadas para dispersar uma multidão.
• Cassetetes e armas de baixo impacto não devem ser usadas contra pessoas que não são agressivas ou que não representam ameaça. Quando seu uso for inevitável, os policiais devem ter ordens claras para evitar causar ferimentos graves ou lesionar partes vitais do corpo.
• O tipo de equipamento usado para dispersar uma manifestação deve ser cuidadosamente avaliado e usado apenas quando necessário, de forma proporcional e de acordo com a lei. Equipamento de policiamento e segurança, tais como balas de borracha e gás lacrimogêneo, frequentemente descritas como armas “menos letais”, podem resultar em lesões graves e até mesmo à morte. Irritantes químicos, como gás lacrimogêneo, não devem ser usados em ambientes fechados ou de uma maneira que possam causar danos permanentes (por exemplo, muito perto do alvo ou mirando diretamente no rosto das pessoas).
• A polícia deve ter ordens claras para providenciar assistência médica aos feridos sem demora.
Prestar contas à população e ao Judiciário
• Qualquer uso de força durante uma manifestação deve ser motivo de análise e, quando apropriado, investigação e sanções disciplinares e criminais.
• Reclamações contra a polícia devem ser investigadas de maneira imparcial e efetiva e, quando apropriado, sujeitas a sanções disciplinares ou criminais.
• Policiais devem estar devidamente identificados nas operações de ordem pública, através de etiquetas com nome ou número. Ordens devem ser dadas para garantir o cumprimento da obrigação de usar tal identificação. Equipamentos de proteção devem ser usados para proteger os policiais e não como forma de esconder sua identidade.
Armas de baixa letalidade
A Anistia Internacional usa o termo “baixa letalidade” para armas que não sejam de fogo, como uma forma de evidenciar que muitas destas armas têm o potencial de ser letal.
Os dispositivos de controle de distúrbios, como jatos d’água, balas de plástico e de borracha e produtos químicos irritantes, como spray de pimenta e gás lacrimogêneo, podem resultar em ferimentos graves e mesmo em morte. Muitas dessas armas, incluindo seus efeitos médicos, não foram avaliadas de forma independente e algumas permanecem sujeitas ao mau uso.
A Anistia Internacional convoca os governos a estabelecerem orientações rigorosas para o uso desses equipamentos e a criarem mecanismos de monitoramento adequados para garantir que estas orientações sejam seguidas e revisadas quando necessário.   
Acesse aqui a íntegra do documento em inglês (trecho traduzido das páginas 5, 6 e 7): http://www.amnesty.org/en/library/asset/EUR01/022/2012/en/1e06df7d-6878-40e0-8e82-d07605e9a6e9/eur010222012en.pdf
Leia também:

Agora que acabou a histeira da PEC37; você sabe o que é a PEC 438?

A PEC 438, combate o Trabalho Escravo. A proposta tramita desde 2001, mas sua votação tem sido inviabilizada, principalmente pela bancada ruralista, além do vídeo abaixo, você pode ter mais informações acessando Trabalho Escravo.org

Na favela, as balas não são de borracha :9 mortos na Maré (RJ): O Estado tem que ter equilíbrio

 

Maré
Reprodução / Redes de Desenvolvimento da Maré
BOPE vem realizando ações desastrosas no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Repórter relata relata o terror dos moradores
por Karla Monteiro publicado 25/06/2013 15:22, última modificação 25/06/2013 22:45

            

