sábado, 24 de novembro de 2012

CASTELOS DE AREIA - O DESCONSTRUTIVISMO NA ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA

A relação do homem com seu ambiente transforma-se à medida que sua consciência muda ao longo do tempo. O edifício não significa apenas um espaço de habitação, mas também a expressão de uma época e seus conflitos existenciais. A arquitetura contemporânea ainda olha bastante para trás e não nega, ao contrário do que ocorria com a produção moderna, mas também olha para frente, apresentando otimismo e determinação.

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© St. Mary Axe, Norman Foster (Norman Foster+partners).
A arquitetura contemporânea surgiu a partir do movimento desconstrutivista, no fim dos anos 1980, caracterizado pela fragmentação e pelo processo de desenho não linear, que distorce e desloca alguns dos princípios elementares da arquitetura como a estrutura e o envoltório do edifício. A escola desconstrutivista contrapõe-se à racionalidade ordenada do Modernismo, e tem por base o movimento literário chamado desconstrução, e também sofreu influências pelas experimentações formais e desequilíbrios geométricos do construtivismo russo, que existiu na década de 1920.
Alguns dos arquitetos conhecidos como desconstrutivistas foram influenciados pelas idéias do filósofo francês Jacques Derrida. O redimensionamento desses conceitos iniciou-se por volta da década de 1960, e resultou em um abalo na hegemonia dos discursos de toda ordem, já que qualquer discurso que visasse à verdade era posto em dúvida. No entanto, "desconstrução" não pode ser tomada como sinônimo de destruição, e sim, de um procedimento de questionamento, de rastro e apagamento, de decomposição e de reorganização dos discursos até então considerados dogmáticos e dominadores. A intenção do desconstrutivismo como um todo é libertar a arquitetura do que seus seguidores vêem como as "regras" constritivas do modernismo, tais como a "forma segue a função", "pureza da forma" e a "verdade dos materiais".
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© Frank Gehry, Museu Guggenheim Bilbao (Tatitannuri).
No ano de 1997, a inauguração do Museu Guggenheim Bilbao projetado pelo arquiteto canadense naturalizado norte-americano Frank Gehry, foi um dos marcos na arquitetura contemporânea, que estabeleceu a cultura da implantação de obras espetaculares para recuperação de cidades e áreas decadentes, materializando a expectativa de cidades ocidentais que sofriam um processo de desindustrialização e buscavam um novo sentido na industria da criatividade. As noções de rastro e apagamento foram postas em prática por Libeskind em seu projeto do Museu Judaico de Berlim(2001), concebido como um rastro do apagamento do Holocausto, e por memoriais como o Monumento aos Veteranos do Vietnã (1982) de Maya Lin e o Memorial aos Judeus Mortos da Europa de Peter Eisenman (2004).
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© Zaha Hadid, The circle at Zurich airport (Zaha Hadid Architects).
As obras contemporâneas enfatizam a expressão da monumentalidade, imperativo do homem de registrar autoridade por meio de uma arquitetura de vanguarda, delineando uma imageabilidade contemporânea, que aborda o ideal estético de economias emergentes como Xangai e Dubai (o complexo corporativo transnacional) e a marca do arquiteto por meio de tecnologias e formas escultóricas ou referenciais, com grande ênfase imagética, como o edifício St. Mary Axe do britânico Norman Foster, a Torre Agbar de Jean Nouvel, em Barcelona, as obras da arquiteta iraquiana Zaha Radid, e dos brasileiros Oscar Niemeyer e Ruy Ohtake, entre outros.
No entanto, a Bienal de Veneza em 2000, dirigida pelo arquiteto italiano Massimiliano Fuksas, trouxe uma reflexão, de que a arquitetura precisa de mais ética e menos estética, pois estava perdida em elementos gratuitos, muito preocupada com a imprevisibilidade e seu impacto visual, e pouco com a funcionalidade do edifício. Desde então, outro arquitetos buscaram por elementos essenciais da arquitetura, pela simplicidade das formas e pela economia, como os arquitetos Tadao Ando e Renzo Piano.
Esta questão não está relacionada ao minimalismo, mas sim às características fundamentais de um projeto. Para Piano, as características de uma obra se resumem principalmente à história e natureza, interfaces límpidas com as quais se pode medir todo seu resultado arquitetônico - o edifício-sede do jornal The New York Times (2000-7), é o arranha-céu mais importante construído na metrópole americana depois da tragédia do 11 de setembro, representada por uma estrutura arquitetônica leve, tecnológica, que permite melhor eficiência energética e conforto ambiental.
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© The New York Times, Renzo Piano (Frieder Blickle, Light Scout).
A arquitetura contemporânea brasileira reúne todas as tendências e técnicas arquitetônicas utilizadas nos tempos atuais. A produção é consistente e dotada de sentido estético adequada ao nosso tempo, sendo capaz de aliar o conhecimento prévio modernista e simultaneamente romper com os paradigmas pré-existentes. O resultado é uma busca por soluções tecnológicas mais sustentáveis e perspectivas mais amplas na experimentação de soluções projetuais abstratas, inovadoras e únicas.
Enfim, a arquitetura contemporânea é o reflexo do mundo cada vez mais globalizado e tecnológico. Resta para os arquitetos se adaptar e descobrir uma forma de aplicar estes novos métodos de forma que seja funcional, em outras palavras, a arquitetura contemporânea deve ser única, e atender as necessidades básicas de forma 'inteligente', a partir de uma análise profunda do local a ser trabalho e das necessidades reais. Podemos observar que existem maneiras de criar espaços e volumes que se adaptam ao ambiente, e não se tornando algo chocante que chame atenção pela estética.


