sábado, 8 de novembro de 2014

Os 43 estudantes desaparecidos em Iguala foram assassinados

 Cidade do México , de El Pais

Em uma entrevista à imprensa dada pelo procurador-geral, Jesús Murrllo Karam, informou-se que naquela noite os estudantes detidos pela Polícia Municipal foram entregues a criminosos do Guerreros Unidos, o cartel que controlava Iguala. Eles os conduziram, amontoados em um caminhão e uma caminhonete, até um lixão de Cocula, uma localidade vizinha. Amontoados, feridos, espancados, muitos dos estudantes, talvez até uma quinzena, tenham morrido asfixiados durante o trajeto.
Assim que chegaram ao local, os criminosos, sempre segundo as confissões, foram retirando os estudantes e os interrogando. Queriam saber por que tinham ido a Iguala, por que tinham enfrentado o prefeito e sua mulher. Depois, com frieza avassaladora, matavam-nos. Com os corpos, armaram uma imensa fogueira que alimentaram com madeiras, detritos e pneus. A fogueira, o fogo da barbárie, ardeu durante horas, da madrugada até as 3 da tarde, sem que ninguém visse ou dissesse nada. Depois, por ordem de seus superiores, os criminosos recolheram os restos carbonizados, os quebraram e jogaram em sacos de lixo no rio Cocula. A corrente os levou até destino desconhecido.

De qualquer modo, o relato feito pelo procurador-geral deixa pouco espaço para dúvidas. Sua reconstrução foi acompanhada por imagens e gravações de declarações dos três criminosos que participaram da matança. Com vozes juvenis, como se falassem de transporte de gado, os assassinos confessos descreviam ante as câmeras como eliminaram esses jovens. Sua indiferença produzia calafrios. O assassinato em massa, metódico, horripilante dos 43 estudantes era para eles pouco menos do que uma rotina. Dificilmente o México poderá esquecer suas palavras.Dois desses sacos foram encontrados pela polícia federal. Seus restos estão sendo analisados. Devido a seu estado, segundo a procuradoria, não foi possível efetuar a prova de DNA e, portanto, o último elo da investigação ainda não foi fechado. Para que isso aconteça, o Governo mexicano anunciou que pedirá ajuda aos melhores centros internacionais.

Os restos carbonizados foram quebrados, colocados em sacos de luxo e jogados no rio Cocula
Mas essa reconstrução não dá o caso por encerrado. A 200 quilômetros, ao sul, em Guerrero, os pais, aferrados à esperança das provas de DNA, rejeitaram a morte dos filhos e reduziram o relato oficial a um achado de “seis sacos com cinzas e ossos”. “Já os deram por mortos uma vez, e não estava certo”, afirmou um porta-voz dos parentes.

Trabalhadores protestam contra auxílio-moradia para membros do Judiciário e do Ministério Público gaúchos