Já são oito mortos no complexo da maré, no Rio
Um post acaba de surgir na tela do meu Facebook: “A noite de terror continua na favela da Maré: dois mortos ontem, incluindo um policial, mais um rapaz morto hoje, dentro de sua casa; vários feridos. Observatório sem energia, sem telefone: Bope acertou o transformador e cortou os cabos de telefone. Qual o sentido disso? O Estado tem que ter equilíbrio; senão, quem terá?”. Quem assina é o doutor em Sociologia da Educação e fundador do Observatório de Favelas, Jaílson de Souza e Silva.
Logo cedo estive na entrada da favela Nova Holanda, uma das 17 comunidades que compõem o Complexo da Maré, na zona norte do Rio, onde a polícia continua em ação. Não consigo entrar. E ninguém consegue sair para me dizer o que está acontecendo de fato. Meu telefone toca sem parar. São amigos relatando casos de abusos da polícia. São amigos desesperados com uma situação de insanidade que começou na noite de ontem quando um grupo que realizava uma manifestação na Avenida Brasil correu para dentro da favela, fugindo da repressão da polícia, que neste lado da cidade não usa bala de borracha, usa bala de canhão.
Os jornais relatam que houve um arrastão durante a manifestação. Arrastão? Segundo os moradores, o que aconteceu foi: a cracolândia carioca ficava exatamente na entrada da Nova Holanda, em plena Avenida Brasil. A coisa foi crescendo, tornando-se assustadora e vergonhosa para o prefeito Eduardo Paes. O que ele fez? Mandou limpar o lugar e empurrou os viciados para dentro da favela. Os mesmos passaram a viver uma situação insólita. Não mais podiam circular na Brasil porque a guarda municipal estava lá para descer o sarrafo. Não podiam circular dentro da favela porque os traficantes não permitiam. Ou seja: confinamento a uma rua, a rua Sete de setembro, entre a avenida e a favela. Aproveitando o caos instaurado pelo embate entre polícia e manifestantes, os “ cracudos”, como são chamados por aqui, corrduaseram para saquear. Lei da sobrevivência.
Os helicópteros sobrevoam... E mais um post do Jaílson surge na minha tela: “Já são oito mortos, sendo um o policial morto ontem. Hoje, o sentido da ação não passa de vingança. Onde se chega? Obrigado pelas falas e ligações solidárias. Seria bom que todos vissem isso para entender como as manifestações são necessárias. Vamos lutar pela reforma política, com constituinte exclusiva”. Um minuto depois, Jailson posta de novo: “Por favor, divulguem esta exigência: Parem a operação Policial JÁ! Ela não tem sentido e só é alimentada pelo desejo de vingar a morte, lamentável, do policial”. Na verdade, Jailsom, mesmo estando lá dentro, está desatualizado. Já são 9 mortos  confirmados, segundo a própria polícia.
As ações desastrosas do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) no Complexo da Maré começaram há algumas semanas, com os “caveira” invadindo casas de pessoas de bem, espalhando terror e medo. Um dos fotógrafos do OBS teve a sua casa destruída e seu equipamento quebrado, jogado dentro do vaso sanitário. Assim age a polícia da dupla Cabral/Paes. Hoje, segundo as informações difusas, estão dentro da Maré BOPE, Batalhão de Ação com Cães (BAC) e Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque). A desculpa do governo é desarticular o tráfico para a implantação da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), que os moradores chamam de Unidade de Polícia Porrada. Ou seja: Cabral/Paes estão promovendo um tiroteio pela paz.
Bom... O que eu tenho a ver com tudo isso? Em janeiro eu comecei a trabalhar no Observatório de Favelas. Conheci de perto uma das organizações mais interessantes e ativas do Rio de Janeiro, um lugar de produção de pensamento e de formação de cidadãos, no sentido mais amplo da palavra. Em 15 anos de jornalismo, jamais me deparei com tamanha força, tamanho desejo de formar e informar. A Escola de Fotógrafos Populares e a Escola de Comunicação Crítica, ambos projetos do Observatório, despejam jovens politizados, intelectualizados e dispostos a criar um canal de comunicação direto com a população - e principalmente dispostos a produzir arte engajada. Eu me apaixonei pelo projeto... E pelas pessoas. E pela Favela da Maré.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Como Gurgel livrou Julio Lopes - O domínio dos fatos conforme os fatos

Júlio Reis*
 
Todos conhecem o lastimoso 'acidente' que vitimou seis pessoas e deixou mais de 40 feridos com o descarrilamento do bonde de Santa Teresa em agosto de 2011 no Rio de Janeiro.