Artigo da autoria de Flávia Pimenta Palmeira.
Percorrendo o mundo das idéias, no limiar entre o perfeito e o imperfeito, o real e o imaginário, o visível e o oculto, em busca de respostas.
Saiba como fazer parte da obvious.

O cultivo científico da ignorância -abordagem inteligente sobre mídia e drogas

Por Sylvia Debossan Moretzsohn em Observatório da Imprensa

O jornalista vive mergulhado em sua rotina, ouvindo as fontes autorizadas de sempre, treinadas para falar o que se encaixa nas concepções prévias das pautas cotidianas. Está tão acostumado que passa a agir automaticamente, como se não fosse capaz de pensar.
De repente, se dá conta: não, as coisas não são tão simples assim.
E agora?
O depoimento da repórter Laura Capriglione, da Folha de S.Paulo (transcrito ao final deste artigo), num debate sobre a repressão aos usuários de crack, merece atenção especial pela rara coragem da autocrítica, muito reveladora sobre a formação – e as deformações – do jornalista e sobre as possibilidades de ruptura do círculo vicioso que se forma entre repórteres e fontes.
Antes de chegarmos a ele, tentemos apresentar as bases que sustentam esse questionamento.
A demonização das drogas
A enxurrada de reportagens sobre o uso do crack, que nos últimos anos volta e meia ganham capa e suítes nos principais jornais do país, converge para o sentido comum de aceitação e reverberação do discurso das autoridades: trata-se de uma epidemia que se espalha pelo país, que é extremamente letal e por isso exige intervenção imediata e articulada da polícia e da medicina, com a combinação de dois tipos de violência: a repressão a quem consome a droga nas ruas e a internação compulsória dos usuários.
O discurso terrorista contra o uso de drogas – certas drogas, que se alternam conforme a conjuntura – é recorrente ao longo da história e obedece a interesses políticos muito específicos, como a socióloga Rosa del Olmo apontou num precioso livrinho lançado no Brasil em 1990 (A face oculta da droga, Editora Revan). Não se trata de negar que as drogas fazem mal – evidentemente que sim, embora nunca devamos esquecer que as guerras do ópio, no século 19, foram travadas justamente em defesa do comércio dessas substâncias, considerando os interesses em jogo.
Drogas fazem mal, drogas ilícitas mais ainda, tendo em vista seus danos colaterais de corrupção e violência, tantas vezes fatal. O trabalho alienado faz um mal enorme, e disso pouca gente se lembra, embora estejamos todos voltados para a busca da felicidade e estimulados, permanentemente através da mídia, aos apelos para uma “mudança de estilo de vida” que, estranhamente, ignora os constrangimentos estruturais que nos levam a viver como vivemos, e às tentativas tantas vezes frustradas de escapar da infelicidade pelos mais diversos meios.
Demonizar as drogas é o melhor caminho para sedimentar a ignorância confortavelmente instalada na sala de estar. “Não ofenda, não contorne, não surpreenda o senso comum: enquanto as pessoas acreditarem que as drogas são um mal em si, mantém-se a zona de segurança”, escreveu neste Observatório o professor Luis Fernando Tófoli (ver “A imprensa entorpecida“), ao criticar uma edição do Jornal Nacional em que o âncora-símbolo da emissora arrematava uma reportagem sobre o crack e a internação compulsória dos usuários com o comentário de que “todo mundo diz que crack basta experimentar uma vez só e a pessoa fica viciada”:
“Mesmo com as fantasias apocalíptico-epidêmicas associadas ao crack, ainda assim é necessário corrigir a informação do jornalista e alertar ao leitor que ‘todo mundo’, nesse caso específico, está errado. Não existe uso de droga sem usuário e sem contexto. Por mais que uma substância possa ter, por sua farmacologia, um maior ou menor potencial para induzir dependência, não existem drogas com propriedades ‘mágicas’. É a combinação entre a substância, o momento de vida da pessoa e o contexto de consumo que causam ou impedem a adição. Nenhuma droga vicia por si e nem instantemente, e isso vale tanto para o crack e a heroína quanto para uma das drogas de maior potencial de dependência, o tabaco.”
As próprias reportagens deveriam sugerir alguma dúvida quanto a essa mistificação. Pois não é raro lermos sobre pessoas que “venceram o vício” ou que foram resgatadas das ruas após anos usando essa droga (ver aquie aqui). Além do mais, se o crack vicia ao primeiro contato e condena o indivíduo à morte em pouco tempo – quanto tempo, nunca se diz –, deveríamos estar assistindo a uma sucessão de cadáveres sendo carregados diariamente em carroças – mais ou menos como no tempo da gripe espanhola –, dada a quantidade de maltrapilhos aglomerados em determinadas regiões das grandes cidades que passam os dias se drogando.
Pelo contrário, o recente episódio de repressão no Parque União, uma das favelas da Maré, à beira da Av. Brasil, em 9/11 (ver aqui), mostrou gente muito ágil e lúcida, capaz de serpentear entre o tráfego intenso da via expressa para fugir da “acolhida” das autoridades. A corrida alucinada deveria sugerir alguma indagação sobre o motivo por que essas pessoas rejeitam tão desesperadamente a hipótese de ir para algum abrigo.
A construção do inimigo

