segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A memória seletiva e sem-vergonha de Aécio. Wilson Gomes, mais uma vez, brilhante

Engraçado como é a memória da gente, né? Sempre pregando as suas peças. Aécio fala em "crescimento econômico", minha memória volta aos anos noventa e lembra "arrocho salarial". Aécio fala em "tornar o Estado menos aparelhado, valorizando um governo de técnicos e de funcionários públicos", mas o que a danada da minha memória recolhe dos anos 1990 é "corte no orçamento", "demissão de funcionários públicos", "suspensão de aumento salarial do funcionalismo". Aécio fala de "avanço em Ciência e Tecnologia", mas na minha memória se forma a lembrança de um CNPq à beira da falência, de Universidades com a luz e o telefone cortados por falta de pagamento e de todos os meus colegas professores-pesquisadores irremediavelmente pendurados no cheque especial. Aécio fala em "fim da corrupção" e eu lembro dos escândalos da compra de votos para a emenda da reeleição de FHC.
Aécio continua falando, falando e falando...enquanto na minha indócil memória a lateja a palavra-chave mais anos noventa dentre todas, para quem estava no Serviço Público naquela época, "contingenciamento, contingenciamento, contingenciamento".
Acho que esse é o grande problema da candidatura de Aécio para pessoas como eu: a memória. Aécio me lembra a propaganda de um candidato a prefeito de Salvador que adotou o slogan "quem conhece fulano, vota em fulano", quando, na verdade, quem o conhecia não votou nele de jeito algum. Se eu fosse Aécio, não fica remexendo nos "gloriosos" anos 1990, em que, segundo a nova lenda, FHC inventou o mundo e todas as suas virtudes. Meus amigos, não faz mais que duas semanas que FHC foi canonizado; quando terminou o seu segundo mandato, a popularidade não lhe garantiria nem eleição para deputado estadual. Na verdade, nem houve segundo mandato, porque FHC chegou nele tão fraco politicamente e tão anêmico em termos de popularidade que não conseguiu fazer absolutamente nada. Se Serra e Alckmin tivessem podido usar o governo tucano de FHC como vitrine, por que vocês acham que o esconderam esses anos todos? Só agora, que o tempo esmaeceu as lembranças e eleitores que eram muito jovens nos anos 1990 entraram no jogo, é que FHC foi transformado, retoricamente, em um gigante sobre cujos ombros se encontra Aécio.
Eu, infelizmente, tenho esta memória que me castiga. E assim como o PT está sitiado pelo antipetismo, os tucanos enfrentam, uma eleição após a outra, o obstáculo dos eleitores que se lembram dos anos 1990. Eu lembro. Aécio vai ter que se esforçar muito se votos como o meu lhe interessam. O pior é que lhe parece suficiente ser candidato dos antipetistas que decidiram, por alguma revelação divina, que a corrupção é fruto da "vontade política" e que, uma vez empossado um tucano, ela cessará automaticamente no início de janeiro. E para quem tem tristes memórias dos anos 1990 e não crê em estultices como esta, Aécio vai dizer o quê?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por sua opinião