O que pretendo destacar neste acontecimento, por ora, é que o secretário de transportes do Estado do Rio de Janeiro, Julio Lopes, não foi denunciado pelo mesmo, embora tivesse pleno domínio do fato de que o sistema de bondes operava com bastante deficiência, como atesta, entre outros documentos, um artigo escrito por ele mesmo em 2009 no jornal “O Globo” e intitulado “Entestados pelo progresso”.
No artigo Lopes diz: "(…) ficou claro para os engenheiros de então, que dão suporte técnico ao serviço de bondes, da precariedade do velho bonde e da necessidade de modernizá-lo, em particular, dos sistemas de freio e de tração". O não funcionamento do sistema de freios foi, segundo a perícia do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) da Polícia Civil do Rio, a principal razão do acidente.
Em setembro de 2011, representantes da Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast) levaram até o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) documentos e queixas atestando os problemas e o descaso da gestão dos bondes. Temas como a segurança do sistema, além de decisões judiciais não cumpridas e questões concernentes ao patrimônio histórico, foram arroladas. Eles requeriam o indiciamento criminal do secretário de transportes pelo episódio.

O procedimento de investigação contra o secretário esteve no MP até o final de maio de 2012, quando então foi enviando para a Procuradoria Geral da República (PGR) porque o secretário de transportes é deputado federal licenciado pelo PP e tem foro privilegiado. O MP disse que optou por aguardar o término da investigação no âmbito policial e por reunir todos os laudos de perícias técnicas, e demais elementos probatórios, para enviar o procedimento investigativo para a PGR.
No mesmo maio de 2012, o MP denunciou por homicídio e lesão corporal culposa cinco funcionários da Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística, a Central, empresa do Estado do Rio que administra os bondes. Entre eles estavam dois engenheiros, dois mecânicos e um maquinista. O motorneiro Nelson Correa da Silva, que morreu conduzindo o bonde só não foi denunciado porque era obviamente impossível.
Praticamente um ano depois, em meados de maio deste ano, a Procuradoria Geral da República resolveu arquivar o processo. O postulado do domínio dos fatos, ao que parece, não foi suficiente para o Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, se convencer de que Lopes tinha conhecimento sobre os riscos da operação do sistema de bondes. Em sua decisão disse que “não era possível vislumbrar a responsabilidade do secretário no acidente”.
Para os moradores de Santa Teresa (e acredito que para qualquer um que se debruce com os documentos e a realidade in loco que registravam o estado sucateado em que se encontravam os bondes), no entanto, sempre esteve claro que Lopes conhecia o estado deteriorado e os perigos da operação do sistema e não tomou medidas preventivas satisfatórias para sanar os problemas.

Aliás, Lopes foi recebido pelos moradores de Santa Teresa com sonoros gritos de “assassino” e “safado” quando teve a iniciativa de conceder uma entrevista para a imprensa no local do acidente, poucas horas depois do ocorrido.
O constrangimento de Júlio Lopes com o tema dos bondes é tão grande, que ele parece não querer mais fazer menção ao assunto mesmo quando necessário. Em dezembro de 2012, durante sua apresentação na cerimônia de antecipação da compra de 20 trens pela concessionária SuperVia no Palácio Guanabara, ele fez uma explanação laudatória dos serviços e dos avanços do transporte público no Estado, falou de trens, de metrô, de barcas e de ônibus, mas nada de bondes. Sobrou para o governador Sérgio Cabral mencionar o projeto do governo do Rio para o novo sistema de bondes.
Segundo o governo do Estado do Rio, os novos bondes só devem voltar a operar em meados de 2014. O governo do Rio diz que só com a nova reformulação pode garantir a segurança do sistema. Ao que parece, foi necessário que seis pessoas morressem e mais de 40 ficassem feridas para se chegar a essa conclusão.