A recriação da ARENA, por Laerte


Há 21 anos, morria Fredie Mercury

Visite a página de Fredie Mercury

Freddie Mercury, nome artístico de Farrokh Bulsara[1] (Stone Town, 5 de setembro de 1946Londres, 24 de novembro de 1991), foi um músico, cantor e compositor britânico, mais conhecido por ter sido vocalista da banda britânica de rock Queen.
É considerado pelos críticos[2][3] e por diversas votações populares[4][5] como um dos melhores cantores de todos os tempos e uma das vozes mais conhecidas do mundo.
Como compositor, Mercury compôs vários sucessos para o Queen, tais como "Bohemian Rhapsody", "We Are the Champions" e "Love Of My Life".
Além de seu trabalho com o Queen, Freddie lançou alguns trabalhos em carreira solo, e também, ocasionalmente, atuou como produtor e músico convidado (piano ou voz) para outros artistas.
Ele faleceu de broncopneumonia, causada pela AIDS, em 24 de novembro de 1991, apenas um dia depois de reconhecer publicamente que tinha a doença.


A casa em Zanzibar, onde Mercury viveu seus primeiros anos.
Freddie Mercury nasceu na localidade da Cidade de Pedra, em Zanzibar, à época colônia britânica e hoje pertencente à Tanzânia, na África Oriental. Seus pais, Bomi e Jer Bulsara, eram parsis zoroastrianos de Guzerate, na Índia. Mercury foi educado na St. Peter Boarding School, uma escola inglesa perto de Bombaim, onde deu seus primeiros passos no âmbito da canção, ao ter aulas de piano. Foi na escola que ele começou a ser chamado "Freddie" e, com o tempo, até os seus pais passaram a chamá-lo assim.
Depois de se formar em sua terra natal, Freddie e sua família mudaram-se em 1964 para a Inglaterra, devido a uma revolução iniciada em Zanzibar. Ele tinha dezoito anos. Lá diplomou-se em design gráfico e artístico na Ealing Art College, seguindo os passos de Pete Townshend. Esse conhecimento mostrar-se-ia útil depois, quando Freddie projetou o famoso símbolo da banda.
Algo que poucos fãs sabem é que, na escola de artes em que se bacharelou, Freddie era conhecido como um aluno exemplar e muito quieto. Tinha uma personalidade bastante introspectiva. Concluiu os exames finais do curso com conceito A. Possui uma série de trabalhos em arte visual, hoje disponíveis em alguns sites na Internet.
Freddie conheceu na faculdade o baixista Tim Staffell. Tim tinha uma banda na faculdade chamada Smile, que tinha Brian May como guitarrista e Roger Taylor como baterista, e levou Freddie para participar dos ensaios.
Em abril de 1970, Tim deixa o grupo e Freddie acaba ficando como vocalista da banda, que passa a se chamar Queen. Freddie decide colocar Mercury no nome. Ainda em 1970, ele conheceu Mary Austin, sua namorada, com quem viveu por cinco anos. Foi com ela que assumiu ser bissexual.[6] Os dois, mesmo separados, mantiveram forte laço de amizade até o fim de sua vida. De acordo com declaração do cantor e de seus companheiros de banda, Mary inspirou Freddie na música "Love of My Life".
Freddie Mercury ao vivo com o Queen em Frankfurt, Alemanha, 26 de setembro de 1984.
No visual de Freddie Mercury, há uma mudança que não deixa de ser notada: se, na era Glam dos anos 1970, o cabelo comprido, o delineador preto, as unhas pintadas , os maillots de bailado e o sapato de salto alto eram moda, estes iriam dar lugar a uma postura mais "macho": cabedal preto, chapéu de polícia, cabelo curto e, meses mais tarde, bigode: essa seria a sua imagem de marca na década de 1980. Nessa época, seus amigos descobriram sua bissexualidade, pois ele passou a levar rapazes e algumas garotas para dormir em seu quarto.
