sábado, 24 de novembro de 2012

CASTELOS DE AREIA - O DESCONSTRUTIVISMO NA ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA

A relação do homem com seu ambiente transforma-se à medida que sua consciência muda ao longo do tempo. O edifício não significa apenas um espaço de habitação, mas também a expressão de uma época e seus conflitos existenciais. A arquitetura contemporânea ainda olha bastante para trás e não nega, ao contrário do que ocorria com a produção moderna, mas também olha para frente, apresentando otimismo e determinação.

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© St. Mary Axe, Norman Foster (Norman Foster+partners).
A arquitetura contemporânea surgiu a partir do movimento desconstrutivista, no fim dos anos 1980, caracterizado pela fragmentação e pelo processo de desenho não linear, que distorce e desloca alguns dos princípios elementares da arquitetura como a estrutura e o envoltório do edifício. A escola desconstrutivista contrapõe-se à racionalidade ordenada do Modernismo, e tem por base o movimento literário chamado desconstrução, e também sofreu influências pelas experimentações formais e desequilíbrios geométricos do construtivismo russo, que existiu na década de 1920.
Alguns dos arquitetos conhecidos como desconstrutivistas foram influenciados pelas idéias do filósofo francês Jacques Derrida. O redimensionamento desses conceitos iniciou-se por volta da década de 1960, e resultou em um abalo na hegemonia dos discursos de toda ordem, já que qualquer discurso que visasse à verdade era posto em dúvida. No entanto, "desconstrução" não pode ser tomada como sinônimo de destruição, e sim, de um procedimento de questionamento, de rastro e apagamento, de decomposição e de reorganização dos discursos até então considerados dogmáticos e dominadores. A intenção do desconstrutivismo como um todo é libertar a arquitetura do que seus seguidores vêem como as "regras" constritivas do modernismo, tais como a "forma segue a função", "pureza da forma" e a "verdade dos materiais".
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© Frank Gehry, Museu Guggenheim Bilbao (Tatitannuri).
No ano de 1997, a inauguração do Museu Guggenheim Bilbao projetado pelo arquiteto canadense naturalizado norte-americano Frank Gehry, foi um dos marcos na arquitetura contemporânea, que estabeleceu a cultura da implantação de obras espetaculares para recuperação de cidades e áreas decadentes, materializando a expectativa de cidades ocidentais que sofriam um processo de desindustrialização e buscavam um novo sentido na industria da criatividade. As noções de rastro e apagamento foram postas em prática por Libeskind em seu projeto do Museu Judaico de Berlim(2001), concebido como um rastro do apagamento do Holocausto, e por memoriais como o Monumento aos Veteranos do Vietnã (1982) de Maya Lin e o Memorial aos Judeus Mortos da Europa de Peter Eisenman (2004).
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© Zaha Hadid, The circle at Zurich airport (Zaha Hadid Architects).
As obras contemporâneas enfatizam a expressão da monumentalidade, imperativo do homem de registrar autoridade por meio de uma arquitetura de vanguarda, delineando uma imageabilidade contemporânea, que aborda o ideal estético de economias emergentes como Xangai e Dubai (o complexo corporativo transnacional) e a marca do arquiteto por meio de tecnologias e formas escultóricas ou referenciais, com grande ênfase imagética, como o edifício St. Mary Axe do britânico Norman Foster, a Torre Agbar de Jean Nouvel, em Barcelona, as obras da arquiteta iraquiana Zaha Radid, e dos brasileiros Oscar Niemeyer e Ruy Ohtake, entre outros.
No entanto, a Bienal de Veneza em 2000, dirigida pelo arquiteto italiano Massimiliano Fuksas, trouxe uma reflexão, de que a arquitetura precisa de mais ética e menos estética, pois estava perdida em elementos gratuitos, muito preocupada com a imprevisibilidade e seu impacto visual, e pouco com a funcionalidade do edifício. Desde então, outro arquitetos buscaram por elementos essenciais da arquitetura, pela simplicidade das formas e pela economia, como os arquitetos Tadao Ando e Renzo Piano.
Esta questão não está relacionada ao minimalismo, mas sim às características fundamentais de um projeto. Para Piano, as características de uma obra se resumem principalmente à história e natureza, interfaces límpidas com as quais se pode medir todo seu resultado arquitetônico - o edifício-sede do jornal The New York Times (2000-7), é o arranha-céu mais importante construído na metrópole americana depois da tragédia do 11 de setembro, representada por uma estrutura arquitetônica leve, tecnológica, que permite melhor eficiência energética e conforto ambiental.
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© The New York Times, Renzo Piano (Frieder Blickle, Light Scout).
A arquitetura contemporânea brasileira reúne todas as tendências e técnicas arquitetônicas utilizadas nos tempos atuais. A produção é consistente e dotada de sentido estético adequada ao nosso tempo, sendo capaz de aliar o conhecimento prévio modernista e simultaneamente romper com os paradigmas pré-existentes. O resultado é uma busca por soluções tecnológicas mais sustentáveis e perspectivas mais amplas na experimentação de soluções projetuais abstratas, inovadoras e únicas.
Enfim, a arquitetura contemporânea é o reflexo do mundo cada vez mais globalizado e tecnológico. Resta para os arquitetos se adaptar e descobrir uma forma de aplicar estes novos métodos de forma que seja funcional, em outras palavras, a arquitetura contemporânea deve ser única, e atender as necessidades básicas de forma 'inteligente', a partir de uma análise profunda do local a ser trabalho e das necessidades reais. Podemos observar que existem maneiras de criar espaços e volumes que se adaptam ao ambiente, e não se tornando algo chocante que chame atenção pela estética.


Artigo da autoria de Flávia Pimenta Palmeira.
Percorrendo o mundo das idéias, no limiar entre o perfeito e o imperfeito, o real e o imaginário, o visível e o oculto, em busca de respostas.
Saiba como fazer parte da obvious.

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