Empossado em 2006, Julio Lopes segue a frente da Secretária de Transportes do Estado do Rio de Janeiro.
*Júlio Reis é escritor e jornalista

domingo, 23 de junho de 2013

Jandira Feghali: Grupos fascistas pagos jogaram bombas nos próprios manifestantes

 
Em São Paulo, jovens fazem saudação nazista na manifestação da quinta-feira 20. No Rio de Janeiro, agressões a quem portava uma bandeira de partido político ou movimentação social
por Conceição Lemes
Na última quarta-feira 19, deputados federais do Rio de Janeiro divulgaram uma carta aberta aos manifestantes sobre os atos que tomaram as ruas de várias cidades do Estado:
Nós, deputados federais do Rio de Janeiro, sentimo-nos estimulados e saudavelmente cobrados por essas manifestações que tomam as ruas das nossas cidades. Aos milhares que, mobilizados pela internet, saem para as passeatas, transitando do virtual para o presencial, dizemos: VOCÊS NOS REPRESENTAM! Inclusive quando questionam o padrão rebaixado da política movida a interesses menores e também distante de ideias e causas.
Temos orgulho de nossos mandatos políticos e queremos colocá-los à disposição das justas demandas por transportes públicos eficientes, redução das tarifas, educação e saúde pública de qualidade, ética na política, transparência e prioridade social nos orçamentos públicos. As grandes lutas sociais de nossa história, que alcançaram vitórias concretas, tiveram a participação de organizações partidárias vinculadas ao povo.
Entre os signatários, a deputada Jandira Feghali, do PCdoB, que me concedeu esta entrevista.
Viomundo – Na quinta-feira 20, houve atos de violência e depredações em alguns pontos da cidade do Rio de Janeiro. Os manifestantes continuam representando- a?
Jandira Feghali – Mantenho a mesma posição de apoio, pois a grande maioria da manifestação não tem nada a ver com a confusão que aconteceu. Majoritariamente ela continua agindo de maneira democrática, com bandeiras justas pela educação, saúde, mobilidade urbana, contra o fundamentalismo em relação à diversidade.
Viomundo – E a destruição de patrimônios históricos do Rio?
Jandira Feghali – Aí está o problema. Existem dois grupos minoritários, que estão quebrando, destruindo, partindo para a violência, que nós não apoiamos. Acredito que também a sociedade e os manifestantes também não os apoiam.
Viomundo – Quais seriam?
Jandira Feghali – Um é o anarco-punk, que desde o início sabíamos que existe e está presente em vários lugares. Seus integrantes acham que os símbolos do capital e do poder tem de ser depredados, destruídos. Daí os ataques a bancos, assembleias legislativas, patrimônios históricos. Eles acham que uma revolução se faz assim.
Existe outro grupo que, no Rio de Janeiro, só ficou mais explícito na manifestação da última quinta-feira. É um grupo fascista, de direita, que atacou não apenas as poucas bandeiras de partidos e entidades, tocando-lhes fogo, rasgando-as, mas que jogou bombas nos próprios manifestantes, machucando muitos. Eles são nitidamente pagos e organizados. Isso é grave e nos preocupa, pois podem partir para agressões mais pesadas e gerar uma tragédia.
Viomundo – Como a senhora sabe que são grupos pagos?
Jandira Feghali – Eles foram identificados por pessoas de entidades democráticas. Eram caras que usavam jaqueta e gravata, davam ordem para agredir aqui, ali, acolá. Não jogaram bombas em bancos, prédios, polícia. Jogaram no carro de som da manifestação, diretamente nas lideranças, nos ativistas, que estavam celebrando. Eles acabaram produzindo uma série de confusões para dentro da passeata.
São típicos grupos de fascistas. São pagos para gerar confusão entre os manifestantes e gerar uma mídia antipartidária, antidemocrática. Repito: acho isso muito grave e tem de ser denunciado abertamente por nós, pois fere o estado democrático de direito, a livre liberdade de manifestação.
Viomundo – O que acha de bandeiras de partidos e movimentos sociais terem sido destruídas e militantes de partidos agredidos?
Jandira Feghali –Nós não estamos na época da ditadura em que as pessoas eram proibidas de se manifestar. Os partidos são parte da luta democrática. Aliás, essa liberdade de estarmos nas ruas como hoje é também consequência da luta dos partidos, que perderam militantes na ditadura e lutaram para que houvesse essa liberdade de manifestação.
Portanto, os partidos são parte do processo. Ninguém quer tutelar nada. Eu acho que não tem de ter a tutela de absolutamente ninguém. E o movimento tem que ser amplo, suprapartidário mesmo, com os movimentos sociais.
Nós queremos que essas manifestações legítimas de desejos tenham vitórias, conquistas concretas, nas bandeiras importantes. Mas não queremos que isso seja confundido com bandeiras da direita, atrasadas, contra a liberdade de expressão e de manifestação de partidos políticos, de LGTB, do movimento negro ou de uma juventude que não milita em partido.
Viomundo – O que fazer agora?
Jandira Feghali – Nós não podemos admitir que atos fascistas, provocatórios, que se expressam através de movimentos organizados e pagos, possam gerar alguma tragédia, algum mártir. Ou confundir o processo que está se dando nas ruas. Nós temos de denunciar isso. Também temos de excluir esse esse comportamento fascista para que a beleza do que foi para as ruas movimento possa avançar de maneira democrática.
Os jovens têm que ficar antenados para se definir de forma ampla. Precisam aprender que a liberdade e a democracia são os maiores bens da sociedade brasileira.