Mercury compôs muitos dos sucessos da banda, como "Bohemian Rhapsody", "Somebody to Love", "Killer Queen", "Love of My Life", "Crazy Little Thing Called Love" e "We Are the Champions" - hinos eloquentes e de estruturação extraordinária, particulares e sempiternos. Suas exibições ao vivo eram lendárias. A facilidade com que Freddie dominava as multidões e os seus improvisos vocais, envolvendo o público no show, tornaram as suas turnês um enorme sucesso na década de 1970, enchendo estádios de todo o mundo nos anos 80.
Freddie Mercury lançou dois discos-solo, aclamados pela crítica e pelo público. Mr. Bad Guy foi lançado em maio de 1985, e entre seus estilos estão desde reggae até dance e até uma parte orquestrada na faixa Mr. Bad Guy. Em 1988, é lançado o disco Barcelona, sendo que a faixa de mesmo nome tinha participação da cantora lírica espanhola Montserrat Caballé. Esta canção fez um enorme sucesso mundial na época e foi usada como tema nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992.
Em 1991, após ficar muito doente, surgiam rumores de que estaria com AIDS, o que se confirmou afinal, através de uma declaração feita por ele mesmo em 23 de novembro, um dia antes de morrer.
Freddie faleceu na noite de 24 de novembro de 1991, em sua casa, chamada Garden Lodge. Sua morte causou repercussão e tristeza em todo o mundo. Sua casa foi passada por testamento à ex-namorada, Mary Austin, que recebeu muitos buquês de flores na época e continua a recebê-los até hoje.
O corpo de Freddie Mercury foi cremado e suas cinzas foram espalhadas na margem do Lago Genebra na Suíça.[7]
Em 25 de novembro de 1992, foi inaugurada uma estátua em sua homenagem, com a presença de Brian May, Roger Taylor, da cantora Montserrat Caballé, Jer e Bomi Bulsara (pais de Freddie) e Kashmira Bulsara (irmã de Freddie), em Montreux, na Suíça, cidade adotada por Freddie como seu segundo lar.
Os membros remanescentes do Queen fundaram uma associação de caridade em seu nome, a The Mercury Phoenix Trust, e organizaram, em 20 de abril de 1992, no Wembley Stadium, o concerto beneficente The Freddie Mercury Tribute Concert, para homenagear o trabalho e a vida de Freddie.
No início da carreira, o cantor também era conhecido pelo pseudônimo de Larry Lurex. Também era conhecido pelo apelido Mr. Bad Guy.
Freddie Mercury era proprietário de uma voz potente. Contam alguns que, durante as gravações do álbum Barcelona, ele desafiou Montserrat Caballé, uma das cantoras líricas mais conhecidas no mundo, para ver quem possuía maior fôlego. Mercury venceu com uma grande vantagem.
Em 1992, um ano depois da morte de Freddie Mercury, realizam-se os Jogos Olímpicos de Barcelona, durante os quais Montserrat Caballé intrepreta a famosa canção "Barcelona" (gravada em 1988) em dueto virtual com o cantor falecido. Ainda hoje o dueto é recordado como um marco histórico da música.
Em 5 de setembro de 2011, o website de busca, Google, homenageou o cantor. Na página, existia um doodle musical, que executa a "Don't Stop Me Now", grande sucesso da sua carreira.[8]