De: Sul21
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Servidores marcharam até a sede do TJ-RS na tarde desta sexta-feira (07/11)  | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Samir Oliveira
Centenas de trabalhadores realizaram um protesto na tarde desta sexta-feira (07/11) em Porto Alegre contra a concessão de auxílio-moradia para membros do Judiciário e do Ministério Público no Rio Grande do Sul. O ato teve início às 16h, no Largo Glênio Peres, em frente ao Mercado Público, e terminou às 18h45min, após percorrer a Avenida Borges de Medeiros e promover intervenções em frente à sede do Tribunal de Justiça.
Em setembro deste ano, uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF), concedida pelo ministro Luiz Fux, autorizou o pagamento de R$ 4,3 mil por mês aos membros do Judiciário, a título de auxílio-moradia. O valor sequer recebe desconto de imposto de renda e também está sendo pago para promotores e procuradores do Ministério Público, mediante solicitação da categoria. Tribunal de Contas (TCE), Ministério Público de Contas e Defensoria Pública também devem solicitar o benefício.
 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Decisão do STF autorizou pagamento de auxílio-moradia a membros do Judiciário, que já recebem os mais altos salários do estado | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
A Advocacia-Geral da União (AGU) ingressou com recurso contra a liminar de Luiz Fux, que foi rejeitado pela ministra Rosa Weber. Contudo, a decisão do ministro ainda irá passar pela apreciação do pleno do STF, que poderá manter a medida ou extingui-la.
O protesto desta sexta-feira em Porto Alegre foi organizado por diversas categorias de trabalhadores do MP, do TJ e do TCE. “A sociedade gaúcha não pode silenciar diante deste absurdo que é um promotor colocar R$ 4 mil no bolso, enquanto em todo o estado tem gente que não tem onde morar”, disse Davi Pio, secretário-geral do Sindicato dos Servidores da Justiça do RS (Sindjus).
Amauri Perusso, presidente da Federação Nacional das Entidades dos Servidores dos Tribunais de Contas do Brasil (FENASTC), fez um dos discursos mais inflamados no carro de som. Ele qualificou o pagamento de auxílio-moradia a membros do Judiciário e do MP como “um gesto de obsoleta imoralidade”. “Os senhores juízes e desembargadores promovem uma associação para fazer um assalto ao erário público e aumentar suas remunerações sem necessidade da lei”, criticou.
 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Grupo é composto por servidores do TJ-RS, do MP e do TCE | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
O ato também contou com a presença de políticos, como as vereadoras de Porto Alegre Fernanda Melchionna (PSOL) e Sofia Cavedon (PT), além do vereador e deputado estadual eleito Pedro Ruas (PSOL). “É um privilégio absurdo dar auxílio-moradia para quem já mora em mansão”, disse Ruas, que se comprometeu em combater a medida na Assembleia Legislativa – onde tramita um projeto de lei de autoria do deputado Raul Pont (PT), que determina o fim do benefício.
Presidente do Conselho de Comunicação do TJ-RS, o desembargador Túlio Martins conversou com jornalistas no estacionamento do tribunal, enquanto os trabalhadores protestavam nas escadarias do prédio. Ele disse que os servidores do Judiciário possuem uma boa média salarial e que o pagamento do auxílio-moradia responde a uma decisão do STF. “Ninguém ali ganha pouco, nosso contracheque médio é superior a R$ 5 mil”, disse, referindo-se aos servidores. Sobre o pagamento do benefício à sua categoria, ele respondeu que “é uma liminar que tem que ser cumprida”.
 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Estagiários também participaram da mobilização contra o pagamento de auxílio-moradia | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Contudo, o desembargador reconhece que o orçamento do TJ-RS não possui muitas margens para “qualquer aumento de despesa” e informa que o impacto financeiro do auxílio-moradia neste ano será de R$ 10 milhões. Túlio Martins disse que o tribunal recebe “de forma democrática” a manifestação dos trabalhadores, mas qualificou o movimento como “político” e sem uma reivindicação objetiva.
Até o momento, cerca de 50 juízes e desembargadores já informaram que não receberão o auxílio-moradia. Pelo menos cinco estão optando por não usufruir do benefício, o restante, segundo a administração do TJ-RS, se enquadra em casos onde não é permitido o pagamento, como casais formados por juízes e promotores – já que não pode haver mais de uma pessoa recebendo o auxílio-moradia na mesma residência.
“É uma forma disfarçada de aumentar o subsídio”, critica conselheiro do Tribunal de Contas
Único conselheiro do Tribunal de Contas do Estado a ser contra o pagamento de auxílio-moradia, Estilac Xavier já avisou publicamente que optará por não receber o benefício – que deverá ser solicitado por integrantes do TCE-RS. Para ele, trata-se de uma forma mascarada de aumentar um salário que já se encontra no teto entre os funcionários públicos do estado, acima dos R$ 24 mil.
Estilac Xavier rebate crítica sobre 'desleixo' com as licitações e afirma que trata-se de uma preocupação com as futuras concessões./Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Estilac Xavier é o único conselheiro do TCE-RS a se manifestar publicamente contra o pagamento do auxílio-moradia | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“Auxílio-moradia deveria ser para servidores que residem na Capital e precisam viver em outra cidade por um período de tempo, como juízes que trabalham como assessores de ministros do STF, por exemplo”, explica Estilac. Para ele, promotores, procuradores, juízes, desembargadores e conselheiros do TCE não deveriam receber o benefício, já que trabalham na mesma cidade em que vivem.
“Quem está recebendo esse benefício já possui imóveis. Mesmo que não tenha, o subsídio (salário) possui natureza alimentar e serve para custear despesas com a moradia”, argumenta o conselheiro.
Estilac Xavier ainda observa que o auxílio-moradia está sendo pago sem que exista uma lei no estado que autorize essa despesa. “Teria que existir uma lei que sustentasse isso. O orçamento do estado é votado pela Assembleia Legislativa e, agora, uma decisão do STF impõe à Fazenda pública uma despesa que não está prevista”, critica.
Pelos cálculos do conselheiro, cada um dos 17 integrantes da cúpula do TCE que receberão auxílio-moradia irão ganhar, anualmente, R$ 52 mil – sem desconto do imposto de renda. “Seriam R$ 950 mil por ano, enquanto o estado tem problemas financeiros e deve estar comprometido com saúde, educação e segurança pública”, comenta.
Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo diz que juízes precisam ganhar bem para comprar ternos em Miami
O desembargador José Renato Nalini, presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, disse, em entrevista à TV Cultura, que os juízes precisam ganhar uma boa remuneração para, dentre outras coisas, estarem bem vestidos. Na mesma entrevista, ele citou a compra de ternos em Miami. Confira, abaixo, a declaração do desembargador.