Marina quer que se ouça a voz das ruas, mas vai a ato que fortalece Feliciano

Bancada evangélica defende Feliciano
Em: Folha.com
 
Em sessão de homenagem à Assembleia de Deus, deputados pedem que pastor fique em comissão de direitos humanos
Religioso é alvo de protestos que o acusam de racismo e homofobia desde que assumiu presidência do grupo
DE BRASÍLIA
A bancada evangélica da Câmara saiu em defesa da permanência do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) na presidência da Comissão de Direitos Humanos da Casa.
Durante uma sessão de homenagem à Assembleia de Deus -que realiza nesta semana em Brasília convenção-geral para eleger seu presidente e diretores até 2017-, deputados evangélicos dispararam recados aos líderes partidários, que se reúnem hoje com Feliciano para discutir a sua manutenção à frente da comissão.
Estiveram na reunião dos representantes da Assembleia de Deus ontem à noite o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e a ex-senadora Marina Silva (Rede), ela própria participante do movimento.
Feliciano, que comanda a Catedral do Avivamento, um dos ministérios da Assembleia de Deus, não apareceu nem foi citado nos discursos e nas apresentações musicais que marcaram o evento.
Na Câmara, os líderes partidários devem fazer um apelo para que Feliciano deixe a presidência na Comissão de Direitos Humanos. Desde que assumiu o posto, em 7 de março, ele virou alvo de protestos que o acusam de racismo e homofobia. Ele nega e resiste em deixar o cargo. Segundo o regimento da Casa, ele não pode ser destituído.
"Se deixar prevalecer meia dúzia de ativistas porque não têm visão igual à nossa, podemos colocar milhões de cristãos na porta desta Casa", afirmou o deputado Takayama (PSC-PR). Para ele, a bancada evangélica não aceita o rótulo de homofóbica.
"Nós nunca nos opusemos a que os simpatizantes da homossexualidade ou de qualquer outra visão ocupassem a presidência de comissões, mas, quando temos a oportunidade de colocar um presidente em uma comissão, querem dizer que não podemos?", questionou.
O deputado Nilton Capixaba (PTB-RO) também defendeu o colega. Disse que Feliciano está sendo ferido no direito à liberdade de expressão. "Ele fará chegar o direito humano a quem precisa."
Outros congressistas que participaram da sessão disseram que qualquer tipo de proposta que legalize o aborto, regulamente a prostituição como profissão ou descriminalize as drogas não terá apoio da bancada.
AÇÃO
A ministra Maria do Rosário (Secretaria dos Direitos Humanos) cobrou uma ação da Câmara e do Ministério Público contra Feliciano.
Para ela, as declarações do deputado incitam o ódio e a violência, e a situação de Feliciano já ultrapassou as barreiras da comissão.
"Incitar a violência e o ódio é atitude ilegal, inconstitucional, e as autoridades também estão sujeitas à lei", afirmou a ministra.