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Escritor Luis Fernando Verissimo está internado em estado grave


Luis Fernando Veríssimo está dependente de aparelhos e estado de saúde é grave. Foto: José Guilherme Camargo/Especial para Terra  
Luis Fernando Veríssimo está dependente de aparelhos e estado de saúde é grave
Foto: José Guilherme Camargo/Especial para Terra

De acordo com boletim médico divulgado nesta quinta-feira (22), o escritor Luis Fernando Verissimo, 76 anos, está internado no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, em estado grave.
Segundo a nota, Verissimo está sedado e dependente de aparelhos. O escritor estaria passando por exames. Na última semana, Luis Fernando Verissimo participou de um evento literário em Araxá, em Minas Gerais.

Arquivos comprovam a prisão do político Rubens Paiva, desaparecido há 41 anos

Material estava no acerco do coronel da reserva do Exército assinado na Capital

De: Zero Hora

Arquivos comprovam a prisão do político Rubens Paiva, desaparecido há 41 anos Ver Descrição/Agencia RBS
Papel comprova que ex-deputado federal esteve preso antes de sumir Foto: Ver Descrição / Agencia RBS

Um dos papéis mais procurados de um período sombrio da história do Brasil, uma folha de ofício amarelada e preenchida em máquina de escrever datada de janeiro de 1971, está guardado em um cofre do Palácio da Polícia Civil, em Porto Alegre. O documento confirma o envolvimento direto do Exército em um dos maiores enigmas do país protagonizado pelas Forças Armadas, cuja verdade é desconhecida até hoje.
É, até então, a mais importante prova material de que o ex-deputado federal, engenheiro civil e empresário paulista Rubens Paiva, desaparecido há 41 anos, vítima-símbolo dos anos de chumbo, esteve preso no Departamento de Operações e Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) no Rio de Janeiro, um dos mais temidos aparelhos de tortura do país.
O corpo de Paiva nunca foi localizado, e o Exército jamais admitiu responsabilidade sobre o sumiço do político cassado pela Ditadura Militar (1964 a 1985). Durante quatro décadas, o documento fez parte do arquivo particular do coronel da reserva do Exército Julio Miguel Molinas Dias, 78 anos. Gaúcho de São Borja, o coronel foi chefe do DOI-Codi do Rio, cerca de 10 anos depois do desaparecimento.
Em 1º de novembro deste ano, Molinas Dias foi assassinado quando chegava de carro a sua casa, no bairro Chácara das Pedras, na capital gaúcha. Seria uma tentativa de roubar o arsenal que o coronel colecionava (cerca de 20 armas) ou um assassinato por razões ainda desconhecidas — a polícia investiga o caso.
Com a assinatura do ex-deputado
Em meio a um conjunto de papéis com o timbre do Ministério do Exército, parte deles com o carimbo "Reservado ou Confidencial" , o documento referente à entrada de Rubens Paiva no DOI-Codi foi arrecadado pelo delegado da Polícia Civil Luís Fernando Martins de Oliveira, responsável pela investigação da morte do militar.
Zero Hora acompanhou a coleta e folheou parte dos papéis. O delegado evitou divulgar o conteúdo, mas afirmou que a documentação em nada compromete a trajetória profissional de Molinas Dias.
— Pelo que consta ali, já descartamos a hipótese de o coronel ter sido morto por vingança em razão da atividade no Exército — garantiu o delegado.
Sob o título "Turma de Recebimento", o ofício contém o nome completo do político (Rubens Beyrodt Paiva), de onde ele foi trazido (o QG-3), a equipe que o trouxe (o CISAer, Centro de Inteligência da Aeronáutica), a data (20 de janeiro de 1971), seguido de uma relação de documentos, pertences pessoais e valores do ex-deputado. Na margem esquerda do documento, à caneta, consta uma assinatura, possivelmente de Paiva.
Promotor deve pedir documento
O termo de recebimento dos objetos é chancelado em 21 de janeiro de 1971 pelo então oficial de administração do DOI-Codi, cujo nome é ilegível no documento. É possível que seja o mesmo capitão que, em um pedaço de folha de caderno (também guardado por Molinas Dias), escreveu de próprio punho, em 4 de fevereiro de 1971, que foram retirados pela Seção de Recebimento "todos os documentos pertencentes ao carro" de Paiva que tinha sido levado para o DOI-Codi.
Em visita à 14ª Delegacia da Polícia Civil de Porto Alegre, na semana passada, integrantes da Comissão Nacional da Verdade — criada pelo governo federal para investigar crimes na ditadura — solicitaram uma cópia dos documentos, que deverá ser remetida a Brasília nos próximos dias.
O documento também interessa, e muito, ao promotor Otávio Bravo, que atua junto à Justiça Militar no Rio. No ano passado, ele reabriu a investigação do caso Rubens Paiva, após o Brasil ratificar em convenção internacional, o compromisso de apurar casos de desaparecimento forçado, como ocorreu com Paiva.
— Vou requisitar o documento. Não tenho conhecimento dele. Pode ser mais um indício para apurar a verdade e de que ele (Paiva) morreu no DOI-Codi — afirmou.
Segundo Bravo, até então, a informação mais contundente sobre a passagem de Paiva pelo DOI-Codi carioca se limita a relatos verbais, entre eles o de Maria Eliane Paiva, uma das filhas do ex-deputado.
Aos 15 anos, ela foi levada ao DOI-Codi para ser interrogada no dia seguinte à prisão do pai. Passadas quatro décadas, ao depor pela primeira vez sobre o caso perante o promotor, Eliane disse que ouviu de um soldado que Paiva foi morto após ser espancado no DOI-Codi.
— É a única prova que tenho de que ele foi para lá. O documento pode dar credibilidade aos depoimentos — diz Bravo.
Leia as informações presentes no ofício que confirma a prisão de Rubens Paiva no DOI-Codi no Rio:

terça-feira, 20 de novembro de 2012

O Mundo Não Vai Acabar - Bandaliera

Arquivo de coronel assassinado pode elucidar crimes da ditadura

Arquivo de coronel assassinado pode elucidar crimes da ditadura


Como vocês acompanham, sempre escrevo aqui no blog que não adianta protelar por mais tempo a tentativa de esconder os assassinatos, torturas, desaparecimento de corpos de adversários e outros crimes cometidos pela repressão durante a ditadura militar.

A verdade virá à tona um dia, é inevitável, inclusive por confissões e documentos fornecidos pelo lado que reprimiu, sejam agentes da repressão ou seus familiares. É o que acontece agora, com esta reportagem de hoje do Rubens Valente na Folha de S.Paulo sobre o assassinato de um coronel do Exército e o fornecimento, por seus familiares, de parte dos documentos de seu arquivo à polícia gaúcha.
No início deste mês, num assassinato a tiros ainda sob investigação e sobre o qual ainda não há conclusões,  foi morto em Porto Alegre o coronel da reserva do Exército, Júlio Miguel Molinas Dias. Ele foi comandante do DOI-CODI-Rio em 1981, quando do desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva em janeiro e do atentado no show comemorativo do 1º de maio no Riocentro naquele ano.
Menos de um mês depois de sua morte, a família do oficial entregou documentos de seus arquivos à Polícia Civil gaúcha. Entre estes documentos há um relato manuscrito do coronel sobre o Riocentro e duas guias de entrada e saída de material explosivo do Exército na época do atentado.E mais: há um termo do Exército que confirma apreensão de objetos pessoais de Rubens Paiva no DOI-CODI-Rio. A parte da documentação sobre Rubens Paiva pode apontar até os últimos agentes da repressão que mantiveram contato com ele ainda em vida.São os primeiros documentos do gênero mostrando vinculações do Exército com o Riocentro e com o desaparecimento de Rubens Paiva que podem vir a público no país. O governador do Rio Grande, Tarso Genro (PT) já mandou sua polícia transferir os documentos à Comissão Nacional da Verdade. Repito o nosso bordão. Enquanto a verdade, ainda que não no ritmo ideal, começa aparecer, persiste o erro das Forças Armadas, já há 48 anos, de não virem a público, não assumirem e nem informarem sobre os crimes cometidos inclusive por alguns de seus integrantes naquele período.
Elas insistem no erro de não se desculpar perante à nação e de não assumirem sua responsabilidade por um dos períodos mais nefastos da nossa história, o da ditadura militar. Insisto: por mais que demore, a verdade inexoravelmente virá à tona.